Maldade. Maldade. - acuso-me eu.
Não, não me acuso nada. Acho que foi é pouco.
Chegou. A mosca ou a mostarda. Ao nariz. Melhor: chegou a mostarda com uma mosca a cavalo. Ao nariz.
Andava para me passar. Sabia que era inevitável. Degrau a degrau. A coisa iria, irremediavelmente, dar-se. Sentia-o de certeza absoluta. Eu não teria que fazer nada. Seria ele a pôr-se na linha de tiro. Seria ele a pôr a cabeça no lugar do alvo. Eu sem ter que fazer nada. Apenas esperar.
A temperatura a subir, a subir, e eu a pensar: estás a pedi-las. Mas o meu lado de bom coração tolhia-me os maus ímpetos. Odeio quando estou pronta para tirar a faca da liga e o meu bom e sweet heart me aparece, ronceiro, sonso, a desarmar-me. Mas não era por caridade para com ele, era por precaução para comigo. Pensava: cuidado, ainda te vais meter numa alheira. Também não me soa bem. Talvez seja alhada. Ou vinha de alhos. (Uoteva agueine, diria a Gina).
A temperatura a subir, a subir, e eu a pensar: estás a pedi-las. Mas o meu lado de bom coração tolhia-me os maus ímpetos. Odeio quando estou pronta para tirar a faca da liga e o meu bom e sweet heart me aparece, ronceiro, sonso, a desarmar-me. Mas não era por caridade para com ele, era por precaução para comigo. Pensava: cuidado, ainda te vais meter numa alheira. Também não me soa bem. Talvez seja alhada. Ou vinha de alhos. (Uoteva agueine, diria a Gina).
Mas, no mais bas fond de moi-même, sabia que ele estava a caminhar a passos largos para o perigo. Farejo-o. Uma bebedeira de adrenalina. Killer instinct, they say.
Pensava: há algures uma linha vermelha e estás quase a passá-la. Vá. Mais um passinho, vá. E todos os dias eu pensava: quente, quente. E agora que escrevo quente, quente lembro-me da brincadeira do lencinho queimado. Frio, frio como a água do rio. Mas sentia era que estava era cada vez mais morno. E, a cada dia, estava quase lá. Anda cá que és meu. Make my day, baby.
E ele sorria, satisfeito consigo próprio. Valentão, pensava eu. Mal sabes. E ele todo senhor de si, todo bem sucedido. Estás quase. Mais um passinho, meu, só mais um passinho.
Foi hoje.
Pouco depois, chegou. Vinha contente, sem perceber que já tinha caído no laço. Sem perceber que já era. Não deixei perceber nada. Fria. É tão fria que chega a assustar, disse-me uma vez um grande senhor conhecido por ser frio, muito frio. Assim estava eu, fria, disfarçada, ele na minha frente, gracejando -- e eu sentindo quase piedade da póstuma criatura.
Foi-se embora sem ter percebido. Ia contente, inocente. Todos os estúpidos são assim. Perigosos e inconscientes.
Pouco depois, saí eu. Tranquila.
Quando cheguei ao carro, fiz o telefonema fatal. Ao chegar à minha rua ainda o telefonema durava. Continuei no carro até as exéquias estarem completas. Coisa a preceito. Caprichei.
Cheguei a casa saciada. O valentão estava morto e enterrado.
Bem vistas as coisas, sou um anjo.
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As fotografias são de Paolo Roversi.
E, como quase sempre, qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência.
Ou não.
Uoteva, né?
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