domingo, outubro 16, 2016

Stratus, cumulus, cirrus, nimbus


'A nuvem sobe, adensa, esgarça, desce' é um verso de Goethe (em tradução de João Barrento) de um poema dedicado a Howard Luke, o homem que conseguiu surpreender as formas dos seres mais instáveis, as nuvens, e encontrar para elas o nome certo. 'Que nuvens é que viste hoje?', pergunta a mulher. 'Stratus, cumulus, cirrus, nimbus', lenga-lenga encantatória, que se desfaz em humor infantil. 'Não', continua o homem, 'hoje só vi uns carneirinhos', de lã cardada, escreve Goethe, referindo-se ao destino de cirrus. Todos nós conhecemos este rebanho sem pastor.



Entre os antigos estóicos, os sentidos eram os mensageiros, os anjos, do nosso corpo.

Tal como os sentidos do nosso corpo, o mensageiro das nuvens está preparado para receber e manifestar de modo expressivo aquilo que recebeu: tendo bebido a água, deixa-a cair: ouro e pétalas.

Estamos diante dos segredos meteorológicos e cosmológicos que anunciam a preparação das nuvens no vórtice da tempestade, no grande reservatório das forças do todo que procuram a espiral do nosso olhar. Ao seu encontro chama-se vertigem.


Aqui, a água e o fogo parecem nascer da mesma fonte, em que ser atraído e ser expelido se confundem. Observam-se jogos entre grandes massas montanhosas. Porém, a necessidade que governa essas poderosas geometrias não apaga os vestígios da leveza que ondula nos tecidos e esvoaça nas fitas, na lançadeira inquieta. Talvez se lhes possa chamar o elemento atmosférico feminino.

Na interrupção que as colagens engendram percebemos as provisões que o tempo nos traz, arrasta e abandona.

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Excertos de Rebuçados Venezianos de Maria Filomena Molder, ed. Relógio d'Água

A Orchestra Filarmonica della Scala sob direcção de Claudio Abbado interpreta Nuages (nuvens) de Debussy

Fotografias feitas este sábado in heaven

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.

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