terça-feira, julho 17, 2018

Outra maneira de evitar birras de crianças.
[Não menos polémica e radical do que a dos preservativos]


Não me vou deter sobre aquilo de, às vezes, algumas pessoas desesperarem com as birras dos filhos. É humano. Acontece a toda a gente. Uma criança a chorar aos berros durante algum tempo dá conta do juízo a qualquer um.

Uma vez, os meus pais ficaram com a minha filha quando ela teria meses. Quando cheguei a casa, estava a minha mãe numa pilha de nervos, o meu pai já contagiado. A bebé estava a chorar ininterruptamente fazia horas. A minha mãe já tinha feito de tudo: água, aero-om para as cólicas, massagem na barriguinha, colo, canções de ninar. Tudo. E nada resultava. Transpirada. Já soluçava de cansada. E ambos: tem que ir à pediatra, já, alguma coisa ela tem, coitadinha, nunca chora assim, se chora é porque não está bem. Aflita, mulher quase menina ainda, lá fui, assustada já também. Mas a menina já tinha acalmado, já quase dormia. A médica disse que não era nada, apenas um stressezinho bobo, coisa de criança desavinda.

Quando regressou a casa, vinha num sono pesado. A minha mãe sossegou.

Agora, mais recentemente, com a minha menininha mais linda acontecia isso quase sempre quando ficava com ela à sexta à noite. Muito caladinha, muito indiferente. Queríamos que fizesse gracinhas e nada. Eu, que gosto tanto de brincar com crianças, desesperava. Punha-me à frente dela e era como se nem me visse. Acenava, fazia palhaçadas e ela zero, bola. Cheguei a assustar-me. Nem ousava verbalizar. Uma vez enchi-me de coragem e falei ao meu marido. Ficou furioso comigo. Mas a menina, por mais que eu fizesse, não dava bola. Só uma coisa me tranquilizava. Volta e meia, olhava com ar maroto para o meu marido, disfarçava um meio sorriso. Ele gabava-se: maças a miúda e ela não te liga; vê lá eu, não digo nada, não me ponho a moer a paciência da miúda e vê lá como ela se mete comigo. Mas, ao perceber-lhe a intencionalidade, eu descansava. 

Mas depois acontecia o seguinte: se às sextas feiras à noite os pais queriam ir laurear, eu já ia aflita. Eu tentava brincar e ela nada. Moita. Na maior indiferença. Depois dava-lhe o sono. Eu começava a tentar que adormecesse. Está bem, está. Empertigava-se, recusava-se a dormir. Não queria chucha, não queria que eu a embalasse. Nada. Chorava desbaladamente. Eu desesperava. Não sabia o que lhe havia de fazer. Tudo o que eu fizesse, a fazia chorar ainda mais. Era como se deliberadamente se recusasse a dormir. Transpirava ela, transpirava eu. Cantava 'o meu menino é de oiro, é de oiro fino', embalava-a e isso parece que ainda a enervava mais. Volta e meia, de cansaço parecia querer dormir. A luz quase apagada, em silêncio, eu já derreada mas a não querer parar o movimento de embalar -- e era quase certo que o meu marido que, entretanto, já dormia a sono solto, lhe desse uma tosse... e acordasse a fera que, de novo, desatava num berreiro. Escusado será dizer que eu ficava capaz de trucidá-lo, coisa que ele não percebia, achava que não tinha feito nada.

À medida que foi crescendo, a sua personalidade foi ficando mais marcada. Não dá bola com facilidade mas, quando gosta, é uma querida que adora beijinnhos e ternurinhas, fala pelos cotovelos e percebe-se que, quando era bebé, queria era ser ela a traçar a sua agenda, recusando-se a dormir.

Com o mais novo da minha filha também passei por desesperos, sem saber como calá-lo. Uma vez, o mais crescido, in heaven, foi picado numa orelha e, para nosso susto, a orelha começou a inchar até a criança ficar a parecer um extra-terrestre. O pai estava a trabalhar em Lisboa pelo que o meu marido foi com ela e com o menino para o hospital e eu fiquei com o mais novo. Quando percebeu que estava sozinho comigo, não vendo nem o mano nem a mãe, começou a ficar choramiguento. Tentei disfarçar, brincar. Depois a choraminguice foi em crescendo, por fim berrava a plenos pulmões, encharcado de transpiração e baba de tanto chorar. Quando eles chegaram do hospital, estava eu capaz de me ir internar. Exaustos os dois. Mal a mãe o pegou ao colo, calou-se. E de noite...? Quando ficavam cá em casa.... O que ele chorava... O irmão, que é todo racional, dizia: 'Resolves alguma coisa por chorar?'. Ele pequenino, ficava calado a olhar para o irmão. 'Então cala-te. Deixa-me dormir'. E ele lá caía na real e adormecia.

E lá está. Se fosse como aquele do anúncio ali em baixo, uma coisa do mais fundamentalista que há, para prevenir choradeiras destas em crianças, recomendar-se-ia aos pais que tivessem usado preservativo.

Claro que é coisa em que nem quero pensar... meus ricos meninos. Que chorem, que protestem, que falem alto, que desarrumem tudo, que comam que nem lobos, que se peguem uns com os outros. Tudo o que quiserem. 

Mas, já que estamos na silly season e em maré de conselhos radicais, tenho aqui uma recomendação do mais radical que há para quem já tem filhos que cheguem: que mudem de gostos. 

Por exemplo: se para dançar o tango é preciso dois (it takes two to tango), porque não do mesmo sexo?



Ou, identicamente eficaz na prevenção das birras de crianças: um tango a solo. Claro que, no fim, talvez se acabe a dar com a cabeça nas paredes mas, enfim, enquanto se dança e não dança, faz de conta que também é bom. Afinal, tango é tango.

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E pronto: queiram descer até ao post seguinte para verem o tal anúncio mauzinho que recomenda um remédio santo -- santo até demais -- para prevenir birras de crianças.
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