Dante e Virgilio no Inferno de William-Adolphe Bouguereau (1850) |
Quintus Horatius Flaccus (65 BC – 8 BC) |
Horácio, o grande autor das Odes, o panegirista de Domiciano, o poeta predilecto do erudito Mr. Walkenaer, que foi o seu melhor biógrafo, o apaixonado amante da bela Gynara, da voluptuosa Lyce, da sedutora Cloé e da irresistível Glycere, havia terminado as suas aventuras amorosas nos braços da lânguida Lyde.
O inspirado poeta sentia-se exausto por uma existência eivada de orgias e prazeres. Os seus cabelos estavam brancos, os lábios descorados, a tez macilenta, o olhar amortecido, e todo o sistema nervoso cansado e gasto por aqueles excessos voluptuosos duma vida desregrada e sensual, deslizada desde a mocidade nos seios brancos e tépidos das mais belas cortesãs romanas.
O seu estro havia cantado todos os gozos e todos os prazeres, todas as sensualidades e deboches, todas as mulheres formosas e atraentes, todos os desregramentos e voluptuosas loucuras.
Desenho de modelo masculino de William-Adolphe Bouguereau |
Rapaz com cesto de fruta de Caravaggio |
Bem fornido de carnes muito alvas e rosadas, macias e flexíveis, completamente desprovidas de cabelo, arrancado pelos maravilhosos segredos das desconhecidas pomadas depilatórias geralmente usadas entre os romanos, de olhar sensual e terno, lábios vermelhos e húmidos como os de uma mulher bonita, dotado de um temperamento mais espontâneo e lascivo que o de Messalina, este exótico tipo de homem-mulher, sensível aos beijos e às carícias, tendo toda a doce voluptuosidade duma cortesã emérita, constituiu a última depravação do notabilíssimo poeta.
Horácio sentia-se morrer lentamente nos braços lascivos do belo mignon, a sua lira enodoava-se, assim como as suas cãs, com aquele amor repugnante e torpe, mas o ânimo do poeta, prevertido e sensual, extasiava-se na luxúria febricitante que lhe proporcionava aquele debochado indigno.
Esquecido das suas belas tradições apaixonadas com as mais encantadoras cortesãs romanas, olvidando as suas odes, em que tinha cantado os seus amores e as suas vitórias, esquecendo a fama gloriosa que lhe circundava o nome, o velho poeta votou os últimos anos àquela paixão libidinosa e excitante que o acompanhou ao túmulo.
Vamos pois contemplar por um momento o grande poeta romano num dos seus opíparos banquetes, em que a sensualidade tinha à mesa o lugar de honra, e ele alardeava, sem pejo dos homens e das mulheres, a paixão devoradora que alimentava pelo seu amante!
Omito a idade xx* referida no conto Ligurino não porque tenha apetências censórias mas para que não venham para aí dizer que aqui se faz a apologia de práticas pouco recomendáveis.
Tal como nos contos anteriores, não vou poder transcrever todo o conto, fiquei-me pelo início. O dito pode ser lido no livrinho que aqui tenho vindo a referir, Aventuras Galantes. De referir que na Fnac aparece erradamente na estante da literatura traduzida - ora este Rabelais não é o outro, o François, este, tal como antes já referi, é o nosso, Alfredo Gallis de seu verdadeiro nome.
Lá em cima Stefano Dionisi interpreta Farinelli (no filme homónimo) mas a voz que se ouve não é a dele mas a mistura de duas: da soprano Ewa Malas-Godlewska e da contratenor Derek Lee Ragin. A voz que resulta pretende ser a de um castrati.
(Tony Curtis e Laurence Olivier) |
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Tal como nos contos anteriores, não vou poder transcrever todo o conto, fiquei-me pelo início. O dito pode ser lido no livrinho que aqui tenho vindo a referir, Aventuras Galantes. De referir que na Fnac aparece erradamente na estante da literatura traduzida - ora este Rabelais não é o outro, o François, este, tal como antes já referi, é o nosso, Alfredo Gallis de seu verdadeiro nome.
Lá em cima Stefano Dionisi interpreta Farinelli (no filme homónimo) mas a voz que se ouve não é a dele mas a mistura de duas: da soprano Ewa Malas-Godlewska e da contratenor Derek Lee Ragin. A voz que resulta pretende ser a de um castrati.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.
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Gosto sempre de espreitar e vou mais rica.
ResponderEliminarCara UJM,
ResponderEliminarCreio ter havido aí um pequeno engano, quando é referido Horácio como panegirista de Domiciano (tirânico Imperador, segundo fontes históricas da época, mas um excelente administrador do Império e que surge muito depois de Augusto, tendo sido o último dos Flávios, depois de seu pai, Vespasiano e seu irmão Tito. Veio a ser assassinado e seguir-se-lhe-ia um período de ouro do Império, de Nerva, a Trajano, Adriano, Antonino Pio e Marco Aurélio). Horácio que viveu ao tempo de Augusto (o primeiro Imperador de Roma), foi panegirista de Octávio Augusto. Um período rico de grandes poetas, como Virgílio, Horácio e o futuro desterrado Ovídio, entre muitos outros grandes nomes da cultura Romana de então, como Mecenas, Tito Lívio etc. A vida de Horácio é muito interessante.
No Séc. XVI a Igreja Católica em Itália usava os chamados “Falsetes” (sobretudo vindos de Espanha) para os utilizar como sopranos. Todavia, apesar de algum sucesso inicial conseguido, através das suas vozes artificiais, tinham limites de registo e de flexibilidade. O recurso aos Castrati foi a solução encontrada. O primeiro Castrati de que se tem conhecimento foi um jovem que actuou em Roma, no Coro da Capela Sistina, em 1599, apesar das questões do ponto de vista moral que então foram suscitadas. Mas, aqueles cantores, independentemente da alguma oposição, que se manteve paralelamente, acabaram por vir a desempenhar um papel crucial nos Coros católicos por toda (ou quase toda) a Europa nos dois séculos que se seguiram. Só nos Coros das igrejas de Roma chegaram a ser utilizados, ou melhor, empregados, mais de 200 Castrati em 1780. O último cantor ou soprano eunuco que se conhece retirou-se dessa actividade em 1913 (!), da Capela Sistina. Para além de Farinelli, ficaram igualmente famosos foram Senesino, Guardagni, entre outros, que gozaram inclusivamente de carreiras internacionais. Curiosamente, apesar da sua sexualidade castrada, eram adorados no e fora do palco.
Quanto a Caravaggio, a sua vida dava um filme. Era um personagem estranho, com uma personalidade complicada e que teve uma vida agitada. Diz-se que terá pintado uma das suas célebres obras, a Nossa Senhora do Peregrinos, inspirado numa jovem e bela modelo, de nome Lena. Embora se fale também da sua homossexualidade.
Vou ver se encontro esses livros que aquimenciona. Chamaram-me à atenção. Prometem leitura atenta.
P.Rufino
Concordo com o primeiro comentário! Gosto muito do seu blog.
ResponderEliminarJ