quinta-feira, abril 14, 2016

Transporto o teu coração dentro de mim


Comecei o meu dia aqui, ou seja, a minha noite, fazendo uma certa limpeza blogosférica. Apaguei alguns blogues aqui da galeria lateral. E tinha vontade de apagar ainda mais. Tudo o que me soa a palha, a embuste, a gozo, a parvoíce encartada anda a cansar-me demais. Um dia destes apago ainda mais, tudo excepto uma meia dúzia. Só não o fiz já porque depois esqueço-me de vez deles e a alguns ainda quero dar uma hipótese  -- fixar nomes ou endereços do que não me interessa por aí além é coisa em que não sou forte pelo que ficarão por mais uns dias ou semanas.

Adiante.



Li por aí que esta quarta-feira foi o Dia do Beijo. Não faço ideia de se isso é verdade. Mas seja ou não seja não me faz diferença. Hoje dei e levei vários, desde beijinhos em ambiente profissional a beijocas familiares, até porque calhou ir buscar um dos meninos à escola e encontrar-me em casa com o resto desse lado da família, o que se saldou em beijoquinhas extras e muito carinho. 

Sou beijoqueira. Gosto de me abraçar aos meninos, dar-lhes abracinhos bons, beijocá-los, beijocas fofas, o meu amor por eles requer manifestação física. Tal como gosto de ver os meus filhos, ouvir a voz deles, perceber se estão bem dispostos, dar-lhes um beijinho, fazer-lhes uma festa, mostrar que serão sempre, para todo o sempre, os meus meninos.

Quando eram pequenos e ia levar ou buscar os meus filhos à escola, ele todo se envergonhava, dizia que mais nenhuma mãe dava beijinhos como eu, pedia-me que não o abraçasse e beijocasse assim, receava que os amigos ouvissem as minhas manifestações exuberantes, as minhas beijocas ruidosas. A minha filha nunca se importou e, por isso, eu vingava-me nela. Era isso e fazer-lhe tranças, penteá-la, adorava que lhe mexesse no cabelo, mas isso em casa, claro. Ainda gosta.


Tirando isso gosto de beijos de amor. Gosto de beijar. Um beijo de amor é um momento em que se estabelece uma intimidade que pede por mais. E gosto especialmente do instante que precede o beijo, quando já existe a presença do amor que vai ser ainda maior, quando os olhos se cruzam já unidos, já cúmplices. Ou maliciosos. Ou impacientes. Gosto, gosto mesmo.

Se é verdade que foi dia do beijo não me importo de não ter dado por ele. Todos os dias o são. Sempre me senti amada, talvez todos os dias da minha vida, por vezes talvez mais do que merecia, por vezes mais do que podia retribuir. Por isso, nunca os dias dos namorados ou do amor ou do beijo fizeram sentido para mim. A única coisa que tenho a dizer a propósito disto do amor, da sedução, do desejo e do prazer do amor partilhado é que é importante sopesar as prioridades, não atribuindo importância excessiva ao que pode fazer perigar o amor, o prazer de amar e de ser amado.

Tantas vezes vejo pessoas que investem tudo na carreira, inúteis mba's que lhes retiram tempo para estar com a família, visitas e mais visitas em serviço, reuniões até às quinhentas da noite, ler livros de mil ou mais páginas, estudar muito uma matéria para saber tudo o que há a saber sobre isso - e trocam isso por um passeio de mão dada, por estar numa esplanada ao sol, por um cafuné gostoso, por uma caminhada na serra, entre bosques e rente a rios e cascatas, com alguém a quem queiram bem.


Todo o prestígio do mundo não vale uma noite de amor, ouvi-o uma vez a Eugénio de Andrade que citava alguém de cujo nome não me lembro. E acho que nem todo o prestígio nem muito mais coisas.

Quando vejo jovens colaboradores meus que dão tudo pela progressão profissional digo-lhes sempre: para além disso, há a vida. Por vezes ficam desconcertados, como se eu estivesse a introduzir uma variável que não faz parte da equação. E muitas vezes tenho vontade de lembrar isso também a algumas pessoas da blogosfera. A vida. O estar bem com os outros, o não fazer mal àqueles de quem se gosta, o relevar o que pouco importa quando comparado com os sentimentos de estima que é bom que se mantenham vivos -- isso, sim, é o mais importante na vida. A estima entre as pessoas vale mais, muito mais, do que pequenas vitórias argumentativas ou vãs demonstrações de superioridade.

Mas, enfim, se calhar sou eu que sou uma pinga-amor.

Olhem, já agora, deixem que partilhe convosco um poema de que gosto muito.

I carry your heart de E E Cummings (lido por Tom O'Bedlam)


[here is the deepest secret nobody knows]



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As fotografias foram feitas este fim de semana, debaixo de chuva, vento e frio.
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Lá em cima uma chaconne. Yiruma
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira.

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7 comentários:

  1. Olá UJM, eu própria acho que ando a comentar demais no seu blogue :-) mas acho que não resisto a dizer-lhe que o nosso entendimento do estado do mundo reflecte, na maioria das vezes, o nosso próprio estado. O mundo é demasiado extenso para se alterar com a passagem dos dias. Ou seja, desejo-lhe uma boa noite de descanso e muitos beijos. Rita

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  2. Não anda nada, Rita, ora essa. Gosto imenso de ler as suas palavras. Sabe captar o espírito com que estou quando escrevo. Escreva sempre, é sempre muito bem vinda. Posso nem sempre responder mas leio sempre com atenção e agradecimento.

    Muito obrigada.

    Um beijo para si também, Rita-boa-Onda!

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  3. Já estava atrasado. Apressou o passo. Depois, chegado à passadeira, atravessou-a. Viu um carro aproximar-se, mas confiou que abrandasse. Com a pressa que sentia, para não chegar tarde à reunião, nem hesitou. Ela conduzia devagar, enquanto ouvia uma música da sua escolha que colocara no rádio do carro. Como tinha as janelas parcialmente abertas, uma pequena rajada de vento atirou-lhe com a documentação que se encontrava no assento lateral da viatura, ao chão. Baixou-se por uns breves segundos para a apanhar, com uma vista na rua, outra na papelada, reduzindo a velocidade. Mas, no momento em que ele cruzou a passadeira, a sua atenção, naquele breve instante, um segundo, dois segundos, talvez, estava concentrada no acto de arrumar a documentação no assento. E assim, não o viu a atravessar a zebra, não o conseguindo evitar. Não foi um embate forte, até porque ia em velocidade reduzida, apenas um “encontrão”, mas o suficiente para o deitar por terra. Parou de imediato, alarmada. E saiu do carro. Caído no chão, meio aturdido, viu aproximar-se uma mulher, com ar consternado. “Era bonita, sim bastante atraente. Sentou-se um pouco a custo. Tinha sido um susto e pêras! Que Diabo, como é que ela não o viu? Vá lá que não se tinha magoado muito e nem mesmo rasgado as calças ou o casaco do fato. Safara-se daquela. Ainda não era aquele o dia de partir desta para melhor!” Ela, agachada em frente a ele, perguntava-lhe como se sentia e pedia-lhe desculpa. Disponibilizava-se para o levar ao hospital e responsabilizava-se por todas as despesas que daí resultassem. Estava sincera e visivelmente consternada com a situação. Pegou-lhe na mão para o ajudar a erguer-se. Ele olhou para ela melhor. Aqueles olhos, aquele rosto de uma beleza suave e, sobretudo, aquela boca sensual, atraíram-no. Já de pé, sorriu-lhe e como ela voltasse a perguntar o que podia fazer por ele, desfazendo-se em desculpas, respondeu-lhe: “deixe lá, não se preocupe. Se calhar devia ter tido mais atenção quando atravessei a passadeira. Mas, já que insiste, vou pedir-lhe apenas um beijo, visto hoje ser o Dia do Beijo. Sempre fico mais confortado! Acha que é pedir-lhe muito?” Ela riu, tinha um riso bonito e aproximando-se dele, acariciando-lhe uma das faces, inclinou-se sobre ele e deu-lhe o beijo que ele lhe pedira. Foi um beijo meigo - que ele retribuiu.
    P.Rufino

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  4. E eu que não sou nada de poesia conheço este poema desde que apareceu num filme (assim como o de John Donne, no livro de Hemingway, Por quem os sinos dobram)

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  5. "Há palavras que nos beijam
    Como se tivessem boca.
    Palavras de amor, de esperança,
    De imenso amor, de esperança louca.

    Palavras nuas que beijas
    Quando a noite perde o rosto;
    Palavras que se recusam
    Aos muros do teu desgosto.

    De repente coloridas
    Entre palavras sem cor,
    Esperadas inesperadas
    Como a poesia ou o amor.

    (O nome de quem se ama
    Letra a letra revelado
    No mármore distraído
    No papel abandonado)

    Palavras que nos transportam
    Aonde a noite é mais forte,
    Ao silêncio dos amantes
    Abraçados contra a morte.

    Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca' "

    P.Rufino

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  6. P. Rufino,

    A sua veia de contista volta e meia manifesta-se: devia ter um blog para a poder exercitar à larga (aqui está contido pelo espaço da caixa dos comentários). Imaginação e conhecimento não lhe falta. Não se deixa tentar? Teria sucesso.

    Um bom dia!

    PS: Esse poema do O'Neill é um dos meus preferidos.

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  7. Olá Redonda!

    Sabe que fico sempre espantada como é que pessoas que gostam muito de ler não gostam de poesia... Porque será? Porque preferem uma história bem desenvolvida e a poesia lhes sabe a coisa pouca...? Um grande amigo meu, um leitor com gostos muito parecidos com os meus na prosa também não liga a mínima a poesia. Para eu perceber porque é, põe-se a ler de seguida os poemas e despacha-os num ápice como se fosse meia dúzia de frases sem um pingo de graça.

    Mistério.

    Gostei de vê-la por aqui, Redonda. Um bom dia para si.

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