Depois da tranquilidade do Mosteiro de Santa Clara ---
e eu não sei explicar porque é que, quando estou num lugar destes -- claustros silenciosos, flores e pássaros, música descendo dos céus -- sinto que poderia viver num lugar assim, sem qualquer problema. Desde que pudesse falar todos os dias com a família e que todas as semanas eles todos me visitassem; e desde que o meu marido lá vivesse também, claro.
--- a Quinta das Lágrimas.
O Outono aqui está glorioso. As árvores são majestosas, há pequenos bosques de árvores gigantes ou bambus muito altos e densos e cheira aos perfumes bons que se desprendem das ramagens, da terra atapetada de folhas douradas, da água dos lagos.
Junto ao portal da Fonte dos Amores, os troncos estão cheios de fitinhas coloridas, grande parte delas com os nomes dos enamorados que ali lançam aos bons espíritos os seus pedidos por amores eternos. Alguns pedidos são simples, ingénuos. Comovente, isto. Um dia que lá volte também vou deixar uma fitinha a pedir muito amor para mim e para os meus. Deixo a fitinha a abraçar uma daquelas árvores.
Não há nada no mundo, nada, que valha o sentirmo-nos amados, o sentirmos que o nosso amor é bom para alguém. Não há acumulação de saberes, sucessos, rendimentos, prémios, condecorações ou lisonjas que justifiquem o sacrifício dos afectos. O prazer maior é estarmos junto daqueles a quem queremos bem e que nos olham com amor, compreensão, condescendência. Pensei isto quando olhei para as fitinhas e quando passeei de mão dada por entre as sombras luminosas desta pequena floresta.
À nossa frente um casal abraça-se. Nós retardamos o passo para não os incomodarmos. Mas o abraço estreita-se, converte-se num arrebatado beijo. Retardamos ainda mais. Depois desabraçam-se mas, acto contínuo, ele coloca o braço sobre os ombros dela e lá vão.
Lembro-me dos Jardins da Gulbenkian ou do Jardim Botânico de Lisboa onde tantos beijos enamorados troquei. Para mim o namoro não é coisa para clausura entre quatro paredes. Para mim o enamoramento precisa de largueza, de jardins e parques, de flores, do canto dos pássaros, da intimidade da sombra das grandes árvores, dos recantos só nossos, do canto das fontes, do reflexo da luz nos lagos, da ousadia de querer ser amado de forma desmedida, única, intemporal.
No entanto, por aqui não vi tantos casais apaixonados quanto imaginei. Grupos de turistas, grupos de mulheres a passeio. Um ou outro esporádico casal, ela espreitando pelo portal da Fonte dos Amores, ele sorrindo e fotografando-a. Também eu lá me pus para que o meu amor me fotografasse.
E também eu me sentei ao sol, num banco de pedra à beira do lago, para que o meu amor me fixasse assim, coberta pela luz dourada de um suave entardecer. Não se fica indiferente quando nos encontramos entre uma natureza tão delicada, tão romântica.
Estando aberto ao público, sem se pagar, admiro-me sempre com a pouca frequência destas coisas por parte dos portugueses. No entanto, encontramos japoneses que vêm do outro lado do mundo para visitar aquilo para onde os iPads os trazem. Estas três japonesas aqui abaixo, muito zen, iam ouvindo o que a do casaco fúchsia ia lendo do ipad, Pedro e Inês, amores clandestinos, dores e lágrimas, poemas do poeta maior -- imagino eu ao discernir, entre sons desconhecidos, alguns nomes familiares. O meu marido zanga-se comigo: que ouço o que as pessoas dizem, que fotografo as pessoas sem elas saberem, que um dia ainda passo por alguma. Espero que não. Apenas quero absorver o mundo por onde vou passando.
E, no relvado, uma grávida, muito grávida, notoriamente quase pronta para parir, deitava-se para que toda a pujança do seu fértil ventre sobressaísse por entre os verdes. Duas amigas fotografavam-na. Estavam radiantes, riam-se, estudavam poses. Um dia, o filho, verá as imagens da sua mãe e saberá que dentro dela a sua vida progredia, prestes a vir enfrentar o mundo.
E depois viemo-nos embora. Apesar do calor e do sol ainda vadiar por entre as árvores, a tarde começava a dar sinais de querer anoitecer.
Abençoados os que têm a sorte de viver numa terra tão linda.
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Coimbra tem mais encanto na hora da despedida
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E queiram agora, se vos apetecer, claro, descer até aos claustros sereníssimos do Mosteiro de Santa Clara. A nova.
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Eis porque me orgulho de ser nado e criado em Coimbra, de ter tido filhos em Coimbra, de viver em Coimbra, de trabalhar em Coimbra e... provavelmente acabar em Coimbra!!
ResponderEliminarUm abraço num "Jeito manso"
Os seus posts têm muita escrita que é um tanto contraditória. Mas depois mostra fotos tão bonitas que as palavras perdem impacto e o contraditório não faz sentido.
ResponderEliminarO canto das freirinhas é um abençoado canto.
Olá Anónimo!
ResponderEliminarTem sorte, sim. Deve ser muito bom viver numa cidade assim. E nem me pareceu que tivesse problemas de trânsito que é uma coisa que mata a qualidade de vida nas cidades. E aquilo dos semáforos ter o tempo que falta revela respeito por quem circula. E som, para quem não vê. Todas as cidades deveria, seguir-lhe o exemplo.
Tudo bem bonito e afável.
Uma vida feliz para si e para os seus!
Olá bea,
ResponderEliminarAinda bem que me aha contraditória. Tento sê-lo. Abaorrecem-me as pessoas muito certinhas, muito perfeitinhas, muito quadradinhas. Por isso, se gosto de ver nos outros o grão da imperfeição, fico contente que isso seja também detectável em mim.
E tento lavar os meus pecados com a santidade do canto das freirinhas mas, até ver, não tenho sido bem sucedida.
Uma santa noite para si, bea!
A Quinta das Lágrimas é um local muito aprazível e na unidade hoteleira come-se muito bem. E dorme-se ainda melhor!
ResponderEliminarP.Rufino
Obrigada por este mimo, UJM. Gostei muito.
ResponderEliminarQuando estive neste lugar mágico, pagava-se para entrar.
A única pessoa que lá vimos foi o senhor que nos cobrou a entrada :-)
Já foi há 20 anos.
Um abraço,
L.
Romântica L,
ResponderEliminarObrigada e um abraço!