No fim de semana passado, ao passar por campos de papoilas, queria fotografá-las. Contudo, aqui que ninguém nos ouve, condescedo: não se pode parar o carro quando dá jeito, no meio da estrada, de qualquer maneira. E, portanto, apesar de um pouco desiludida, acabei não o conseguindo. Mas com pena.
É que se há coisa que quase instantaneamente transmite a inocente alegria da primavera -- como se as flores estivessem a descobrir o mundo pela primeira vez e, na sua ingenuidade, viessem jubilosas, cheias de cor e de luz, inconscientes da sua fragilidade -- ela é, inegavelmente, a visão de um campo de papoilas. Ou um simples tufo delas, meninas elegantes dançando com a brisa da manhã ou, alegremente, entregando-se ao sol da tarde.
Pintá-las ou fotografá-las é daquelas tentações a que custa resistir.
Manet, suave na cor, suave nas ondulações do terreno, suave nas figuras que pelos campos se passeiam, suave na harmonia do que os olhos vêem, viu-as como abaixo se mostra.
Mas, se me permitem, vamos ao som da música que vamos mais levezinhos.
Van Gogh via manchas estelizadas, via a cor e o movimento, tudo se misturando numa quase caótica euforia, via o calor e o cheiro, via o céu que podia ameaçá-las mas ainda não, ainda não.
E depois Mary Cassat. Pintora da maternidade -- a ternura das mães com os seus filhos, as mulheres todas elas meiguice e abraços, sempre cheias de graça, colos macios, braços envolventes, expressões tranquilas e as crianças todas elas a pedir um olhar húmido de carinho -- pintou também as papoilas que, aqui, são palco e suave pano de fundo.
E há papoilas, ces joyeux coquelicots da Gina G., que as vê musas ou bailarinas, flores impressionistas, manchas de cor que atravessam os seus indomáveis pensamentos.
Mas se, um dia, nos seus sonhos, lhe aparecerem as papoilas de Georgia O'Keeffe, aí a irreverente Gina G. talvez fique em êxtase, ah que flores assim eu nunca tive nas minhas jarras, todas em ouro rubro, a origem do mundo em negro veludo com flor ao centro, pétalas de seda e folhos de cetim, ah estas vou ter que inventar para mim.
Mas nada que dure muito que logo, logo, a Gina G. se transformará em Gina Poppy e desfiará palavras, cores, mais flores, mil céus, mil passos, bolos e acepipes e fotografias de mãos e pés e saltos e lábios a serem pintados e corações ao cantinho feitos pela sua rica filha.
Podia ser a Gina G. com um criativo turbante-papoila mas não, é apenas a The Corn Poppy, de Kees van Dongen |
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E queiram, por favor, descer e verificar como é que a banana da Gina G. compete com a do Andy Warhol
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Ora bem, não esperava tanto, UJM.
ResponderEliminarObrigada, mesmo, sinto que devo agradecer esta retribuição, afinal a blogosfera tem partes boas e que vale a pena serem vividas, e esta é efetivamente uma dessas partes. E fique sabendo que por vezes me lembro de si, quando ando às malucas com a máquina fotográfica na mão, direito a tudo, por tudo me encantar. E note que me lembro de si sem estar frente ao computador ligado ao seu blogue, isto prova que as pessoas realmente existem, por muito que se fale que a virtualidade é uma treta e que as pessoas isto e aquilo, ou seja: as partes más da coisa, vá, que afinal também existem, não lhes fujamos, que não vale a pena. Ah, e adorei a referência à rica filha e a sua assinatura especial. Ah, só mais uma coisinha (é que sou grafómana...) o meu 'eu', a minha parte artística ser-lhe lembrada pela arte que aprecia em artistas verdadeiramente artistas, quero eu dizer: apreciados, consagrados e inclusive premiados, é algo que me transcende e me retira boa parte da grafomania - não sei o que dizer.
Tome lá um grande abraço de consideração. ;)
(este comentário vale pelos três posts de hoje)
Olá Gina G.
ResponderEliminarSó espero é que se consiga sempre manter como é. Por muito tédio que, por vezes lhe invada os dias, por muitos problemas que tenha ou por muito que o tal lado mau da internet a magoe, não deixe que nada perturbe a sua criatividade, a sua irreverência, a sua fantástica onda.
Um abraço.
PS: Pensei que era o seu filho que estava atrás das flores mas não tinha a certeza e, por isso, não o mencionei. Mas se a Gina for como eu, terá sempre vontade de referir os dois. E, portanto, para o caso de ser, aqui está a referência. E felicidades para vocês todos.
É o meu filho, sim. Mãe de um, mãe de outro. Agradecida por também o referir. ;)
ResponderEliminarBom fim de semana.
P.S.
Já tinha deixado este comentário, mas como foi através do telemóvel, não chegou, a ver se hoje fica.
UJM,
ResponderEliminarO Impressionismo foi um dos mais extraordinários períodos da História da Arte, ou melhor, da Pintura.
Abraço!
P.Rufino