Era relativamente óbvio que toda a campanha a favor do Brexit era uma cavalgada em cima de argumentos populistas, explorando a ignorância e os medos da camada mais desinformada da população.
Soube-se depois das manobras da Cambridge Analytica através de informação sacada ao Facebook. Chamavam-lhe marketing político personalizado e gabavam-se do sucesso [Vidé aqui ou aqui]
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O Brexit ganhou, pois. E, desde aí tem sido o que se tem visto. A Cambridge Analytica, uma vez os seus métodos postos a nu, entrou em insolvência e fechou. Aos poucos, os ratos foram abandonando o navio que, dia após dia, se foi mostrando sem rumo. Os principais políticos apoiantes bateram em retirada, de fininho. Sobraram dois totós. Theresa May de um lado, Corbyn do outro. Do próprio governo de May tem sido uma felga, com vários ministros a baterem com a porta. Os trabalhistas andam também abananados sem perceberem qual é a de Corbyn.
Perante os próprios britânicos e perante o mundo em geral, o espectáculo tem sido constante. Os europeus, então, têm tido uma paciência de santos com aquela turma descomandada, uma gente que se meteu nisto sem saber o que queria, sem fazer ideia de como agora descalçar a bota.
Agora, a 17 dias da data do Brexit, mais uma derrota para May. Até já dá dó. Aliás, se fosse cá, em português, era caso para se arranjar um mantra, já-dá-dó--já-dá-dó--já-dá-dó!
Rouca, a esforçar-se para vencer a afonia que se avizinha, May ainda tenta parecer que está ao comando. Mas, coitada, ao comando de quê?
Rouca, a esforçar-se para vencer a afonia que se avizinha, May ainda tenta parecer que está ao comando. Mas, coitada, ao comando de quê?
Só discordo da crítica à liderança de Corbyn. O homem tem uma forte oposição dentro do seu grupo parlamentar ao seu programa político, isto porque uma parte significativa deste grupo parlamentar provém da ala à direita / terceira via do labour, eleitos antes de Corbyn ter sido escolhido pelos militantes.
ResponderEliminarOra, parte significativa do grupo parlamentar tem boicotado uma tomada de decisão mais afirmativa de Corbyn, nomeadamente a opção que parece preferir: um novo referendo (e que pessoalmente me parece também a solução, pois novas eleições, face ao sistema eleitoral do RU, provavelmente não vão resolver o problema). Note-se que além de não ter a maioria, o Corbyn viu membros do seu grupo parlamentar desvincularem-se do partido sem colocarem o lugar à disposição, para se juntarem ao grupo de dissidentes que inclui maioritariamente elementos desvinculados do partido conservador que nos últimos tempos têm sido das principais forças de bloqueio.
Enfim, uma salganhada, mas a verdade é que o Corbyn no meio daquilo tudo até é o elemento que melhor consegue fazer pontes, pois percebe a raiva de muitos que votaram a favor do brexit e tem um discurso que aplaca as razões do tal voto de protesto...
Vamos ver o que vai sair daqui.
Concordo inteiramente com a análise do Leitor Paulo Batista.
ResponderEliminarAliás, basta seguir - com alguma atenção - a forma como o líder Trabalhista tem vindo a seguir esta questão e o que tem proposto, ou sugerido, com vista a uma solução, melhor, pelo menos, daquela que T.M vem defendendo. O problema é que, por cá, uma certa Direita, ou semelhante (tipo PS), pelo facto de o BE e J.C terem algumas afinidades políticas (Corbyn já foi convidado do BE e mantiveram contactos), o que não quer dizer que estejam em sintonia (mas basta haver pontos em comum!) e vai o Diabo! Ou seja, o Corbyn é um perigoso esquerdista. A ver vamos como vai acabar esta história do Brexit. Para já, ao que vou lendo, Londres ficará refém do seu (grande) "amigo" americano, pois terá de baixar os braços no que respeita à qualidade, por exemplo, dos alimentos que irá passar a consumir...uma vez se consuma o Brexit, pois Trump irá impor o relaxar das regras que, até agora, o R.U estava obrigado a seguir (carne de porco, de vaca, avícolas, etc, para as importar). E outras cedências se seguirão, se o R.U quiser sobreviver economicamente. Poder-se-ia ter tentado negociar outro tipo de solução, mas a PM, T.M, nunca esteve à altura desse desafio. Enfim, sendo absolutamente legítimo esta posição do R.U, de querer sair da U.E, face ao resultado do referendo, a forma, atabalhoada como acabou por gerir a questão, acabou por vir a ser um tiro no pé de T.May. Lamentável! E subestimar a Comissão Europeia veio a ser outro erro.
Sempre tive os ingleses como gente ponderada, mas desta vez acabaram por falhar em toda a linha. Não conseguiram prever o que se seguiria. Enfim, resta ver como esta história
irá acabar. Todavia, acredito que se mantém a mesma maioria que no R.U quer sair da U.E. Mas não desta maneira, evidentemente.
P.Rufino
Olá Paulo,
ResponderEliminarEu sei. O que diz é verdade e Corbyn tem o terreno minado. Mas o que faz um líder é a capacidade de se afirmar mesmo quando as circunstâncias são adversas. O querer fazer pontes quando as margens são compostas de areias movediças é puro nonsense. As pontes têm que ter pilares assentes em terreno firme. Há alturas em que o gesto que se impõe é a ruptura. Andam todos a navegar em águas turvas, a querer alcançar consensos -- e o resultado é o que se vê.
Também acho que o que se impõe é outro referendo. Andar a dar este triste espectáculo não é bom para ninguém, muito mesmos para os ingleses.
E nunca a figura da 'rainha de Inglaterra' ilustrou tão bem o que é levar ao extremo a neutralidade e passividade daquele regime monárquico.
PS: Gostei de ler o seu comentário. Obrigada.
E boas cybermúsicas, Paulo!
Olá P. Rufino,
ResponderEliminarDe certa forma já comentei na resposta acima ao Paulo Batista.
Não sei se o Corbyn tem afinidades com o Bloco de Esquerda já que seguir as amizades do BE não faz parte das minhas motivações. Nem me parece que Corbyn seja um perigoso comunista. Nem sequer um inocente comunista. Acho, simplesmente que, tal como May, Corbyn não soube estar à altura da bagunça que lhes caíu no colo.
Toda a conversa de Corbyn é redonda, um nim permanente.
Não tem tido a vida fácil, eu sei. Não tem mesmo. Mas uma altura destas requer gente que saiba lidar com situações complicadas. E ele sabe?
Pergunte-se aos britânicos e aos europeus em geral o que é que Corbyn defende e poucos saberão responder.
Já decorreu tempo demais e Corbyn continua a querer construir uma solução 'enevoada', votando de forma que aos olhos dos 'pouco atentos' mais parece errática do que bem definida.
Veremos as novidades depois da próxima votação.
É no que dá o populismo.
Uma noite descansada, P. Rufino.
Concordo com a UJM quanto ao Corbyn. A postura de rico armado em salvador do povo enganado é uma postura que obviamente não coloca os britânicos do lado dele e, por isso, ele está, como não podia deixar de estar, a falhar.
ResponderEliminarQuanto à May, tenho pena dela. Transformada na vilã, na grande má da fita, humilhada permanentemente, seja por causa das roupas, do riso, ou simplesmente por tentar encontrar a melhor solução possível para um problema que não foi ela que criou. Enquanto isso, David Cameron deve estar a curtir o seu belo património feudal. Farage gozou a vitória e deu de frosques.
Outra coisa: as pessoas foram enganadas, sim. Mas não foi só pela Cambridge Analytica e partidários do Brexit. As pessoas foram sendo enganadas ao longo dos anos, sempre que os seus políticos culpavam a Europa por não poderem fazer mais, investir mais, poupar mais, produzir mais. A Europa foi o fall-back para muito político inglês incompetente. E são as pessoas, com o seu salário mínimo e os seus direitos sociais postos em risco por uma austeridade brutal, as pessoas a quem foi vendida a ideia da Europa má da fita, que têm culpa de ter votado para sair? Porque são burras e incultas? Tenham dó. A culpa, como sempre, é dos esperto - ricos e aproveitadores. Sobretudo, boçais. A eles o Brexit talvez até traga oportunidade de negócio para enriquecer ainda mais.
Abraço
JV
Corbyn é um Brexiteer e tem tido ao longo deste processo uma postura cínica, porque não quer alienar a parte do seu eleitorado que votou no Leave e que JV descreve bem no seu comentário. Já alguém disse que quase podemos sobrepor a geografia do Brexit à geografia dos despojados das políticas industriais dos anos 70-80.
ResponderEliminarFaltam estadistas na política britânica. Os poucos que restam estão muito marginalizados. O primeiro erro de T May, que tinha feito campanha a favor do Remain, foi assumir um mandato que não era o dela, sem tentar sequer estabelecer qualquer diálogo que conduzisse a uma plataforma de entendimento no Parlamento e com a sociedade civil. Essa seria sempre uma missão muito difícil, mas de algum modo funcionou com o Referendo Escocês. Reconheço que este último é um contexto muito diferente, mas não me esqueço da declaração conjunta dos líderes conservador, trabalhista e democrata liberal em que diziam que havia muito que os separava, mas acordavam com paixão numa coisa: a integridade do seu País. É esse espírito que tem faltado.