A chuva ondula-me o cabelo, transtorna-o, parece que lhe duplica o volume. O vento, então, tira-o do sério, revolteia-o, desestabiliza-o. Já aqui o confessei: atravessar a rua em dias assim e entrar directamente para uma reunião sem poder ir antes compor-me fragiliza-me. Se alguém quiser abusar de mim -- salvo seja, claro -- é apanhar-se insegura assim, sem saber se tenho o cabelo virado do avesso, se estou com ar de maluca, despenteada mental.
Quando era adolescente olhava com pena (de mim) para o cabelo liso e escorrido de algumas amigas. Achava isso o máximo. Uma delas tinha um cabelo fininho como fios de seda. Era assim que, na altura, eu gostava que fosse o meu. Tinha o cabelo muito louro e os pais passavam a vida a viajar. Ela ficava em casa com o irmão e com as empregadas. Quando regressavam traziam-lhe coisas que não existiam cá: travessões lindíssimos para o cabelo, blusas incríveis, bolsas para os lápis, mochilas com cores felizes. Nós com os livros em malas de pele, estojos também de pele, coisas escuras e sem graça e ela com coisas em turquesa, verde alface luminoso, pink reluzente. E o cabelo lisinho, enfeitado com coisas de todas as cores. A minha mãe dizia dela: cabelinho de rato. Mas eu não ligava, achava que ela dizia aquilo só para me consolar.
Já adulta, houve uma altura em que, se calhava ir à cabeleireira, esticava o cabelo. Quando chegava ao trabalho, toda a gente estacava a certificar-se que era eu, ultra penteada. O que eu gostava de sentir o cabelo elegantemente descendo, esvoaçando e aterrando sempre em grande estilo...
Já me deixei disso. Cada um é como é.
Em tempos tive um colaborador muito estranho, muito grande, muito mastronço, muito caladão, uma espécie de mula no masculino, ronceiro, inexpressivo. No entanto, ninguém é exactamente o que parece. Casado e pai de filhos, demos por ele apaixonado por uma colega, igualmente casada mas dada a folguedos de toda a espécie e feitio. Deu-lhe bola. Penso que ter um devoto assim dava-lhe jeito. Na prática, fez dele um motorista particular. Um dia, os colegas de sala, divertidíssimos, vieram contar-me: todos os dias a meio da manhã, a meio da tarde e antes de sair, o tipo sai com um envelope de serviço na mão e regressa, depois vai encontrar-se com ela. Andávamos intrigados e ontem foi bisbilhotar. Imagine: É uma escova de cabelo. Desatou-se a rir a contar e eu fiz o mesmo. Daqueles fulanos com um cabelo ralo, fino, liso, escasso, mas que, por ser grande, disfarçava a escassez. Ia então, escovar os três cabelos antes de ir ter com a namorada.
Mas, enfim, esta converseta vem a despropósito do vídeo seguinte. Um homem pediu a James Fridman, um retocador de fotografias que lhe compusesse o cabelo na fotografia em que aparece a ser beijado pela namorada. E James assim fez: arranjou maneira de ele o pôr com um cabelinho à maneira. Ora confiram lá, se fazem favor. E todos quando padecemos de despenteamento crónico ou esporádico podemos seguir a boa ideia.
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As outras fotografias que aqui aparecem foram também photoshopadas pelo patusco do James.
Se quiserem podem mandar-lhe que ele se encarregará de vos tratar da saúde.
Holy Cow!
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