Nada se inventa, tudo se recria. Já lá dizia o Lavoisier. Ou seria o La Palice? Ou o caracolinhos da Quercus? Ou as meninas da reciclagem? Ou um daqueles sabichões que não podem ver nem cão nem gato que não digam que isso também na Grécia? Não interessa. O ponto é que ele há coisas.
E há-as de todo o género. Para mim, a pior de todas é haver pessoas iguais a mim. Isso atrapalha-me a existência. Quando penso em tal coisa, claro. Mas, quando penso nisso, eriço-me. Os cães quando se assustam eriçam-se. Eu também. Metaforicamente falando, claro. E ainda por cima dizerem que a minha voz também é igual. Pode lá ser. Clones? E a forma como me rio. E como ando. O cabelo. Tudo. Dizem que tudo igual. Não querem acreditar que eu não seja a outra. Isso faz-me muita espécie. Preferia pensar que sou one of a kind. Eu. Única. Mas não. Pelo menos mais duas iguaizinhas a mim. Se aparecerem ainda mais uma ou duas e viro commodity.
Outra do além é a gente parecer que conhece outra pessoa. Que conhece mesmo, mesmo. Que adivinha o que a outra pensa. Nunca a conheceu na realidade mas sente que a conhece por dentro e por fora como se, noutras vidas, a tivesse conhecido completamente. Ninguém acredita numa coisa destas e a gente também não tem explicação nem quer aprofundar. Mas as coisas são mesmo assim e não interessa tentar perceber o que está para além do nosso entendimento pelo que é melhor nem ir por aí. E, assim sendo, quanto a isto, façam o favor de fazer de conta que não leram.
Outra: adivinhar. Adivinhar simplesmente. Saber antes de saber. Começarem a contar-nos uma história e nem ser preciso continuarem porque se consegue adivinhar tudo. Uma história de verdade, quero eu dizer, uma história cheia de meandros, de mal feito à socapa, de jogadas e mistérios inconfessáveis. E eu adivinhar tudo. Quase pelas exactas palavras em que os factos reais foram proferidos. Deixar os outros transidos, a terem medo de terem sido espiados, sem saberem como explicar que eu reproduza com tal exactidão todos os segredos que traziam tão bem escondidos. De onde me vem esse conhecimento? Não sei. Mas também não me interessa. Bom mesmo era que adivinhasse o número do euromilhões mas isso está quieto. Portanto, está bem, está. Vou ali e já venho.
Mas enfim. Coisas do caneco, é o que é.
Mas também boas são estas que aqui estou a partilhar convosco. Pinturas de antanho que parecem ter sido inspiradas por actores de Hollywood, pelas socialites que habitam o Instagram ou as revistas de moda e sociedade.
Descobri-as atarvés do The Guardian, lugar onde encontro sempre alguma coisa que me interessa. Transcrevo alguns excertos do artigo: Beyoncé meets Botticelli: how tabloid photos throw new light on old masters
Tabloid Art History delights in hilarious yet visually convincing collisions of high art and celebrity culture. Melania Trump giving Michelle Obama a gift is compared with a manuscript illumination of Christine de Pizan presenting her book The City of Women to Queen Isabeau and Géricault’s Romantic vision of despair, The Raft of the Medusa, is matched with a pic of The Real Housewives of New York slumped on the floor at an airport.
Is this a lazy reduction of great works of art to the status of memes to snigger at? No, it’s a fresh and insightful way to look at art – and at life. We’re surrounded by great art all the time, these iconographic couplings reveal. Everyone is a statue or a painting, just waiting to be recognised. Harry Styles looks like an Egon Schiele self-portrait in a certain light.
This game works because great art is universal. The gestures and expressions that artists such as Botticelli and Schiele saw in the world around them and distilled into sombre monumental images amount to a gallery of human possibility, a museum of moods, experiences and fates. All human life is in their masterpieces. So why is it surprising that Beyoncé looks for a moment like a Botticelli? He painted the way he did because he observed the street life around him with insight and truth. It’s no wonder today’s tabloid images and selfies occasionally throw up images of the same human truths.
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E depois deste momento dedicado à arte, queiram, por favor, deslizar até às árvores que dão rolhas, uma reportagem do Great Big Story.
Obrigada por estas semelhanças que, bem vistas as coisas, nem são altamente, mas, vá lá, são alguma coisa; e diverte ver que há poses idênticas sem que se procurem. E rostos semelhantes (que não iguais).
ResponderEliminarNão me importo que haja gente igual a mim (também não acredito numa igualdade assim tão forte). Mas talvez seja porque a genética já me fez muito parecida com alguém que, por acaso, é minha irmã. E sim, é verdade que nos confundem a toda a hora. Contudo, não tenho a sua coragem e bom humor, nem a mordacidade trocista e palavra pronta que a caracteriza; e ela não terá qualidades e defeitos meus mais arreigados. As aparências iludem.
Em tempos, conheci duas gémeas lindas de morrer e iguais como gotas de água. Diziam ambas que se olhavam no espelho e não se achavam parecidas. Lembro-me que as distinguia pelo sorriso; numa delas as covinhas na face eram mais acentuadas. Como gostaria de as rever hoje! Mas não sei por onde andam...
Tenha um dia bom UJM
Olá bea,
ResponderEliminarPois lhe garanto que, por duas vezes, uma em Madrid e outra, não há muito, na Gulbenkian, fui confundida com outra mulher e em ambos os casos deixei as pessoas altamente intrigadas pois jurariam que eu era a outra.
Não é tanto eu não querer ter sósias: é mais a sensação estranha de ter que estar a jurar que era eu mesma e não outra pessoa.
E olhe, Bea, desejo que um dia destes encontre as duas gémeas das covinhas simpáticas.
E espero que continue, pela vida fora, a mostrar o afecto que tem pela sua irreverente mana.
Um bom dia também para si, Bea.
Oh! Respondeu... vá lá.
ResponderEliminarTambém nos acontece a confusão de identidades e as situações são bem caricatas, pode crer. As pessoas tendem a não acreditar, sei como é.
Quem me dera encontrá-las, àquelas gotinhas de água.Õs afectos entre irmãos são imortais:).