Depois de, ali em baixo, ter feito o gosto ao dedo e falado dos fantasmas pafianos que por aí andam, perdidos, moralmente ausentes do país, corpos com cabeças descerebradas, chihuahuas e galinhas, um espectáculo deprimente a que a comunicação social tenta obrigar-nos a assistir, e de ter partilhado dois vídeos do Luís Vargas que mostram a indigência do Láparo e apaniguados, volto-me para o mar e conto por onde andei este domingo.
Gosto de dias assim, outonais, a pedir aconchego. Mas gosto de procurar o aconchego depois de sentir o frio, de me expor ao frescor que sobe das águas em dias de mar grande e maresia húmida a colar-se à pele.
Ericeira
Quando no carro, ouvimos no rádio que a A8 iria chamar-se ASurf. Não sei se sim, se não (aliás, já li que não). Mas parecer-me-ia uma excelente ideia. Esta linha de costa tem um mar formidável e, a nível turístico, termos associada a nós, de forma expressiva, esta associação ao surf parece-me ideia a fomentar em força com intensas campanhas de marketing.
[Entretanto, já há quem parodie a coisa, e parodie com graça, mas é por sermos assim, tendencialmente conservadores, que nunca ousamos louvar o que de bom temos a bem de melhor vendermos aquilo que tanto nos pode ajudar a compor a economia]
Mas adiante. Faço-me à estrada até lá, até à Ericeira.
Repare-se como a nossa importância se torna relativa quando vistos de longe, insignificantes face à imensidão do mar |
Em dia cinzento como o de hoje, todo ele chuvinha miúda, pelas ruas junto ao mar apenas passeiam os mais excêntricos e os que se vê que andam em demanda da melhor onda e, nos miradouros ou encavalitados nos rochedos, apenas os solitários ou os que gostam de olhar de frente as lonjuras.
Levei jeans e uma blusa de mangas compridas mas fininha. Mas, depois, a chuva ficou a sério e a temperatura baixou. Tive que vestir um casaquinho. Por acaso, era também de algodão fininho e todo aos buraquinhos mas, parecendo que não, sempre agasalhou um pouco. Claro que nestas alturas sou admoestada -- que aquele casaco é uma anedota, que, em dia de frio e de chuva, só eu é que me lembrava de me prevenir contra as intempéries com um agasalho virtual. Pois. Mas não apenas sou encalorada como me custa render-me à roupa de inverno e deixar para trás as minhas blusas e casaquinhos levezinhos. De qualquer forma, tinha no carro uma solução de recurso: um poncho de renda aberta, em cru, bem lindo, feito pela minha prendada mãe. Mas não careceu. Também não tínhamos chapéus de chuva; mas não foi grave para quem levava blusões impermeáveis e para mim ainda menos porque gosto de andar à chuva.
A pensar na vida ou a estudar os movimentos do mar |
E foi, portanto, encantada, sentindo a pele fresca e molhada, que andei rente ao bater das ondas, vendo as cores bravas das águas, olhando aqueles horizontes feitos de ocidente e mar.
O almoço foi um sargo a saber a oceano e foi sobre o oceano que o saboreámos.
Depois passeámos pela vila, pelas suas ruazinhas empedradas, vendo as casas arranjadas, pintadinhas, vasinhos junto às janelas, flores de papel a enfeitá-las, imagens de Nossa Senhora da Nazaré um pouco por todo o lado.
Sendo zona de veraneio, é, no entanto, com o tempo assim, quando não há muita gente e com um mar rijo e muito belo, que eu prefiro as vilas costeiras como a Ericeira.
Que liberdade a das gaivotas que podem sobrevoar e dançar sobre este mar bravo e limpo |
Partilho convosco algumas das fotografias que fiz. Espero que gostem. E, se estiverem de acordo, vamos com Bob Dylan e com Joan Baez. O som pode não ser o melhor mas, ainda assim, apetece-me ouvi-los.
Yes, and how many years can a mountain exist
Before it's washed to the sea?
Yes, and how many years can some people exist
Before they're allowed to be free?
Yes, and how many times can a man turn his head
And pretend that he just doesn't see?
No meio do mar andam surfistas e body boarders mas, avistados de longe, são pouco mais que escuras gotas num mar azul, verde, branco |
Poderia ficar durante horas a ver a dança das águas sobre as águas, sobre as rochas, sobre a espuma |
Junto às Furnas da Ericeira o mar sobe sem pejo. Um festim de brilhos, um fogo de artifício em estado líquido |
A beleza extrema do mar |
As lojinhas do comércio tradicional no centro da vila |
Tão bons estes lugares. Quem desenhou, construiu, emoldurou uma capela assim, tão bonita? E que bem se deve estar assim como esta mulher estava, sozinha com os seus sentimentos, com as suas crenças |
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E depois do turismo, caso vos apeteça, mais abaixo a baixa política. Vou de braço dado com Luís Vargas na denúncia do Pedro Cambalhotas Coelho e, de caminho, dou umas bicadas no que resta da esfrangalhada trupe pafiana
(e espero que ele não se importe -- ele, o Luís Vargas, claro, que para a opinião do Láparo estou a marimbar-me, como é óbvio)
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Deram um bonito passeio numa zona muito bonita. Aí perto dessas furnas há uns restaurantes onde se come bem - bom peixe e marisco.
ResponderEliminarFicaram por aí, ou tentaram-se até S.Lourenço? Também merece uma visita. E´faz parte do percurso dos surfistas.
P.Rufino
Um passeio com muito mar e abundância de humidade. Sem dúvida. Não sou devota de Nossa Senhora da Nazaré, mas se ela me quiser fazer o favor de me proteger só por ter passado por aqui...olha, também era bom ter um seguro assim grátis.
ResponderEliminarSó mais um curto comentário, se me permite, UJM:
ResponderEliminara ideia, ou proposta, dessa nova designação da A8 para ASurf parece-me genial, pois tem uma carga publicitária virada para um segmento turístico, que cada vez mais procura o nosso país: os surfistas. Haja ideias para promover este belo país, as suas praias (e tudo o resto, cidades e campos). É assim que tem de ser!
Creio que já se está a pensar num outro plano, relativo à famosa Nacional nº 2 (a exemplo da tal 66 nos EUA, entre outros exemplos). Excelente! Um sobrinho nosso fez esse percurso, ao longo da Nacional nº 2, de Chaves a Faro, os tais 700 quilómetros, de moto - e adorou!
P.Rufino
Olá P. Rufino,
ResponderEliminarNão. Éramos para ir mas o tempo piorou e resolvemos que ficaria para outro dia. Esta zona é muito bonita.
E um pólo turístico que na linha Ericeira/Nazaré pode tornar-se uma atracção bem maior do que já é. E em volta do surf em si, anima-se toda a economia: escolas de surf, fatos, pranchas, restaurantes, hostels, etc.
E com uma país tão bonito Portugal tem tudo para que o turismo seja diversificado (o interior, as estradas passando por aldeias, campo, etc), caminhos de ferro, aldeias de xisto, praias fluviais, monumentos, praias de mar, etc.
A ver se acordamos para esta realidade!
bea, olá,
ResponderEliminarAcredite nos meus dons, bea. Quer eu quer as imagens santas que por aqui vou deixando levantam o astral e trazem boa onda. Não sente isso?
Um abraço, bea!