segunda-feira, novembro 12, 2018

Uma chuva diluviana, um cogumelo fenomenal, um olhanense que fala como uma matraca, um avião desgovernado, o Bruno de Carvalho detido.
Etc.
Ou seja: um dia cheio de cenas.




Durante o dia choveu que Deus a dava. Uma coisa quase diluviana. Tentei fazer a minha caminhada mas não foi possível. Chovia, chovia. Muito bonito de ver. Uma tranquilidade boa. 

Mas tanta a força da chuva que, inclusivamente, entrou água na sala. Provavelmente alguma telha levantada, talvez caruma ou folhas de azinheira acumuladas. O meu marido pôs a escada e foi lá acima ver mas chovia tanto, tanto, que não deu para grande coisa. 

Olhei a rua pelas janelas. De repente reparei, um pouco ao longe, numa mancha redonda, muito branca, entre a folhagem. Vesti uma capa e, numa corrida e munida com a máquina, fui ver. Era um enorme cogumelo branco, muito liso, muito redondo, como que insuflado. Uma coisa quase fenomenal. A natureza é cheia de coisas curiosas e estranhamente belas.


De tarde, estava eu concentrada no meu tapete, intrigada com o branco que estava a usar que me parecia mais branco do que era suposto quando, num zapping, o meu marido estacionou numa entrevista. Numa confortável saleta, com um sofá bonito e uma estante, uma jovem entrevistava um senhor que dizia que era de Olhão, que falava pelos cotovelos, e ao lado do qual estava uma senhora com o cabelo muito mal penteado e com uns sapatos curiosos, creio que acobreados e muito grandes. A senhora olhava para as mãos. O senhor falava ininterruptamente, como se lhe tivessem dado corda. Falava tanto, tanto, sem que eu percebesse bem de que é que ele estava a falar e a senhora, ao lado, mantinha-se cabisbaixa. Às tantas, talvez atormentada pelo fluxo palavroso do senhor, começou a balouçar-se, para a frente e para trás, sempre de cabeça baixa. O meu marido interrogou-se: 'Será autista?'. Olhei e achei que podia ser. Às tantas, quando olhei com mais atenção, vi que o senhor se chamava Fernando Cabrita e que a senhora do descuidado penteado era, afinal, a Ana Cristina Leonardo. Comecei a prestar atenção para ver o que era aquilo. O meu marido protestou: 'Mas de que é que o gajo está a falar?'. E nisto cortaram a emissão e o meu marido disse: 'Claro, tiveram que cortar a emissão, era a única maneira de lhe cortar o pio'. Mas logo apareceu a locutora a dizer que havia um avião desgovernado nos ares. 


Ficámos logo preocupados com os nossos filhos. Tentei ver no mapa se o avião andaria sobre os espaços onde eles estariam. Mas ele, nestas coisas, é mais precipitado que eu: 'Liga já aos miúdos'. Serão sempre os miúdos, os nossos miúdos. Liguei logo pois, se não o fizesse, ele ficaria numa ansiedade. Ambos acharam o meu telefonema um bocado parvo, sem perceberem o que queríamos nós que eles fizessem. Senti-me burra, claro, quando disse: 'Olha, tenham atenção, se virem um avião às voltas tenham cuidado'. Como se uma pessoa se pudesse chegar para o lado para se desviar de um avião desgovernado a despenhar-se. Enfim. Mas, claro, estava mesmo nervosa com aquilo. Mas logo depois soubemos que estava a ir para o aeroporto de Beja e logo de seguida que, à terceira tentativa, tinha aterrado bem. Portanto, tudo bem.


Entretanto, ao chegarmos a casa, enquanto eu andava nos cozinhados, nas lavagens e arrumações e ele nas lides dele, estava a televisão ligada -- e ouvimos nas notícias que aquilo que se esperava há muito tempo tinha acontecido: Bruno de Carvalho tinha sido preso. Parece que é ainda aquilo de Alcochete. Pudera. O meu marido disse: 'Este gajo não vai acabar bem' e até parece que senti alguma pena na voz dele. Não aprofundei.

Depois ouvi falar num tal Mustafá. Parece que também preso. Em tempos, uma vizinha da minha avó tinha um gato chamado Mustafá. Era traiçoeiro e eu ganhei medo a gatos por causa da sua má fama, e mais ainda porque a minha mãe temia gatos que se assanhavam e o Mustafá era o pior de todos. Não sei se a alma do velho gato Mustafá desceu no corpo do tal mal afamado da Juve Leo ou se não tem nada a ver. O que sei é que o Bruno de Carvalho e o Mustafá e as suas dangereuses liaisons são o pratinho que faltava aos comentadeiros das televisões. E já não há pachorra para tanta má vida. 


Depois, enquanto jantávamos, tínhamos a televisão na SIC. Clara de Sousa picava o Marques Mendes e a nossa reacção foi de mudar de canal mas, naquela altura, falavam do Rui Rio, do Silvano, da Emília. Ficámos a ouvir. Marques Mendes arrasou os três. Arrasou completamente. E enterrou Rui Rio. Gostei de ouvir.

Agora estou na sala, descansada, estive a passar as fotografias para o computador e, como sempre, quando vejo as imagens daquele meu espaço de paz, sinto uma emoção agradecida, uma serenidade absoluta, como se lá estivesse o meu refúgio, o meu ninho, o meu paraíso. 

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Até já

9 comentários:

  1. Gostei imenso das fotos:))

    Uma boa noite e boa semana:))

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  2. Hello again, forever young Lara!
    O que eu já me ri com a alma do velho gato Mustafá e o DJ Bruno de Carvalho.
    Eu também estava a ver o Todas as Palavras na rtp3. Primeiro entrevistaram a Maria do Rosário Pedreira e o Manuel Alberto Valente: gostei de os ouVER.
    Depois apareceu aquele sr. Cabrita (com as pilhas Duracell) e quando a Ana C. Leonardo finalmente começou a falar, cortaram-lhe o pio e apareceu o avião...
    Já não vi mais televisão, cada vez tenho menos paciência para tretas.
    Estive a ver os vídeos do seu Heaven e é mesmo um paraíso, não pensei que fosse tão grande.
    Boa semana!

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  3. Estava ao telefone com a minha mãe quando vimos a notícia do avião desgovernado. Ela, aí perto, e eu a c. 2500 km de distância. Fui eu que lhe disse que o avião se estava a dirigir para o Sul. Mais tarde recebi uma mensagem dela no WhatsApp: num dia em que se celebra o centenário do fim de uma guerra que marcou o Mundo ( teve repercussões muito para além da Europa, como explica o excelente artigo de Nuno Severiano Teixeira no Público de hoje), andam os telejornais a pôr em primeira linha a detenção de Bruno de Carvalho. Pobreza, disse ela. Sim, com toda a razão de mais de 80 anos de lucidez e inteligência.

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  4. Uma observação bem pertinente, a da sua Leitora Ana Vasconcelos, que subscrevo inteiramente.
    Boa semana, UJM!
    P.Rufino

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  5. Olá Isabel,

    E o que eu gosto de andar à espreita pelo campo a fotografar os pequenos nadas que, a mim, me parecem maravilhosos...? Cada vez mais me atrai o que é simples, naturalmente imperfeito.

    Obrigada pelas suas palavras.

    Uma boa terça-feira, Isabel.

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  6. Olá, Ms. Tree Lover,

    Olha, não sabia. A ver se ponho a box a andar para trás para ver. Mas aquilo era uma entrevista a casais?

    Nunca sei o que vai dar e como geralmente estou entretida com outras coisas, geralmente apanho os programas a meio e por mero acaso.

    A televisão, tal como eu, fraca espectadora, a vejo é mais... (não bolos... mas...) futebol, telenovelas e debates sobre temas que não interessam nem ao menino jesus. E, de vez em quando, uma ou outra raridade.

    Uma boa terça-feira.



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    1. Olá, tree lover too,

      Aquilo era um programa semanal sobre livros, de 25 minutos, que passa ao fim de semana à hora que lhes apetece: pode ser às 10h, 14h, 16,30h ou 3 da madrugada.
      Eu raras vezes consigo ver, e como não tenho box nada feito.
      Acho que houve um encontro de poesia mundial em Olhão e as entrevistas eram com alguns dos poetas presentes.
      Mas o Duracell e a Ana CL são um casal?
      Não sabia.
      Desta vez, por milagre, consegui ver o princípio, mas (há sempre um mas) teve de aparecer o tal avião...
      Se não fosse o avião, seria o Bruno e o Mustafá, ou o Trump, ou a águia Vitória ou o escambau.
      Por isso é que eu só uso a televisão para ver DVDs e algumas coisitas na 2 ou na Memória.
      Estou numa fase de não ver notícias nem debates, e estou a sentir-me muito bem.
      Vejo as capas dos jornais na net e já sei qual vai ser a conversa do dia.

      Have a nice Tuesday!

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  7. Olá Lady Anne of Vasconcellos,

    É que mesmo quando a notícia foi o fim da Guerra, os fazedores de notícias preferiram enfatizar as reacções de Trump, as atitudes do Trump, a ausência de Trump, o cumprimento entre Trump e Putin e coisas assim.

    Com o andar da carruagem, daqui por algum tempo, em vez de jornalistas teremos YouTubers a fazer macacadas, noticiários apenas com Fake News e palhaços como o Trump, o Bolsonaro e outros trastes como entertainers em horário nobre.

    Armistício? O que é isso? O nome de algum jogo da Play Station? Alguma série da Fox?... É que a palavra é esquisita, nunca ouvida, pouca gente sabe o que significa. Mais vale encher os canais com coisas mais concretas como o Mustafá, a Juve Leo e o Bruno de Carvalho. Isso sim. E se o Mustafá, na cadeia, partir os dentes a um polícia ou o Bruno vender um jogador a um presidiário, ainda mais notícia será.

    Estava frio por lá, tão longe?

    Uma boa terça-feira, Lady Anne!

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  8. Olá, P. Rufino,

    Pois tem razão. Mas na era das Fake News, de deputados que picam o ponto uns aos outros e que acham que os outros são umas virgens ofendidas, na era dos mails roubados, na era da Moura Guedes em horário nobre a dizer disparates... e etc, quem é que quer saber de uma guerra lá nos confins dos tempos...?

    Olhe, agora a sério: vale é a pena ver o noticiários das 20 da TVI à 2ª feira, editado pelo Miguel Sousa Tavares. Diferente. Bom. Jornalismo.

    Uma boa 3ª feira, P. Rufino.

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