Casa de banho para homens, casa de banho para mulheres |
Mas ela não quer cá saber de desistências: conversa até ter alguém que a ouça. Tem algum grão de loucura em que se parece um pouco comigo (despistada, não liga a pormenores, muito sincera, etc). Aliás, é carangueja-carangueja como eu (e isto dos signos tem que se lhe diga, certo...?)
Aqui há pouco tempo contou-me ele que ela tinha ido passar uns dias na casa de campo que têm, só ela e os dois netos. É capaz de ter sido por alturas da Páscoa. Telefonava-lhe ele algumas vezes para saber se estava tudo bem, um bocado receoso de que ela não conseguisse desenvencilhar-se sozinha com os dois, e percebia que ela estava exausta com os miúdos, que devem ter entre os 5 e os 7 anos. No primeiro dia, percebendo-a cansada, foi de Lisboa de propósito para ir jantar com ela e ficar lá a dormir, tencionando ir depois trabalhar no dia seguinte. Um esticão dos diabos, mas, enfim, foi de gosto que se meteu a caminho.
Quando lá chegou, diz ele, foi recebido com sete pedras na mão: se ele achava que ela estava com pouco trabalho, que jeito tinha ainda lhe aparecer àquela hora, que ideia mais parva ir lá abancar para jantar, etc. Tantas ou tão poucas lhe disse que ele, percebendo que, se lá ficasse, ia ser um verdadeiro punching bag nas mãos dela, todo infeliz se meteu no carro e foi para casa, jantar e dormir sozinho. Claro está que ela, quando descansou, percebeu a brutalidade do que tinha feito. De qualquer maneira, ele também não ficou sentido. Quer dizer, na altura deve ter ficado, mas, ao contar-me isto, já o fazia com sentido de humor, encarando isso como mais uma das extravagâncias da mulher.
É uma pessoa de extrema inteligência, ela, completamente extrovertida, mas depois tem este lado: temperamental e desabrida. Embirra com o genro e não o disfarça, causando até situações embaraçosas à filha. Mas quer cá ela saber disso. Também não simpatiza especialmente com a nora mas como percebe que a nora é que mantém o filho no caminho de um certo pragmatismo, coisa que ela, enquanto mãe, nunca consegiu fazer, tolera-a minimamente.
Bem, já me distraí. Estava a falar de mulheres que falam muito, não era?
Tenho uma outra amiga que funciona no mesmo comprimento de onda. Fala, fala, fala. Brejeira, maliciosa, desbocada, é um fartote de riso. Se lá formos passar o dia, ela conversa e conta anedotas desde que chegamos até que partimos. Como ela geralmente conversa comigo (já que o marido dela e o meu se põem ao largo), o que acontece é que é o marido que põe a mesa, vai buscar a comida (ao restaurante do lado - porque ninguém lá em casa cozinha), depois levanta a mesa, põe a louça na máquina -- e o meu marido, solidariamente, ajuda-o. Ela nem se mexe. Abanca e ali é capaz de ficar a falar todo um santo dia. Eu bem tento também ajudar mas, como a conversa é pegada, sinto-me mal educada em deixá-la pendurada. O marido diz que fins de semana assim, com gente lá em casa, são um bocado cansativos para ele porque, confidencia: 'Ela é aquilo que tu sabes, não faz mais nada, só fala'. Não se queixa, apenas constata. Já está habituado.
Claro está que ambas são muito amigas uma da outra e passam a vida a combinar irem fazer passeios juntos. Nunca consegui convencer o meu marido a ir também, diz que dava em maluco mais do que um dia de seguida com aquelas duas a matraquearem-lhe os ouvidos de manhã à noite.
Tenho uma outra que é a mesma coisa, só que, em vez do sentido de humor e da irreverência das duas primeiras estarolas, é muito bem comportada. Fala, fala, fala -- mas apenas sabe relatar doenças, infortúnios, malapatas, brigas familiares que metem dinheiros, disputas de propriedades, desavenças fraternais, zangas com o marido, primos longínquos doentes que aparecem por esta altura para se despedirem da família, assuntos que metem advogados e que tratam de discórdias cujo tema verdadeiramente nunca chego a alcançar na sua plenitude porque ela dá a entender que há muito mais mas que é coisa de tal ordem que ela até tem vergonha de contar. Segundo ela, os outros são todos uns facínoras ou uns paus mandados - e ela uma santa. Ouço-a num verdadeiro estado de prostração, parece que se me baixa a tensão, sinto-me muitas vezes quase a desmaiar, mas sou incapaz de ser desagradável e mandá-la estar calada. Quem fica de boca calada sou eu, ansiando pelo momento em que ela vai resolver acabar a conversa. A todo o tempo estou com vontade de lhe dar uma corrida em osso e dizer-lhe que não volte, que tanta conversa assim até atrai a pouca sorte e que me cansa, mas cansa muito, mesmo muito. Mas não sou capaz. No entanto, a cada desgraça que conta, remata com um sorriso estóico, dizendo que é preciso ter pensamento positivo e que, felizmente, ela não se vai abaixo com tudo aquilo. Quando a vejo aproximar-se de mim, já sei que vai ser desfiado mais um interminável rol de tragédias -- e o meu organismo entra automaticamente em descompensação.
E isto vem a propósito de quê? Cheguei a casa tarde, desta vez verdadeiramente tarde, e, sem querer saber de notícias, pus-me para aqui a escrever; e já nem sei bem a que propósito veio isto.
Ah, sim, é verdade. Fui espreitar o Bored Panda e vi uma coisa engraçada com uns posters que ilustram o machismo primário do início do século passado [e pensar que ainda agora, nos dias de hoje, há australopitecos que pensam da mesma maneira].
These unbelievable vintage postcards from the early 1900s were used as propaganda by men to stop women from having more rights. Although The Suffragettes campaigned tirelessly to change the status quo of the day, many men found the idea of women’s rights not only disagreeable but even downright dangerous.
Because of this, propaganda postcards like the ones below were produced. They come from the archive of Catherine H. Palczewski, a professor of women’s and gender studies at the University of Northern Iowa who’s been collecting them for the last 15 years. The postcards portrayed the idea of change as something to be feared, not embraced, and they promoted women’s rights as an attack against family values as well as an infringement upon man’s place in society. While we still have a long way to go before women have the same rights as men, these postcards serve as a reminder of how far we’ve come since the turn of the 20th Century
Indicação de WC masculino e feminino |
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Ah, sim, é verdade. Fui espreitar o Bored Panda e vi uma coisa engraçada com uns posters que ilustram o machismo primário do início do século passado [e pensar que ainda agora, nos dias de hoje, há australopitecos que pensam da mesma maneira].
Mas foi aquela imagem que coloquei em primeiro lugar que me deu vontade de falar das minhas amigas tagarelas.Transcrevo:
Propaganda Postcards From The Early 20th Century Show The Dangers Of Women’s Rights
Because of this, propaganda postcards like the ones below were produced. They come from the archive of Catherine H. Palczewski, a professor of women’s and gender studies at the University of Northern Iowa who’s been collecting them for the last 15 years. The postcards portrayed the idea of change as something to be feared, not embraced, and they promoted women’s rights as an attack against family values as well as an infringement upon man’s place in society. While we still have a long way to go before women have the same rights as men, these postcards serve as a reminder of how far we’ve come since the turn of the 20th Century
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E agora deixem que termine com uma coisa bem diferente.
Um poema que fala de uma mulher silenciosa.
Escreveu-o um poeta do amor: Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto (12 de Julho de 1904 – 23 de Setembro de1973), poeta, diplomata e político, caranguejo-caranguejo como eu e que usou o nome Pablo Neruda para assinar os seus poemas.
Na voz de Alejandro Sanz: Me gustas cuando callas
(Poema de Pablo Neruda)
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.
Be happy.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.
Be happy.
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Fiquei sem vontade de dizer. Boa noite.
ResponderEliminarOlá Bea!
ResponderEliminarAté me fez soltar uma gargalhada!
Um abraço. Boa noite.