quinta-feira, julho 18, 2019

Em tudo havia beleza
[Mas eu agora mal consigo ter tempo para ela]





Só para dizer que estou esperançada de que a partir da próxima semana e até ir de férias o meu ritmo possa abrandar. Mas até chegar ao fim da semana vai ser obra.

E se há trabalhos que faço de gosto há outros para os quais parto em esforço -- e os que invadem todo o meu espaço e me deixam sem tempo para mim são deste último tipo. Gosto de gerir o meu tempo. Fico impaciente e cansada quando não consigo dispor nem de uma escassa fracção de tempo, quando não consigo nem uns minutos em que não tenha que estar com atenção. Satura-me ter que estar no activo desde madrugada até tarde na noite, para recomeçar no dia seguinte logo ao romper do dia e, uma vez mais, non stop até que o dia acabe,

Quando digo que admiro as pessoas que exercem cargos públicos -- até pelo facto de terem que estar disponíveis todos os dias, de sol a sol quando não de madrugada à noite -- falo genuinamente. Não ganham tanto quanto isso e sacrificam completamente a sua vida pessoal e familiar.
Sei que muitos dos que me lêem (a Isabel, por exemplo) não concordam nada com isso, acham que é tudo gente oportunista e que, por muito que eles se esforcem, nunca lhes devemos nenhum agradecimento. Eu não penso assim. Claro que há, entre eles, gente corrupta, incompetentes e caciques. Esses, bem entendido, não merecem qualquer admiração ou apoio, merecem repúdio ou cadeia. Mas os que generosamente dão muito de si a bem dos outros, a esses eu acho que somos devedores de gratidão.
Mas isto para dizer que ultimamente não me chega o tempo para mim e me sobra o trabalho e isso, no balanço dos dias, pesa-me, deixa-me com a sensação de tempo mal aproveitado e, sobretudo, com vontade de férias.

Penso em falar de algumas coisas, falar de livros, evadir-me, inventar gente, dar vida a quem existe apenas aqui, contar história, criar romance, pôr-me dentro da pele de mulheres imaginadas e desatar a ultrapassar obstáculos,  a apaixonar-me por homens ficcionados ou armar ciladas de sedução a outros apenas antevistos, pôr toda a gente a viver loucuras, desafiar uns e outros, rir, chorar, ficar a pensar no que irão eles fazer a seguir -- e não tenho disponibilidade para isso. E fico a atrasar enredo, a atrasar conversa, a atrasar palavrinhas sobre livros ou sobre outras coisas; e, com o tempo, vou esquecendo o que tinha para dizer porque as ideias vão sendo devoradas pela pressão dos dias.

No entanto, não posso esquecer-me que está quase a fazer um ano que, estando eu em idêntico vórtice, fui surpreendida com um convite tão do além e tão irrecusável que fiquei numa saia de tal forma justa que, tendo resolvido dizer que não, assumi sérios riscos e passei por momentos muito difíceis. Mas de tal forma avancei de peito feito para o não que parece ter sido remédio santo. Contudo, dentro de mim parece que ficou a bailar o receio de que volte a acontecer. Ainda no outro dia um colega me dizia que tinha recebido um convite que era daqueles a que não se pode dizer que não. E, então, vai passar parte da vida num distante continente, viagens de muitas horas que fará de quinze em quinze dias para ver a família. Está apreensivo, sabe que corre risco de ser trucidado pelos lítigios que vai ter pela frente, está aborrecido porque vai ficar longe das duas filhas adolescentes. Mas não lhe passou pela cabeça dizer que não pois, segundo ele, quando se recebe um convite destes, não se pode dizer que não. Eu, sem pensar, teria dito: não. São maneiras de ser. Ou estadios do nosso percurso.

Mas é assim mesmo, é a vida. Uma sucessão de desafios, de descrenças, de entusiasmos, de cansaços, de alegrias. E de sei lá que mais. Tanta coisa.

Hoje, no trânsito, li quais os livros que o Prof. Marcelo tem para o verão. E à hora de almoço fui numa corrida a uma livraria e, pimbas, voltei a pecar. Não todos mas o qb. Comprar livros sabendo que o tempo não me chega para meia dúzia de linhas, quanto mais para meia dúzia de livros é vício, é doença, é pecado. Mas é também prazer e a minha alma de pecadora fecha os olhos quando a tentação aperta e, então, eu avanço às cegas, disposta a ceder.

Foram o 'Leonardo da Vinci' de Walter Isaacson, a 'Educação do Delfim, cartas de Calouste Gulbenkian a seu neto', 'Em tudo havia beleza' de Manuel Vilas. E depois, estando já no trilho do pecado, foram mais dois. Não resisti: 'Nem um dia sem uma linha' de Mário de Carvalho e 'Trajectos filosóficos'  de José Gil. E tenho ideia que outro mas acho que o meu marido já rapinou daqui um, levando-o para ler na cama. 

Estou a pensar se devo levar um para estes dois dias mas a verdade é que, na viagem, vou sempre na conversa  e, lá chegada, não tenho um minuto e, quando chegar à noite ao quarto, já irei capaz de cair para o lado e, ainda assim, tentarei vir ao blog escrever umas tretas de nada. Mas tenho isto, outra mania, levar sempre um livro. Melhor, dois. Para o caso de poder ler; e dois pois posso não estar com disposição para um, tenho que ter alternativa. Maluqueiras. Mas estou com uma tremenda vontade de ler 'Em tudo havia beleza'. Acho um título muito bonito. E é tão verdade: em tudo há beleza. Não há?

É também poeta, ele. Fui ao Youtube e apeteceu-me ouvir um poema dele.

Escolho este Mujeres lido por um actor e não por ele pois os que são lidos pelo próprio têm mau som. Estive a ouvir e se há passagens que me incomodaram, outras fizeram-me ter vontade de ouvir devagar.

Mujeres, Manuel Vilas


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As pinturas são de Franz Marc

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E agora vou pregar para outra freguesia pois não tarda tenho que me pôr a caminho.

Um dia feliz a todos quantos por aqui me aturam.

11 comentários:

  1. Coitadinhos dos políticos!��

    Ah, UJM, esse discurso tem o condão de me deixar a ferver. E já há muito poucas coisas que me tiram do sério!
    Diga-me um nome e apenas um de um político em quem confie 100%!

    Eu não confio em nenhum. Onde estavam os honestos pelo caminho dos milhões e de todos os processos de corrupção de que vamos tomando conhecimento? Onde estavam os honestos? Ninguém viu nada, ninguém sabia de nada, ninguém tomou conhecimento de nada, ninguém assinou nada...mas os casos de corrupção sucedem-se uns atrás dos outros e os milhões desaparecem e nós é que nos lixamos! Coitadinhos deles, fizeram tudo sem maldade, para o bem dos portugueses...

    Pena dos políticos? Coitadinhos! Se estão mal não vão para lá? Saiam. Foram de livre vontade!

    Coitadinhas são as pessoas que trabalham, essas sim, sempre que as chamam, muitas vezes sem horários, ou com horários desgraçados, a ganhar misérias, sem poderem atender como deve ser, aos filhos. A UJM não tem noção do que é o país real. Não tem mesmo. E os políticos se têm fecham os olhos e estão-se borrifando! Por isso, detesto políticos. E desculpe-me que lhe diga, mas detesto ainda mais essa conversa dos coitadinhos que estão sempre disponíveis! E que não ganham assim tanto...

    Mas pronto...não quero guerras consigo! Gosto da UJM! Não vá para a política!

    Beijinhos e bom fim-de-semana:))

    (Quanto aos livros, somos iguaizinhas)

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  2. Mantenho a opinião, que aqui, já há uns tempos recuados, exprimi e fui criticado pela UJM, de que os Políticos, na sua esmagadora maioria, não são confiáveis. Por exemplo, um Deputado que não aceite a exclusividade de funções é alguém que entende que os seus assuntos/negócios privados prevalecem sobre as suas funções parlamentares! Depois, temos os Políticos que, uma vez saiem dos lugares que ocuparam nos Governos de que fizeram parte, vão sempre instalar-se em bons lugares, quer público, público/privados, quer, sobretudo, privados. Sobretudo, com esta casta – PS/PSD/CDS.
    E este Governo não difere muito do paradigma que aqui critico. A ver vamos ver para onde irão estas “veneráveis” criaturas, uma vez a Legislatura se extinga.
    Lá no meu Porto costuma-se dizer: “que vão dar uma volta ao bilhar grande!
    E, depois, é uma malta que nada sabe do que se passa no Interior do País, nem quer saber! São, no fundo, uns provincianos a viver em Lisboa (ou naturais da capital)
    P. Rufino

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  3. A Kullervojulho 19, 2019

    @Isabel e @Anónimo (P. Rufino)

    Caros co-comentadores,

    A classe política (e outras pseudo-elites) não podem ser melhores do que o povo que lhes dá origem. Esse mesmo povo que, posteriormente, aceita sustentá-las com passividade e hipocrisia.

    A "santidade" dos humildes, sempre prontos a atirar a primeira pedra, há muito que foi desmascarada para poder continuar a ser invocada sem pejo.

    Melhores cumprimentos.

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  4. A Kullervo

    Não se trata de serem melhores que o povo que lhes dá origem. Trata-se de fazerem bem e com honestidade o seu trabalho, porque é para isso que lá estão.
    E os humildes não são santos, mas têm direito a viver com dignidade e com salários dignos. Há um mínimo para se poder ter dignidade e a partir daí cada um cria o seu caminho.

    Bom dia:))

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  5. A Kulervo,
    Há ocasiões em que mais vale estar calado. Você perdeu uma boa oportunidade para o estar.
    Sabe, no meu caso, tenho, felizmente, uma excelente vida desafogada, do ponto de vista económico, portante não estou no esteriotipo dos tais humildes, que pateticamente referiu, mas, aprendi com meus avós e meus pais que nunca nos podemos esquecer que há gente que vive mal, por vezes próximo da miséria e não é com políticas como as que defendem o PS/PSD/CDS que se lá vai. Mantenho que por cá por Lisboa os Políticos, na sua maioria, são uns trastes acabados e pouco se importam com a realidade do País.
    No fundo, são pessoas como você que acabam por contribuir para a assimetria social e até entre o Litoral e o Interior que prevalece neste triste País.
    Passe bem!
    P.Rufino

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  6. A Kullervojulho 19, 2019

    @Anónimo (P. Rufino)

    Exmo. Senhor,

    A participação nos fora que a internet ainda vai proporcionando (merci, UJM) seria, idealmente, uma oportunidade para confrontar pontos de vista antagónicos sem perder de vista o princípio (basilar? Não, radical!) da cortesia. O senhor não me conhece mas acusa-me de contribuir para assimetrias sociais e geo-económicas (e insulta-me de permeio).
    Posto isto, permita-me a questão: porque é que não existe na sociedade civil, nem nas agremiações políticas, ninguém que defenda a eliminação das assimetrias entre litoral/interior e, em contrapartida, um partido que defende os direitos dos animais (não todos, claro, só dos que são "amigos" do ser humano) obtém uma votação que o guinda para o primeiro plano da cena política nacional? (Se a sua primeira reacção é a de postular que tal se trata de defender alimárias como eu, não se fatigue, porque cheguei lá primeiro.)
    Folgo em saber que usufrui de algum desafogo económico, e congratulo-o na expectativa de que tal predicado esteja a ser utilizado parcialmente em prol da «gente que vive mal, por vezes próximo da miséria)».
    (No entanto, não passa despercebido o olor pungente que ressuma da frase «portante (sic) não estou no esteriotipo (sic) dos tais humildes, [...])


    @Isabel

    Exma. Senhora,

    Refere, na resposta ao meu comentário - que agradeço,- os deveres dos políticos («Trata-se de fazerem bem e com honestidade o seu trabalho,...») e os direitos dos humildes ([...]« direito a viver com dignidade e com salários dignos.).
    Sobre os direitos dos políticos não interessa perorar em demasia, porque não é difícil concordar que são excessivos vis-à-vis o contributo líquido que proporcionam à sociedade. Mas sobre os deveres dos humildes (e.g., votar por altura dos plebiscitos; não atrapalhar a vida dos demais cidadãos - sejam eles sobranceiros ou humildes - sob o eterno pretexto de que "estão a trabalhar"; não conspurcar o espaço público; etc., etc.) ninguém fala (por não ser políticamente correcto). Quererá você elucidar-nos sobre essa lacuna?

    (Contestará - com razão - que os bons exemplos devem vir de cima. Mas se esses exemplos tardam ou nunca chegam, tal constitui argumento suficiente para permitir que o conjunto da sociedade se afunde em desleixo e nepotismo? Talvez seja, quiçá...)

    Os meus melhores cumprimentos.

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  7. Claro que nem todos os políticos são corruptos! É assustador verificarmos que ultimamente assistimos a perigosos maniqueísmos em relação a um mundo que teimam de risco ao meio: o nós e os eles, neste caso os políticos.
    Infelizmente, todos os dias temos notícias de casos e mais casos de corrupção em muitos quadrantes da sociedade portuguesa.
    Este discurso populista e demagogo contra todos os políticos começa a ter contornos perigosos porque, além de minar a sociedade, manipulando crédulos e ignorantes, cria o terreno propício ao surgimento do líder-salvador, do ditador. Assim se explicam os Bolsonaros e afins.
    Algo assustador e incompreensível para mim é aperceber-me de como pessoas adultas, putativamente idóneas, i.e. com experiência de vida, acharem que o mundo é todo a preto e branco, nós somos os bonzinhos, os honestos, os castos e os políticos são todos uns corruptos, uns facínoras.
    Abomino fundamentalismos.

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  8. Acompanho a comentadora "Célia" na sua firmação exclamada de "Claro que nem todos os políticos são corruptos!"
    Obviamente que os políticos, como os policias, os magistrados, os professores, as costureiras, os banqueiros, os bancários, os ministros e outros mais não são mais do que o reflexo da sociedade em que todos nós estamos a ser criados e daí existir uma transversalidade na corrupção, aparecendo casos em quase todo lado. A ética e valores republicanos devem passar a ter disciplina obrigatória nas escolas e as penas judiciais agravadas especialmente nos que diz respeito aos bens públicos.
    A coisa fica pior porque, nesta época infernalmente mediática que nos obriga a estar permanentemente a viver de percepções e fabricações noticiosas ou fake news. Hoje quem é que confia nos jornais ou nas TVs? e depois queixam-se das vendas. Publicam e afirmam tudo e o seu contrário com 10 segundos de diferença. Constroem assassinatos de carácter, de imagem e de família com toda a facilidade. Dois exemplos caricaturais: quantos milhares de horas de gritaria passou o correio da manha com o Sócrates e o Bruno de Carvalho. Já algum foi condenado judicialmente?
    Para concluir dizer que esta lenga lenga contra os políticos, contra os partidos, contra a Assembleia da República e o número de deputados é táctica velha e conhecida dos ransosos antidemocráticos que aspiram a voltar ao poder. Como exemplo, esta recente campanha contra o SNS é absolutamente da demonstrativa da desonestidade (só intelectual??) de quem nunca votou favoravelmente o SNS e dos jornalistas e pés de microfone e de quem lhes está a pagar

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  9. A Kullervo,
    Se você se considera si mesmo uma animária é lá consigo. Jamais me passaria pela cabeça acusá-lo de tal. Quanto ao PAN, com o qual tenho zero empatias políticas, não percebi porque o invocou (embora me divirta que os – eventuais – 4% que dizem as sondagens poderá vir a obter, assustem alguns Partidos. Entre touros e galgos, a ver o que Costa conseguirá obter deles, depois de 6 de Outubro). E, que eu saiba, o PAN está longe de estar “no primeiro plano da política nacional”. Ainda bem!
    O que eu não tenho é pachorra para a conversa “foleira” do político instalado em Lisboa a dissertar sobre o País que desconhece.
    Ao que vejo, fico sem perceber qual a sua posição sobre esta questão. Mas, também não é coisa relevante.
    No meu caso, chateia-me - e muito - ver, entre outras decisões, parte dos meus impostos a suportar Bancos que praticaram gestão danosa, tráfico de influências, negócios obscuros, foram corruptos, etc, como fizeram os governos anteriores e este de agora do Centeno/Costa. E quando olhamos para o que se noticia de que um futuro Orçamento Europeu terá como um dos seus principais objectivos poder ter a capacidade de acorrer aos bancos (privados) em dificuldade, em vez de, por exemplo, estar em condições de poder socorrer empresas privadas em dificuldade (que produzem riqueza e dão origem à criação de emprego), salvaguardar a Segurança Social, etc, fico “zangado” com esse tipo de prioridades que esta extraordinária União Europeia, de hoje, em pleno Séc XXI se propõe fazer, ou levar por diante. Que tem, por cá, o apoio dos tradicionais Partidos "do cheque" – PS/PSD/CDS.
    Meu caro/a, tenha um bom Fim-de-semana!
    P.Rufino

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  10. A Kullervojulho 21, 2019

    @Anónimo (P. Rufino)

    Exmo. Senhor,

    Obrigado pelo seu comentário.

    O meu desiderato neste conjunto de comentários foi o de tentar sugerir um ponto de partida para uma reflexão pessoal, individual, sobre a responsabilidade dos cidadãos face ao desempenho dos políticos. Tentarei ser conciso:

    Premissas - i) O ser humano social é o animal político (Aristóteles, ênfase minha no artigo definido); ii) As interacções entre os elementos que constituem um colectivo humano (bando, tribo, cidade, nação) levam à emergẽncia de um grupo restrito desses elementos, que se encarregam da gestão da coisa pública: os políticos; iii) no seu pior, a acção dos políticos será sempre um mal necessário mas incontornável; no seu melhor, fornece o impulso necessário ao fortalecimento e coesão do colectivo social (e, por difusão, de cada um dos elementos do colectivo, ainda que com graus diversos de equidade).

    Se estes pontos não lhe suscitam polémica, as questões que cada participante na sociedade colocaria a si próprio poderiam ser: "Depois de alguma reflexão, é ponto assente para mim que não posso concordar com a forma de actuação dos políticos que nos governam. Como é que deixei que tais pessoas ocupassem o poder? O que posso fazer para que mudem a sua forma de agir ou, eventualmente, para as substituir?"

    Simplificando: Se os políticos que governam são uns tratantes e uns incapazes, o que é que isso diz das pessoas que os elegem e mantêm no poder? No mínimo, que são ingénuas; em última análise, que são de duvidosa idoneidade.

    Como última nota: numa democracia razoavelmente livre de estratégias de coacção, considero a abstenção não como um protesto generalizado contra os políticos, mas como uma inequívoca posição de apoio em prol dos que triunfam nas eleições, quaisquer que sejam (um genuíno cheque em branco político e social, se preferir).

    Agradeço e retribuo os seus votos de bom fim-de-semana.

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  11. A Todos,

    Escolher o caminho do maniqueísmo é escolher um caminho perigoso. Não apenas, na maior parte das vertentes da vida, o maniqueísmo é uma simplificação artificial que conduz a deformações da percepção como, ao forçar a escolha de um dos lados, frequentemente os incautos escolhem o lado errado. O maniqueísmo é o terreno fértil onde floresce o populismo pois é o terreno das 'verdades' fáceis ('se não é preto, é porque é branco'; 'se é político é corrupto e oportunista'; 'se é cigano, é gatuno', etc). E o populismo é o pasto onde proliferam os demagogos, os fascistas, os ditadores, os que se aproveitam de quem os apoia, manipulando a verdade e fazendo o que calhar, quase sempre atentados contra a ética e contra o próprio respeito pela vida humana. Veja-se o Trump.

    Dos argumentos do P. Rufino espanta-me que que venha ligar a má gestão de alguns banqueiros (profissionais que actuam na gestão privada) à conversa sobre os políticos. São as tais simplificações que abrem a porta a misturada de argumentos, manipulando a informação e induzindo conclusões deturpadas. Nem sei o que é que o facto de os políticos estarem em Lisboa os torna incapazes de perceber as necessidades do País. Nem sei como é que isso se combatia. Aliás, imagino o que é o P. Rufino e a Isabel aparentemente defendem ao arrasar a idoneidade e a honorabilidade dos políticos: acabar com eles. Ou seja, o País virar o quê: uma anarquia? Sem deputados, sem governo, sem gestão autárquica.

    Esse discurso é a porta aerta para que apareça um salvador da pátria, alguém que se anuncie como um anti-político. Alguémvindo das cavernas: um Trump, um Bolsonaro.

    Assusta-me que pessoas que tenho por inteligentes defendam conceitos tão perigosos.

    Portanto, sou absolutamente contrária a tudo a que o P. Rufino e a Isabel dizem sobre este assunto.

    Um bom domingo.

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