Abaixo falo de um novo vídeo maravilhoso do Cine Povero, um vídeo que é tão oportuno, tão belo, que vos peço que não deixem de o ver. Vão gostar, garanto.
Mas agora, aqui, falo de outra coisa. Falo-vos de seres muito belos.
*
Para mim as árvores são quase como pessoas.
Estas que vos mostro nasceram das minhas mãos. Plantei-as. Eram muito pequeninas quando as trouxe para a minha terra, um ou dois centímetros. Eram bebés que tratei com carinho e desvelo. No meio de mato, um terreno pedregoso, ali estavam as minhas pequenas árvores.
Tinha que as regar, levávamos garrafões de água, e eu ajeitava-as, tirava-lhes de perto as ervas que as poderiam enfraquecer, protegia-as do vento. Tantas vezes os meus filhos: 'ó mãe, mas quando é que elas vão ser grandes?' e eu parecia-me perceber neles o receio de que eu nunca chegasse a ver o fruto de tanto desvelo. E eu dizia que mesmo que eu não chegasse a sentar-me à sombra delas, se sentariam eles e os seus filhos. E essa esperança a mim sempre me bastou.
Estas que vos mostro nasceram das minhas mãos. Plantei-as. Eram muito pequeninas quando as trouxe para a minha terra, um ou dois centímetros. Eram bebés que tratei com carinho e desvelo. No meio de mato, um terreno pedregoso, ali estavam as minhas pequenas árvores.
Tinha que as regar, levávamos garrafões de água, e eu ajeitava-as, tirava-lhes de perto as ervas que as poderiam enfraquecer, protegia-as do vento. Tantas vezes os meus filhos: 'ó mãe, mas quando é que elas vão ser grandes?' e eu parecia-me perceber neles o receio de que eu nunca chegasse a ver o fruto de tanto desvelo. E eu dizia que mesmo que eu não chegasse a sentar-me à sombra delas, se sentariam eles e os seus filhos. E essa esperança a mim sempre me bastou.
Muitas morreram cedo, as temperaturas muito elevadas do verão ou os frios inclementes muitas vezes as queimavam. Eu punha-lhes ramos à volta, tentava protegê-las do sol ou do vento frio mas para algumas não foi suficiente.
Por cada uma que morria, uma outra eu plantava.
Por cada uma que morria, uma outra eu plantava.
Mas algumas vingaram, tornaram-se espigadotas e o vento quase as vergava. Resistiram, depois fizeram-se adultas.
O ano passado houve algumas que não resistiram a uma noite de ventania. Custou-me tanto. Parecia que tinham morrido pessoas que me fossem muito queridas, nem conseguia vê-las caídas por terra.
Mas a vida continua.
O ano passado houve algumas que não resistiram a uma noite de ventania. Custou-me tanto. Parecia que tinham morrido pessoas que me fossem muito queridas, nem conseguia vê-las caídas por terra.
Mas a vida continua.
As que lá estão são lindas. Fotografo-as incansavelmente. No inverno ficam nuas, descarnam. E eu emociono-me com tanta beleza. As cores, as camadas de pele, as rugas, a vida impressa naquela casca cuja cor varia, se vai tornando mais rica, mais impregnada de história.
Ao longo do ano eu ando em volta das minhas árvores, cheiro a rama quando há, cheiro a resina, passo as mãos pela pele que envolve os troncos.
Não as vejo como pessoas mas como uns seres especiais com quem consigo relacionar-me com uma grande intimidade.
Por vezes caem ramos ou há raízes que se descobrem sob o musgo macio que cobre a terra. Tomo-os nas minhas mãos e depois fotografo-os como peças belas, uma beleza sem artifícios.
É uma madeira muito macia, parecem animais vindos de outros tempos, peixes talvez, peixes de longas caudas, mas não são animais nem precisam de o ser para eu gostar destes pedaços vindos não sei bem de onde.
As pedras, a madeira das raízes ou dos troncos, o musgo, a terra, os cheiros, os pássaros que cantam, tudo me envolve de beleza.
Escrevo isto e sei que pode soar ridículo. Eu, que vivo a maior parte do tempo na cidade, que trabalho numa das zonas mais business area da capital, que vivo rodeada de executivos (e que eu própria sou uma), tenho depois este lado completamente bucólico, completamente fora deste mundo. Se me vissem, perdida no meio das pedras, a olhar para as árvores como se as quisesse guardar inteiras dentro de mim.
E depois há isto: as estações neste país não são obedientes (ainda têm vontade própria, ainda não se submeteram às convenções).
Dizem os calendários que vamos na primeira metade do inverno e, no entanto, a Primavera já aí está à porta.
Os ramos das figueiras começam a enfeitar-se com umas pequenas nails pintadas de amarelo claro, a tender para o verde. Mulheres coquettes estas figueiras. Cheirosas, perigosas. O que eu gosto das minhas figueiras.
Espreito estas pequenas manifestações de vida. É como quando uma filha nossa está grávida e a gente vai sondando o volume da barriga, tentando perceber o que aumentou, qual a forma que está a tomar. Assim eu em volta das árvores, atenta ao rebentar dos pequenos rebentos de folhas, vendo a floração (quando há floração), antevendo os pequenos frutos.
Não sei se foram os deuses que inventaram tudo isto ou se isto são os próprios deuses. Não sei mesmo. Mas curvo-me perante tanta beleza, tanta generosidade. São belas as árvores apenas sendo árvores. Oferecem-se sem nada pedir em troca.
Os pássaros, as árvores, as pedras, os perfumes do ar, a macieza do musgo, o sumo doce das laranjas. Não sei de receitas rápidas para a felicidade mas sei que a mim isto me faz muito feliz. Contemplar e existência de seres perfeitos e que, na hierarquia de valores, estão bem acima de mim, é coisa que me enche de felicidade. E podem chamar-me doida à vontade. Sei que sou. (Mas não tenham medo, sou uma doida pacífica).
***
A música lá em cima é de Max Richter, The Trees, do álbum The Blue Notebooks.
As árvores e as raízes foram fotografadas este fim de semana in heaven, o paraíso de onde só falta nascer mel.
***
Relembro e peço-vos: desçam por favor até ao post seguinte pois de lá dá para saltar para o filme novo do Cine Povero.
***
E, por agora, nada mais. Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela terça feira.
ResponderEliminar:)
Não soa nada ridículo. E que sã e bela loucura! Emocionante como as lê tão bem, uma com um tronco com olhos e boca, as raízes(?) que me parecem peixes e a outra com nails pintadas de amarelo... :)) Belo!
Tenha uma boa noite, cara UJM.
Bj
Olinda
esta dica não é para o hollande - http://ebem.podbean.com/2012/07/17/ring-removal-trick/
ResponderEliminare que tal fazer uma aí no seu quintal - http://www.nwvideotours.com/seiffert18055/
ResponderEliminarQuando eu era pequena adorava estar sozinha contemplando as árvores, as formigas, enfim a Natureza, e sabe, eu aprendi tanto...das coisas que não compreendo nesta vida é a ausência de contemplação, faz-me confusão, enquanto organismo vivo, não darmos atenção a outros que estão tão vivos como nós.
ResponderEliminarjá não se usa , vi um porco a andar de bicicleta - https://www.youtube.com/watch?v=YRbakPKgU5Y
ResponderEliminarpor falar em árvores - https://www.youtube.com/watch?v=d260CmZoxj8
ResponderEliminardepois deste vídeo, só vendo (ao vivo) a nova namorada do hollande -http://www.boggieofficial.com/category/video/
ResponderEliminarnota - a mais velha é melhor (muito melhor), mas gostos não se discutem
para servir o gelado nas reuniões de família - https://www.youtube.com/watch?v=k71g_GojFQ0#t=75
ResponderEliminarGostei de ler. Gosto do campo e de toda a sua envolvência. Em pequeno, eu e meus irmãos, sempre que íamos passar férias quer à Beira-Alta, quer ao Douro, uma das nossas traquinices era subir ás arvores, comer-lhes os frutos, correr pelas matas, ir à caça com um dos avós, etc. E, ali, eles ensinavam-nos a apreciar aqueles momentos, o campo, o seu bucolismo, a passarada, os nomes das arvores, as suas vidas, a sentir carinho pelo campo, etc. Ao fim das tardes de Inverno, uma das coisas que recordo é o fumo a sair das chaminés das casas, a passarada a chilrear, no Verão, regressando á copa das arvores e arbustos que tínhamos (e ainda temos) no quintal grande, etc.
ResponderEliminar“As arvores são amigas silenciosas, com quem podemos dialogar, em segredo”, lá nos dizia uma das avós, naquelas alturas, quando lá íamos visitá-los.
Nesta altura do ano, podendo ir até ao Norte, os campos estão húmidos, algumas arvores despidas, mas tudo num tom verde, onde o silêncio impera, só, por vezes, interrompido pelo balir de uma ovelha. Montesinho, nesta altura é assim. O mesmo no sopé da Estrela. Embora com alguma chuva à mistura, mesmo assim, bem agasalhado, dá-se uns belos e silenciosos passeios. E depois, no regresso, saber que temos uma casa aquecida e com uma boa lareira à nossa espera, reconforta-nos.
Quem gosta de árvores e com elas se preocupa só pode ser gente boa! Com um grande coração. Já o meu avô materno nos dizia isto.
P.Rufino
Continuo a lê-la (sempre que posso) com o interesse de sempre.
ResponderEliminarDar vida à terra é outra maneira de escrever.
Abraço
Olá UJM!
ResponderEliminarComo eu a compreendo. Também eu gosto muito de árvores. Sobretudo quando em silêncio sós, sentinelas atentas dominam as planícies, escutam o vento , aguardam a Primavera e se refrescam à chuva do Outono. No topo da Rua Artilharia Um, em Lisboa, num pequeno jardim da EPAL mora a minha Árvore favorita. Agora nua aguarda,sem pressa, o seu manto de folhas para o esplendor da Primavera e para a sombra fresca do Verão!
O seu texto , como sempre , uma maravilha!
Obrigado
Um abraço
Olá Olinda,
ResponderEliminarPerguntei ao meu marido o que tinha achado (pergunto todos os dias, ele é exigente e bastante crítico). Encolheu os ombros, fez um gesto para o ar e disse 'mais uma daquelas tuas maluquices...'. Não estranho nem levo a mal. Insisti: 'mas gostaste ou não?'. Respondeu que tinha gostado (e mais não disse) mas já fiquei mais descansada.
Gosto de escrever coisas assim. Vou para a cama completamente zen. Caio na cama e durmo como uma pedra. A natureza tranquiliza-me imenso, encanta-me. E escrever sobre ela também.
Tenho-a visto na sua senda de divulgar tesouros da língua portuguesa tão injustamente esquecidos ou mal divulgados. Serviço público.
Obrigada.
Beijinhos, Olinda!
Olá Anónimo dos links,
ResponderEliminarComo é que descobre tanta coisa? Faz pesquisas dirigidas ou vai circulando e vendo o que aparece?
Destaco a visita à volta da propriedade. Os miúdos adorariam um pequeno comboio para se passearem. O meu marido tem uma ideia bem mais prosaica: um burro. Diz que comeria a erva, seria um animal meigo para os miúdos, poderiam passear com ele, ou em cima dele. Claro que não quero. às tantas dava-me cabo das arvorezitas que estão pequeninas.
Gostei imenso do filme das árvores.
Obrigada pelo que aqui vai divulgando.
Olá Alice rodeada de Alfazema,
ResponderEliminarTambém eu. Desde pequena que me encanto. Ainda sou capaz de ficar que tempos a olhar o afã das formigas, passando as coisas de umas para outras. Ou se vejo uma lagartixa fico imóvel para não a assustar porque gosto imenso de ver o que faz. E havia de ver as fotografias que faço. Acompanho as flores ou as folhas a rebentar e depois também quando secam.
Quando comprava mais árvores ia aos viveiros no Ministério da Agricultura ou da Câmara de Lisboa (vendiam o que tinham a mais e a preços melhores que nos viveiros privados) e adorava andar com as jardineiras no meio dos rebentos, a conversar com elas, feliz. E elas ficavam também contentes por verem a admiração que eu tinha pelo seu trabalho.
Estou como a Alice: como é possível que algumas pessoas pareçam ignorar a vida das plantas, dos animais (uma vida tão vida como a que nos é dado, a nós, viver)?
Um abraço, Alice.
Olá Alice rodeada de Alfazema,
ResponderEliminarTambém eu. Desde pequena que me encanto. Ainda sou capaz de ficar que tempos a olhar o afã das formigas, passando as coisas de umas para outras. Ou se vejo uma lagartixa fico imóvel para não a assustar porque gosto imenso de ver o que faz. E havia de ver as fotografias que faço. Acompanho as flores ou as folhas a rebentar e depois também quando secam.
Quando comprava mais árvores ia aos viveiros no Ministério da Agricultura ou da Câmara de Lisboa (vendiam o que tinham a mais e a preços melhores que nos viveiros privados) e adorava andar com as jardineiras no meio dos rebentos, a conversar com elas, feliz. E elas ficavam também contentes por verem a admiração que eu tinha pelo seu trabalho.
Estou como a Alice: como é possível que algumas pessoas pareçam ignorar a vida das plantas, dos animais (uma vida tão vida como a que nos é dado, a nós, viver)?
Um abraço, Alice.
Árvores são seres vivos com sensibilidade além do que imaginamos. Muito além.
ResponderEliminarOlá P. Rufino,
ResponderEliminarQue agradável ler o que escreveu. Levou-me à minha infância, eu a correr pelos campos, a apanhar flores, o meu primo e um amigo nosso a fazer tremendas maldades que eu, na altura, achava normais (tinham fisgas e era ver quem acertava nos pássaros), andar pelo campo a ver se descobria os ovos que as patas da minha avó tinham posto. Depois a minha avó às vezes fazia-nos gemadas, misturando os ovos com açúcar.
Já nessa altura eu precisava de andar em contacto com a natureza. Preciso do ar livre, da largueza dos espaços ao ar livre. E depois, também, regressar a uma casa acolhedora e, se estiver frio, sentar-me a ver o fogo na lareira ou na salamandra.
Nessas alturas toda eu me desligo das poluições passistas, cavaquistas, portistas, etc. Esqueço-me mesmo.
Gostei de ler o que escreveu. Já o disse mas digo-o outra vez.
Obrigada, P. Rufino!
jrd,
ResponderEliminarEncantada com o que disse. Nunca tinha pensado nisso e agrada-me tanto. Será que quando estou a traçar caminhos, a plantar árvores, a podar arbustos, estou a escrever? A inscrever-me na terra? Agrada-me a ideia.
Acho que a partir de agora vou pensar que aquele pedacinho de terra foi, em parte, escrito por mim.
Muito obrigada, nem sabe como isso me soou bem.
Um abraço.
Olá Joaquim,
ResponderEliminarNão estou a ver onde seja esse jardim da Epal. Ali ao pé da churrasqueira? Tenho que ver se a descubro. Adoro árvores. A do Príncipe Real também é esplendorosa.
Fui uma vez passar um mês de férias a Angola há já bastante tempo e, das memórias mais fortes que guardo, é a das grandes árvores isoladas na paisagem, grandes esculturas recortadas num céu imenso.
Sei que gosta muito de árvores pois vejo as maravilhosas árvores que fotografa e coloca no seu blogue. Tenho lá visto fotografias lindas. São poesias, Poeta.
Um abraço!
Margarida, olá!
ResponderEliminarDiz que as árvores têm sensibilidade e eu concordo consigo. Tal como os animais a têm. Tantas vezes têm mais sensibilidade e bondade patudinhas como as suas ou como era a minha doce boxer do que pessoas amargas que ferem os outros.
Uma tia minha diz que as minhas árvores vingam e crescem tanto, apesar do terreno ser tão pedregoso, porque se sentem estimadas. Eu não sei se é mas é verdade que aquilo era um matagal rasteiro e agora está quase como eu o imaginava, a tender para um bosquezinho. Acho que as árvores percebem que eu preciso que elas me acolham e juntam-se umas às outras, crescem, e eu sinto-as como minhas amigas.
(O meu marido não tem por costume ler os comentários senão lia e dizia 'lá está ela com as maluquices do costume'.)
Beijinhos, Margarida!
"O meu marido tem uma ideia bem mais prosaica: um burro", é o que mais temos, por isso é uma boa ideia, e aproveita a espécie autóctone deste momento (predominante)
ResponderEliminarSó não sei é que nome dou aos outros que vêm os burros fazer o que querem