segunda-feira, janeiro 27, 2014

A Casa dos Segredos (ou O Desafio Final) na TVI: a abjecção não tem limites? Vale tudo em televisão? E, por coincidência, uma vez mais a palavra aos Leitores: "BORDEL CHEZ MADAME TÉTÉ"


Há pouco, para ver se o Professor Marcelo ainda estava na opinação com a Judite, parámos na TVI. E, sem querer, assistimos a uma cena que mais parecia uma cena de praxes. Era a Casa dos Segredos que agora, salvo erro, se chama Desafio Final. 


A TVI abusa daqueles pobres coitados que tudo fazem para aparecer ou para ganhar algum dinheiro. Que as pessoas se esforcem para assegurar a sua subsistência é mais do que compreensível. Mas, do que parece, mais do que por uma questão de subsistência, aqueles jovens estão ali para serem conhecidos para depois fazerem presenças. E, do que me parece, fazer presenças é o seu modo de vida.

É mais uma daquelas manifestações de uma realidade paralela. Mas que a TVI, para ter audiências, vá até ao ponto em que a dignidade das pessoas saia beliscada, já me parece demais.

O que se estava a passar ali era o seguinte: para que uma de duas miúdas, Érica ou Jessica, se bem fixei os nomes, pudesse estar na Final, teria que enfiar o braço para tirar peças de um puzzle de um frasco cheio de pequenos ratos. As miúdas enojadas, cheias de medo, sujeitaram-se a isso.


E, como se isso não bastasse, a seguir ofereciam 5.000 euros a quem tirasse uma certa chave de frascos com larvas nojentas. E sempre a Teresa Guilherme a incentivar, a gritar, a fazer trocadilhos maliciosos, uma coisa quase aberrante dado o que se estava ali a passar. 


Nesse ponto, fugi a sete pés daquele canal.

É mau demais. 

Como é que há jovens que se prestam a isto? E, tão estranho como isso, na assistência está (o que se percebe ser) a família a aplaudir. Em vez de se indignarem com os sacrifícios a que os jovens estão a ser submetidos, as famílias rejubilam.

Como é que a televisão chegou a este ponto? E em prime time num fim de semana?

É o que as pessoas querem ver, dirão os cínicos. Pois. Podia aqui recordar coisas que as pessoas, em tempos que já lá vão, também gostavam de ver. No entanto, gosto de pensar que isso foram coisas que ficaram lá para trás, nas dobras sombrias da história.

Tudo isto é estranho e inquietante. Que mundo é este?

Li um texto escrito por Rui Bebiano no seu interessante blogue, A Terceira Noite, que me deixou a pensar. Nem tudo resulta de um mau governo, claro que não. Mas de um mau governo, nascem más escolhas que depois fazem outras más escolhas, gente que faz más leis, que desregula o que deveria regular ou regula ao contrário do que devia.

Transcrevo a parte inicial desse texto:


Ainda sobre as medidas governamentais em curso objetivamente destinadas a desmembrar o mais depressa possível a investigação científica e a fazer com que Portugal regrida trinta ou quarenta anos neste domínio. Independentemente das dificuldades de tesouraria que todos sabemos existirem – e que servem para justificar formalmente os cortes arbitrários –, parece evidente que tais medidas de imposição da barbárie só podem ter como responsáveis, em última instância, pessoas que nem uma licenciatura fizeram com um mínimo de qualidade, e para as quais, por isso, é totalmente inimaginável aquilo que se faz ou deixa de fazer nos centros de investigação e nos domínios mais avançados da produção de conhecimento. É o cenário distópico, até há pouco inimaginável para qualquer professor, de um país governado pelos que foram os seus piores alunos.

*

Mudando agora de registo, até porque o humor por vezes é mais eficaz do que muitos sermões. Recebi da Leitora Lídia mais algumas das suas divertidas montagens e textos.

Transcrevo um dos textos, uma anedota. Diz a Leitora que se lembrou desta anedota vendo uma revista cor de rosa no escaparate:


Em Paris há um bordel chiquérrimo dirigido por Madame Tété. As demoiselles estão todas prontas esperando os clientes. Tocam à campainha e Madame Tété ordena a Mademoiselle Bébé: Vá ver quem toca. 

Era um gentleman de chapéu de coco e uma mala samsonite na mão, que lhe diz: Diga à sua patroa que eu sou um tarado sexual e quero  uma mulher obediente e pago tudo  o que ela quiser. 

Entrou discutiu o preço com Madame Tété que ordenou a Mademoiselle Mimi:  Acompanhe o cavalheiro ao quarto e faça tudo o que ele exigir.

Ela subiu as escadas e, chegada ao quarto, começou a despir-se. Ele indignado disse: Nada disso, vá à casa de banho, encha um copo de água e suba para cima do guarda fatos. Ele despiu a roupa toda, abriu a samsonite e começou a vestir um fato de mergulhador, pôs as barbatanas e o respirador.

Disse: Mademoille, com os dedos comece a atirar a água para cima de mim. E começou a gritar: Ai Mãezinha estou a gozar tanto, com tanta chuva. 

Passado um bom bocado gritou: Agora bata com os sapatos no guarda-fato. E ele gritava: Ai Mãezinha estou a gozar tanto, tanta chuva, tantos trovões. 

Passado outro bocado disse: Agora com o outro pé apague e acenda a luz. Aí gritou: Ai Mãezinha que tempestade monstruosa, tanta chuva, tantos trovões, tantos relâmpagos.

Passado um tempo, Mimi já não aguentava mais e disse. Oh Cavalheiro e quando vamos f.......?

E ele, indignado, respondeu: É maluca ou faz-se? Com um tempo destes? 

*

E esta foi uma das montagens que a Leitora Lídia me enviou.

"Em noite quente na casa", "Doriana e Érica"

Nem de propósito
hoje aterraram aqui alguns visitantes

que vinham em busca de 'Érica nua',

não sei se era desta ou se há outras Éricas que andem nuas por aí.


*

4 comentários:

  1. Quanto à casa dos segredos, diria que é o país que vamos sendo. Que temos vindo a construir. Um dia destes faço o que fez quando viu as tais larvas, fugo daqui a sete pés, para longe, Nova-Zelândia, etc, bem longe! Neste país, começa tudo a ser possível, até a Guilherme ser PM, ou Ministra das Actividades de Diversão do Passos. E o Goucha outro Ministro de uma pasta qualquer do Passos. E por aí fora! Este país começa a ser preocupante. Ainda nos impõem praxes, vão ver! Bom, já as temos, embora de outra forma. Através dos bolsos.
    P.Rufino

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  2. Olá puma,

    É boa essa! Tem razão: esses selvagens não têm feito outra coisa senão praxar-nos. A indignidade anda à solta.

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  3. Olá P. Rufino,

    Esta televisão ao fim de semana nos canais generalistas é uma miséria. Quando estou no campo, in heaven, não temos cabo e, por isso, quando ligamos a televisão é de fugir. Uma falta de qualidade e uma aberração pegadas.

    Perdeu-se a noção dos mínimos. Já vale tudo.

    Não admira que depois as pessoas votem como votam. A lavagem ao cérebro é total.

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