Quando os ingleses se interrogam sobre o que fizeram e já só querem saber como sair da porcaria em que se meteram e depois de vários dos artífices desta monumental barracada, quais vulgares ratos de porão, já terem saltado fora, eis que Boris Johnson, esse histriónico artista, resolve tirar, de vez, o tapete à desengonçada Theresa May. O discurso causou estrilho, não se fala noutra coisa e só veio pôr mais em evidência a trajectória que está traçada.
Os disparates têm-se sucedido, a desunião em torno deste projecto falhado é crescente e o que se avizinha parece não poder ser senão um de dois: ou uma humilhação nacional ou um desastre descontrolado.
Face a isso, tem valido o bom humor dos britânicos.
Vejamos. O R.U é absolutamente soberano em decidir sair da U.E. E quem diz o R.U diz qualquer outro Estado Membro. Houve um referendo, o resultado foi o que sabemos, haverá que respeitá-lo. Espanta-me que muita gente critique aquela decisão soberana e legítima. Quanto à forma como as negociações estão a ser conduzidas, diz, designadamente, respeito ao R.U e à Comissão Europeia. Se foram Partidos de Direita e radicais de Direita que pugnaram por essa saída, é-me completamente indiferente. Aquilo que importa é a vontade expressa nas urnas daquele referendo, ou seja, uma maioria do povo britânico decidiu mandar às malvas a U.E. Agora, o que paralelamente está a suceder é que a Comissão (em nome da União Europeia), quer-me parecer, pretenderá deixar um aviso para futuros ou eventuais candidatos ao mesmo que o R.U decidiu fazer: “daqui ninguém sai, depois de ter entrado. Vocês vejam lá! Tomem cuidado!” E isso é mau. É mau procedimento e é má atitude. A U.E há muito que deixou de ser o que foi. Começa a ser uma espécie de camisa-de-forças, sobretudo quando o Estado Membro é um país pequeno. A austeridade que foi imposta à Grécia e a nós, Portugal, seriam impensáveis para países como, por exemplo, a França ou a Itália. Veja-se, aliás, os termos em que se está a tratar a questão da dívida italiana. Veja-se como o Eurogrupo fala desse assunto e compare-se com o que se passou coma Grécia. É certo que nessa ocasião deparavam-se-nos duas avantesmas, como o MF alemão e aquele cabotino ex-presidente do mesmo Eurogrupo. Centeno é diferente. Mas, já naquela altura se falava da dívida extraordinária, face ao PIB, que a Itália tinha e nunca, quer a ALE, quer a Comissão, ou o Eurogrupo, trataram a Itália da forma como fizeram com a Grécia.
ResponderEliminarDeixemos pois os britânicos prepararem a sua "independência" da U.E, em paz e sossego. Embora, para azar deles, a sua PM não se afigurar ser a pessoa mais indicada para levar a cabo aquelas difíceis negociações. Quanto à sugestão de um novo, ou outro, referendo, parece-me patético e uma falta de respeito para quem votou, maioritariamente, a favor da saída do R.U da União Europeia.
É certo que o bom senso britânico e a sua ponderação nos irão fazer (muita) falta, no seio da U.E, but such is life!
P.Rufino
E quando se pensava que não podia ficar pior, fica mesmo pior ...
ResponderEliminarA decisão assentou numa base fraquíssima, com grande falta de informação, tanto do lado do Brexit como do Remain, e com completa falta de preparação - tanto assim, que estamos no impasse em que estamos, e a caminhar para pior.
Isso, parece-me, tem pouco a ver com soberania.
Deixo uma pergunta: quanto tempo mais vai durar a U.E?
ResponderEliminarOlá P. Rufino, boa noite,
ResponderEliminarComo sabe, um dos primeiros clientes da Cambridge Analytics foi o movimento do Brexit. Houve um marketing manipulador, baseado na informação roubada do Facebook.
Mais: como sabe, na manhã seguinte ao referendo, a pergunta esmagadora no google era 'o que é o brexit?'. Mais: grande parte dos que votaram no brexit, depois de perceberem que votaram sem sequer saber o que era, mudaram de ideia.
Portanto, a legitimidade real do voto é questionável.
Mais: a Theresa May não sabe negociar a saída. Tem sido de gargalhada. Fazem bem os da UE em não alimentar aquele pagode. Vai acabar mal aquilo.
O RU está desunido, a maioria não quer sair e a minoria que quer não se entende.
Portanto, acompanhemos os próximos episódios.
E é verdade: está um tempo de dar gosto. Aproveitemo-lo e aproveitemos os tempos de acalmia que vivemos em Portugal.
Enjoy, P. Rufino.
Olá Ana Vasconcelos (apetece-me sempre escrever Ana de Vasconcelos)
ResponderEliminarDou-lhe razão. Aliás, acabei de escrevê-lo na resposta ao comentário do P. Rufino.
Temo que se avizinhem tempos de alguma turbulência por aquelas bandas.
Abraço, Ana!
Olá Anónimo/a,
ResponderEliminarQuanto tempo vai durar a UE? Muito. Acho que muito.
Aquela agremiação ali não é flor que se cheire, muito burocracia, muito saco de gatos, muita sombra amorfa e cinzenta. Mas não vejo melhor alternativa. Acho que a solução é melhorar aquilo.
Não acha?
Caríssima UJM!
ResponderEliminarNão quero crer que acredita que o Cambridge Analytics teve uma influência fundamental, ou fundamental, na questão do Brexit! Bullshit! Seria passar um atestado de menor idade ao R.U. Os Britânicos são democraticamente adultos há vários séculos. Aceito que houvesse gente que pudesse desconhecer em profundidade o que estava em causa, as consequências da saída do R.U da União Europeia. Mas, o que a maioria quis dizer é que estavam fartos das limitações que ser membro da U.E implica e significava, em termos económico-políticos, sobretudo económicos. Não nos iludamos. A U.E nunv«ca seduziu os britânicos. Conheço muito bem a realidade britânica. Vou lá com frequência, meus filhos estudaram lá, tenho sobrinhos lá, tios, familiares, amigos, etc, etc. E não só em Londres, mas noutras tantas cidades do R.U. E a impressão que me foi ficando e desde há muito, antes mesmo do Brexit, era de que os Britânicos nunca tiveram, ou sentiram, na sua maioria, qualquer empatia e simpatia pela U.E. Um sobrinho nosso, a viver lá há já algum tempo, ao ponto de ter adquirido a dupla nacionalidade) inglesa, a par da sua natural, portuguesa), votou contra o Brexit, a exemplo de outros tantos jovens a viverem em Londres. Mas – e muita gente esquece este “pormenor” – a população dos países não é só constituída por jovens, mas por outros de faixa etária que vai dos 40-50-60 e por aí adiante. E Londres não é o R.U. Na capital, ao que parece, votou-se maioritariamente contra o Brexit. Mas, no resto do país não sucedeu assim.
E deste modo, quer se queira ou não, quer tenha sido, ou não, uma vitória Conservadora (e a UJM bem sabe como eu sou de Esquerda), a verdade é que os “bifes” mandaram às malvas a treta da U.E. O resto é conversa!
Por mim, acho que foi uma belíssima bofetada na cara da U.E (Comissão). E se não aprendem, outros, quem sabe, lhe seguirão. Só desejo que o R.U siga um caminho de prosperidade e que daqui a um par de anos não sinta a menor falta da U.U. Que, entretanto, mergulha, aos poucos, por caminhos sinuosos. Veja-se a Hungria, a Rep. Checa, Eslováquia, Itália, Polónia, Áustria, etc. Os Bálticos também não são flores que se cheirem e por aí fora. Assistimos hoje a uma onda de redução de direitos e solidariedade sociais, a par de apoios a Bancos corruptos, etc. Esta U.E, aos poucos, começa a desiludir. E se um dia acabar não serei eu a deitar uma lágrima por ela.
Boa noite UJM!
P.Rufino
Olá P. Rufino,
ResponderEliminarO RU já não é aquele espaço habitado maioritariamente por gente informada que idealiza. Também conheço gente que lá vive e trabalho com um inglès e o panorama é um daqueles caldos de descontentamento que geralmente não acaba bem. Há muita desinformação, muitas vítimas dos regimes liberais mais recentes, gente empobrecida que cai facilmente nas cantigas populistas. Claro que a UE é um albergue espanhol que, fruto de medidas erradas que criam distanciamento entre quem manda e quem supostamente escolhe e vota, por vezes dá a ideia de estar a desandar. Mas um RU, nos dias de hoje, fora da UE e com uma desengonçada daquelas a não saber unir os cidadãos em torno de um propósito tão desafiante quanto este e sem ser capaz de ter um plano sólido para a saída é o prenúncio de um desastre. Mas se não acredita, ficamos assim e falamos depois a ver qual os nós tem razão. Pode ser?
O ‘de’ fez-me rir, UJM 😉
ResponderEliminarP. Rufino tem razão quando diz que a sociedade no RU está muito dividida. Em grande parte essa divisão é, como nota UJM, uma consequência do legado das políticas liberais que, desde Thatcher, os diversos governos, incluindo os trabalhistas, seguiram e que levaram a um país a várias velocidades. Em muitas zonas o desemprego intergeracional domina e criou um ciclo vicioso e ressentimentos que encontraram voz no populismo que esteve por detrás do Brexit.
O debate que precedeu o Brexit foi fraquíssimo, com os a favor a acenarem com o travar da imigração e com a retomada da soberania nacional, e os contra a acenar com o perigo económico da saída. Nem de propósito, um relatório do Migration Advisory Committee, há duas semanas, concluiu que em média ao longo da sua vida um imigrante europeu no RU paga mais £78K do que recebe em serviços e benefícios públicos e a contribuição líquida do cidadão médio britânico acaba por ser zero.
Exactamente por a margem entre os dois campos ser muito pequena, faz muito pouco sentido este caminhar para o caos que se criou com o referendo. É que não só a ideia do referendo foi uma tolice completa e irresponsável de um grupo de rapazes de Eton, mas a sua implementação foi profundamente estúpida. Não se pensou em estabelecer uma percentagem mínima de votantes, nem uma margem mínima de diferença entre os dois campos, para o resultado ser vinculativo. E dois anos depois, as sondagens, com todas as limitações que possam ter, apontam para a mesma diferença, só que desta vez com o Remain a ganhar. Não vai ser preciso muito tempo, creio, para essa diferença se acentuar, pela evolução demográfica natural. E a tristeza é que aqueles que vão ter de viver as consequências são os que não queriam o Brexit e muitos dos outros já cá não estarão.