Se houver cura, dispenso. As coisas normais não me atiçam. Não me aceleram. Não me continuam.
Preciso da sofisticação do que é aparentemente simples. Do abraço da brisa nos poros. Dos respingos do sol adornando a tarde. Da carícia na ponta dos dedos, da massagem demorada nas costas. Preciso sentir que há um outro. Preciso senti-lo existindo, respirando perto, pulsando, trocando ideias e experiências. Preciso dessa vizinhança das almas que conversam até mesmo sem nada dizer.
O ritmo lento da normalidade não me empurra, não me anima. Não me agita. Não me faz querer voar para a voragem dos olhares que troco na rua, para os encontros que fazem com que as almas se encaminhem para dentro de si mesmas e se abracem por dentro.
Eu não nasci para o morno. Eu não nasci para a realidade pálida que não se oferece à ousadia. Eu não nasci para os dias parados e sem cores. Eu nasci para pintar. Eu nasci para amar intensamente, de dentro para fora! Por dentro e por fora, sem medo do não e do adeus repentino. O único medo é não avançar quando quero. Não amar quando posso. Quando o coração sinaliza que já não dá para desconversar e mudar a estrada.
Eu nasci para o fogo, para intimidade quente de um cobertor dividido. Para um sorriso que se abre sem procurar motivo. Para o café forte coado no coador de pano. Para o delírio de uma bela canção executada no violino.
Quem é intenso, é delicado, é esvoaçante. Tem renda no pensamento e mania de levitação.
E quem disse que não tem lágrimas?
O coração do intenso não é blindado. Vez ou outra, uma pancada forte o acerta em cheio, e ele, dolorido, reclama, arde, soluça no travesseiro e pede proteção. A tristeza às vezes bate à porta, maltrata, derruba algumas certezas, revira alguns sonhos, esculacha, mas não é capaz de matar a esperança.
A esperança nos intensos é como um membro primordial do corpo, não é possível arrancar. Não se desfaz à toa. A esperança nunca anda só. Quem tem esperança tem artimanha e carta na manga para reerguer o castelo depois da tragédia e ainda sobra disposição para fazer graça.
O grande trunfo do intenso é, sem dúvida, a sua capacidade de não saber disfarçar o que sente. Os sentimentos estão sempre falando alto, se espalhando pelos gestos, orquestrando as ações. O intenso nunca nega o que é. A alma não deixa…
No fim de um dia bem complicado, não encontro palavras minhas. Mas curiosamente encontrei palavras que podiam ser minhas no texto que transcrevo quase integralmente, um texto de Ester Chaves na Obvious.
Da carícia na ponta dos dedos, da massagem demorada nas costas. Preciso sentir que há um outro.
Eu diria isto. Eu digo isto. E o resto.
Apeteceu-me meter-lhe pelo meio fotografias de Sarah Moon. E, vá lá eu saber porquê, enquanto compunha isto, apeteceu-me ouvir Tom Waits em Hold on. Talvez porque, ao longo do dia, me apeteceu ter quem, de vez em quando, ao meu lado, me dissesse:
You gotta hold on, hold on
Babe, you gotta hold on
And take my hand, I'm standing right here
You gotta hold on
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Sobre a perplexidade que se abateu sobre alguns americanos, queiram ouvir o que abaixo se partilha.
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Esculacha? Que maravilha! Já ganhei o meu dia! O que significa? Um grande abraço.
ResponderEliminarBem me parecia que essa linguagem vinha do Brasil.
ResponderEliminarOlá Abe,
ResponderEliminarGracias very much pelo abraço. Outro para si.
E nada de esculhambar, viu?
É, bea, do Brasil, português com voz doce.
ResponderEliminarEu estou inscrita neste clube. Não sei se gosto. Não sei ser de outra forma.
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