sábado, outubro 31, 2015

Traz de novo, meu amor, a transparência da água - dá ocupação à minha ternura vadia


Enquanto escrevo ouço a chuva a bater com força na minha janela. A noite está densa, um manto escuro cobre o rio, quase cobre a grande cidade. Ouço a música, ouça a chuva. De vez em quando o som torna-se mais pesado, parece que se abate um dilúvio, uma queda constante e torrencial. Depois abranda, fica a chuva mais mansa e as gotas que caem no parapeito são ritmadas. Ouço também o vento. Penso nos que estão longe dos que amam, dos que sentem o frio da saudade. O tempo assim traz tristeza.




Magoa-me a saudade 
do sobressalto dos corpos 
ferindo-se de ternura 
dói-me a distante lembrança 
do teu vestido 
caindo aos nossos pés 
Magoa-me a saudade 
do tempo em que te habitava 
como o sal ocupa o mar 
como a luz recolhendo-se 
nas pupilas desatentas 




Seja eu de novo tua sombra, teu desejo 
tua noite sem remédio 
tua virtude, tua carência 
eu 
que longe de ti sou fraco 
eu 
que já fui água, seiva vegetal 
sou agora gota trémula, raiz exposta 


Traz 
de novo, meu amor, 
a transparência da água 
dá ocupação à minha ternura vadia 
mergulha os teus dedos 
no feitiço do meu peito 
e espanta na gruta funda de mim 
os animais que atormentam o meu sono 



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 George East fotografou as Skeleton Flower.  
Joni Niemelä fotografou as gotas de água.
Mia Couta escreveu Saudade.
Polina Semionova e Roberto Bolle dançam Dancing in the Rain que Marco Pelle coreografou

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom sábado.

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sexta-feira, outubro 30, 2015

No dia da tomada de posse do novo e breve Governo de Passos Coelho, fico a pensar: Ora bolas, este governo de perna curta não vai ter tempo de dar mais nenhuma ajudinha aos banqueiros... Que pena!
Aos banqueiros, disse eu? Ou deveria ter dito aos banksters?
E o Carlos Costa (aquele que, numa escala de 0 a 10, teria uma nota de 8 ou 9 -- já que o 10 está reservado ao Diabo)? Vai continuar, na boazinha, no BdP?
Pergunto, só pergunto...


Nesta sexta-feira vamos ter uma rábula das boas. Um grupo de artistas vai fazer de conta que vai fazer um governo e um presidente da república vai fazer de compère, alinhando na paródia. Uma tomada de posse surrealista. Nem sei bem como deve a gente conviver com este número circense:
  • Assobiar para o lado e fingir que não vê, para não se rir? 
  • Por caridade, disfarçar que não percebe que aquela gente parece tonta? 
  • Aconselhar aqueles tristes a ir para casa pelo seu pé e, de carrinho, levarem o cavaco ao colo?

Não sei. 

O que sei é que, nos últimos dias, esta gente tem andado numa lufa-lufa criando cargos, nomeando gente e gente e gente e já lá vão mais de cem, e que, para cúmulo, o perspicaz Carlos Costa (o do Banco de Portugal, não o da Quinta das Celebridades) acaba de escolher o 007 das privatizações, o ágil Sérgio Monteiro, para ver se despacha o Novo Banco. Nem mais. Ou seja, com esta gente, até ao lavar dos cestos é vindima.


Sob o diáfano manto da protecção lapariana, Carlos Costa mostrou até que ponto pode chegar a nulidade na regulação bancária. Vejamos até quando vai ter carta branca para continuar de olhinhos bem fechados quando conveniente ou a carregar no acelerador quando a conveniência puxar noutro sentido.

(Parece a República das Bananas, isto. Ou melhor: dos bananas).

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Permitam-me agora recurar uns anitos.

Um país inteiro fica, sem saber bem como, à mercê dos mercados, vê os juros dispararem à bruta, fica toda a gente assustada, de repente a dívida fica descontrolada, é preciso mais dinheiro e, para o ir buscar, só pagando a peso de ouro. Os bancos aflitos com medo de já não poderem vir buscar o deles, e os juros upa-upa, e toda a gente a pedir o pescoço do primeiro-ministro de então e a implorar um resgate. E então junta-se o FMI, o BCE e mais uns trouxazitos burocráticos e vêm por aí, de pasta na mão, a pôr e a dispor enquanto se apressam a arranjar maneira dos bancos alemães e franceses tirarem de cá o deles. Em Portugal isto passou-se em 2011, era Sócrates primeiro-ministro que foi derrubado e passou a mandar Passos Coelho, o Pedro abridor de portas, o facilitador, aquele que quis ir além da troika. A partir daí foi o que foi, acompanhado de uma campanha permanente para que os portugueses, sempre mansinhos, pensassem que a culpa tinha sido deles, que tinham comprado televisões a mais.

Pois bem, acabo de ler uma notícia espantosa.

Peter Boone: O doutorado de Harvard que manipulou dívida portuguesa



Um ganho de 820 mil euros com a venda a descoberto de dívida pública portuguesa. Este terá sido o factor que fez soar os alarmes da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), e que, sabe o Negócios, levou à participação pelo regulador ao Ministério Público. Em causa está Peter Boone, economista reconhecido internacionalmente, que terá escrito vários artigos de opinião, influenciando negativamente os juros da dívida portuguesa. O Ministério Público quer agora, por isso, que seja julgado por manipulação do mercado.
"O Ministério Público requereu o julgamento de um arguido de nacionalidade canadiana e residente em Londres, pela prática do crime de manipulação de mercado, tendo por objecto a desvalorização das obrigações do tesouro portuguesas", informou a Procuradoria-Geral da Distrital de Lisboa, em comunicado publicado na quinta-feira, 29 de Outubro, no próprio site. O Negócios sabe que em causa está Peter Boone, economista doutorado na Universidade de Harvard e autor de vários artigos de opinião.
(...) O Negócios sabe que a denúncia partiu da CMVM em 2012, sendo que o regulador foi contactado como perito durante toda a investigação. "O próximo problema mundial: Portugal" é o título do artigo mais polémico, que escreveu com Simon Johnson, em Abril de 2010, no blog Economix do jornal The New York Times. Os autores apontavam os problemas da dívida pública portuguesa e defendiam que o país iria seguir o caminho da Grécia, pedindo um regaste internacional.
Tal foi o alcance do artigo que o então ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, chegou a pronunciar-se. (...)
Certo é que, logo após a publicação do artigo, a taxa de juro das obrigações portuguesas a 10 anos iniciou uma subida vertiginosa. Passou de 4,395% para um máximo de 6,285%, a 7 de Maio. Um desempenho originado pela queda do preço das obrigações, com a qual Peter Boone terá alcançado uma mais-valia de 819.099,82 euros graças a uma posição curta, diz o comunicado da Procuradoria. (...)


Gente fina esta que tão facilmente consegue despoletar uma situação em que, na maior facilidade, se leva um país a ficar de joelhos. Esteve bem a CMVM, mas é tudo tão lento que bem pode um sujeito destes dar cabo de um país que apenas 4 ou 5 anos depois se vê a contas com a justiça, numa altura em que os danos causados já são irreparáveis.

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Pois, nem de propósito, acabo de receber de leitor, a quem muito agradeço, um vídeo onde o autor do livro Banksters, Uma viagem ao submundo dos banqueiros (banker + gangster), Marc Roche, se pronuncia sobre Ricardo Salgado, Carlos Costa, Cavaco Silva e por aí vai.

O vídeo não é de agora, agora, mas é actualíssimo, especialmente numa altura em que se temem novos sobressaltos na banca portuguesa. Transcrevo parte da notícia que, por altura da sua vinda cá, também concedeu ao Expresso.

O caso Espírito Santo tinha todos os ingredientes de um desastre, precisamente os mesmos que Marc Roche, escritor belga radicado em Londres, viu no estoiro do Lehman Brothers em 2008. Foi esse choque que o motivou a desvendar os meandros dos seus "amigos" capitalistas financeiros. Para isso, escreveu "Banksters". 
(...) Só que, com o caso BES, o correspondente em Londres em assuntos financeiros para os jornais "Le Point" e "Le Soir", e até há pouco tempo para o "Le Monde", já não ficou admirado. Na Introdução para a edição portuguesa escreve que, no caso BES, a família de banqueiros com apelidos tão católicos cometeu seis dos sete pecados capitais bíblicos da finança - "opacidade das contas, cupidez, evasão fiscal, subtração à regulamentação, impunidade e orgulho". O verdadeiro choque teve-o há sete anos, o que o tornou um "desiludido do capitalismo", um "liberal que duvida", um "prosélito do capitalismo em crise de fé", como escreve no livro. (...)

Ricardo Salgado, um gangster de fazer inveja 



E, vendo o vídeo, lembrei-me de um outro que já antes aqui divulguei e que é interessantíssimo:

"O Banqueiro" poema de Craig-James Moncur, dito por Mike Daviot.



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Os origamis são feitos por Cristian Marianciuc

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No post abaixo falo dos símbolos que exprimem emoções e mostro dois vídeos, um mais para o doce e outro mais para o picante. Espero que gostem pelo menos de um deles.


Duas historinhas que partilho convosco e que seguem com uns emoticons fofinhos, tá?


Há pessoas que, na maior alegria, se exprimem através de dois pontos, parêntesis, dois pontos D, travessão, ponto e vírgula, lagriminha a escorrer ou carinhas para todos os gostos. 

Bem, não vou estar aqui a armar-me em virgem das pintinhas: volta e  meia, também me apetece juntar um smile ou uma flor, mas é coisa rara. Se o que escrevo contém um sorriso nas palavras parece-me redundante e até apalermado juntar bolinhas e sinalefas. Mas, enfim, os tempos são o que são e nada contra quem prefere usar caralarocas ou pontuemoções.

De resto, acontece-me, por vezes, espreitar os comentários noutros blogs e pasmo com as formas de comunicação a que tanta gente recorre para se exprimir.


Uma diz dois pontos e a outra responde com DDDDD. As mais tradicionais usam letras e escrevem lol, lol, lol. Parece-me coisa meio sem jeito mas admito que isto é a minha veia de avózinha pré-histórica.



Pois bem. Fui aqui ao Youtube à procura de uma missa cantada e eis que, antes de escrever o que queria, dou uma vista de olhos às escolhas que o algoritmo me reservou. E cá está, outra vez na mouche: 

Rives conta uma história de emoções variadas - TED





E, ainda, o vídeo abaixo que recomendo que seja visto com a pimenta à mão de semear para que vão deitando na língua destes malcriadões.

Emoticon na Porta dos Fundos


Para que escrever ou descrever um emoção se você pode transmiti-la através de uma arte ou um conjunto de pontuações? É simples, rápido e direto. O problema é que as emoções e interpretações são tudo menos isso. ;) :p :o




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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma sexta-feira muito feliz,

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quinta-feira, outubro 29, 2015

É mal lavado? Mal cheiroso?Tem bafo de onça?
Não, não estou a referir-me a um algum cão com pulgas em particular até porque este post não é sobre política.
Nem estou a referir-me ao Carlos Costa da Quinta das celebridades. Nem ao Eduardo Dâmaso do Correio da Manhã.
Estou a referir-me ao Bond. James Bond. O agente 007. Spectre ou não Spectre.
[De caminho, falo sobre países sexualmente satisfeitos - entre os quais não se encontra Portugal]


Depois das Barbies do post abaixo, agora é a vez do Bond. James Bond. 

Claro que, em vez disso, poderia falar de política. No outro dia um Leitor escreveu-me um mail dizendo que gosta que eu escreva sobre política e que acha que eu, aqui no blog, não deveria misturar assuntos mais intimistas com coisas sérias como a política. Disse-me, ainda, que alguns dos seus amigos lhe contaram que tinham deixado de ler o Um Jeito Manso porque se aborreciam de vir aqui à procura de política e darem de caras com parvoeiras (bem, ele não disse exactamente parvoeiras, isto já sou eu a destratar as ligeirezas a que, volta e meia, me apetece deitar mão). Mas porque haveria eu de estar aqui de castigo a falar sempre de política? Falar a torto e a direito de coisas que, em parte dos dias, não têm nada que dizer...? Ná...

Por exemplo, agora estamos num compasso de espera, à espera que o Passos vá ao parlamento estatelar-se ao comprido, depois de esta 6ª feira tomar posse com o seu séquito de tristes. Vou falar, portanto, de quê? Do vazio? Só se for para dizer que, de facto, não somos a Grécia. Aqui são precisos tempos infinitos para qualquer coisa: meses para convocar, meses sem poder fazer nada, meses para tudo, um atraso de vida. Na Grécia é o contrário: é atar e pôr ao fumeiro. Num abrir e esfregar de olhos convocam eleições, fazem campanha, votam, dão posse ao governo, começam a trabalhar.

É na política e no sexo: quase não há pai para os gregos. 

Já agora: a Grécia é dos países sexualmente mais satisfeitos. Falam abertamente de sexo, praticam-no com fartura, gostam do que fazem.

Greece: The reason the Greeks are so sexually satisfied is that they are less uptight about discussing their sexual desires. In fact, the Greeks have been talking about sex for centuries. In the fourth century BCE, Hippocrates spoke explicitly about the inevitability of sexual desire: “In the cases of women…when during intercourse the vagina is rubbed…an irritation is set up in the womb which produces pleasure and heat in the rest of the body.” Touché! Even today, Greeks commonly discuss sex at work, with friends, and most importantly, with their partners. Communication makes for a better sex life, period. Of course, the great weather, beautiful islands and healthy diet can’t hurt. Durex claims Greeks have the most sex in the world weekly (164 times on average a year). As for the Greeks themselves, they say they’re 51 percent sexually satisfied.  
De Portugal nem reza o estudo. Devem ser uns insatisfeitozinhos, os portuguesinhos: não falam para não ofenderem ninguém nem os próprios santos ouvidos, não fazem porque andam cansados, infelizes e mal pagos, não gostam porque queriam outra coisa. O costume. Os portugueses não valorizam o que têm, estão sempre enjoadinhos, parece que só gostam do que não têm. Uma seca.
Veja-se a Nigéria, o país com a maior taxa de gente sexualmente satisfeita (67%) e (talvez por isso mesmo) onde o acto é mais sexual é mais demorado, 24 minutos. Curiosamente é o país onde há mais mulheres a pular a cerca: infiéis que só visto, as nigerianas: 62%, imagine-se! 
Isto tinha muito que dizer, oh se tinha. Mas hoje não estou para aí virada, tinha que me alongar e longo já isto vai. Portanto, adiante.

Claro que poderia falar de outras coisas. Por exemplo, poderia falar do
Correio da Manhã que foi proibido de perseguir o Sócrates -- mas não falo porque as práticas e as opções do Correio da Manhã me causam asco. Cruzei-me no outro dia com o director do jornal e deu-me pena: uma fraca figura que, vá lá saber-se porquê, parece ter como único propósito de vida o dar cabo da vida de outra pessoa, gastando nessa ignóbil cruzada a sua triste existência. Ná, não me apetece falar de gente com taras.


Ou poderia talvez falar da Teresa Leal Coelho, essa pessoa que não se aguenta, tal o mau perder. Vi-a há bocado na SIC e foi uma luta para a ouvir durante uns minutos: esta mulher desestabiliza emocionalmente o meu marido e não é pelos melhores motivos. Não descansa enquanto não se vê livre dela. Por isso, quem me garante que vocês, meus Caros Leitores, não são como ele e, se me punha aqui a falar dela, vocês não desligavam logo o computador? Portanto, descansem. Não vou gastar a vossa paciência com essa insuportável e manipuladora criatura.

Poderia também falar da Quinta das Celebridades que agora estou a ver. Estava a fazer zapping e vim aqui parar. Para meu espanto, dei com um tal Carlos Costa (que não é o do BdP) a imitar o José Castelo Branco: todo pintado, as beiças inchadas, vestido de garçonette - nem sei bem o que é aquilo. Mas não vou falar, não saberia desenvolver. 


Olha, agora estou a ver a Cinha - outra vez metida nisto? - a desancar o dito Carlos porque, pelos vistos, ele acordou outro. Tempo de antena usado com isto... Nem dá para acreditar que viemos acabar nesta indigência terceiro-mundista, nesta estupidez sem tamanho que só pode dar em atrofiamento mental.


Portanto, a verdade é que não me apetece falar de nada em especial. Tudo uma pepineira. 

Por isso, vou antes deixar-vos com o Bond.

Seu nome é Bond, James Bond. Espião internacional, patriota, refinado, conquistador, inteligente, estrategista, atirador de elite e letal com as mãos. 
Qualidades não faltam para descrever essa epítome da masculinidade. As mulheres o querem, e os homens querem sê-lo. 
Mas nem tudo são flores para ele. Por alguma razão, seus chefes nunca duram e ele não consegue manter uma relação estável. As pessoas preferem que ele exerça sua licença para matar, do que se entregar para ele. Não sei, mas algo me diz que ele é flor que não se cheire.

James Bond  - Porta dos Fundos



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Relembro: se descerem até ao post seguinte, terão uma agradável surpresa. O tema tem a ver com a Barbie mas, garanto, é uma graça.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quinta-feira com tudo de bom.

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Consumir Barbies faz bem ao cérebro?


Há campanhas publicitárias inteligentes. Aliás, quase todas são. Mas, ao passo que umas são pouco mais do que o banal pão com manteiga, há outras que chamam a nossa atenção, nos prendem e, no final, nos surpreendem, deixando impressas na nossa mente a mensagem que o publicitário tinha em mente quando concebeu a campanha para a marca.

O vídeo abaixo é uma graça e as reacções que se vêem por parte das pessoas que observam as meninas são reacções genuínas.
According to their website, Barbie said the point of the commercial is to teach girls ‘you can be anything.’They said that  for 56 years, Barbie has been inspiring girls and leading by example with the variety of dolls they have created over time.

“My whole philosophy of Barbie was that, through the doll, the little girl could be anything she wanted to be. Barbie always represented the fact that a woman has choices,” said Barbie creator Ruth Handler.


Quando a minha filha era pequena eu era uma jovem mãe cheia de fundamentalismos. Por exemplo, achava que não devia estimular o gosto por modas ou marcas - e levava isso quase até às últimas consequências. Por isso, achava que a Barbie era uma marca que estimulava o consumo (roupas e toda a espécie de adereços para a Barbie, etc) e que a boneca em si era o protótipo da mulherzinha fútil, toda e só aparência. Por isso, oferecia-lhe bonecas e brinquedos de toda a espécie e feitio mas não a Barbie. Até que o tio se marimbou para os meus pruridos e lhe ofereceu uma. A partir daí, a minha mãe fez vestidinhos para a boneca e até um verdadeiro vestido de noiva. Passou a ser a sua boneca preferida, claro. E eu perdi parte das minhas ilusões.

Com a minha neta verifica-se igual fenómeno; tem bonecas de todo o tipo mas é das Barbies que mais gosta (e já tem várias porque agora há a Barbie Princesa, a Barbie Mariposa e sei lá que mais).

Mas, na volta, brincar com Barbies não faz mesmo mal ao miolo das miúdas. 

Segundo o anúncio que abaixo vos mostro -- e que, apesar de ter sido divulgado há poucos dias, já foi visualizado mais de dez milhões de vezes -- até fomenta a sua imaginação e as estimula a ser determinadas no sentido de lutarem por aquilo em que acreditam. Não sei. O que sei é que o anúncio é bem feito, eficaz, uma graça.

Imagine the Possibilities  - Barbie



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quarta-feira, outubro 28, 2015

Passos Coelho recorre à Valente Produções para arranjar Secretários de Estado


Depois de ter revelado, no post abaixo, quais os os ministros que Passos Coelho queria escolher para o seu novo governo (mas que não aceitaram, tendo-se ele visto na contingência de se apresentar em Belém com a lata da casa), leio agora que o pobre coitado continua em palpos de aranha. Agora não arranja ninguém que queira ir para Secretário de Estado. Mal ele ou algum dos novos ministros contactam alguém a ver se lhe dão a volta, logo essa pessoa vira a cara de lado, fazendo-se de desentendida ou dizendo que vai ali fora ver se chove ou inventa que morreu uma tetravó ou qualquer outra desculpa esfarrapada. 

Tendo o Cavaco já começado a ranger os dentes, coisa que faz quando está impaciente e sem a boca cheia de bolo-rei, o Láparo não teve outra solução senão dar ouvidos àquele a quem todos chamam a Fada-Madrinha (talvez por ter sempre solução para todos os bicos de obra). 

Disse o Vice: 'Nada de desesperos, Pêpê. Já passei sequinho por grandes enxurradas, era o que faltava se me fosse deixar molhar por entre esta chuvinha de molha-tolos. Se esses mal agradecidos não querem ser nem princesas nem sequer duquesas por dez dias, então que se danem. Vou ligar ao Valente.'

Exclamou o Láparo: 'Ao Valente...? Ui, que ordinarão... Ainda bem que não disseste o resto, que te ficaste pelo valente, porque está aqui uma lady...'

'Uma lady? Quem? Não vejo nenhuma', inquiriu o Irrevogável, olhando em volta.

O Láparo piscou o olho e apontou a cabeça na direcção de um dos não reconduzidos. O Irrevogável não gostou: 'Não gosto dessas piadas, já disse. Além disso, se outra com cara de má que agora passou a ministra das flausinas te ouve, levas logo cartão encarnado '.

'Pronto, pronto, já cá não está quem falou. Mas, então, se queres tratar disso, acho muito bem, avança', disse ele ao seu subordinado.

O Irrevogável ligou então ao Valente e pediu-lhe umas dúzias de figurantes, entre homens e mulheres, novos e velhos, mas assim mais para o tipo experiente e bem encarado, a ver se se consegue compor minimamente o ramalhete.

Pouco depois começaram a chegar as propostas. O Láparo e o Irrevogável puseram as fotografias com as características de cada um ao lado, tudo espalhado em cima da mesa. E puseram-se eles mesmos a fazer a escolha.


Madalena Cardoso

10-02-1944, Altura 160, Sapatos 38, Casaco 42, Peito 0, Camisa 42, Cintura 0, Calça 42, Anca 0

Depois de olharem bem para ela, acharam que ficaria bem a trabalhar no Ministério da Saúde para ver se credibiliza aquele ministério já que o novo ministro tira qualquer um do sério. Faz de conta que a senhora tem muita experiência em Gestão Hospitalar. E, espertalhões que só eles, até resolveram que vão dizer que parece que é prima, ainda que afastada, do Correia de Campos. Uma piscadela de olho ao PS...


Carlos Saltão Ferreira

17-11-1955, Altura 176, Sapatos 43, Casaco 52, Peito 0, Camisa 42, Cintura 0, Calça 46, Anca 0  

Olharam e concluíram que este pode passar por advogado. Se calhar pode ir para a Justiça. Acharam que se pode dizer que é gémeo do Super-Alex mas que não tem nada a ver com o irmão, que não se dão, que aquilo é cão e gato, especialmente desde esta coisa do Sócrates. E, com isto, o Láparo acha que vai fazer um agrado ao Costa   (É sabido que o Láparo não prima pela inteligência)


Maria Teresa Barbosa

14-07-1941, Altura 164, Sapatos 39, Casaco 42, Peito 0, Camisa 40, Cintura 0, Calça 42, Anca 0  

Esta senhora dá ares de professora, acharam eles, concluindo que pode ser encaixada no Ministério da Educação e vão dizer que, ao contrário do outro, esta tem ar normal, não vai querer dinamitar o ministério. Ou seja, acham que poderão dizer que sempre foi crítica em relação ao C-Rato. E lembraram-se que podem dizer que até consta que compra a roupa na mesma loja que a Gabriela Canavilhas. Lá está, uma senhora piscadela de olhos ao PS.


José Meireles

15-05-1951, Altura 183, Sapatos 41, Casaco 50, Peito 0, Camisa 40, Cintura 0, Calça 42, Anca 0  

A este senhor estão a pensar pôr na Economia, pode ir para os Transportes e Obras Públicas, passa bem por engenheiro civil. Pensam dizer que este, sim, tem tino, nada a ver com aquele destravado do Sérgio Monteiro. Podem até acrescentar que consta que o senhor deixou de andar de avião na TAP desde que a pseudo-privatizaram. Portanto, dirá o Henrique Monteiro ou o José Manuel Fernandes que, vendo bem, na prática, este é um governo mais socialista do que se fosse parido pelo próprio Costa. 


E por aí fora, tudo gente de primeira água. À vontadinha, uns quarenta ao todo e tudo assim, uma pinta das valentes.
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Sim. Sejamos honestos. Perante um Governo feito com a lata da casa e com Secretários de Estado de alto gabarito como os acima referidos, com provas dadas, que a sociedade reconhece pela sua elevada craveira como grandes profissionais da respectiva área, com um invejável curriculum político e, ainda por cima, todos eles próximos do PS, como poderá o Costa apresentar uma moção de rejeição? Não pode. Pois se este governo foi, todo ele, feitinho, feitinho mesmo à medida do PS.... Vai é ficar a roer-se de invejinha. Ai não.

Portanto, demos graças, temos governo! Um elenco de luxo! Hip, hip, zurra!
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Volto aqui pois acabo de receber informação de que os spin doctors do Láparo acham que, se a PàF quer piscar o olho bem à esquerda e parecer estar a amigar-se, like, like, like, com causas fracturantes, terão que ter alguma bicha descarada no governo, nem que seja como Chefe de Gabinete. Dizem os spins que a comunidade gay tem cada vez mais força e que, portanto, nada de sexualidades fluidas ou gente dentro do armário. Nada disso, uma bicha a sério, coisa que se veja.

Vai daí, novo casting. E cá está ele, o eleito para fazer de Sebastian português. 


O Passos e o Láparo já estão a ver a Little Britain para verem como é que é.

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E, se me permitem o conselho, sigam para a dream team do Láparo: já aqui abaixo.

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Os novos ministros e os novos ministérios: quem é quem naquela que seria a equipa de sonho do próximo governo de Passos Coelho


No post abaixo já falei de Luaty Beirão, de José Sócrates e de quem se sentiu incomodado por José Sócrates ter pronunciado o nome do activista angolano - que entretanto, felizmente, já interrompeu a greve de fome -  como foi o caso de Daniel Oliveira ou do Embaixador Seixas da Costa.





Aqui, agora, a conversa é outra. Está por dias a tomada de posse do segundo governo de Passos Coelho e eu estou animada pois tenho a certeza que vai ser menos nocivo que o anterior. Mal posso esperar que tenha lugar a tomada de posse, estou desejando de ver aquela 'cena' dos cumprimentos, toda a gente em filinha de pirilau para dar os parabéns aos garbosos empossados. Estou também em felgas para os ver a apresentarem e a defenderem, no parlamento, o seu maravilhoso programa. Acho que vai ser ser um momento lindo. 

Entretanto, as minhas fontes, sempre muito bem desinformadas, dão-me conta de que as vicissitudes inerentes às actuais circunstâncias, impediram a concretização do que seria a dream team lapariana. Não o conseguiu, contudo, pelo que, coitado, teve que se ficar pelos pafientos do costume. De qualquer forma, com as devidas reservas e naturalmente sob sigilo, a vocês, e só a vocês, digo-vos o que as minhas fontes me contaram que Passos Coelho verdadeiramente queria.

Vice-Primeiro Ministro que acumula com o Ministério dos Vistos Gold e da Inside Information: Marques Mendes

Ministro da Justiça: Marco António Costa

Ministro da Educação e dos Romances Históricos: José Rodrigues dos Santos

Ministra da Cultura e dos Galos de Crochet: Joana Vasconcelos

Ministro da Reforma Agrária: António Barreto

Ministro da Saúde: Maria Helena (a taróloga que já dá consultas na SIC)

Ministra das Peixeiras: Assunção Cristas

Ministro das Putativas Finanças : José Gomes Ferreira

Ministro da Economia, da Motivação, dos Carros Janados e do Empreendedorismo: Miguel Gonçalves Bate-Punho

Ministro dos Assaltos à Segurança Social: Zé Pilha Galinhas

Ministro do Twitter e da Coutada Alemã dos Machos Latinos: Bruno Maçães

Ministros dos Papagaios Televisivos e Plurais: a dupla Maria João Avillez & Joaquim Aguiar

Ministro das Fotocópias, das Milhas de Avião e das Incursões Imobiliárias Nocturnas: Paulo Portas (disse que cedia o lugar de vice e o láparo aproveitou, ora não: agora é um simples ministro sem vice)

Ministro das Redes Sociais, dos Coros Infantis e do Ódio a Sócrates: a dupla João Miguel Tavares & Sofia Vala Rocha

Ministro das Forças Armadas: Cátia Palhinha (as tropas estão com inveja da GNR que já não passam sem um belo pernão bem ao léu quando lhes passam revista)


Ou seja, seria, sem dúvida, um grande governo. Nunca esperei que daquela cabeça saísse tão bem enquadrada ideia. Consta que, em Belém, o  Cavaco, a sua esposa Maria, o comendador costureiro e a fadista privativa estavam em delírio: amavam, amavam, amavam este elenco.
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Consta também que, para parecerem moderninhos e não ficarem atrás do Bush, do Obama e do Cameron, todos os ministros do novo governo de Passos Coelho se passarão a apresentar de rabichinho no alto da cabeça. Isto os homens, claro. Elas parece que irão com extensões pafianamente coloridas até ao rabo, lindas, poderosas.
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Lá em cima, para abrilhantar a festa, o João Manuel Vieira com os Irmãos Catita interpretam 'Eu vou', canção que, ao que se diz, o Láparo costuma cantar a toda a hora.
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E, por agora, fico-me por aqui.
Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quarta-feira bem divertida.

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terça-feira, outubro 27, 2015

José Sócrates, Luaty Beirão [A propósito da náusea demonstrada por Daniel Oliveira no Eixo do Mal e da censura do Embaixador Seixas da Costa no seu blog Duas ou Três Coisas]






Hoje, enquanto ia no carro à hora de almoço, ouvi Isabel do Carmo a falar da sua experiência de greve de fome. Em tempos, cumpriu 30 dias. Luaty Beirão já cumpriu 36 e, ao que hoje ouvi, começa a aproximar-se do ponto de não retorno. Explicou Isabel do Carmo que o corpo começa a formar açúcar a partir das gorduras dos próprios músculos mas que o cérebro, sendo um órgão bem preservado nestas situações limites, se mantém bem, lúcido. O soro mantém alguma hidratação mas, mesmo transportando alguns sais, não é suficiente, há um ponto em que os órgãos entram em falência. Contou que, a cada momento, a pessoa em greve se interroga sobre se 'eles' vão ceder, sobre se 'eles' a irão deixar morrer. Dizia ela que nenhum poder quer ficar com um morto na consciência pelo que é normal que acabem por ceder. 

Mas com Angola não se sabe e, além disso, há o drama da longa duração com que já vai o jejum de Luaty.

É admirável a coragem deste jovem que, tendo uma mulher que tanto o ama e uma filha pequena de que tanto lhe custa estar longe, coloca a sua vida em risco em luta contra um regime ditatorial que atenta tão grosseiramente contra os mais elementares direitos humanos, que atenta tão despudoradamente contra a liberdade de opinião dos seus concidadãos.

Faço votos que aquela gente de Angola perceba que se diminui aos olhos do mundo com actos prepotentes como o da prisão de Luaty e de todos os outros que, por motivos idênticos, se vêem privados da sua liberdade. Por vários motivos, Angola está a atravessar um mau momento e a última coisa que deveria querer era ser vista como um país atrasado, perecendo às mãos de um regime de tiranos.


O caso de Luaty Beirão não é igual ao de José Sócrates, claro que não. Luaty foi preso porque foi apanhado a ler um livro suspeito e porque era sabido que lutava (com a força das suas palavras) contra os métodos ditatoriais do governo angolano.


José Sócrates foi privado da sua liberdade por outros motivos - mas eu não os conheço pelo que não posso pronunciar-me sobre eles. Até há meia dúzia de dias José Sócrates também não os conhecia. 

O Correio da Manhã, a revista Sábado, o Jornal i e o Expresso, entre outros, enquanto o processo estava em segredo de justiça, iam, contudo, divulgando os motivos: que os investigadores achavam que o dinheiro do amigo era de Sócrates, que as casas do amigo eram de Sócrates, que a casa da ex-mulher de Sócrates era de Sócrates, que Sócrates tinha favorecido negócios em Angola, que não, que a coisa se tinha passado na Venezuela, que não, que afinal era em Vale de Lobo, que não, que era coisa da farmacêutica, que não, era coisa do Grupo Lena, que não, que era coisa com os direitos de transmissão de desafios de futebol - etc, etc, etc.

E, pasme-se, tudo isto se teria passado enquanto Sócrates era primeiro-ministro, trabalhando, como era sabido, de sol a sol, sempre com reuniões de trabalho, e enquanto a sua vida era passada a pente fino nomeadamente a propósito do outlet de Alcochete.


Como já o disse mil vezes, não faço a mínima ideia do que se passa ou passou na vida privada de Sócrates e pode ser que daqui por algum tempo passe a andar de queixo caído, de espanto, por se descobrir que afinal Sócrates tem uma gruta cheia de arcas transbordantes de jóias e pedras preciosas, que é dono de cem prédios nas avenidas mais caras de Lisboa, duzentos apartamentos em Paris, quinhentos flats em Nova Iorque, que tem, acostados na Riviera Francesa, seis veleiros e vinte iates, que aí num aeródromo qualquer tem uma dúzia de jactinhos e duas dúzias de helicópteros, que tem um armazém cheio de Ferraris, Bentleys, Porsches, Carochas de colecção e Bicos de Pato amarelos, e que, não contente com isso, para cúmulo, ainda tem 50 espanholas, 60 moldavas e 80 brasileiras por conta. Pode acontecer. Pode também acontecer que afinal haja outro, um gémeo que, com o seu acordo, se faz passar por ele para praticar toda a espécie de ilícitos. Tudo é possível. 
Nessa altura - e estando tudo isso provado e comprovado e que não restem aos tribunais dúvidas de que, apesar de tanta indecorosa riqueza, pagava IRS apenas sobre o salário mínimo e que todo o dinheiro que possuía tinha sido obtido por esticão, rebentamento de caixas multibanco, assalto a velhinhas ou suborno de construtores civis ou de agentes de futebolistas - então, aqui estarei para dizer que o filho da mãe me enganou bem enganada e, nem que fosse só por isso, devia ia pagar as favas bem pagas em Évora ou no Cu de Judas. 
Mas, volto a dizer, acharei bem que sofra as consequências se for julgado e condenado. 
Até lá, ele e todos os que não forem julgados e condenados, são inocentes. 
Claro que, não sendo eu uma santinha, até poderia franzir o nariz e pôr-me a querer fazer eu justiça pelas minhas próprias mãos (isto é, por exemplo, condenando-o aqui) se conhecesse a acusação e os indícios fossem tantos, tantos, tantos, e tão aparentemente irrefutáveis que, à luz da minha omnisciência, me parecesse que nem valia a pena julgá-lo, que se poderia fazer um short cut e passar já para a fase da guilhotina. Mas nem isso.

De resto e até prova em contrário, Luaty Beirão em Angola ou, cá em Portugal, José Sócrates, o Daniel Oliveira, o Luís Pedro Nunes, o Embaixador Seixas da Costa, a minha mãe ou você, meu Caro Leitor, são, aos meus olhos e perante a justiça, inocentes, digam lá o que disserem deles e de si. Bem podem o Correio da Manhã, a Felícia Cabrita, o João Miguel Tavares, amantes despeitadas, vizinhas invejosas, primas rancorosas, jornalistas ressabiados, meia dúzia de bloggers e uma dúzia de comentadores ou quem quer que seja dizer coisas ou insinuar 'cenas' que eu continuarei a achar que são inocentes. E, sendo inocentes, como inocentes devem ser tratados.



E vou criticar qualquer sistema judicial por prender durante quase um ano uma pessoa sem que se sinta na obrigação de lhe dizer porque o prendeu tal como vou criticar um outro sistema que prenda uma outra pessoa porque suspeita que essa pessoa quer derrubar um regime apresentando como índícios as palavras que profere ou o que lê. São faces distintas da mesma iniquidade, da mesma prepotência, da mesma injustiça. Condenáveis, de qualquer maneira.
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Lá em cima Zeca Afonso canta Alípio de Freitas. 
As imagens mostram trabalhos em gesso de Rachel Dein.

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Muito gostaria que visitassem o meu outro blog, o Ginjal e Lisboa, onde hoje vou pela mão de Mia Couto ao som de Dvořák

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Mais logo conto-vos quem vai ser quem no governo de Passos Coelho: tenho sabido de uns nomes que são de deixar qualquer um de boca aberta. Mal tenha tempo, já aqui vos digo.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça-feira.

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segunda-feira, outubro 26, 2015

They fuck you up, your mum and dad. They may not mean to, but they do. They fill you with the faults they had and add some extra, just for you.
- palavras de Philip Larkin.
Ou 'Os bons artistas copiam, os grandes artistas roubam'
- palavras de Picasso


Afinal na outra noite pouco deu para ler o Butcher's Crossing. Este fim de semana peguei nele e peguei também num outro, pensando ir petiscando deste segundo e, como pièce de résistance, ir degustando o primeiro. Mas as coisas (não profissionais), comigo, não costumam ser bem como as penso - quando me deito a ler, ou adormeço ou nem lá chego, metem-se outros programas. Também, verdade seja dita, não me forço a coisa nenhuma (a nível não profissional, uma vez mais). E, portanto, acabei por me ficar, e fiquei de gosto, pelos petiscos.

O livro a que me refiro é Think Like an Artist (... and lead a more creative, productive life) de Will Gompertz.

Gostando eu de ler livros sobre arte, estava curiosa sobre este; e, de facto, foi uma agradável surpresa.

Para que se tenha uma ideia sobre o que versa, traduzo o título dos seus capítulos:


A flagelação de Cristo de Piero della Francesca, 1458-60

1. Os artistas são empreendedores [com referências a Andy Warhol, Vincent van Gogh, Theaster Gates]

2. Os artistas não falham [com referências a Bridget Riley, Roy Lichtenstein, David Ogilvy]

3. Os artistas são verdadeiramente curiosos [com referências a Marina Abramovic, Gilbert & Gilbert, Caravaggio]

4. Os artistas roubam [com referências a Picasso]

5. Os artistas são cépticos [com referências a J.J. Abrams, Piero della Francesca]

Ski Jacket, Peter Doig, 1994
6. Os artistas pensam no todo e no detalhe [com referências a Luc Tuymans, Johannes Vermeer]

7. Os artistas têm um ponto de vista [com referências a Peter Doig, Rembrandt, Kerry James Marshall]

8. Os artistas são corajosos [com referências a Michelangelo, Ai Weiwei]

9. Os artistas param para pensar [com referências a David Hockney, Marcel Duchamp]

10. Todas as escolas deveriam ser escolas de arte [com referências a Bob and Robert Smith]

11. Pensamento final

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Tão interessantes são os diversos temas abordados que, a cada capítulo, me deu vontade de aqui falar sobre ele. Contudo, não dá, tenho que escolher um. E escolho o capítulo que refere que os artistas, por norma, não criam a partir do nada e aproveitam, de alguma forma, as experiências e as conquistas dos que os precederam. 

Não vou ser exaustiva pois este não é um espaço que se compadeça com tratados. Vou antes transcrever algumas citações ou mostrar alguns dos pontos sobre os quais se fala nesse capítulo 4 já que é um tema que me interessa bastante. 
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"Não há nada de novo debaixo do sol" - Eclesiastes 1:9


"Os bons artistas copiam, os grandes artistas roubam" - Picasso. 


A frase de Picasso foi roubada a Voltaire que, dois séculos antes, disse: "A originalidade não é senão uma judiciosa imitação"


"Se eu vi mais longe foi porque me ergui sobre os ombros de gigantes" - Isaac Newton


"Criatividade é saber como esconder as suas fontes" - Albert Einstein


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Como exemplo de obras inspiradas por outras, limito-me a dois ou três dos exemplos referidos no livro, justamente relativos ao Picasso dos primeiros tempos e que fizeram parte de uma exposição que deve ter sido espantosa: Becoming Picasso, e sobre a qual mostro abaixo um vídeo:

Pablo Picasso, Bailarina anã (1901)

que terá sido inspirada pela seguinte escultura de Degas (à qual Picasso deu um certo toque de flamengo):

Petite danseuse de quatorze ans; escultura de Degas, 1881
ou,

O quarto azul, Picasso, 1901

que terá sido inspirado nas Banhistas de Cézanne:


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Refere-se ainda que Steve Jobs, o co-fundador da Apple, citava Picasso naquilo de 'os bons artistas copiam, os grandes artistas roubam' antes de dizer que "Nós (na Apple) nunca tivemos qualquer vergonha em roubar grandes ideias". O New York Times refere que a Apple estimula os seus designers a depurarem as linhas e as formas, mostrando-lhes a série de 11 litografias de Picasso (1945) na qual ele parte de uma representação naturalista de um touro, evoluindo até uma representação quase abstracta.

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No domínio da literatura, fala-se na disrupção social que começa frequentemente por ser interdita para, mais tarde, se tornar admissível. O exemplo referido é o romance de D. H. Lawrence, O amante de Lady Chatterley, cuja versão integral se manteve banida no Reino Unido até 1960 devido à linguagem explícita na descrição de cenas sexuais.

Para ilustrar, em vez da transcrição de um trecho do livro, opto pela adaptação para cinema e, embora goste imenso da versão francesa, de Pascale Ferran, mostro o vídeo de anúncio da nova versão da BBC.

Lady Chatterley's Lover: Trailer


Will Gompertz diz que, aproveitando a onda de permissividade que, entretanto se formou após a autorização da versão completa de Lady Chatterley's Lover, a Philip Larkin  já lhe foi possível usar linguagem sexualmente explícita, como é o caso do seguinte poema de 1971 (cujo título, de resto, foi extraído do poema Requiem de Robert Louis Stevenson)

This Be the Verse de Philip Larkin (lido pelo próprio)
- poema do qual extraí o actualíssimo título deste post

 
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O tema é aliciante mas forço-me a atalhar porque o post já vai extenso, muito para além da conta. Contudo, como acima referi, deixo-vos ainda com um pequeno vídeo da exposição que decorreu em 2013 na The Courtauld Gallery



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Já agora, à laia de apresentação de Will Gompertz, mostro também um vídeo feito a propósito do lançamento do seu livro anterior:

What are you looking at?


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Maravilhoso o mundo da arte.
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O essencial é ser comovido, amar, ter esperança, estremecer, viver - disse Auguste Rodin (e talvez tenha razão)
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Muito gostaria ainda de receber a vossa visita no meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, onde hoje vou pela mão de Gastão Cruz ao som de sinos que cruzam esta noite de chuva intensa.
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Desejo-vos, meus Caros leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
A todos desejo sorte, saúde, amor e dinheiro para os gastos.

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domingo, outubro 25, 2015

Casa minha


No post abaixo falei das araras, papagaios, galinhas e outras aves que infestam os balcões de televisão onde têm assento permanente toda a espécie de paineleiros e comentadores, gente a metro, todos da mesma cor, todos amestrados para falarem a uma só voz, paf-paf, paf-paf.

Não sendo dados a bucolismos (que é o que se vai seguir) podem, daqui, saltar já para lá.

Aqui, agora, gostava que viessem comigo pela terra molhada e perfumada, pelos campos coloridos com as cores do outono. Aceitem passear comigo in heaven.






O campo está coberto por uma neblina. Penso que estou dentro de uma nuvem. As árvores gotejam, os musgos crescem, a terra está um veludo macio. As pedras escorrem, os arbustos adensam-se. Há aquele cheiro de que tanto gosto, um cheiro a terra molhada, um cheiro íntimo e feminino, e, à medida que ando, o perfume ganha novos aromas, uma mistura de flores, depois junta-se o cheiro forte e limpo do eucalipto, mais à frente o das folhas em decomposição das figueiras, logo o dos pinheiros, aquele cheiro doce de que tanto gosto, depois já mais intenso, o da caruma misturada com o alecrim, com o rosmaninho, com o da madressilva.

E sente-se ao de leve o cheiro a lenha queimada, e esse cheiro que vem não se sabe de onde, mistura-se com a leveza húmida e branca da névoa e eu poderia deixar-me ficar assim, abrigada, apenas aspirando este ar fresco e molhado, olhando as cores, debruçando-me sobre as pequenas flores, sobre as pedras que despontam por entre os musgos, as gotas de água que se formam sobre redes quase invisíveis.


Para mim este é um ambiente de beleza em estado puro. Aqui sinto-me livre de preocupações, como se, estando aqui, estivesse livre de tudo o que, na cidade, me pesa e cansa. 

Não sei definir beleza tal como não sei definir o que é arte ou felicidade. Mas sei que, passeando-me em silêncio neste mundo em que a natureza vive em liberdade, sinto um bem estar indefinível, como se estivesse imersa em arte, em beleza, como se vivesse um sonho.

Por esta altura, acontece um milagre -- mas nem faz sentido eu falar apenas num único pois, na realidade, tudo isto é um milagre. Mas vou falar num em particular: o do aparecimento súbito de inúmeros cogumelos. Fascina-me este fenómeno. Tantos. Por todo o lado, ou isolados ou em grupos. Cor de mel ou brancos. Carnudos, de aspecto macio.
Para quem tenha o coração fechado à magia, talvez estas minhas manifestações de deslumbramento pareçam exageradas. Mas a verdade é que passar por aqui e ver como, do nada, irrompem da terra estes surpreendentes corpos, me deixa encantada. Não lhes toco, apenas os admiro. E fotografo, claro. 






Este enorme, da última fotografa, parece uma taça, cheio de água. Mas são efémeros estes bichinhos lindos. Dá pena. Para a semana talvez já os veja reduzidos a quase nada, talvez já nem existam. Definham rapidamente, desaparecem. 

Enquanto aqui andei quase nada se ouvia. Não há a alegria ruidosa das cigarras no verão ou o canto, em coro, da passarada ao fim da tarde. Nem senti os coelhos a fugirem. Nada. Um silêncio total. Eu, em silêncio, sem sombras, sem pesos, leve e feliz dentro de uma nuvem.

Mais acima, a árvore das folhas que se põem da cor do fogo tinha os dois últimos frutos. Escaparam, nem sei como, à gula dos pássaros. Cor de carne, macios, pesados e húmidos, a rebentarem de doçura. Fotografei-os. Inocentes deixaram-se fotografar na sua beleza sumarenta. Depois tomei-os nas minhas mãos. E comi-os, a sua carne macia escorregando na minha boca. Doces, doces dióspiros.


Ontem, quando a tarde arrefeceu, recolhi a casa. Tão bom estar assim, a chuva a cair de mansinho, as cores do outono a entrarem pela porta de vidro. Pedi: acende a salamandra, por favor. Apetecia-me o calor crepitante das pinhas, o cheiro bom do azinho. 

E, passado uns minutos, já se ouvia o som do fogo subindo da lenha, o perfume bom que se solta do que, até há pouco tempo, eram ramos e pinhas das nossas árvores, já se sentia aquele quentinho aconchegante que me faz sentir ainda mais em casa. Um ninho in heaven.


Depois, quando olhei lá para fora, vi no vidro o reflexo do fogo. Parecia que as chamas nasciam do chão, na rua. Como se tudo se tivesse unido: o interior da casa - a cortina, o fogo dentro da salamandra - o muro e o banco de pedra, a grevílea e o musgo que começa a cobrir a terra em volta do tronco, os pés de pyracantha, as folhas caídas da azinheira, a grande rocha que tenho ao pé da porta e que nos serve de banco. A minha casa no paraíso, o lugar de todas as magias, de todos os sonhos, de todas as alegrias, de todos os os amores. 

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A música é de Rodrigo Leão: Alma mater

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Recordo que sobre a chusma de comentadores a metro e, em particular, sobre umas curiosas estrelas da Quinta dos Comentadores da TVI (que dão pelo nome de Sofia Vala Rocha e João Miguel Tavares) falo no post já aqui a seguir.

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