quinta-feira, julho 05, 2018

Alguém sabe onde está a ponta desta meada?




Não vou falar da soneira que se derrama sobre mim a esta hora. É sabida, ressabida e consabida e, a esta altura do campeonato, notoriamente a precisar de férias, é uma constante. A minha filha até já me disse que não faz sentido estar sempre a falar nisso pois, se estou assim, neste estado, deveria ir dormir e não estar a escrever sobre isso.

Por isso, hoje vou tentar não falar do meu sono.

Vou também tentar não falar do meu dia e da quantidade de homens que, à minha volta, têm comportamentos que me deixam capaz de ir para a política para ver se consigo ser eleita -- e tudo ver se chego onde possa ter voto na matéria e poder legislar no sentido de se ser imperativamente mais exigente na escolha de pessoas para cargos de chefia ou decisão.

Devia ser obrigatório, por lei, que qualquer pessoa, para ocupar esses lugares, fizesse testes psicológicos e de avaliação de QI e QE. Coisa rigorosa. Quem não cumprir os mínimos, out. Melhor: quem não cumprir os mínimos, vá pentear macacos para bem longe, vá dar banho ao cão, porque aqui não entra. Nem que a vaca tussa.

Em especial, muito cuidadinho com os homens. É raça que, no género masculino, parece que degenerou ainda mais rapidamente que no feminino.

Por cada meia dúzia de homens aproveita-se um. Por cada três mulheres aproveita-se uma e meia. Isto em lugares ungidos pela sorte.
Os homens não querem dar parte de fracos, não querem fazer perguntas, não querem reconhecer que se enganaram e, por orgulho, persistem no erro, não querem parecer inseguros e, por isso, tomam medidas à toa. Depois, têm um bizarro sentido de tribo e unem-se contra adversários imaginários nem que seja em torno de uma estupidez. Há muita imaturidade intrínseca no comportamento masculino.
As mulheres são de outro calibre. Se se sentem ameaçadas tornam-se ardilosas, constroem narrativas que de tão insistentemente defendidas quase se tornam verdadeiras. E, quando a fronteira entre a realidade e a ficção se dilui, começa o perigo.
Uma empresa ou uma qualquer organização deveriam ser sempre conduzidas por gente inteligente, bem formada, generosa, com estrito respeito pela ética, capaz de gerir emoções de forma não tóxica, capaz de descobrir o lado melhor dos outros, capaz de os motivar, inspirar, desafiar a fazer mais e melhor.

Mas a verdade é que é cada vez mais frequente encontrar gente incapaz, mal preparada, mal formada. Gente assim atrofia as organizações, massacra as pessoas que lá trabalham, impede a valorização pessoal e profissional dos outros.

Falo do que conheço. Com alguma frequência, vejo-me rodeada de pessoas que nada acrescentam, que apenas buscam a sua auto-promoção ou a defesa dos seus pessoais interesses, que pisam ou sacrificam os outros a troco de coisa alguma. Ou de burros.

E isto, palavra de honra, cansa-me. 

Já andei, ao fim do dia, em passo apressado, talvez uns dois quilómetros (muito pouco, eu sei, mas não consegui tempo para mais), já estou levantada desde muito cedo, já andei à pressa à hora de almoço e já fiz compras, já tive várias reuniões, já tive várias conference calls, já nem sei bem que mais (para além de fazer os cerca de cem quilómetros diários) -- mas não é isso que me cansa. O que me cansa mesmo é ver como uma deficiente selecção de pessoas consegue levar a maus resultados: isso dá cabo, directa ou indirectamente, da vida de muita gente. Gentinha que gosta de achincalhar ou amedrontar os mais fracos, que os obriga a vergar, que não os deixa voar. E que, para além disso, pelo seu fraco intelecto, não vê ao longe, não compreende as tendências. Gente muito fraca. Sem escrúpulos, sem moral. Gente que deveria ser impedida de dar cabo das organizações e das outras pessoas.

Claro que isto, dito desta forma, pode parecer uma espécie de eugenia social. Mas não é.

Não estou em condições de enveredar por conversas mais elaboradas e, dialecticamente, esgrimir argumentos contra e a favor. Digo apenas que acho que não é eugenia. É pragmatismo. Uma empresa ou organização que esteja nas mãos de burros, velhacos, mentirosos ou medrosos está fadada ao insucesso e, para além disso, quem lá trabalha andará sempre insatisfeito, revoltado, infeliz.

E talvez eu esteja a exagerar. Talvez, pela forma crua, resulte em caricatura aquilo de que falo.

Pois que seja. O sono retira-me a capacidade de dourar a pílula. De resto, sei que aquilo de que falo é impossível.

Claro que é. Mas gostava.

A maldade, a mediocridade e a imoralidade são perigosas, acreditem.  São manchas que vêm alastrando nas sociedades democráticas, tomando conta de tudo, retirando a capacidade de renovação, manipulando a vontade dos mais frágeis.

Mas enfim. 

[Quando comecei o post tinha alguma em mente mas, pelo meio, já adormeci tantas vezes que o fio da meada já se me escapuliu. Isto era para chegar a um certo ponto que agora já não sei qual é. Complicado, isto].

Mais vale intervalar. Dormir.

Outra coisa, um mero aparte, um segredo, um desabafo: ando a evitar contar de algumas situações porque me aconselha a prudência que lhes guarde o devido distanciamento. Mas debato-me, sinto-me tentada a contar com receio de que me esqueça. Há coisas tão estranhas, tão inexplicáveis que requerem que eu aqui lhes dê corpo, para que, um dia qualquer, eu possa confirmar que aconteceram mesmo. É que, acreditem, por vezes até penso que. Juro. Mas, por outro lado, receio que pensar isso seja até estultícia.

Fica para depois. É melhor.

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Fiquemo-nos com Frida

4 comentários:

  1. Antes do piercing no umbigo, consulte sua mãe. Afinal ela tem voz na estética da coisa.
    Obrigada por Frida Kahlo ela mesma:).

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  2. Agora até me fez dar uma boa risada, Bea. Essa é boa. Se eu disser à minha mãe, ela vai ficar a rir, a encolher os ombros e à espreita da reacção do meu marido, a tentar perceber o que ele acha. Ela espera sempre que o meu marido se escandalize mas também já se habituou a que ele se limite a constatar aquilo com que ela concorda sempre: 'Fazer o quê? É maluca...' e ela concorda que não vale a pena tentar convencer-me a ser boa da cabeça.

    A Frida era uma mulher extraordinária. Mulheres assim andam sempre um bocado à frente do seu tempo.

    Uma boa noite para si, Bea.

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  3. Olá Leonor,

    Muito obrigada.

    Tomara não a desiludir para que tenha sempre voltade de voltar.

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