Olho como se já os tivesse visto. Talvez numa pintura. Hopper, talvez.
Não. Talvez não propriamente Hopper. Estes que vejo não estão suspensos no tempo, no meio do vazio. Vejo que se mexem.
As gaivotas também devem estar curiosas. As palmeiras são mais coloridas do que habitualmente mas isso não quer dizer nada já que o céu também está pouco real, tão liso, tão azul.
Olho-os sabendo que eles não me vêem. De resto, sou invisível.
Estão em camadas. À medida que as camadas estão mais altas, mais se aproximam do azul. Apanham sol, parecem estar silenciosos. Mas pode ser que estejam a conversar. Também não vêem as gaivotas. Pelo menos não vejo que algum olhe para o céu.
Mais à frente, já vai entre as árvores douradas. As pessoas são agora pequenos pontos que se perdem naquele espaço branco que se move devagar.
Depois aparece inteiro e é imenso, um gigante com desenhos coloridos no dorso. Torna pequena a grande cidade que bordeja o rio. Ele próprio é uma cidade móvel com pessoas minúsculas lá dentro. Tento vê-las mas já não consigo. Perdem relevância à vista da dimensão deste gigante dos mares.
Do lado de cá, um casal olha a fotografia no telemóvel, indiferente à estrela da noruega que ali vai, saindo do rio, a caminho do oceano.
Passa sob a ponte, o Padrão dos Descobrimentos parecendo agora um brinquedinho de pedra pousado na beira do rio. Na esplanada, ao sol, as pessoas conversam, bebem um copo, olham o rio. Ninguém vê a cidade branca que ali vai a deslizar sobre as águas azuis.
Depois torna-se cada vez mais pequeno, um ponto branco que cruza o horizonte.
Esqueço-me, olho o rio noutra direcção, olho as pessoas, sinto o sol na minha pele, desfruto o calor bom deste outono tão ameno, sinto-me agradecida, serena. O tempo passa devagar e essa lentidão perfumada de maresia faz-me muito bem.
Quando olho de novo, tentando ver se ele ainda está visível, sinto que estou a ter uma visão. Dezenas de velas deslizam agora ao longo da linha do horizonte, parecem pássaros azuis com asas feitas de sombras do mar. Não sei se foram ali para se despedir do gigante ou se, agora que ele partiu, vêm brincar em liberdade sobre as águas cintilantes.
Depois fomos comer um gelado. O meu com dois sabores, Amarena Fabbri e figo. Sentados na esplanada, olhando quem passa, conversando, degustando os sabores, deixámos que a tarde esfriasse para ganharmos coragem para recolher a casa.
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E agora convido-vos a descer até junto à dourada folhagem de outono
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As horas e horas de treino que requer uma dança como esta...mas que efeito bonito e tocante.
ResponderEliminarBom dia.
ResponderEliminarAdorei as fotos. Vi que são captadas da margem sul do Tejo. Em Cacilhas? Já fui até lá e não encontrei esta zona de relva e esplanadas assim tão à beira rio. Serei toina?
Olá Rosa,
ResponderEliminarIndo de Cacilhas é ir andando por ali fora, rente ao rio, passar os restaurantes lá ao fundo e logo depois há uma rampa que leva ao jardim. Se continuar, pode ir por ali acima a pé até a Almada antiga. Mas pode apanhar o elevador panorâmico que parte desse jardinzinho e ir ter directamente a Almada. O sítio onde o elevador chega, lá em cima, chama-se a Boca do Vento e de lá tem-se uma vista espectacular. Se continuar dali, logo a seguir, à direita, está a Casa da Cerca que tem exposições, um jardim com uma vista assombrosa e um café muito simpático.
Bons passeios, Rosa Pinto!