domingo, novembro 08, 2015

O problema de Clara Ferreira Alves não é ela ser anticomunista: é ser pedante, inconsistente e padecer de um insuportável e incontrolável narcisismo*


Depois de ter estado a falar do outono in heaven e de vos ter mostrado o que os meus olhos vêem e de, antes disso, ter falado da minha sexualidade (que eu acho que é uma e que um cientista agora anda para aí a dizer que é outra) já não estou com grande vontade de falar de assuntos irrelevantes como sejam, por exemplo, as manifestações exacerbadas da Clara Ferreira Alves.

Aliás, não fosse a preguicinha boa que se abateu sobre mim, já deveria ter lido o programa de governo do PS que, ao que ouvi, integra já os pontos de convergência com o BE e com o PCP. A ver se amanhã me encho de coragem e ponho de lado o Butcher's Crossing para ler o guião para os próximos quatro anos.

Mas, enquanto o não leio - e não tendo hoje visto muita televisão nem lido jornais (ah que bem me sinto desde que cortei com o vício do Expresso) - de pouco mais posso falar do que da verborreia da Clara Ferreira Alves que acabei de presenciar, uma vez mais, no Eixo do Mal.




Depois de ter visto o programa da SIC, fui à procura do artigo que lá foi referido e que a dita escreveu no Expresso, Anticomunista, obrigada! -- e o que lá li foi um excesso de razões, um excesso de petulância, um excesso de nostalgia. 

* Tinha ouvido o Daniel Oliveira, que (ao contrário de desatinado, como se mostra quando fala de Sócrates) esteve focado, objectivo, com uma maturidade democrática agradável de ouvir - e ele tinha falado em narcisismo
E, de facto, todo o artigo é um exercício de narcisismo: Clara Ferreira Alves vê o mundo como se se visse ao espelho. Julgando debruçar-se sobre a situação política do País, ela debruça-se, sim, sobre a sua própria imagem, ou seja, sobre as suas ideias acerca da situação do País.
  • Recorda a sua experiência universitária, a impressão que lhe ficou desses anos agitados em que, saído de um período de reverência anti-democrática, meio mundo acordou para a modernidade com a exuberância que essas descobertas por vezes trazem -- e julga que, quarenta anos e muita aprendizagem depois, Portugal é ainda o mesmo. 
  • Recorda o conservadorismo ortodoxo comunista dos tempos em que ostracizavam os homossexuais, os intelectuais mais fora de caixa -- e ignora que o PCP de hoje já se abriu à realidade (talvez não tanto quanto devia mas, caraças, se o está a fazer cada vez mais vamos festejar isso e não recordar episódios passados) e que tem no seu seio muita gente que respira l'air du temps e, em particular, muitos jovens de cabeça desempoeirada. 
  • Recorda a linhagem socialista original, imaculadamente republicana e maioritariamente maçon, e julga que o PS de hoje, com gente como António Costa, Fernando Medina, Carlos César, Pedro Nuno Santos, Ana Catarina Mendes, João Galamba, é ainda, tal e qual, o partido do pós 25 de Abril. Ou seja, recorda as lutas socialistas contra os exageros comunistas e julga que o tempo cristalizou em torno da Alameda soarista. 
  • Recorda as reacções de intelectuais argutos que, à época, não gostavam da linha dura e algo reaccionária e tacanha dos comunistas e julga que os intelectuais de hoje usariam as mesmas palavras para se referirem aos comunistas de hoje.

E, enlevada pela sua prolixa e empolgada argumentação, Clara Ferreira Alves, eleva-se aos píncaros onde coloca as suas referências políticas e intelectuais, e, julgando mostrar a sua superioridade, mais não faz do que, de facto, mostrar a sua incompreensão perante a situação política actual.

Isso é o que consta do seu extenso artigo que termina com estes cassândricos agouros:
O Partido Socialista meteu-se nesta querela sem ter trunfos na manga. Perdeu as eleições, e isso faz toda a diferença na potestade. O PS não tem sobre o PCP e o BE um direito potestativo. São eles que o têm, e exigirão a submissão. Não sei como sairá disto. Sei que das duas uma. Ou António Costa é um génio político e submete os parceiros à sua imponderável vontade ou caminhamos para a mais grave crise de regime depois do 25 de Abril. E, talvez, para o fim do regime saído do 25 de Abril.
E foi isso que também constou da sua intervenção no Eixo do Mal. Ela sabe tudo, ela sabe o que as doutas mentes que admira sabem, ela vê mais longe do que o comum dos mortais e, traçando a bissectriz a tantas linhas de conhecimento, decreta, do alto da sua arrogância, que 'isto não vai correr bem'.

Claro que eu, que até sou míope de natureza, não vejo tão longe. Mas o que a mim me parece é que a senhora doutora Clara Ferreira Alves não acompanhou o evoluir dos tempos e, em especial, não teve golpe de rins mental para acompanhar a reviravolta a que assistimos no último mês - uma verdadeira jogada de mestre de António Costa que soube interpretar os resultados eleitorais de uma forma inteligente (e até irreverente), democraticamente adulta e corajosa; e uma reviravolta igualmente inteligente (e moderna) por parte do PCP e do BE.

E agora, não tendo antevisto isto e não sabendo como lidar com este cenário, puxada para fora da sua zona de conforto, Clara Ferreira Alves mostra que perdeu o pé. E, como não é humilde, não é capaz de o confessar. E, então, resta-lhe agourar, imaginar desastres - as veias do pescoço todas alteradas, toda ela transtornada, assustada com o bicho mau que se esconde nesse futuro que aí vem, um futuro que não está a seguir o guião que ela anteviu.


No entanto, quando algum dos seus colegas de programa a confronta, logo tenta saltar do cavalinho abaixo e, no meio dos lugares comuns que esgrime como se esgrimisse grandes raciocínios, imediatamente começa a ensaiar uma inflexão de posição. Noto-a, cada vez mais, inconsistente, navegando com petulância e ar caprichoso sobre raciocínios que parecem sólidos mas que, facilmente, se revelam voláteis.

Esteve bem Daniel Oliveira ao defender a coligação de esquerda e ao desmontar as falácias que abundam nos argumentários corriqueiros, entre os quais os dela se encontram. Esteve bem, portanto, ao tentar apeá-la da sua arrogante postura. Esteve bem também quando, ex-comunista e ex-bloquista, elogiou a atitude do PCP e do BE. Referiu essa sua condição e isso só lhe fica bem, mostra que não renega o passado e que está virado para o futuro.
A realidade muda e as pessoas devem adaptar-se à realidade. Mas são também as pessoas capazes de mudar que são capazes de mudar a realidade. Se o PCP foi até agora um partido com comportamentos anquilosados e o BE um partido que ensinava a nadar mas não queria nunca atirar-se para a piscina ou fazer-se ao mar e ambos agora deram um salto no tempo e resolveram unir-se em torno de ideais comuns, então qual a lógica de os criticar e de ficar a repisar argumentos velhos e relhos, ultrapassados, gastos? Vamos mas é esperar que a esquerda se mantenha assim, unida, forte, pronta para tirar Portugal do atraso de vida em que tem tido os pés atolados.
Quanto à Clara Ferreira Alves o que eu me permito sugerir-lhe é que faça meditação, passeie à beira mar, descanse a cabecinha, se deixe estar caladinha durante algum tempo - em suma, que nos poupe aos seus excessos que, mais do que anticomunistas, são, sim, antimodernistas.

...

E agora, caso queiram também descansar a vossa cabeça destes assuntos marafados, desçam, por favor, até ao campo: o outono in heaven está uma doçura dourada, boa, boa.
..

13 comentários:

  1. Também eu estive a ver o eixo do mal a essa hora. tornou-se insuportável ouvir a mulherzinha. cheguei a um ponto em que pensei mudar de canal, mas optei por fazer uma coisa que habitualmente faço: tirei-lhe apenas o pio e fiquei a olhar para toda a sua expressão corporal. sim, também me chamou a atenção as veias salientes do pescoço: denotam muita tensão, está em risco de explodir. uma mulher perigosa. vai fazer a vida negra a antónio costa. o problema é que haverá muitos a levá-la a sério. toda ela é teatral. tudo aquilo é estudado. há ali toda uma expressão de olhar, das mãos, da boca, dos ombros que revelam uma pessoa maquiavélica, macabra... não esquecer que se ela esteve à frente da casa fernando pessoa foi porque se aproximou de santana lopes, ou seja, uma santanete.

    http://o-espectro.blogspot.pt/2006/03/uma-santanete.html

    GG

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  2. Diz-se por ai que a senhora em causa que o Balsemão lhe prometeu um lugar de topo na rtp se este governo continuasse.
    Nota: não foi engano quando escrevi rtp

    Cumprimentos

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  3. Também vi e me indignei com a postura patético-alienada (revejam a sua estampa...) dessa sujeita, que por vezes, gostei de ouvir, por fazer uma ou outra análise mais séria, mas ontem fez-me lembrar, por paradoxo, o Vasco Gonçalves nos seus tempos... Além de "passadista", a mulherzinha estava tétrica (para além de elétrica... como demonstram as veias inchadas...). Do outro lacaio do Belmiro já não me admiro muito, porque: parvo um dia, parvo todos os dias..., mas quando, de novo, para a semana, pretender ver o programa, espero que muito do veneno que destilou o tenha já engolido.

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  4. Depois de ser leitor fiel do Expresso desde os tempos da faculdade (já lá vão mais de trinta anos, e custava o dito 20$00 ou coisa semelhante)também cortei com o vício há coisa de dois anos. Tive uma recaída desde as eleições, para saber notícias dos PàFs e do acordo da esquerda. Aquilo que tenho visto é um sem fim de jornalistas (????) desnorteados, confundidos, ofendidos com a solução que parece já certa. Henrique Monteiro, Henrique Raposo, Miguel Sousa Tavares (e deste eu esperava mais, muito mais, e diferente), Clara Ferreira Alves, Ricardo Costa, e um grande etc, todos parecem uma galinhas tontas e assustadas, acenando com o papão do acordo de esquerda que no entender de tais cabecinhas vai assustar os mercados, arrasar a economia, inutilizar tudo o que de "bom" os PaFs andaram a fazer. Não contente, esta semana o Henriquinho Monteiro descobriu que afinal as redes sociais são perigosas, porque a coberto do anonimato aí se fazem afirmações ofensivas e falsas, que gente inteligente, ponderada e informada (os amigos do Monteiro?) reproduz como verdades absolutas. Ora que pena o Monteiro não ter sentido, durante quase um ano, necessidade de partilhar estas suas emoções a propósito do que nas redes sociais se espalhou acerca de José Sócrates!

    E a propósito de Sócrates, parece que o Expresso tomou o lugar do Correio da Manhã. Bem espremida, a página desperdiçada em manter vivas as insinuações, diz-nos que o advogado que foi chefe de gabinete de Sócrates acompanhou negociações relativas à obtenção de um contrato de uma empresa do grupo Lena na Venezuela, em 2008, quando trabalhava com o ministro Lino, e teve uma avença com uma empresa alegadamente do grupo Lena, em 2013. Hurra, que relevante! Talvez os jornalistas pensem que os advogados obtém avenças junto de empresas que os não conhecem?

    Tudo visto e somado (e sem esquecer que no artigo relativo ao Conselho de Estado o escrevinhador de serviço confunde "assento" com "acento", o que diz bem do nível atingido pelo Expresso)vou privar-me novamente de contribuir com € 3,20/semana para sustentar atoardas e opiniões retrógadas e alarmistas. Há formas de forrar o caixote do lixo que não fazem tanta "moça" na carteira - ou será "mossa"? as más companhias só nos confundem ...
    MPDAguiar

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  5. Inteiramente de acordo consigo sobre o que diz daquele texto da CFA. Aquilo bem enrolado, dava papel para "limpar a nêspera", é o que lhe digo!
    P.Rufino

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  6. Clara Alves Ferreira tem uma agenda escondida como jornalista. Ela pertence ao clube Bilderberg. Isso explica tudo.

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  7. Um escarro fétido, essa socranete!
    Beijinho

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  8. Queria dizer "santanete", obviamente!

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  9. Um escarro fétido, essa santanete!
    Beijinho

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  10. Os comunistas de cá sâo da Coreia e da do Norte...onde o paraíso abunda. Ela não o disse,, mas outras coisas disse interessantes e com razão. E Mário Soares tb o disse, quando anos atrás descreveu uma ditadura do proletariado à beira de se instalar. E só falam a favor de comunismo, porque foram educados em regimes liberais. Porque se viessem da ilha do fidel, não diriam o que dizem.

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  11. A Clara Ferreira Alves é uma jornalista de prestígio que maximiza a coordenação com a Terra de Israel como Estado Judaico!

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  12. Ecpressou as suas ideias e as suas vivências. Sim, viveu o período do PREC,e tem boa memória!

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  13. Blindeberg agent

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