domingo, abril 30, 2017

A seguir à polémica entre Daniel Oliveira e João Miguel Tavares,
eis que agora é o 'Bastonário da Ordem dos Marianos Encartados', João César das Neves, a polemizar com o Pde. Anselmo Borges e com D. Carlos Azevedo.
E eu pergunto:
Mas, afinal, a Senhora veio ou não veio?





Apesar de afastada das tricas luso-domésticas, vou acompanhando ao de leve o que vai acontecendo. No news, good news
Uma vez, estava eu na Normandia, todas as televisões passavam imagens de Portugal a arder. A acrescer, na zona do Alentejo onde na altura a minha filha estava, os incêndios eram sucessivos e, no próprio lugar, houve um fogo, os sobreiros a arderem, os bombeiros sem mãos a medir, e ela e outros membros da família  a andarem de tractor a tentar conter o que parecia ser arrasador. E eu, lá longe, o coração nas mãos, assustada com tudo o que ia sabendo, pedindo-lhe que não se aproximasse do fogo e pedindo a todos os santinhos que acabassem as notícias sobre Portugal.
Portanto, quando estou afastada de casa, mesmo que relativamente perto, o que mais desejo é que não aconteça nada de especial, nem na família nem no País. E digo especial, logicamente referindo-me a coisas más. Coisas boas que venham, que chovam, que não parem.

Bem. Mas dizia eu que, tirando os tiros nos pés do láparo a que se seguem uns estalos bem dados pelo infatigável e ubíquo Marcelo -- o que já não é notícia -- quase nada digno de referência. 

A única coisa que me chamou a atenção foi a crónica deste sábado do Inteligente César das Neves, que o mostra armado em pastorinho e a confirmar que a Senhora veio mesmo, ao contrário do que alguns padres e bispos por aí andam a espalhar.


Concede, o Das Neves, e passo a citar:
"Em Fátima, ninguém tocou a Senhora, nem Ela comeu nada. Aliás, se tivesse corpo, toda a gente que ali estava a teria visto, e não apenas as três criancinhas. Tratou-se portanto de uma "visão", algo que se manifesta de forma não física e apenas a algumas pessoas. Esta distinção, usando a "linguagem exacta" e teológica, é muito interessante, mas, dita de forma apressada e sem explicação adequada, gera naturalmente dúvidas e confusões."
Mas, passando este pormenor, o 'Grão-Mestre da Grande Irmandade dos Marianos Convictos' atira-se aos teóricos apressados e imprudentes que por aí andam a dar cabo da tradição e do negócio e afirma a pés juntos que, 
"Que Nossa Senhora esteve realmente em Fátima sabemo-lo com segurança desde 1930, quando a autoridade competente, o senhor bispo de Leiria, decidiu "declarar como dignas de crédito as visões das crianças na Cova da Iria, freguesia de Fátima, desta diocese, nos dias 13 de maio a outubro de 1917" (carta pastoral de D. José Correia da Silva de 13 de Outubro de 1930)"
E, arreliado com os 'pormenores técnicos' que os dois ilustres membros da Igreja Católica, professor Anselmo Borges, da Universidade de Coimbra e padre da Sociedade Missionária Portuguesa. e Carlos Azevedo, bispo-delegado do Conselho Pontifício da Cultura no Vaticano e um dos mais respeitados historiadores portugueses da religião, andam a referir em entrevistas e crónicas, João César das Neves, afirma alto e bom som:
"Nestas entrevistas, e certamente mais vezes nos próximos dias, acontece aquilo que tem sido comum no fenómeno de Fátima desde o princípio: os especialistas tropeçam repetidamente nos obstáculos que eles mesmos criam, enquanto o povo simples e humilde vai directamente ao essencial, sem ligar às teorias. O essencial é que Nossa Senhora esteve e falou em Fátima. Tudo o resto nem precisa de ser dito, porque o povo, mesmo sem conhecer detalhes, sabe bem aquilo que Ela é e quer."
Nem mais. Pronto. Arrumou. 

Espero agora a réplica dos Padres e Bispos. Isto ainda vai aquecer.

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Para quem não acompanha a polémica, aconselho a leitura da crónica do Pde. Anselmo Borges 


O que eu penso sobre Fátima (1)

onde, às tantas, refere:
Assim, tratou-se de uma experiência religiosa à maneira de crianças e segundo esquemas e uma imagética hermenêutico-interpretativa situada no seu contexto. Não se pode esquecer que a experiência religiosa se dá sempre dentro de uma interpretação, de tal modo que há experiências religiosas melhores e piores ou menos boas. A daquelas crianças não foi das melhores, pois pode-se, por exemplo, perguntar: que mãe mostraria o inferno a crianças de 10, 9 e 7 anos? Os pastorinhos ficaram marcados negativamente e, de algum modo, com a vida tolhida. Ao mesmo tempo, e isso é admirável, tiveram uma imensa generosidade face à situação que viviam.(...)
Acrescente-se que aquele núcleo de experiência foi sendo submetido a arranjos e rearranjos ao longo do tempo, segundo novos esquemas interpretativos, no contexto de novas situações históricas e novos desenvolvimentos.(...)
E o Pde Anselmo Borges, que está numa de não deixar pedra sobre pedra, vai ainda mais longe e afirma:
Tudo o que é espiritual é da ordem espiritual. Por exemplo, na Anunciação, não apareceu empírico-objectivamente nenhum anjo a falar com Maria. O que ela teve foi uma experiência místico-religiosa interior. Isso é uma visão, no sentido técnico da palavra: uma percepção interior.(...)
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Recomendo também a leitura do artigo do Expresso:


Nossa Senhora não aprendeu português para falar com Lúcia”,


entrevista a Carlos Azevedo, bispo-delegado do Conselho Pontifício para a Cultura



da qual transcrevo uma pergunta/resposta:


Desde o principio que a Igreja é acusada de se aproveitar economicamente de Fátima.
Houve muitas apropriações. A política apropriou-se de Fátima quando descobriu que ali estava uma fonte de coesão nacional. O Estado Novo percebeu que importava estar do lado da nação. E, se o povo é crente... Acho que isso é uma apropriação. Depois, podemos dizer que há uma apropriação pastoral porque a Igreja valoriza Fátima como polo de dinamização pastoral e litúrgica, de todo o país. São apropriações. Apropriar-se de uma coisa que tem valor é natural. Não podemos criticar os políticos por serem inteligentes e perceberem que há ali uma realidade importante. Depois, podemos discutir se são coerentes com as medidas que praticam... Mas o mal são as manipulações, como os negócios e todo o jogo de interesses.

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As imagens são brincadeiras do designer gráfico japonês Shusaku Takaoka e estão aqui por alguma razão que Freud explicaria. Mas acho que não é preciso psicanálise para coisa tão óbvia. Qualquer um é capaz de perceber qual a liaison. Se é que a há.

Whoopi Goldberg empresta a sua graça ao momento, num trecho de Sister Act, justamente o "Oh Maria".

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E até já.
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