Pois tenho a dizer-vos que aqui onde me vedes está uma Pamela Andersen em potência mas, of course, antes de ela assumir a idade e se apresentar irreconhecível em Cannes.
Não é por nada mas um qualquer click dentro de mim fez com que resolvesse ajustar um pouco os meus hábitos alimentares, tentasse encontrar tempo para fazer uma caminhada por dia mesmo que liliputiana e, aqui é que está a suprema novidade, tentasse ainda fazer alguns exercícios. Nada de ginásios que eu não sou cá dessas disciplinas e já me basta o stress quando tenho que chegar a uma hora a um sítio e me vejo engaiolada no trânsito. Não, not me. Horas de ginásio? Ná. Em casarolas.
Mas coisa a sério. Com instrumentos e tudo.
Não sei se vos contei. Uma vez, eu gostava de receber pelos anos ou pelo natal, já não me lembro (mas também não interessa), uma passadeira, daquelas que inclinam e aceleram. Punha na varanda e faria ali caminhadas na maior, sempre a abrir. O meu marido registou. E eu registei que ele registou. Chegou o dia e, esperando eu um embrulhão gigante, recebo uma caixinha de papel. Em vez da passadeira, uma bola. Chama-se uma fitball. Encheu a bola e a bola transformou-se numa bolona azul. Fiquei para morrer. Só podia estar a gozar. Mas não. Com aquela cara de pau que tão bem lhe conheço, e como se achasse normal, disse-me que achou que a passadeira era grande demais, que atravancaria a varanda e que aquela bola era do melhor que havia para fazer exercícios. Fiquei passada. É preciso ter desplante para me fazer uma daquelas e ficar na maior. Mas pior. Tentando perceber o préstimo da coisa, montava-me naquilo e rebolava por todo o lado. Por fim, já ria a bandeiras despregadas. Claro que a bola faz a delícia dos miúdos. Volta e meia distraio-me, sento-me nela mas, mal levanto os pés do chão, lá vou eu.
Muito bem.
Guardado estava o bocado para quem o havia de comer. Instrumento precioso para os meus exercícios, agora já com alguma orientação.
Mais. Tínhamos cá em casa dois pequenos halteres mas o que dava jeito era daqueles cujo peso se vai aumentando. Decathlon com ela. Halteres de toda a espécie e feitio. Ora, a minha cabeça não está ginasticada para processar tantas alternativas. Perguntei ao jovem empregado que, certamente percebendo a minha iletracia haltérica, me disse que o melhor era levar o kit, uma caixa que já tinha tudo, a barra, pesos crescentes e as molas para prender os discos. É mesmo isto - exclamei. Uma caixa a pesar horrores. Chego a casa e ... desastre. Só um haltere. Com aquela cangalhada toda, é verdade, mas só um. Fiquei soterrada. Um haltere? Mas vendem uma caixa só com um haltere? Para que é que serve um único haltere?
Mas pronto. Fazer o quê? Voltar lá com aquele pesadelo, fazer a devolução e, depois, pôr-me a escolher peça a peça? Nem pensar. Chegava a casa, carregada de pièces detachées, e ainda corria o risco de as argolas não enfiarem no ferro ou as molas serem da roupa e não daquilo. Ná. Conheço as minhas limitações. Paciência. Fica assim.
E mais um elástico. Pensei eu que perguntando onde estavam os elásticos, era chegar e trazer. Qual quê....? Elásticos de todo o tamanho, preço e feitio. Trouxe o mais barato que, ainda por cima, não se parecia nada com o da fotografia (mas nenhum se parecia).
Antes de me vir embora, por via das dúvidas, já que lá estava, resolvi trazer também um outfit à maneira. Calçãozinho curtésimo e blusinha de alças, decote e justinha. Tudo em cinzento clarinho. Só não trouxe uma fita para a testa porque, também, não é preciso abusar.
Sou assim. Um caso perdido. É como quando penso que um dia hei-de tornar-me escritora. A primeira coisa que logo me ocorre é resolver em que mesa vou escrever ou em que cadeira me hei-de de sentar. Vou evoluindo na decisão. Agora acho que tinha que ser uma mesa gigante numa divisão quase sem mais nada, talvez com uma jarra com flores frescas numa ponta da mesa. Depois começo a pensar como haveria de ser a jarra e que flores lá havia de pôr. Se frescas, tinha que estar sempre a mudar. Artificiais não faria sentido. Portanto, melhor esquecer as flores. Talvez pudesse ser uma jarra muito bonita apenas com água. E uma semana punha um corante amarelo na água, outra um corante azul. Mas depois penso que não tenho nenhuma divisão disponível para isso, nem vejo onde havia de arranjar uma big mesa tão grande como devia ser ou onde haveria de pô-la - ao lado da janela? Encostada a uma parede? Com uma estante por trás?
E é isto. Dúvidas e mais dúvidas. Depois, como me parece que não estão reunidas as condições logísticas, concluo que o melhor é desistir de ser escritora.
Chego a casa às quinhentas. Chegada a casa, já não tenho pachorra. Mas pronto. Dias não são dias. Hoje tive. Ginástica com ela. O plano ao meu lado, os vídeos para seguir as instruções.
Mas está bem, está. Parece que a respiração está trocada. Quando ouço que é para inspirar só me dá jeito expirar e vice-versa. Quando ouço que, ao levantar os pesos e expirar e que, ao mesmo tempo, devo comprimir os músculos tal e tal, está bem, está. Parece que, uma vez mais, a minha cabeça, concentrada que está nos movimentos e na coordenação da respiração, já não é capaz de processar ordem de comando para os músculos pretendidos.
Acabei ao fim de meia hora, depois de ter abreviado algumas séries, e estafada, com a tensão baixíssima. Como tenho sempre a tensão baixa, esta coisa das respirações profundas ou de levantar as pernas ou sei lá o quê, ainda a baixou mais.
Felizmente tinha trazido uma garrafinha de água -- que menina que faz ginásio e modela os glúteos tem que ter ao lado uma garrafinha de água, olha lá -- e beber água ajuda-me a reequilibrar os chakras.
[Estou a gozar. Não faço ideia do que seja isso de equilibrar os chakras. Ia escrever 'equilibrar a tensão' mas já estou a escrever a sério há tempo demais, já me estava a apetecer aparvalhar. Sorry]
Pronto. De qualquer forma, fiz exercício físico e fiquei logo a sentir os músculos, quando, regra geral, nem dou por eles.
E é verdade. Um dos exercícios é feito com haltere único e o tal único até deu bastante jeito. Para levantar os dois ao mesmo tempo, os pequeninos serviram bem.
Portanto, tudo está bem quando termina bem.
E, desde que comecei este meu regime, já tenho menos alguns quilitos e já estou a tratar de reforçar e modelar os músculos. Foi só ainda um dia... mas sou persistente.
Também, quando resolvi deixar de fumar pensei: nunca mais fumo. Nesse instante, para não ficar com peso na consciência, despachei de seguida os três cigarros que sobravam no maço (que perdulária não sou e não ia deitar fora três cigarros) e até hoje. Nunca mais. Já lá vão talvez uns dez anos, talvez até mais e nem mais um cigarro para as colónias.
Portanto, com o exercício é só eu encontrar a disponibilidade mental para, três vezes por semana, me sacrificar a tentar auto-sincronizar-me. E já estou aqui a pensar qual será o next step: começar a fazer ioga? Meditação? Alguma há-de ser. Claro que posso ficar-me apenas pela alimentação equilibrada e pelo exercício regular. Mas não sei, não. Às tantas, tiro os livros todos de cima daquela mesa redonda ao pé da janela, arranjo uma cadeira maravilhosa e desato a ser escritora. Não sei é como hei-de resolver aquilo das flores ou da jarra só com água. Também é verdade que, em vez da jarra, posso lá pôr uma peça artística. Posso antes, por exemplo, esculpir uma peça num tronco de madeira daqueles que lá tenho in heaven. Mas aí, lá está, isso é capaz de ainda me ocupar algum tempo porque esculpir madeira é coisa que também nunca fiz.
Conclusão disto tudo?
Não há. Trata-se de um work in progress, longe da conclusão.
Ah, é verdade: esqueci-me de referir outra deliberação nesta new age, mas essa já vocês sabem: dormir mais. Não dormir o suficiente parece que só faz bem ao Marcelo, não aos humanos normais. Não que eu seja muito normal mas, enfim, sou anormal numa escala diferente da do Marcelo que esse é one of a kind e eu sou só sósias tenho pelo menos duas, portanto posso ser anormal mas não sou exemplar único. Portanto, resumindo: não sei se ainda cá volte hoje com mais alguma laracha ou se me deixe disso e vá para a cama sentir a respiração de olhos fechados.
Ou não. Já sei. Vou ali experimentar o varão a ver se, com a ginástica de hoje, já consigo fazer umas habilidades.
[Aos leitores de índole mais seca ou às leitoras que gostam de se armar em catequistas para com esta pobre pecadora, vou já avisando: não, não estou a comparar-me com as beldades enxutas que usei para enfeitar a fraca prosa. Tenho olhinhos na cara para ver as diferenças. Estou apenas a insinuar que qualquer das gordas empanadas que acima vos mostrei devia pôr os olhos em mim caso aspire a tornar-se uma escultural mulherona que nem esta zinha que aqui vos escreve. Capisce?]
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Ou não. Já sei. Vou ali experimentar o varão a ver se, com a ginástica de hoje, já consigo fazer umas habilidades.
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