Estava num jantar informal em casa de uns amigos (gente antes fielmente PSD ou CDS e agora agoniadamente contrária os actuais dirigentes e, portanto, nas últimas eleições, abstencionistas) e a vermos ao fundo a televisão.
Às tantas, vimos na AR, a Teresa Leal Coelho toda mal entrouxada, toda debruçada sobre a bancada, mãos para a frente, numa falta de maneiras, parecia que ia sair por ali a fora, por cima das bancadas, a quatro, capaz de ir investir nem sei contra quem. Ao que o PSD chegou, ao que a Assembleia da República chegou.
Em abono da verdade seja dito que o único da coligação que saíu em defesa de coisa tão indefensável foi o Capachinho Bota. Até o inefável Amorim se esquivou.
Depois começou um debate na TVI 24, o Paulo Magalhães a tentar controlá-la, frente ao desconforto dos restantes parlamentares ai presentes, um de cada partido. Nessa altura, a curiosidade falou mais alto e o som da televisão foi elevado para se ver o que diria a dita senhora, vice-presidente da bancada parlamentar. Mas logo um coro de 'bocas' se levantou - que, claro, não vou poder reproduzir cabalmente no Um Jeito Manso. Dentro de casa as pessoas falam à vontade e, quando alguém se põe a jeito, arrisca-se a ser alvo de toda a espécie de analogias e vitupérios. Que não é coelho coisa nenhuma, é mas é uma ... (referindo um bicho que geralmente tem piores conotações), que calem-me essa gaja, esta gaja não tem vergonha na cara, esta gaja julga que pode gozar com a cara de toda a gente, tirem-me esta gaja da frente, etc, etc, e eu, deixem lá ouvir, sempre quero ver até onde é capaz de ir o descaramento desta gente. Mas qual quê: que esta gaja não se aguenta, e é uma matraca, e está a desdizer tudo o que disse na entrevista.
E zapping.
Entretanto acabámos o jantareco, adeusinho que por aqui nos desbaldamos, ciao, ciao e o que eu estimo é o que eu desejo, etc e tal.
Entretanto acabámos o jantareco, adeusinho que por aqui nos desbaldamos, ciao, ciao e o que eu estimo é o que eu desejo, etc e tal.
Cheguei agora a casa e tentei ver se a dita ainda cá estava, a dar cabo da cabeça do Paulo Magalhães e dos outros parlamentares. Fui impedida: 'Tás parva? Aquilo aguenta-se?
Ou seja, neste momento já não me está aqui a matraquear, já não a estou a ter o desprazer de confirmar que desta gente não se pode mesmo esperar um comportamento decente. Ao menos isso: decente. Já não peço muito mais. Decência. Please.
Um desGoverno sem competência, sem moral, apoiado por uns deputados sem vergonha na cara: é o que temos. E tenho pena de estar a dizer isto porque ser desgovernada por gente assim envergonha-me. A sério: envergonha-me.
Olá UJM,
ResponderEliminarA deputada Isabel Moreira fez ontem um ótimo discurso no Parlamento: http://youtu.be/OBSfGF1PGmY
Quanto ao Herberto Helder, não sou, nem de perto nem de longe, "expert" em poesia (se calhar por isso não acho piada nenhuma ao Cesário Verde, por exemplo), mas acho que tanto a UJM como o seu marido têm razão. Se um de nós escrevesse uma coisa daquelas, seria tido por maluquinho. Mas se a um poeta não fosse permitido dizer baboseiras, não haveria poesia, porque é preciso dizer muito disparate para sair alguma coisa que se possa considerar arte, carregada de alma, algo que tenha por motivação roçar o Belo, o Transcendente. E até gostei de ler os trechos que aqui transcreveu. Também o Camões escreveu alguns poemas frouxos e depois escreveu este, que é uma extraordinária lição de "filosofia da vida":
Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos;
E para mais me espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado,
Fui mau, mas fui castigado:
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado.
Este poema não se aplicará a mim, que sinto que saio demasiadas vezes impune dos erros que cometo, senão até beneficiada. Mas conheço pessoas a quem cairá que nem ginjas, pelo que acho que o mundo é mesmo assim: desconcertado, torto (por oposição a direito: reto, justo) e não se endireitará tão cedo.
JV