Não confio em gente que cria passarinho em gaiola. Eu conheço essa dor. Tenho tantos sentimentos aprisionados dentro do peito, que nem lhe conto. Eles são tristes e sozinhos, mesmo assim, não sentem vontade nenhuma de cantar. Eu queria muito lhe comer com os olhos e lamber com a testa. Tenha dó. Faça festa. É dura a espera para os que têm fome. De que vale uma gaiola de ouro, se o passarinho não canta? O amor — eu já tinha ouvido falar nisso antes — é um fio desencapado.
Não confio em gente que conversa comigo olhando para os lados. A verdade está nos olhos, gracinha. Não insista. Não tenho lado. Um dia ainda me atiro inteiro em seus braços, baby.
Pode parecer um paradoxo, um conflito interior da maior magnitude, mas, eu não confio em gente que guarda rancor nos cofres da memória. Não minta pra mim, que meu peito não é de aço. Ele não possui chave nem segredo. Também sofro de injustiças, iniquidade e medo. Será que um dia eu cresço? Na minha idade, já devia demonstrar mais equilíbrio. Quase não rio, e isso não tem nada de intransitivo, de impessoal, pois, mesmo morando no centro-norte do país, onde o índice pluviométrico é pífio, eu continuo a chover de tanta melancolia. Você diz que eu deveria conjugar corretamente o verbo, ao invés de julgar as pessoas? Ora, não me faça estudar gramática a essa altura da vida.
Não confio em gente que não dá a mínima para o que as outras pessoas estão sofrendo. A frieza, a falta de brio os fazem selvagens de arrombar introitos. Eu devoro a solidão sem sujar as mãos, e há pouca coisa que os editoriais possam fazer para amenizar a carnificina. Como diria o poeta, eu sou um poço de sensibilidade. Portanto, feche os olhos, tape o nariz, abra um sorriso e salte aqui dentro, docinho.
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Excertos do texto homónimo de Eberth Vêncio na Revista Bula
Vinicius canta Amor em Solidão
As imagens mostram "The street of loneliness de Carolina Soledad Salvatierra Seguel e "Two People: The Lonely Ones" de Edvard Munch
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