Ainda mal refeita da desgraça de quinta à noite em Nice, e querendo perceber melhor o que se tinha passado, eis que sou informada, desta vez pelo meu filho, que 'parece que está a haver um golpe militar na Turquia'. Qando mostrei a minha estranheza e preocupação, e me lastimava de que ainda 24 horas antes tinha sido o que tinha sido em Nice, diz ele: 'é capaz de não ser comparável'. Estafada, com a cabeça a precisar de descanso e sem ser capaz de discorrer por mim, perguntei porque dizia ele isso. Respondeu-me que isto pode ter maiores implicações. Agora que aqui estou a escrever e ainda sem fazer ideia do que se está a passar em Istambul, penso que aquilo em Nice pode ter sido o acto tresloucado de um doente e que não passará daquilo que lá aconteceu (e digo isto sem menorizar a imensidão do horror), enquanto isto na Turquia pode, efectivamente, desembocar numa confusão das valentes. Mas tomara que não. Pode tudo não passar de um fogacho que não traga caos às ruas nem vire uns contra outros. Podia já ter ido ver os onlines para me informar mas, senhores, de tal maneira foi o meu dia que o cansaço me está a impedir de me ir debruçar sobre fotografias ou textos assustadores.
Durante o dia, vinha-me à cabeça aquela mulher, na televisão, a quem, na véspera, tinha ouvido dizer que os corpos das pessoas voavam à frente do camião como se fossem moscas.
Felizes instantes antes, corpos indefesos instantes depois.
Podia ter sido eu. Os meus filhos, em momentos separados, também já por ali andaram ambos.
Felizes instantes antes, corpos indefesos instantes depois.
Podia ter sido eu. Os meus filhos, em momentos separados, também já por ali andaram ambos.
Mas, ao pensar nisso, no meio de uma longa reunião, pensava que seria bom se houvesse um intervalo e eu pudesse ir sentar-me na relva, debaixo da árvore à porta daquele edifício, e pudesse ouvir música, ler uma carta, fechar os olhos, ouvir os pássaros. Quando estou um bocado saturada alivia-me a cabeça pensar que faço alguma coisa de que gosto. Parece que a minha cabeça arranja maneira de me dar as tréguas que o mundo não dá. E se eu sou uma privilegiada! Que dirão as pessoas que vivem no corpo e na alma o medo, a perda, a revolta. Se eu, só de saber do que se passa, já fico tão preocupada e com tanta vontade de me evadir para o território encantado que a minha imaginação constrói, como não se sentirão os que sofrem de verdade?
À noite, antes de poder chegar ao pé do computador, pensava que depois de tentar perceber quem tinha sido o monstro desalmado de Nice, me iria pôr a ouvir dizer poesia ou a ouvir alguma entrevista a um escritor ou a um pintor.
Ah...! Agora estou a ver televisão. Dizem que há tiros nas ruas de Istambul, que abateram parece que um helicóptero. Tanques ao pé do Parlamento.
Aqui às portas da Europa. Mas também não admira. O caldinho que os merdosos ainda capitaneados pelo naco de nulidade do Durão Barroso armaram só podia dar nisto. Um viveiro de revolta, de raiva, uma panela de pressão. Pensava-se: um dia ainda dá porcaria. Pois, parece que mais cedo do que se pensava aí está a caldeirada armada. É no que dá. Cambada.
Mas tomara que não. Se calhar amanhã está tudo tranquilo e melhor do que antes.
Não sei o que é que se está a passar. Vou ver televisão. Ou dormir. Preciso de descansar. Preciso de notícias boas, de ouvir ou ler palavras simpáticas. Please.
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Talvez ainda cá volte mas não prometo nada. Nem sei se isso é muito provável.
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Volto para dizer que há um filme que deve ser maravilhoso. A ver se consigo ir vê-lo. Ai que mal posso esperar, que me parece ter sido feito de propósito para eu me ir lá meter dentro. Já vi o trailer duas vezes. Pode mesmo ser que o mais importante do mundo não tenha explicação?
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Pelo sim, pelo não, despeço-me já por hoje:
Desejo-vos, meus Caros Leitores, um sábado muito feliz.
E que a sorte nos proteja a todos. Sempre.
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Pelo sim, pelo não, despeço-me já por hoje:
Desejo-vos, meus Caros Leitores, um sábado muito feliz.
E que a sorte nos proteja a todos. Sempre.
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Vamos lá a ver se eu, que durmo com as galinhas mas hoje fiz um doce com café e o sono tarda, sou capaz de ser simpática para si. Bom, mas a esta hora - já passaram muitas horas e hoje é outro dia - em que eu até já andei no estendal a pendurar a roupa à lua com o cão a aparvalhar para a minha figura, quem sabe já lhe deram mimos e disseram palavras que aconchegam, e tento à mesma que não me custa nada:).
ResponderEliminarSabe, eu leio estas notícias e também penso que o mundo está doente (às vezes julgo mesmo que está a finar-se). Podemos ser nós. Certo. Pode haver uma consequência - ou uma data delas - que nos afecte ou mesmo mate, que leve os nossos mais queridos para longe. E outras ideias ainda mais tristes que estas. Mas nada invalida esta verdade: ainda estamos vivas. E cada coisa tem o seu tempo. Quando morrermos, caso haja tempo, pensamos nisso. O que não podemos é morrer a pensar no tempo que perdemos ou aproveitámos mal com receio das calamidades que nos esperam. De duas uma: ou fazemos alguma coisa para as evitar. Ou é melhor continuar caminho.
Pense mesmo é no tal filme impecável e vá vê-lo. Leia poemas, se lhe apetece. Ou oiça-os (a mim não me dá para a poesia quando estou triste). Agora há gente que se põe a dizê-los, tive um professor de poesia que o fazia muito bem. Ou apenas descanse a cabeça. Escrevia-lhe uma carta, mas não faço ideia dos assuntos que lhe agradam. E uma desconhecida não será a melhor pessoa para o efeito, a gente quer cartas de pessoas específicas. Na semana que passou recebi uma que me deixou, positivamente, de boca e coração abertos.A amiga pródiga foi sopa no mel.
Acho que as minhas palavras não resultaram grandemente, o horário também não ajuda.
Um bom domingo. Espero voltar amanhã e haver outro ambiente.
Olá Bea,
ResponderEliminarSoube-me bem ler o que escreveu, sim.
Mas este sábado já descansei, já dormi uma bela sesta, já andei no meu ambiente normal, não ouvi notícias, não vi televisão e, sim senhora, também já fui ver o tal filme.
Volta e meia -- especialmente quando estou cansada (reuniões de manhã à noite, com almoços e jantares em ambiente de trabalho em que uma pessoa não consegue descansar a cabeça nem por um minuto, de saltos altos desde as 7 da manhã à meia-noite, e, ainda por cima, notícias de desgraças, de atentados, de sei lá que mais) -- parece que atinjo um ponto em que não aguento mais notícias más.
É absurdo eu colocar isto assim, como se o meu cansaço físico pudesse ser posto ao mesmo nível da angústia de quem sofre na pele atentados como os de Nice -- mas o nosso próprio corpo se encarrega de fazer com que relativizemos tudo e reduzamos as tragédias a uma escala humana.
Mas este sábado já voltei ao meu estado normal.
Obrigada pelo carinho das suas palavras.
Um abraço, Bea, e um belo domingo para si.
:). É muito agradável sentir, logo pela manhã, que as nossas palavras contribuíram. Ainda bem.
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