No outro dia, um amigo meu contou-me que tinha estado com um outro amigo que estava acompanhado pela mulher, ambos meus conhecidos. Dizia-me ele que tinha ficado surpreendido, que 'ela está velha, velha, velha'. Surpreendi-me: se há alguém neste país que tem todos os meios possíveis e imaginários para se manter bem cuidada é ela. Dado que há já algum tempo que a não vejo, admirei-me: 'eu até tenho ideia que ela já se esticou...'. Confirmou, 'sim, deve ter-se esticado, parece que já lhe faltam feições. Mas está toda ela muito velha'. Fiz contas de cabeça e pensei que a dita deve agora andar pelos 50. Não é inusual que a pele das mulheres, quando sobrevém a menopausa, perca a elasticidade. Mas entre cremes, massagens faciais, boa vida e refeições monitorizadas à lupa por nutricionaistas, não teria conseguido evitar a flacidez facial?
Estou curiosa. Sempre a vi com cara de boneca, toda lisinha, uma camada muito fina de base a disfarçar uma ou outra imperfeição, cabelo impecável, roupas de marca (e ponham marcas nisso) - não estou a imaginá-la com ar de velha. Além do mais, é casada com uma bela figura de homem a quem os anos têm trazido charme e patine e ficaria estranho ele todo executivo, sports man, e ela toda velhinha. Não acredito. Mas, enfim, a vida às vezes não poupa alguns rostos.
Lembro-me de, quando eu era pequena, uma das minhas avós já me parecer velha, com rugas na cara, cabelo já muito grisalho, dores nas mãos que, mais tarde degenerariam em artroses. Lembro-me de uma fotografia minha ao colo dela e ainda agora quando a vejo já me parece uma mulher quase velha. E, no entanto, ainda não tinha 50 anos.
Será que os meus pimentinhas também já me vêem como velha? Não faço ideia, tenho que lhes perguntar. Mas tenho ideia que um deles fez um desenho com a família e que a minha filha perguntou se eu fazia parte dos velhos e que ele, muito admirado, disse que não.
No outro dia cruzei-me com duas senhoras que caminhavam em passo acelerado. Diria eu que tinham idade para serem minhas mães. No entanto, uma olhou para mim como se me conhecesse mas eu não a conheci, nem abrandei o passo. Mas, mal começámos a afastar-nos, fez-se-me luz: eu conhecia aquela cara. Olhei para trás mas ela já seguia em passo apressado no sentido contrário ao meu. Mas não tive dúvidas. Gorda, gorda, cabelo grisalho, uma coisa extraordinária. Tinha sido minha colega na faculdade. Até fiquei mal disposta. Será que, quem me olha, também me vê envelhecida, irreconhecível? Acho que não mas vá lá a gente saber.
Mas já me aconteceu ver-me em fotografias e ter vontade de lhes dar uns (re)toques. Volta e meia, o meu filho apanha-me nuns grandes planos que não me favorecem especialmente. Já faz isso para me indispor, é malandreco. Mas photoshop? Para quê? Para enganar quem? Maquilho-me ao de leve e isto durante a semana. Ao fim de semana limito-me a passar uma sombra ao de leve na pálpebra superior, coisa ligeira, apenas para fazer algum contraste. Sou o que sou e boa noite.
Tive em tempos uma colega que pouco ria, que não se baixava e mais uns quantos cuidados, tudo para que a cara não lhe pendesse e para não ficar com rugas do riso. Sempre achei isso patético - mas ela não. Quando se reformou, parecia uma bonequinha que tivesse ficado presa na teia do tempo..
Mas, enfim, na permanente luta para conservar a juventude, há de tudo: os razoáveis, os fundamentalistas e os tarados.
Sharon Stone, a bela e sexy arrasadora de corações, que deita a seus pés legiões de homens babados, fez o mês passado 56 anos e temos dela a imagem da sensualidade perfeita.
Elegante, tentadora, difícil é aos homens não ficarem presos pelo beicinho quando a olham.
Elegante, tentadora, difícil é aos homens não ficarem presos pelo beicinho quando a olham.
No entanto, sem maquilhagem, embora bela, quem a reconheceria como uma mulher fatal?
Deixo-vos agora com um vídeo sugestivo: reparem na transformação operada através de maquilhagem e photoshop.
Face a tudo isto e para rematar, só tenho a dizer que, pela parte que me toca, vou manter-me fiel ao meu velho princípio: back to basis. Nem plásticas nem photoshop. Vá lá um risquito na pálpera superior, uma sombrazita discreta para valorizar a cor dos olhos e um pouco de ar saudável. E chega. Até há pouco tempo ainda pintava os lábios ou, pelo menos, passava um gloss em tom de fambroesa. Agora nem isso.
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“Como acordas é como és!”, ou, “ao acordar é como na verdade és!”.
ResponderEliminarUns dizeres, mais coisa menos coisa, que ouvia em tempos idos, na aldeia, que têm muito de verdade!
Gostei do seu último parágrafo.
P.Rufino