Só agora cheguei a casa mas vim, no carro, a ouvir as projecções. Estou consternada, claro. A intensa manipulação da opinião pública por parte de um grupo unido (PSD+CDS) perante a passividade das forças democráticas de esquerda, deu nisto.
Enquanto as gentes do PSD e do CDS se focaram na defesa das mentiras sobre as quais reinaram durante 4 anos, as gentes das forças contrárias entretiveram-se a morder nas canelas uns dos outros. A comunicação social pasta em cima destes pântanos e ajudou a construir o cenário falso onde os incautos são os cordeiros sempre prontos para o sacrifício.
Mas o PS, no meio disto, anulou-se. Se o Tozé Seguro era um mansinho que qualquer um facilmente metia no bolso, aquilo a que se assistiu do lado do António Costa foi uma análise errada da estratégia a seguir - e essa análise errada conduziu ao estrondoso falhanço a que se está a assistir.
Ao não saber desfazer o cenário falso construído pelos PSD+CDS, ao deixar-se enredar na teia construída por Passos Coelho e Paulo Portas, o PS foi dando o corpo a comer. Depois, o tempo ia passando e António Costa andava a arrumar a casa, o tempo a passar e António Costa a constituir um grupo de trabalho, o tempo a passar e António Costa à espera do trabalho dos economistas, o tempo a passar e António Costa a preparar o programa de governo, o tempo a passar e António Costa e preparar-se para as eleições - as eleições já aí e António Costa sozinho.
O PS esvaíu-se aos olhos de todos e o eleitorado, apesar de descontente com o PSD e com o CDS, não viu no PS uma equipa credível, uma alternativa sólida.
Vejo um grande problema no País. Não sei ainda qual o quadro parlamentar, se os PàFs têm maioria absoluta, se vão conseguir governar sustentadamente, etc. Mas, seja como for, o que vejo são mais anos de retrocesso. Isto desgosta-me e de que maneira. Gostava de viver num País virado para o progresso, para a honestidade, para a ética, para o desenvolvimento, para a cultura. E o que vejo é o contrário.
Mas vejo também um grande problema no PS.
O PS pode muito bem estar a caminho do desaparecimento enquanto grande partido. Ou, então, não. Mas, para se manter vivo, terá que acordar, ressurgir, unir esforços, ir buscar novos, velhos, mulheres (onde andam as mulheres no PS?), passar a bater-se a sério pelo País e arranjar maneira de desmontar mentiras, golpadas - sem tacticismos, com coragem, com energia, com muita convicção.
Quanto ao Bloco de Esquerda, vejo um resultado que é inspirador para os descontentes do regime. Assim Catarina, a Grande, saiba levar para a frente um projecto que se afirme de forma sustentada.
Por enquanto, tem caminhado sobre ideais. Ao tornar-se talvez a terceira força política no País terá que pôr os pés na terra e dar corpo aos ideais que esvoaçam promissores mas, por enquanto, etéreos.
Catarina e Mariana têm mostrado um espírito aguerrido e uma inteligência que auguram bons desempenhos. Tomara que consigam trazer oxigénio à política portuguesa.
O PCP tende lentamente para a irrelevância. A conversa é sempre a mesma. São monocórdicos como monocórdicas são as suas ideias. A redução do apoio popular é uma tendência lenta mas, creio, inexorável.
Grande derrotada da noite sou também eu que falhei naquilo que era uma esperança minha. Não me sentia optimista mas insisti em não me desanimar até ao fim. Mas tenho razões para estar desanimada, sim.
Ou talvez ainda não.
Ou talvez ainda não.
...
E agora vou arrumar umas coisas, fazer sopa, etc. Estive fora durante o dia (mas votei logo de manhãzinha) e tenho mil coisas para fazer em casa.
Já cá volto. Um bocado triste. Mas a tristeza não me emudece nem me verga.
(Está agora a falar Marques Mendes. Esta gente inundou a comunicação social, fez uma lavagem ao cérebro dos portugueses. Que desgosto me causa que os portugueses em vez de terem votado contra esta situação, tenha votado para preservar esta pouca vergonha)
Sindrome de Estocolmo, ujm, é o que se passa com este povo :-(
ResponderEliminarLurdes
Tiro o chapéu à Catarina Martins e à Mariana Mortágua. Pela vivacidade e boas ideias que trouxeram à campanha e pelo "soco" que deram com este belíssimo resultado do Bloco a analistas, politologos, "sondeiros" e outros peritos.
ResponderEliminarPena, pena mesmo, foi a campanha cinzenta de Antonio Costa e o quase zero envolvimento dos chamados notáveis do PS.
... contudo, como nas finais da bola, vai haver prolongamento! Espera-se que António Costa ou quem eventualmente lhe suceder esteja à altura de interpretar os desejos do "povo de esquerda" e os sinais vindos das forças à sua esquerda
O noite não está risonha.... mas também não está tão preta como a pintamos há três-quatro horas atrás!
Caríssima UJM , boa noite
ResponderEliminarEstou desolado como deve calcular.
Mas vá lá, a esquerda está em maioria no parlamento e estes predadores da coligação não podem fazer tudo o que fizeram antes.
O PS e o BE têm mais deputados que a coligação, e seria ideal que a tal química politica entre Costa e Catarina Martins funcionasse.
Mas desejo que António Costa continue como SG do partido.
É uma pessoa muito inteligente, com muita imaginação e com um poder enorme de diálogo .
Quem trabalha com ele disse-me que ele resolve, através de diálogo, os casos dados como perdidos.
Aguardemos.
Desejo-lhe uma boa noite.
Um abraço
HB
Foram 48 anos de fascismo... de medo
ResponderEliminarum medo que está impregnado nos nossos genes
lembram-se da admiração por salazar porque não participamos na 2ª Guerra Mundial?
Foi nisso que os pafientos foram sabiamente orientados a estimular nas pessoas.
Qualquer politico em campanha tem sempre por trás de si toda uma máquina que lhe diz o que dizer, o que fazer, como sorrir, como se curvar... a linguagem corporal tem mais peso do que tudo o resto.
António Costa foi mal orientado... foi fraco... não souberam desconstruir este medo cancerígeno carregado de metástases. Como é possível hoje ter lido um papel? Não foram umas notas que se justificariam pelo cansaço nestes momentos... foi um texto narrativo... chocou-me!
GG
Cara UJM;
ResponderEliminarA Costa cometeu uma série de erros que, quer na vida mundana, quer na vida politica, são fatais, tais como:
- Foi polido no trato dos seus adversários. Não devia por que eles foram tudo menos polidos. Numa batalha com aramas desiguais perde-se sempre;
- Renegou o passado do partido. Ainda que por omissão, mas renegou-o;
- Deu uma série de argumentos aos PàFs para o atacarem, tal como a reunião com os chineses, o ter dito que chumbaria um Orçamento da direita sem o conhecer, os cartazes marados, etc.;
- Na defesa de Sócrates refugiou-se naquela palermice do "à justiça o que é da Justiça e à politica o que é da politica" quando o Monte Branco é tudo menos justiça.
Vá lá teve agora o bom senso de não se demitir e espero que consiga arrumar a casa e ter discernimento para capitalizar em seu favor e do partido a inevitável muleta que vai ter que ser para que os PàFs possam governar.