Gosto de ler sobre o processo de criação. Ler ou ouvir. Sejam escritores, pintores, escultores. Se calhar tabém músicos mas, não sei porquê, sobre música não me desperta tanto interesse.
Gosto de ler diários de escritores. Claro que não de quaisquer escritores. Nunca me passaria pela cabeça ler um diário do Valter Hugo Mãe, do Gonçalo M. Tavares, ou de grande parte das pessoas que podemos ver na Feira do Livro (é verdade... deve estar quase a abrir, não...?). Sou tão exigente no gostar de outras pessoas. Sendo eu pessoa em quem os outros vêem alguma simpatia, a verdade é que tenho alguma impaciência para com um grande número de pessoas. Pessoas agressivas: zero, não tolero. Pessoas secas, desinteressadas, inertes, indiferentes perante tudo: zero, não tolero. Pessoas que acham que sabem tudo e que, na prática, por serem pouco inteligentes, não sabem disfarçar a sapiência e, pior, maltratam aqueles que acham cultural ou intelectualmente inferiores: zero, não tolero. Pessoas que monopolizam qualquer conversa, egocêntricos e narcísicos: zero, não tolero. Pessoas que só vêem o lado mau da vida, que não acreditam em nada nem em ninguém, que acham que não vale a pena empenharem-se em nada, pessoas geralmente corrosivas: zero, não tolero. E etc.
Portanto, se eu pensar que gostava de conversar com um escritor que admire, logo dou um passo mental atrás pois quem me garantiria que, sendo bom de escrita, não seria um desastre no convívio?
Não há muitos escritores portugueses que ainda escrevam que eu admire. Se, em relação a essa minoria, imaginar como serão como pessoas, tenho que confessar que a lista fica tão exígua que eu agora só me lembro de uma pessoa, da Hélia Correia. Penso que poderia estar um dia inteiro a lidar com ela, na cozinha, no quintal, talvez à janela. Mas não me lembro de outro, imagine-se. Mas admito que é o de sempre: quando é fazer listas, tenho uma branca.
Aliás, agora ocorre-me que também gostaria de conversar com Pedro Támen. Gosto muito da poesia dele e das suas traduções, duas artes especiais. Acho que deve ser agradável falar com ele, tem ar de ser pessoa interessante.
Um com quem eu teria adorado conversar era o Cesariny. Ou a Agustina. De resto... Tenho que dar uma volta pelas estantes e montes aqui da sala a ver se não haverá mais alguém. Ah, talvez o Mia Couto. Tem ar de ser silencioso e de falar das terras por onde anda com o olhar perdido nesses horizontes.
Bem, se continuar por aqui com esta conversa, talvez me vá lembrando de um ou outro.
De qualquer forma, nunca vou a Encontros de Escritores ou sequer me abeiro deles nas Feiras do Livro. Ali é tudo circunstancial, desligado da alma, toca e foge, um smile e já chega. Nem pensar. Uma conversa com alguém interessante (mesmo que não seja artista de nenhuma arte) tem que ser conversa com vagar.
Talvez para colmatar esse meu gosto que não consigo consumar, volta e meia ponho-me a ver videos com entrevistas. Deixem que partilhe convosco (enquanto na televisão dá o futebol e reparo que o Cristiano Ronaldo está ruivo e com a pele cor de laranja).
Ian McEwan fala do seu processo de escrita
Philip Roth fala de como é escrever sobre sexo
Já agora, a Hélia Correia a falar do livro da sua vida
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Entretanto já fui ali jantar. Tinha deixado o jantarinho a preparar-se e estava saboroso. Assei um lombo de peixe sobre cama de maçã aos gomos e, por cima, coloquei-lhe tomate maduro às rodelas largas. Um pouco de sal, orégãos, alecrim e azeite. Antes forno aquecido ao máximo. Quando o tabuleiro entrou, baixei para 150º e deve ter estado para aí 1 hora. Acompanhei com feijão-verde e brócolos cozidos e, para sobremesa, frutos vermelhos (framboesa. mirtilos).
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Apeteceu-me ter um vídeo dançante: um tango de Piazzolla Tango - Oblivion
As fotografias são selfies de Flora Borsi combinadas com fotografias de animais
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E um dia feliz a quem por aqui passa.
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Todos temos os nossos preconceitos. Eu tenho os meus. E agora descobri outro: contra gente que diga que o livro da sua vida é O Monte dos Vendavais. Perdi logo a vontade de ouvir o resto da entrevista à Hélia Correia e até estava curiosa. É que é muito mau. Não desgosto de um certo tipo de escrita "negra", digamos assim. Salta-me logo à memória o Vermelho e o Negro, que foi uma descoberta, um encantamento... e quão negros não são os primeiros capítulos, quão sinistra não nos aparece a personagem principal! Até gramei (é a palavra) o Monte dos Vendavais até aí ao fim do segundo terço, apesar da seca gigantesca que era. Mas o final é pura e simplesmente uma confusão. A cena de ela ir ao cemitério e a dúvida sobre se ele se estará a mexer na cova (li há anos e se calhar o que estou a dizer não corresponde à história exatamente), pareceu-me uma parvoíce pegada, um autêntico non-sense. Não me incomodam alguns cliffhangers ou que não haja um fim que deixe tudo muito bem explicadinho, mas livros que mais parece que está lá alguma coisa escondida, só que nunca vamos saber o que é, porque o/a autor/a também não sabia, mas quanto mais inexplicável a história, melhor só porque sim... Não, obrigada. Para isso lia O Código da Vinci, que imagino tenha enigmas do género. Deem-me um Júlio Dinis "any day".
ResponderEliminarJV
87.ª Feira do Livro de Lisboa 2017: 1 a 18 de Junho.
ResponderEliminarUm com quem eu teria adorado conversar era o Cesariny. (...)
ResponderEliminarReceio que a minha amiga sofresse uma desilusão. O Mário Cesariny não era um bom conversador. Estive com ele umas 4 ou 5 vezes e sempre o encontrei bastante calado. Ele era mais um homem de escrever e de pintar do que de falar. Admito que, nos seus gloriosos tempos de boémia, ele se tornasse loquaz depois de ter entornado alguns copos. Mas quando o conheci, já no fim da sua vida, ele era apenas um velhinho hipocondríaco e reservado. Só o seu olhar, que sempre conservou vivíssimo, é que denunciava que aquele senhor é que era "o" Cesariny, que abominava os neorrealistas e admirava incondicionalmente Antero de Quental. A propósito de Antero, recordo que, poucos anos antes de morrer, Cesariny foi pela primeira vez (e certamente a última) aos Açores, com o propósito exclusivo de visitar o túmulo de Antero em Ponta Delgada, e não para ver a Lagoa das Sete Cidades ou as Furnas.
Oh Fernando... a sério?
ResponderEliminarUma vez vi um documentário com ele e achei o máximo. Imaginava-o irreverente, a contar histórias divertidas, mesmo impróprias, ou a revelar conversas com outros escritores ou pintores, um conversador de gema.
Que surpresa essa de ele ser assim e de ser tão devoto de Antero.
Mas então o Fernando, mesmo não tendo ele falado muito, teve a sorte de o conhecer ao vivo. Apesar disso, é uma memória boa.
Gostei de ter lido o que escreveu. Sempre coisas novas ou maneiras novas de ver as coisas.
Obrigada, Fernando.
As selfies estão um espectáculo. Das entrevistas...preferia o vhm ou qualquer escritor português. Daqueles dois senhores, entendi umas por outras que é como quem diz, tudo junto dá quase nada. E por isso Hélia Correia foi a melhor. Por acaso gosto muito ou talvez mesmo muitíssimo do monte dos vendavais. Ainda que não saiba analisá-lo como a escritora e nem haja um livro da minha vida.
ResponderEliminarOlá Anónimo!
ResponderEliminarMuito obrigada pela informação. Estava com a ideia que era mais cedo e estava a estranhar não ouvir dizer nada. Boa.
E uma noite descansada também para si (e um dia feliz amanhã)
Olá brava JV!
ResponderEliminar(Brava. Não bravia)
Sabe que a mim nunca me passaria pela cabeça escolher O Monte dos Vendavais? Mas admito que, se calhar, se o lesse de novo talvez descobrisse encantos que antes não vi.
Já a Maria Teresa Horta também diz que é esse o livro da vida dela... Acho estranhíssima a escolha. Mas já tive tantas surpresas: ideias que, para mim, tinham uma leitura e um sentido e anos depois ganham novas texturas.
Ou então é aquilo do amarelo.
Não sei.
Mas sei que gosto sempre de ler o que escreve, JV.
Ai bea... que a gente se zanga já aqui... o vhm...? não, não, não. Todo fofinho, sempre a armar-se em quiduchinho, a querer ter um filho e aparentemente a não conseguir tal feito... ? Credo. Não acredito.
ResponderEliminarEstá a dizer isso para me tirar do sério, bea, confesse.
Então não liga ao Ian, não liga ao Roth... e vem dizer que preferia o Valtinho....? Ai... que essa agora até me doeu.
Pense lá melhor, bea. Pode refazer o comentário. Dizer que preferia um vídeo com o Camões, com o Bocage, sei lá, qualquer coisa credível. Agora o vhm...? Aiiiiiiiii....... que dor.