Passos Coelho e Paulo Portas, assessorados pelos de sempre, nomeadamente por poderosos escritórios de advogados, empresas de consultoria e pelos sindicatos bancários que se formam sempre que lhes cheira a dinheiro fácil, andavam entretidos a fazer o frete a todos os que queriam fazer bons negócios (comprar empresas a preço da uva mijona, fossem elas estratégicas ou não), tantas vezes gente de honorabilidade duvidosa que comprava a cidadania portuguesa a troco dos trocos que cá metiam adquirindo umas quantas casas -- e a oposição, ó tio, ó tio, mas sem ser capaz de remover as ervas daninhas do poleiro.
Arrogantes, habituados à impunidade que, apesar de incompetentes, se habituaram a ter de mão beijada, Passos Coelho e Paulo Portas, apoiados pelo tutor, Cavaco, já nem se esforçavam por parecer respeitar o direito dos cidadãos à escolha de alternativas.
Eram eles e só eles e a TINA.
Na boca deles, qualquer fuga à sua cartilha (cartilha essa que, lembremo-nos, ia para além da da troika), seria equivalente a abrir-se uma pavorosa caixa de Pandora: de lá saíriam mostrengos, Schäubles a acelerar de encontro às velhinhas portuguesas, Merkels assanhadas, Junkers podres de bêbados a ameaçar os petizes rangélicos, Lagardes quase negras retintas a ir ao bolso das cabeleireiras e manicuras. Todos os horrores possíveis e imaginários se abateriam sobre este pequeno país com propensão para a posição de gatas se eles, os PàFs, fossem afastados da manjedoura.
Suportados numa comunicação social servil, que ao longo de anos lhes serviu de microfone, de eco, de resguardo e de quartel, e ajudados pelas tropas oriundas das Jotas que inundam as redes sociais com campanhas negras de contra-informação, faziam o que queriam como se estivessem para continuar por muito mais tempo -- e era vê-los, na maior desfaçatez, a camuflar desaires, a fazer negociatas mal explicadas, a passar o país a patacos.
E vieram as eleições e, ao contrário do que seria normal, a tropa fandanga do Láparo e do Irrevogável conseguiram o melhor lugar -- mas, ó azarinho, o melhor lugar a la Pirro.
Logo na noite das eleições, enquanto os PàFs cantavam vitória e a esquerda coçava a orelha e enfiava o rabo entre as pernas, chegou uma promessa de elefante: contente, ar de quem estava longe de estar vencido, dando voz à esquerda que, nas eleições, de facto estava em maioria, António Costa apareceu-nos seguro, sorridente.
A seguir foi o que se sabe. Jerónimo, o velho índio, deu-lhe a mão. Catarina, a Grande, sorriu-lhe com os seus belos olhos claros.
Contra a vontade de um decadente presidente que tudo fez para aguentar ao colo um Láparo que se tinha tornado pesado demais, contra a comunicação social em peso que agoirou e anteviu toda a espécie de desaires, António Costa, já quase um elefante poderoso, avançou por sobre os caminhos que pareciam fechados mas que ele, com a sua determinação, ia construindo.
E, com confiança, derrubou as pífias figuras que figurarão no buraco negro que a história guarda para os fracos que tornam fraca a forte gente: Cavaco, Coelho, Portas.
O ter aqui posto a fotografia deste trio tão pequenina não é por acaso |
A seguir, tem sido o que se vê: o Orçamento. As vizinhas agoirentas, as viúvas do láparo, as maria-amélias que têm chiliques por tudo e por nada começaram por antever que os da coligação não se iam conseguir de acordo. Depois, quando viram que sim, que ia haver orçamento, encharcaram as televisões, rádios, redes sociaos, acusarando: É austeridade a menos, não pode ser, vem aí a bancarrota. Gritaram, rasgaram as vestes, atiraram-se para o chão, puxaram o casaco dos senhores de Bruxelas, segredaram ao ouvido das agência as de notação. E os algozes do costume não demoraram a mostrar o dente podre. E tanto pressionaram que o Orçamento teve que ser ajeitado: mais medidas, menos rendimento disponível. E logo os papagaios, os caniches, os macaquinhos de imitação e os candidatos a pulgas dos abutres saltaram para a ribalta: É austeridade a mais! Não são precisos tantos impostos!
E contra este carnaval, António Costa lá prossegue, com o seu sorriso bem disposto, o seu proverbial sentido de humor. Depois dizem-lhe que está a perder a batalha da comunicação social, que não está a fazer passar bem a mensagem. E ele, com aquela tranquilidade desarmante, avança. Põe os ministros no terreno para que expliquem por todo o país quais as premissas, quais os riscos, quais os objectivos. E ele próprio não se cansa de falar. E agora os vídeos - e lá nos aparece ele. Não tem grande jeito, fala a ler o teleponto, engana-se, está muito rígido, parece estrábico. Se tivesse o ar descontraído do Obama, os vídeos resultariam. Mas não tem. Assim, em vez dele a falar para a câmara, deveriam fazer-lhe entrevistas, pôr vários outros a explicar, recorrer a gente habituada a ensinar ou a comunicar, ou fazer desenhos -- uma coisa mais leve, que passe melhor. Mas não faz mal, está a começar. E é bom que esteja a mostrar esta determinação que transmite, ao mesmo tempo, segurança e imbatibilidade.
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Estava eu a ver um dos seus vídeos quando, por acaso, recebi, por mail, um vídeo sobre uma família de elefantes, comandada pela matriarca Wonky Tusk, que todos os anos entra por um hotel sem se ralar nada com o medo e espanto de quem assiste à cena.
O hotel é um resort de 5 estrelas que foi construído no lugar por onde dantes eles passavam e onde paravam para comer uns frutos. As árvores ainda lá estão, nas traseiras. E, portanto, com a segurança de quem sabe que vai conseguir o que quer e que ninguém os deterá, os elefantes avançam, passam descontraidamente pelo balcão da recepção, procuram as árvores, comem e vão-se embora.
O hotel é um resort de 5 estrelas que foi construído no lugar por onde dantes eles passavam e onde paravam para comer uns frutos. As árvores ainda lá estão, nas traseiras. E, portanto, com a segurança de quem sabe que vai conseguir o que quer e que ninguém os deterá, os elefantes avançam, passam descontraidamente pelo balcão da recepção, procuram as árvores, comem e vão-se embora.
Assim é António Costa, tal como o vejo. Um peso pesado que avança, sem medo.
Claro que tem muitos aspectos a limar: tem que aprender a coordenar melhor os seus ministros e secretários de estado, tem que corrigir o estilo daquele secretário de estado das finanças (ou dos impostos?), um que tem voz de Bruno de Carvalho e que tem um ar demasiado à vontade, têm todos que aprender a comunicar com maior profissionalismo, tem que reunir-se com a coligação que o apoia e pedir-lhes que saltem também a terreiro para ver se, em conjunto, conseguem varrer a varapau essa seita desqualificada que mina, de forma larvar, a opinião pública -- tem mil coisas para fazer.
Mas não percamos a perspectiva: António Costa está no governo há uns dois ou três meses, nem sei bem, e tem enfrentado uma verdadeira barreira de fogo terra-ar. Pedir-lhe mais seria estultícia. Tem quatro anos pela frente. Há que dar-lhe espaço e tempo para mostrar que há alternativa.
Por isso, vamos com calma. Tenhamos sentido crítico, tentemos ajudar e tenhamos alguma tolerância, não queiramos que um elefante se porte como um flamingo apenas porque gostamos mais de aves pernaltas cor-de-rosinhas do que de bichos pesadões de grossa pele escura.
E vocês que detestam este Governo e, em particular, que detestam o actual Primeiro-Ministro, aguentem um pouco mais. Não queiram matar já o elefante apenas porque mostra não ser cobarde e vocês preferem ter à frente do país gente que se porta como o capacho onde quem quer esfrega os pés antes de entrar para mandar em todos nós.
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E chega de conversa: let's look at the trailers
António Costa explica pessoalmente o Orçamento
The Elephants that came to dinner | Mfuwe Lodge, Zambia
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And now, para um assunto completamente diferente, queiram descer e mergulhar na história de amor (amor ou amizade romântica, não sei como designar aquele afecto) entre o Santo Papa João Paulo II e a filósofa Anna-Teresa Tymieniecka, a mulher casada com quem conviveu e trocou copiosa correspondência ao longo de anos.
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Subscrevo inteiramente este seu acutilante Post. Nem mais! Quanto aos Vídeos do PM a explicar o OE, não me pareceu mal e vejo isso como uma espécie de contraditório do Governo face aquilo que a imprensa em geral de Direita (o título do “I” de ontem é um exemplo disso, como se o José Lelo tivesse algum relevo no seio do PS actual!), tem vindo a dizer. São intervenções curtas, simples, claras e que tentam passar uma mensagem que explique o que muitos tentam desdizer. Ouve quem quer o que ali é dito e quem é contra está no seu direito e pode nesse caso ficar-se pelos “media” da Direita. Foi uma medida arguta, da parte de Costa. Quanto ao S.E que refere, que julgo ser o Fernando Rocha Andrade, S.E para os Assuntos Fiscais, é um tipo capaz. Não sei se se recorda de uma intervenção dele na A.R, por ocasião do debate que levou o governo PAF a ser derrubado por uma moção de rejeição. Esteve muito bem. A meu ver, o momento crucial será o OE para 2017. Sem querer fazer futurismo, não vejo razões para que nessa altura quer o BE, quer a CDU, se decidam pelo seu chumbo (todos sairiam a perder: PS, BE, CDU). E, se se cumprirem os 4 anos de Legislatura com este governo e este apoio parlamentar, com a esperada recuperação, embora moderada, talvez, quem sabe, Portugal possa ter sido um exemplo no seio da UE, não do “bom e servil aluno”, mas de como se pode fazer política (sobretudo macroeconómica), evitando roturas e agressões sociais. Pela primeira vez desde há uns anos a esta parte, tenho alguma esperança no futuro. E custa-me a acreditar que Marcelo vá infernizar este governo, nos próximos anos. Calculista como é, saberá pesar as suas decisões, quanto mais não seja, tendo em vista a sua eventual reeleição.
ResponderEliminarP.Rufino
Muito bom o artigo.
ResponderEliminarOs cães ladram, mas a caravana passa. Como quem diz.
ResponderEliminarOs Pafiosos grunhem, mas o Antonio Costa vai fazendo o seu caminho. Espero que continue.
muito bem dito !
ResponderEliminarBoa análise dos tempos que vivemos.Temos todos de acreditar que é possível, porque é possível.
ResponderEliminar21/2/2016