segunda-feira, março 21, 2016

O Tejo, a Vasco da Gama e o céu, blu de Sakamoto e uma receita de sopa de feijão verde e outra de bifes de peru com pevides de abóbora




Olho a janela. Podia ser uma aguarela: há um rio, há o casario, há um horizonte debruado, há montes, há nuvens que parecem abstrações doces. Abro o vidro para que o ar fresco acrescente uma nova dimensão à pintura. 

Encanto-me com as tonalidades do rio e do céu. Se passou um barco, fica um rasto branco de espuma. Ou, então, são as correntes que toldam as águas que ficam mais escuras ou o sol que abre clareiras de luz. O dorso da ponte acompanha as funduras, e toda ela, branca, elegante, emoldura a vastidão da paisagem.

Já consigo andar, devagar mas ando. Continuo com o anti-inflamatório e com o gelo mas, de tarde, não me aguentei em casa. Fui passear. Ando sem dobrar o pé, coxeio mas já não muito, consigo disfarçar. Esta segunda-feira conto já estar fina.

Já vos mostro, a seguir, por onde andei.

Depois, ao chegar a casa, antes de pôr a roupa a lavar, fazer sopa e fazer bifes de peru* no forno, fui à janela e não resisti a uma vez mais fotografar o rio. Tão bonito, este rio que aqui vem espreitar à minha janela.


Estas visões, fazem-me sempre lembrar as linhas de água do Cesariny. 


Ah, é verdade, já apareceu a Agustina. Ontem, enquanto fazia o jantar, os meninos estiveram a usar o sofá como baliza e parece que os livros os distraíam porque pegaram neles e os puseram num outro sofá mas o da Agustina, por algum motivo, escapou-se para debaixo dele. Hoje, desvendado o mistério, o meu marido já o resgatou e já voltei a deliciar-me com aquelas palavras rubras, refulgentes.
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* Passemos, então, à cozinha

O meu marido foi de manhã ao supermercado e trouxe bifes de peru. Não é coisa que se aprecie muito cá em casa. Como cada vez comemos menos carne e, em especial, carnes vermelhas, às tantas já não sabemos o que fazer.

Então, quando ele me disse o que tinha trazido, resolvi disfarçá-los e disse ao meu marido que lhes ia pôr pevides em cima. Ele desatou-se a rir: 'Só tu te lembrarias de tal maluquice... Mas espera lá, estás a falar a sério...?!'. Claro que estava.

Conto-vos como fiz os ditos bifes de peru.

Aqueci previamente o forno no máximo. Entretanto, preparei um tabuleiro de pirex da seguinte forma:
Um fio de azeite para cobrir ao de leve o findo. Depois, dois tomates bem maduros, cortados, e uma pedacito de abóbora cortado aos cubinhos pequenos. Por cima coloquei os bifes de peru abertos. Coloquei umas pedras de sal e esfarelei uma haste de alecrim por cima deles. Por cima, coloquei, na zona central, outro tomate cortado aos pedaços e, à volta, cobri os bifes por lascas finas de abóbora. Por cima das lascas coloquei pevides de abóbora que tinha secas. Reguei tudo com azeite e foi ao forno que reduzi para 150º. Ficou ali nesta temperatura baixa talvez uma hora e meia, não sei bem.
Já agora digo também como fiz a sopa, embora seja banal:
Numa panela com água juntei duas cebolas grandes, duas courgettes gigantonas, um pedaço de abóbora, um chuchu e quatro dentões de alho. Pus ao lume com um pouco de sal. A um outro tachinho, para o qual passei um pouco da água da panela onde coziam os outros legumes, juntei uma boa quantidade de feijão-verde laminado e abóbora aos cubinhos pequeninos.
Quando os legumes estavam cozinhados, juntei azeite à panela grande e, com a varinha, desfiz tudo até ficar um creme macio e espesso. Juntei-lhe então o conteúdo do outro tachinho. Fica a base cremosa e aqueles legumes inteiros. 
Quando estava a acabar a lida na cozinha e me preparava para regressar ao sofá, ligou a minha filha a perguntar se podia vir com os meninos. Felizmente havia toda esta janta, foi só fazer arroz. Comeram que se fartaram. O menu foi aprovado. Claro que, para os meninos, tirei as pevides (que estavam sequinhas e estaladiças) porque estavam intrigados e, sem provarem, disseram que achavam que não iam gostar e, portanto, para evitar teimosias, isso nem foi para o prato.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

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3 comentários:

  1. Gosto daquela paisagem que se observa da Ponte Vasco da Gama e de a atravessar. Sempre que saio de Lisboa, não indo para Norte, mas, por exemplo, para o Alentejo, ou até para alguns lugares do Ribatejo, vou por essa ponte e nunca pela 25 de Abril, que evito – sempre que posso. Embora reconheça que a ponte 25 de Abril é bonita e dali se desfruta uma bela vista sobre Lisboa, o caminho a partir dali é simplesmente medonho no que respeita a vistas, nos quilómetros que se seguem, durante algum tempo. Ao contrário da Vasco da Gama, cuja sensação é a de estarmos de facto a sair da cidade em direcção ao campo, por exemplo. Logo ali, à saída, podemos observar no estuário do Tejo, uma série de aves, uma fauna interessantíssima, por exemplo.
    Ainda hoje comprámos uma bela perna de peru, que, uma vez assada no forno, acompanhada com umas batatas também no forno e de uns espargos verdes, ou feijão verde, regado com, por exemplo, o tal Damasceno tinto, é uma delícia. Nós cá, ao contrário, nem pensar em prescindir de carne. Peixe sim, mas numa de 4-3, no máximo. E, todavia, gosto de ir a um restaurante, conhecendo-o bem, para comer um bom peixe grelhado. Da mesma forma que, por exemplo, no Alentejo, me pelo pela boa carne que por ali cozinham (sobretudo porco). Tomei nota da sua receita!
    E que bom a Primavera ter chegado!
    P.Rufino

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  2. Estou a ver que tenho que lhe deixar umas receitas :)

    GG

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  3. GG, olá!

    Deixe, deixe. Mas tenho que a avisar que até hoje nunca consegui seguir nenhuma receita à risca. Leio, percebo a ideia e, quando dou por mim, já estou a introduzir alterações. É mais forte que eu. Já contei aqui que os meus filhos por vezes quase imploravam por um bife normal com arroz branco, tudo normal. É que eu, querendo fazer coisas normais, quando dou por mim já estou a inventar molhos, e, mesmo no arroz, já estou a juntar isto e aquilo para ficar mais saboroso.

    Mas vá, fico à espera de alguma receita sua a ver se é de tal forma convincente que me leve a segui-la à risca, sem um desvio.

    Uma boa noite, GG!

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