sexta-feira, novembro 09, 2018

O novo ioga.
[Este pratico eu com uma perna às costas]




Pois vos digo que se me vou um bocado abaixo e quase aterro -- ou por cansaço, excesso de trabalho, embrulhadas profissionais, preocupações familiares ou o que seja -- a verdade é que o meu organismo tem umas formas curiosas de dar a volta. E falo no meu organismo e não na cabeça porque a coisa não resulta de elucubrações ou mise en place de estratégias de qualquer espécie. É completamente involuntário. Simplesmente parece que viro a página e entro num filme diferente. 

Nesta recente revoada de virada de página para a qual arrastei o meu marido, reorganizámos os livros, reorganizámos a zona de escritório, trouxemos uma poltrona para a zona que agora é exclusivamente de leitura, rependurámos quadros, espelhos, reposicionei bibelots. A casa agora está diferente e uma das salinhas pequenas in heaven também. E ando entusiasmada como se me tivesse mudado para uma casa nova.

[E calma: não estou, com isto, a dizer que sou especial por ser assim. Isto pode apenas significar que não sou boa da cabeça.]


No outro dia, vi na Area 8 uma espécie de pequena árvore, só uns estilizados troncos com luzinhas nas pontas.  Está a ser vendida como enfeite de Natal. E eu tenho uma igual. O meu marido diz que a comprei lá o ano passado. E eu tenho a certeza que não, que a comprei num chinês por um terço do valor. Não interessa, o que interessa é que andei à procura dela e, depois de a encontrar, coloquei-a em cima de uma das estantes baixas aqui da sala para servir de candeeiro. O meu marido refilou quando me viu a andar nisto. Disse que era uma palhaçada pôr um enfeite de Natal a servir de candeeiro. Mas, quando o viu aceso e constatou o bom ambiente que traz à sala, já não disse nada. Tão bonito e agradável que fica.

Também fiz outra coisa: no que era o quarto da minha filha, tinha um candeeiro de pé, todo xpto, Pensei que ficava bem ao lado da poltrona de leitura. Carreguei com ele para lá. Tem leds na pontinha de cada arabesco. Infelizmente só três é que acendem. Mas fica mesmo bem ali. Temos que substituir os que não acendem. Mas o candeeiro fica mesmo bem. Tomara que, com leds novos, todas as pontinhas acendam.

E estou cheia de vontade de, também aqui, na cidade, durante a semana, voltar a fazer arraiolos. Só que a carpete que cá tenho a meio não apenas é enorme como é daquelas com desenhos do piorio (do género destes dois que aqui vos mostro, um dos quais está aqui sob os meus pés, e que fiz tempos atrás). Para além disso vai trazer-me um apontamento de desarrumação a esta sala que agora anda tão linda. E, last but not the least, vai impedir-me de estar tanto tempo de volta do blog (e de leituras diversas). Esta que tenho para acabar está arrumada num lugar muito alto, terá que ser o meu marido a ir lá buscá-la e ele não tem estado muito para isso. Hoje, por exemplo, com o jogo do Sporting, não quer que eu o distraia por nada desta vida. 

Mas isto veio a (des)propósito de um artigo que li sobre a tricoterapia (Relaxation, confiance en soi et anti-stress : comment la tricothérapie nous fait du bien). Há até um livro que diz que o tricot é o novo ioga.

Já no outro dia eu aqui me tinha interrogado sobre se a leveza de espírito que sinto quando faço tapetes (ou quando escrevo; mas também se fizer tricot ou pintar ou fotografar) não será uma forma de meditar. Fico de tal forma alheada de tudo o resto, tão focada naquilo, que esqueço tudo o que me possa preocupar.

Não sou, por natureza, dada a stresses, a estados de afeliação (isto é, a curtir o fel próprio). Sou muito primária -- esqueço-me rapidamente do que me chateia, desligo-me facilmente de maçadas, ponho para trás das costas aquilo que me desagrada, e parto para outra -- pelo que, que me aperceba, não procuro estas actividades para esquecer agruras ou para me descontrair mas apenas porque sim, pelo simples prazer de as executar. Mas a verdade é que, enquanto estou absorta nisto, as minhas mãos andando sozinhas, a cabeça desligadamente observando as mãos, me sinto como a mais inocente, livre e despreocupada das criaturas.


Existem escolas de tricot que são espaços de convívio e bem estar, existem manuais, vídeos. Etc. E há o autodidactismo que, na verdade, é a minha onda.

O artigo fala no bem estar que é estar a fazer uma coisa destas, confortavelmente, com uma mantinha quente, uma caneca de chá para ir bebericando, num espaço confortável. É assim que, quando está frio, gosto de estar. In heaven, junto a isto o calorzinho da salamandra ou da lareira.

Por algum motivo que desconheço, parece que, por cá, estas actividades caíram em desuso. Nenhuma das minhas amigas, familiares ou conhecidas se dedica a isto -- com excepção da minha mãe que é devota praticante (está, neste momento, com uma encomenda em mãos: duas camisolas e dois casacos para quatro dos cinco bisnetos. Para o bebé nada foi pedido pois herda tanta roupa que raramente precisa de mais). Comentei com ela isto de dizerem que o tricot é o novo ioga e ela concordou, diz que estes trabalhos manuais (tricot, crochet, costura) é o que a tem ajudado a superar tão bem as agruras da sua vida tão complicada. Isso e ler. E eu acredito que sim.


Note-se: Apesar de toda esta apologia deste tipo de trabalhos manuais e apesar de admitir que o mais certo é o ioga não ser para mim, ainda não desisti de o ir experimentar. Mas tudo naquilo me faz hesitar: para começar acho que algumas daquelas posições parecem esteticamente muito interessantes mas se e só se a pessoa estiver bem ginasticada, sem um grama a mais -- assim como esta menina aqui em cima. Agora se a pessoa não for capaz de se virar do avesso com as pernas ao alto, presumo que seja sobretudo um bom motivo de galhofa, incluindo para o próprio.

Mas adiante.

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