Não falei sobre a entrevista de Passos Coelho porque não a vi. Não sou masoquista. Para além disso, tal pessoa já não comporta qualquer interesse para mim. Nem aquilo que ele diz me interessa nem as suas nefastas ideias comportam já qualquer risco.
Passos Coelho ruíu na noite das últimas eleições quando não percebeu que António Costa se estava a apresentar como um não-derrotado e quando não foi capaz de alcançar que Jerónimo de Sousa estava, nessa mesma noite, a dar a mão ao PS. Passos Coelho não percebe o que é óbvio, como haveria de perceber sinais relativamente subtis? Mesmo agora, mais de um ano decorrido, ainda não percebeu que está politicamente morto. Terão que atirá-lo fora -- pela janela, a pontapé, ou simplesmente pondo-o no lixo. Pelo próprio pé não irá. Mesmo perante o incómodo que alastra nas hostes laranjas, inquietas com o vexame autárquico que se perfila no horizonte, Passos Coelho mantém-se de bandeira na lapela, firme e hirto no trono em decomposição onde se alapou.
Por isso não o vi na entrevista. Ou melhor: não o vi na altura porque nem me dei conta de que ele ia falar e, quando me apercebi de que já tinha falado, não tive qualquer curiosidade em pôr a box a andar para trás.
A única coisa neste caso do cadáver político em forma de láparo que me intriga nem tem bem a ver com ele, tem mais a ver com aqueles que o apoiam.
As pessoas com quem me dou são na sua maioria de direita ou por lá perto. Um ou outro são de centro/esquerda mas poucos. Uns excêntricos aos olhos dos outros.
No entanto, de todos os que conheço nunca vi um único defender Passos Coelho (ou o Cavaco, enquanto era Presidente). Sendo gente civilizada e bem informada, sempre olharam de alto ou seja, com desprezo, as anormalidades da governação lapariana. Não faço ideia em quem votaram. Presumo que se tivessem abstido.
Mais: nunca até hoje lhes ouvi uma palavra que fosse contra a geringonça. Pelo contrário, se ao princípio lhes via curiosidade, agora vejo algum espanto e admiração e, sendo, em grande parte, gente ligada à economia real, aos negócios e à gestão empresarial, o que vejo é tranquilidade e confiança no futuro.
No entanto há um, pessoa com a maior responsabilidade numa das empresas e, portanto, supostamente inteligente, que continua a falar deste governo como se de uma formação bolchevique se tratasse e a defender o PSD como o legítimo detentor do direito a governar o país. Quando em conversa, como disse, fala com verdadeira raiva do governo PS como sendo um governo saído directamente, sem hiato temporal, do PREC ou, mesmo, do regime soviético de antanho. Para ele o governo, a cgtp ou qualquer vulgar meliante é tudo farinha do mesmo saco. Quando fala, a cegueira é tanta que nem se apercebe que a sua visão irracional está isolada e fala com a convicção de quem está no meio de correlegionários. Quando ele fala fico incomodada e, sobretudo, espantada. Não há no que ele diz ponta de racionalidade ou objectividade, só distorção ou rancor. Perante a evidência do que foi o fiasco governativo de Passos Coelho e, em contrapartida, do que está a ser o bom caminho do governo de António Costa, esta pessoa fecha os olhos e continua a ranger os dentes, rogando pragas ao actual governo e incensando aquele que foi um comprovado desastre. Eu, que gosto tanto de falar sobre política e que me entusiasmo perante a perspectiva de uma animada tertúlia, ao pé dele dico muda. Não consigo falar com gente assim. Ou melhor: sei que não vale a pena falar com gente assim. Ou melhor ainda: sinto que de gente assim mais vale guardar distância.
Quando vejo os 29,3% que ainda apoiam o PSD fico admirada. O que é que essa gente ainda vê num partido desnorteado e conduzido por um incompetente, ignorante e ressabiado?
E depois penso na pessoa que acima referi e ainda fico mais perplexa: será que 29,3% dos portugueses são assim tão sectários, tão empedernidos, tão raivosos?
Se calhar são.
É certo que a direita hoje está encolhida a um canto (35,7% para o conjunto PSD & CDS -- que compara com os 55,8% do PS & BE & CDU) mas, mesmo assim, ainda me espanto que haja tanta gente mal informada ou mal formada ou desinteressada.
O país seria outro se, perante a indigência política dos actuais dirigentes do PSD e CDS, os portugueses lhes mostrassem um valente cartão encarnado, obrigando estes partidos a regenerarem-se.
O que vou dizer é uma lapaliçada mas é um facto (que tem vindo a ser frequentemente esquecido): a democracia tem a ganhar quanto mais capazes forem as pessoas que lideram os partidos. A forma de evitar populismos ou perigosos extremismos é ter partidos inclusivos, bem organizados, conduzidos por gente com visão, com um sentido estratégico de desenvolvimento, com uma visão humanista e moderna. Partidos entregues a si próprios, com líderes fraquíssimos como Passos Coelho ou Cristas, abrem espaço ao aparecimento de movimentos contrários à democracia para onde são atraídos os descontentes sem rumo.
O que vou dizer é uma lapaliçada mas é um facto (que tem vindo a ser frequentemente esquecido): a democracia tem a ganhar quanto mais capazes forem as pessoas que lideram os partidos. A forma de evitar populismos ou perigosos extremismos é ter partidos inclusivos, bem organizados, conduzidos por gente com visão, com um sentido estratégico de desenvolvimento, com uma visão humanista e moderna. Partidos entregues a si próprios, com líderes fraquíssimos como Passos Coelho ou Cristas, abrem espaço ao aparecimento de movimentos contrários à democracia para onde são atraídos os descontentes sem rumo.
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[O post abaixo é especialmente dedicado a mulheres. Ou não, talvez seja para todos.
Gostava que o vissem pois contém um alerta importante]
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Uma entrevista patética. Só vi parte, quando, por acaso, liguei a TV. O tipo não se conforma de ter sido corrido pelo Costa (mais BE e CDU). E aquela de o cabotino dizer que o Conselho de Finanças Públicas ser um órgão independente, só mesmo da cabeça do marau do Passos!
ResponderEliminarP.Rufino
PS: ao que li algures, essa figura patético-"feminina", o ex líder do PP(CDS), disse umas tantas parvoíces para quem tem paciência para o o ouvir e ler. Um comediante!