Já contei que, quando andava no liceu, atrás de mim sentava-se uma colega de quem eu gostava muito. Éramos totalmente diferentes. Eu andava sempre cheia de amores e gostava de me arranjar bem enquanto ela era desprendida, sem pingo daquela futilidade adolescente que em mim cintilava. Mas ela achava graça à minha maneira de ser e aos romances que giravam em torno de mim e ouvia atentamente as minhas conversas sobre variedades de rímel, soutiens Triumph, convívios dançantes ao sábado -- enquanto eu admirava a sua sobriedade desarmante, a sua disponibilidade para ouvir todas as parvoíces. Éramos ainda diferentes noutra coisa: ela era péssima a matemática mas excelente a desenho. Muitas vezes fomos ambas ameaçadas de nos anularem os testes por estarmos no copianço, eu desviada do que escrevia para ela, atrás de mim, copiar à vontade. Deixei-a também copiar a física e se calhar também a outras disciplinas. Achando sempre que o que eu respondia certo era fruto do acaso e admirando quem eu achava que tinha genuíno talento, eu via o que ela fazia com pasmo e achava que tudo o que fizesse para a compensar da falta de intuição para o raciocínio numérico e lógico e, ao mesmo tempo, para louvar a sua superioridade era pouco.
Lembro-me de umas bailarinas que ela pintou a guache. Estava lá a graça do movimento, estava lá a transparência dos tules, estava lá a beleza da dança. E fosse qual fosse o motivo, enquanto eu me esforçava para fazer alguma coisa bem feitinha que invariavelmente saía sem graça, ela, em duas penadas, traçava o espírito da coisa. Fosse aguarela, pastel, guache ou lápis de cor, tudo o que ela fazia era diferente de todos os outros. Separámo-nos quando fomos para cursos diferentes e, quando voltei a saber dela, já ela era escultora conceituada e professora universitária.
Voltei agora a pesquisá-la na net e dei com uma fotografia dela. Quase me emocionei. O tempo passa. Ah, como éramos meninas naquela altura. Agora mulheres feitas. Ela serena e bonita como sempre. Não se percebe como, com aquele ar suave, tem força para trabalhar a pedra. Mas tem. É, como sempre foi, uma artista.
Sempre me dobrei perante a arte. Toda a minha vida frequentei exposições. Mesmo quando vieram as crianças. Arrastava-os para verem coisas que não percebiam. Penavam, faziam disparates, queriam fugir. Sempre achei que só podia fazer-lhes bem. Aceitar a diferença e o que inexplicável é parte do caminho que há a percorrer.
Cedo me afastei do figurativo, do perfeito. A arte abstracta, as manchas de cor, a ausência de peias e a liberdade para inventar formas, sobreposições, coisas nenhumas, isso sempre me atraíu. Por fim, os miúdos já não perguntavam 'o que é?', já rendidos à ideia de que as coisas são o que são e não o que querem parecer.
Tenho ideia de que já contei a surpresa que tive quando, sozinha, miúda, sem antes me ter informado, fui ver uma exposição de Miró. Achei uma loucura. Nem conseguia perceber que maluqueira era aquela, em especial as esculturas que incluíam sapatos, restos de coisas, quadros só com salpicos. E, no entanto, que alegria. Que coisa espantosa. Mais tarde já o vi com outros olhos mas com ainda maior pasmo. Que homem adulto tinha a ousadia de fazer tais infantilidades? Mas, de novo, que luminosa e inocente alegria aquela. Estrelinhas, luas, coisinhas sem sentido, bocas e olhos, céus coloridos e felizes.
Ou Paul Klee. Uma vez vi uma reprodução de Paul Klee, pequenina. Convenci a minha mãe a emoldurar. Uma cara redonda e cor de rosa, circunspecta, um olho no céu e outro na terra. Porque é que eu gostei, logo, tanto sem saber quem era o pintor, sem perceber que figurinha era aquele?
E Picasso e Gauguin e Van Gogh e Chagall e tantos outros. Mais tarde, Roth. Cada vez mais abstração, cada vez menos realismo, cada vez maior liberdade.
E, por gostar tanto de arte, nunca me imaginei sequer a cometer a irresponsabilidade de pintar.
Até que o meu filho me ofereceu aquilo que eu nunca pensei ter: material de pintura.
Ao princípio, punha-me a pensar no que ia pintar. Esforçava-me. Não queria desperdiçar telas ou tintas com a minha falta de jeito. Antes de pintar já eu antecipava a decepção.
Uma vez resolvi pintar um retrato da minha filha. Peguei numa fotografia dela do dia de casamento e pintei o vestido em tons de dourado.
O vestido despachei-o em três tempos. Mas o rosto, o sorriso, o olhar... Era ela mas não era ela. Quando alguém o vê, diz logo que é ela. Mas não é. O sorriso dela é mais aberto, os olhos mais alegres. Não sei explicar.
Foi o primeiro e o último retrato. É absurdo querer fazer igual. Para igual há as fotografias (e já a fotografei milhares de vezes). Uma pintura é para ser outra coisa. Mas, se é outra coisa, não é o retratado. Portanto, perante a total contradição dos termos, deixei-me de tentar ser retratista.
Mas foi um percurso. Pintar coisa nenhuma requer uma liberdade pela qual ansiamos mas que, tendo-a dentro de nós, temos dificuldade em usar.
Até que consegui libertar-me. Mulheres a andar por cima dos prédios, mulheres com o coração à vista, escadas que não iam dar a lado nenhum, galos faustosos, flores escandalosas. Não estava a pintar para ninguém nem para obter aprovação de ninguém. Pintava apenas pelo prazer infantil de pintar, o prazer do gesto, o prazer da liberdade, o prazer de transformar uma tela branca numa coisa cheia de cores.
E fiz como a Isabel: com medo de que acabassem as telas, comprei montes delas, com medo que acabassem as tintas, comprei montes delas.
E fui pintando. Ficava até de madrugada. Nunca me importei com a qualidade do produto final. Pintei para mim, para os meus filhos, para os meus pais. Queria pintar coisas neutras, incolores, simples mas, sem perceber como, as cores jorravam de dentro de mim. Por vezes, chegava ao fim e ainda juntava brilhos, purpurinas. Um exagero. Uma alegria. Depois já era apenas para guardar. Até que já não tinha onde pôr. Pintei, então, canteiros. E já estão, outra vez, a precisarem de ser pintados.
Agora pouco pinto. Mas tenho saudades. Volta e meia 'pinta' uma vontade louca de ir buscar uma tela grande e desatar a pintar, a espalhar cores, brilhos, loucuras. Mas, em vez disso, ponho-me para aqui a escrever, a soltar palavras ao vento.
Voltei agora a pesquisá-la na net e dei com uma fotografia dela. Quase me emocionei. O tempo passa. Ah, como éramos meninas naquela altura. Agora mulheres feitas. Ela serena e bonita como sempre. Não se percebe como, com aquele ar suave, tem força para trabalhar a pedra. Mas tem. É, como sempre foi, uma artista.
Sempre me dobrei perante a arte. Toda a minha vida frequentei exposições. Mesmo quando vieram as crianças. Arrastava-os para verem coisas que não percebiam. Penavam, faziam disparates, queriam fugir. Sempre achei que só podia fazer-lhes bem. Aceitar a diferença e o que inexplicável é parte do caminho que há a percorrer.
Cedo me afastei do figurativo, do perfeito. A arte abstracta, as manchas de cor, a ausência de peias e a liberdade para inventar formas, sobreposições, coisas nenhumas, isso sempre me atraíu. Por fim, os miúdos já não perguntavam 'o que é?', já rendidos à ideia de que as coisas são o que são e não o que querem parecer.
Tenho ideia de que já contei a surpresa que tive quando, sozinha, miúda, sem antes me ter informado, fui ver uma exposição de Miró. Achei uma loucura. Nem conseguia perceber que maluqueira era aquela, em especial as esculturas que incluíam sapatos, restos de coisas, quadros só com salpicos. E, no entanto, que alegria. Que coisa espantosa. Mais tarde já o vi com outros olhos mas com ainda maior pasmo. Que homem adulto tinha a ousadia de fazer tais infantilidades? Mas, de novo, que luminosa e inocente alegria aquela. Estrelinhas, luas, coisinhas sem sentido, bocas e olhos, céus coloridos e felizes.
Ou Paul Klee. Uma vez vi uma reprodução de Paul Klee, pequenina. Convenci a minha mãe a emoldurar. Uma cara redonda e cor de rosa, circunspecta, um olho no céu e outro na terra. Porque é que eu gostei, logo, tanto sem saber quem era o pintor, sem perceber que figurinha era aquele?
E Picasso e Gauguin e Van Gogh e Chagall e tantos outros. Mais tarde, Roth. Cada vez mais abstração, cada vez menos realismo, cada vez maior liberdade.
E, por gostar tanto de arte, nunca me imaginei sequer a cometer a irresponsabilidade de pintar.
Até que o meu filho me ofereceu aquilo que eu nunca pensei ter: material de pintura.
Ao princípio, punha-me a pensar no que ia pintar. Esforçava-me. Não queria desperdiçar telas ou tintas com a minha falta de jeito. Antes de pintar já eu antecipava a decepção.
Uma vez resolvi pintar um retrato da minha filha. Peguei numa fotografia dela do dia de casamento e pintei o vestido em tons de dourado.
O vestido despachei-o em três tempos. Mas o rosto, o sorriso, o olhar... Era ela mas não era ela. Quando alguém o vê, diz logo que é ela. Mas não é. O sorriso dela é mais aberto, os olhos mais alegres. Não sei explicar.
Foi o primeiro e o último retrato. É absurdo querer fazer igual. Para igual há as fotografias (e já a fotografei milhares de vezes). Uma pintura é para ser outra coisa. Mas, se é outra coisa, não é o retratado. Portanto, perante a total contradição dos termos, deixei-me de tentar ser retratista.
Mas foi um percurso. Pintar coisa nenhuma requer uma liberdade pela qual ansiamos mas que, tendo-a dentro de nós, temos dificuldade em usar.
Até que consegui libertar-me. Mulheres a andar por cima dos prédios, mulheres com o coração à vista, escadas que não iam dar a lado nenhum, galos faustosos, flores escandalosas. Não estava a pintar para ninguém nem para obter aprovação de ninguém. Pintava apenas pelo prazer infantil de pintar, o prazer do gesto, o prazer da liberdade, o prazer de transformar uma tela branca numa coisa cheia de cores.
E fiz como a Isabel: com medo de que acabassem as telas, comprei montes delas, com medo que acabassem as tintas, comprei montes delas.
E fui pintando. Ficava até de madrugada. Nunca me importei com a qualidade do produto final. Pintei para mim, para os meus filhos, para os meus pais. Queria pintar coisas neutras, incolores, simples mas, sem perceber como, as cores jorravam de dentro de mim. Por vezes, chegava ao fim e ainda juntava brilhos, purpurinas. Um exagero. Uma alegria. Depois já era apenas para guardar. Até que já não tinha onde pôr. Pintei, então, canteiros. E já estão, outra vez, a precisarem de ser pintados.
Agora pouco pinto. Mas tenho saudades. Volta e meia 'pinta' uma vontade louca de ir buscar uma tela grande e desatar a pintar, a espalhar cores, brilhos, loucuras. Mas, em vez disso, ponho-me para aqui a escrever, a soltar palavras ao vento.
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Já viu, Isabel? Não custa nada. Só é preciso descaramento, não ter vergonha, nem medo, nem nada. Aliás, que mal pode fazer a gente fazer 'obras de arte' destas...? Alguém nos vai mandar prender...? Acho que não. Pelo menos, eu continuo livre para fazer das minhas.
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Flores e cores
E, para que haja arte neste post, três dos muitos pintores a sério de que muito gosto
E haja alegria para que os dias sejam felizes.
Gosto muito deste: https://3.bp.blogspot.com/-iILTLO3A2Yw/XKvNJMdxDmI/AAAAAAAAnUY/y-6JiRGViTIl5BYxv-j4-5L0Dh_uyBmbQCLcBGAs/s1600/gfgf.jpg
ResponderEliminarTenho uma pena de não ter lá grande capacidade artística e performativa. O "problema" da sua amiga com os números, era o meu com as pinturas. Certa vez, num exercício de educação visual que consistia em ver uma fotografia durante uns minutos e depois reproduzi-la em aguarela (sem a poder ver), fiz um trabalho tão tão bom que o professor pensou que estava a gozar e mandou um "recadinho" para casa...
Para compensar sou um consumidor compulsivo e obcecado em dissecar os processos criativos.
Claro que ADOREI este post!
ResponderEliminarGostei bastante das suas telas, de todas, mas as minhas preferidas são as duas anteriores ao galo (uma delas é o retrato).
Eu acho que a UJM tem uma artista dentro de si - mas isso não é novidade - que poderia ter feito carreira na arte. Para quem nunca estudou nada, revela uma grande criatividade e talento. Quem me dera ser capaz de fazer semelhante.
Já dei um passo em frente. Há tempos não saberia como começar, porque, tal como a UJM achava que a pintura tinha que ser uma coisa muito certinha e eu não sabia como começar. Mas andei a ver videos, que no fundo são aulas e já me sinto capaz de tentar fazer alguma coisa, começar por algum lado. E é como digo, assim que tiver o meu pequeno espaço arrumado, começo as minhas tentativas. Se sair alguma coisa de jeito, mostrarei. O meu objectivo para arrumar aquele espaço é que eu faço outros trabalhos ( Registos; junk journals ( uma espécie de diários/álbuns); gosto de pintar pequenos móveis... também gosto de costura (mesmo não sabendo grande coisa) e então é para poder trabalhar e ter tudo à mão. E poder deixar as coisas desarrumadas quando o dever me chama.
Doutra maneira não consigo fazer nada. Andar sempre a tirar e a arrumar a tralha, não é fácil, nem produtivo.
Muito obrigada por ter mostrado os seus trabalhos, que eu acho muito bons. É pena que tenha parado.
E desejo-lhe a continuação de uma boa semana:)))
Beijinhos:))
(Fiquei curiosa sobre quem será a escultora...)
(Chabeli, eu sei, pois há uma amiga da blogosfera, que mora em Espanha e chama-me assim:))
PS: Vi o video dos produtos de beleza: uma trabalheira! Gostei de ver.
ResponderEliminarOs dos pintores vejo amanhã. Agora vou continuar o meu trabalho, mais um bocado. Fiz um intervalo, que estava cansada. Trabalho da escola.
A rica UJM pinta bué!
ResponderEliminarAs suas obras são bem bonitas.
Um nunca fui muito jeitoso para as artes, mas o que é verdade é que ao fim de três anos com a mesma Professora tive 5 a EV no fim do 9.o ano. Uma cadeira para uma ambiance Miró e o design industrial do séc. XX foram a receita para o sucesso hehe.
Um rico dia.
(Mais logo "ispilico" o Panksepp e c.a.)
Olá UJM,
ResponderEliminarPinta como escreve, com cor e bom gosto. E as suas pinturas não ficam nada a dever às outras com que ilustra este blog.
Rita
Olá Paulo,
ResponderEliminarEu também gosto de perceber o processo criativo. omo nascem as ideias? Nascem e ganham forma ou fazem-se enquanto estáo a ser feitas? O que faz que elas se formem de uma ou outra maneira? Na escrita, na pintura, na música. Tudo muito intrigante,
Gosto de ler o que dizem os escultores, os pintores, os escritores. Gosto de ver como uns são disciplinados e esperam a inspiração enquanto trabalham enquanto outros desafiam a sorte, quase forçando que a criatividade lhes obedeça.
Na sua demanda já encontrou a chave para o mistério.
Abraço, Paulo
Não encontrei e espero bem não encontrar. Hahahaha.
EliminarGostei da seleção que fez dos seus quadros. Transparecem uma diversidade de estilos (e talvez técnicas até), o que especialmente aprecio, por transmitirem subtilmente essa "demanda".
Olá Isabel,
ResponderEliminarComo sempre percebo bem essa sua necessidade de ter as coisas à mão para ser produtiva. Por exemplo, quando penso em escrever a sério também parece que antes preciso de ter um lugar para isso para poder as condições ideais porque interromper não dá jeito nenhum, parece que nem vale a pena começar se é para interromper.
Se me lembrar, no fim de semana, fotografo uns que fiz para a minha mãe, coisa num 'estilo' muito diferente. Vai ver. Deu-me também um prazer grande fazer aqueles, tão fora do meu 'género' e fiquei com a sensação que podia pintar cem daquele tipo. Só que não tinha onde pô-los...
Beijinhos, Chabeli.
Olá Francis,
ResponderEliminarE eu também gostaria de pintar caixas de madeira, cadeiras, jarras. Mas ou uma pessoa faz coisas para vender ou, então, temos um problema logística para resolver.
E comecei por fazer toalhinhas de chá, coisas de renda em fio cru e grosseiro com flores amarelas e cor de laranja, coisas na altura fora das normas. Eu achava uma graça mas via que quem as recebia tentava disfarçar o espanto. Resolvi deixar-me disso.
Mas cá para mim, o Francisco também levaria jeito para fazer coisas surpreendentes e bem poderia dizer que a culpa era de uma professora de há anos.
E também pode ser que a arte esteja em entender a mente humana.
E ao falar das procissões (no outro comentário) eu fico a pensar que há um outro mundo que desconheço, cheio de mistérios.
E conte os seus saberes apenas se quiser, ouviu? Não se sinta na obrigação, ok?
Abraço!
Olá Rita,
ResponderEliminarNada. Sou é descarada, sem vergonha. Sei que não sou pintora. Mas tenho aquela inocência de quem gosta de fazer coisas só pelo prazer de fazer. E isso eu não gosto de contrariar. Falta-me é o que fazer depois a tanta 'obra de arte'...
Mas olhe, Rita, agradeço muito as suas palavras simpáticas.
Abraço, Rita.
Eu a achar que a UJM atirava tinta colorida quase de olhos fechados para cima uma tela, uma espécie de Kandinsky de cor quente, e afinal... Ela há formas, geometria, galos e vestidos, mulheres-aranhas gigantes a olhar a cidade...! Bem me enganou!
ResponderEliminarAbraço
JV
Acabei de ver os videos. Gostei.
ResponderEliminarPode-se dizer que as suas pinturas têm um pouco de influência de todos eles! Concordo com a Rita. Os seus quadros não são nada inferiores aos que aqui colocou.
E fico ansiosamente à espera de ver os próximos. Promessa é promessa!
Beijinhos (da Chabeli!)
Olá Paulo,
ResponderEliminarEu, sem querer, sou como os pintores de verdade: se me dá para fazer galos, faço com cada um mais espampanante que os outros, se me dá para fazer freirinhas e santinhas é cada uma mais descarada que as outras, se me dá para fazer cidades com gente andando sobre elas, é cada equilibrista mas imprevista que a outras. E se me dá para fazer coisas impróprias para consumo, é cada uma mais indecente que as outras (a minha filha já pedia: please, ao menos não ponhas na parede...).
Portanto, não sei se é numa de demanda se é pancada mesmo...
:)
Olá JV,
ResponderEliminarSão coisas meio sem explicação, sabe. E há outros que são cores apenas. E se há mulheres circulando sobre as cidades volta e meia saía asneira. Uma vez fiz um que para além de uma mulher a andar a passo firme sobre a cidade, num canto tinha uma mão de mulher a segurar um pénis pelo prepúcio. Mas enquanto as cidades eram coloridas, as figuras humanas eram a preto. E pus esse também na parede.
Quando os sogros da minha filha lá foram pela primeira vez, pessoas convencionais, até conservadoras, o sogro, que era dado à pintura, pôs-se a circular e a ver tudo com muita atenção. Quando o vi dirigir-se para lá, ia-me dando uma coisa pois lembrei-me desse pormenor. A minha filha fez um ar de pânico. Vi que não havia hipótese de salvar a situação: não ia a correr, tirar o quadro da parede, que isso ainda era maior barraca. Ele, que estava a olhar para tudo, de repente fixou o olhar, espantado. Eu senti-me a ficar petrificada, sem saber como justificar aquele meu disparate. Mas, elegante como é, um cavalheiro, disfarçou um sorriso e seguiu para o seguinte. Respirei de alívio. A minha filha estava passada: 'não podias ter tirado aquilo dali...?'. Mas nem tal me passou pela cabeça, lembrava-me lá eu de ter pintado aquilo.
Ou seja, pintar também é para mim pretexto para divertir.
E a menina? Já lhe deu para isso?
Beijinho.
Olá Chabeli,
ResponderEliminarA ver se da próxima mostro esses que fiz para a minha mãe (fiz dois para ela escolher um; no fim, quis os dois) e mostro um que fiz para mim, também com uns lírios.
Sabe? Só de estar a falar nisto já me está a dar uma vontadinha...
A minha filha também me pediu para pintar um para a obstetra que acompanhou os partos dela. Pintei um corpo de mulher grávida no meio de um campo de flores. Deu-me um prazer pintar aquilo... Devia ter ficado com uma fotografia mas não me lembrei disso.
Beijinho, Chabeli.