Toda a nossa vida é uma sucessão aleatória de acasos.
A cada momento poderíamos optar por uma miríade de opções mas seleccionamos apenas uma delas.
Mesmo que não optemos e deixemos que a vida aconteça por si, isso, em si, já é uma opção.
Durante esse nosso percurso, cruzamo-nos com outras pessoas que identicamente elegeram um conjunto de opções e, no cruzamento de todas elas - que, vistas em perspectiva, são uma vasta manta de aleatoriedades - acontecem desencontros fatais, encontros extraordinários, ou nada.
A cada momento poderíamos optar por uma miríade de opções mas seleccionamos apenas uma delas.
Mesmo que não optemos e deixemos que a vida aconteça por si, isso, em si, já é uma opção.
Durante esse nosso percurso, cruzamo-nos com outras pessoas que identicamente elegeram um conjunto de opções e, no cruzamento de todas elas - que, vistas em perspectiva, são uma vasta manta de aleatoriedades - acontecem desencontros fatais, encontros extraordinários, ou nada.
Quando eu era uma fogosa adolescente e namorava um ainda mais fogoso jovem rebelde, soltavam-se faíscas de toda a espécie a todo momento. Por vezes, acontecia mergulharmos num mar de paixão e doce harmonia mas, outras, desencadeava-se um estrilho hecatombico.
Mas estes últimos eram sempre sol de pouca dura. Geralmente, quando os nossos olhares se voltavam a cruzar, desaparecia instantaneamente o problema e, acto contínuo, a guerra que parecia insuperável tinha desaparecido sem deixar rasto.
Excepto quando um dia nos zangámos no último dia de aulas.
Separando-nos sem combinarmos nada para o dia seguinte - e orgulhosos como ambos éramos - nenhum quis dar o braço a torcer. E, longe um do outro, aquela cena do olhar que pacificava qualquer desmando deixou de poder acontecer.
Sofri horrores e ele também. Amigos comuns relatavam o sofrimento lancinante um do outro mas nenhum amigo nos demoveu de nos mantermos casmurramente na nossa. Ele achava que eu tinha 'dado bola' a outro que estava apaixonado por mim e o demonstrava publicamente e eu achava que não era por o outro se declarar apaixonado por mim que eu me ia afastar dele (tanto mais que esse tal me fazia belas canções e tinha uma bela voz e eu gostava de o ouvir. O facto de as canções serem sobre mim e me serem dedicadas era coisa que não me incomodava e se o incomodava a ele, era problema dele, não meu).
Mas o pior foi um acaso que decidiu todo o desfecho do grande romance de amor que nos unia. Sou míope e vaidosa. Ou seja, nunca usei óculos (excepto por um breve período em que usei lentes de contacto ou quando conduzo ou vou ao cinema). Tirando isso, tiro umas pelas outras. Se conheço uma pessoa e estou à espera de a ver num dado sítio, pelos contornos consigo reconhecê-la. Mas se não vou atenta a isso, não vejo. Acontece que, por ser míope e saber que não vejo com nitidez, desabituei-me de prestar atenção a pormenores, nomeadamente a prestar atenção ao que os outros vestem ou deixam de vestir ou, sequer, a olhar para eles com olhos de ver.
Com a idade, estou a ver cada vez melhor. A miopia tem a ver com a forma do globo ocular e que é o oposto do que acontece quando se tem a vista cansada. Ou seja, a idade vai achatando o globo ocular e, portanto, a miopia vai sendo reduzida (acho que é isto, que não estou baralhada). Ou seja, agora até quase que já nem preciso de usar óculos.
Mas, na altura, via pior do que vejo hoje e, portanto, o que aconteceu é que num desses dias de férias em que estávamos zangados, nos cruzámos numa rua. Ele contou aos amigos que eu o vi e que não liguei patavina, que segui como se ele fosse um nada. Ora eu não o vi. Posso ter olhado mas não o vi. O facto de não lhe ter ligado patavina foi para ele uma ofensa e uma declaração de indiferença. Ou seja, mais razão isso lhe deu para não se reaproximar. Eu, como ele não se reaproximou, fiquei furiosa e, temperamental como sou, já que era assim, então, se tinha a fama, ia ter também o proveito e, vai daí, comecei a namorar o outro. Tinha na minha que o meu amor rebelde ia ficar despedaçado, pedir-me para largar o outro e voltar para ele. Mas ele não fez o que eu esperava: vendo-me a namorar o outro, achou mesmo que eu já não gostava dele. Parvo.
Resumo da história: eu prossegui com um namoro que não tinha futuro e aquele que eu amava, um aluno excelentíssimo, para não me ver de namoro com outro, deixou de ir às aulas, perdeu o ano por faltas, meteu-se em sarilhos, uma chatice.
Enfim, não vou aqui enumerar tudo o que nos aconteceu a seguir mas volto atrás para dizer que tudo aconteceu porque me cruzei com ele e não o vi. Se o tivesse visto e tivesse esboçado um gesto que fosse, a coisa tinha-se resolvido logo ali como antes tudo de resolvia com um simples olhar.
Uns dois anos depois, namorava eu o tal poeta cantor, numa sala cheia com centenas ou milhares de pessoas, eu sentada no parapeito de uma janela, cruza-se o meu olhar com o de um cristo atlético que eu nunca antes tinha visto e novamente, devido ao acaso desse outro cruzar de olhares, a minha vida deu nova reviravolta.
Mas vem isto a propósito de quê?
Música, por favor
Pois é: vem a propósito da nega que La Féria deu a Passos Coelho quando, em 2002, este queria apenas ser artista de vaudeville e entrar num musical do Politeama. Explica Filipe La Féria numa engraçada crónica no DN que andava à procura de um tenor para o My Fair Lady e que lhe apareceu um sujeitinho, Passos Coelho, com voz de barítono.
Entre muitos concorrentes à audição, apareceu Pedro Passos Coelho de jeans, voz colocada, educadíssimo e bem-falante.
Era aluno de Cristina de Castro, uma excelente cantora dos tempos de glória do São Carlos que tinha sido escolhida por Maria Callas para contracenar com a diva na Traviata quando da sua passagem histórica por Lisboa.
As recomendações portanto não podiam ser melhores e a prova foi convincente. Porém, Passos Coelho era barítono e a partitura exigia um tenor.
Se não fosse a sua tessitura de voz de barítono, hoje estaria no palco do Politeama na Grande Revista à Portuguesa a dar à perna com o João Baião, a Marina Mota, a Maria Vieira, e talvez fosse muitíssimo mais feliz.
(...)
Era aluno de Cristina de Castro, uma excelente cantora dos tempos de glória do São Carlos que tinha sido escolhida por Maria Callas para contracenar com a diva na Traviata quando da sua passagem histórica por Lisboa.
As recomendações portanto não podiam ser melhores e a prova foi convincente. Porém, Passos Coelho era barítono e a partitura exigia um tenor.
Foi por essa pequena idiossincrasia vocal que Passos Coelho não foi aceite, o que veio a ditar o futuro do jovem aspirante a cantor que, em breve, ascenderia a actor protagonista do perverso musical da política.
Se não fosse a sua tessitura de voz de barítono, hoje estaria no palco do Politeama na Grande Revista à Portuguesa a dar à perna com o João Baião, a Marina Mota, a Maria Vieira, e talvez fosse muitíssimo mais feliz.
(...)
Acrescento: ele e todos nós.
Fosse o tom de voz do ex-doce o de tenor e do que nós nos tínhamos livrado... Ou se o La Feria não fosse tão picuinhas, sei lá.
A esta hora, como diz La Feria com montes de piada, podia ele andar a bater perna nos palcos do Politeama, na galdeirice com o Baião e com a Marina Mota e, em vez disso, andamos nós a 'comer com ele', com este verdadeiro atraso de vida.
Fosse o tom de voz do ex-doce o de tenor e do que nós nos tínhamos livrado... Ou se o La Feria não fosse tão picuinhas, sei lá.
E isto, repare-se, passou-se em 2002. Pouco tempo depois, este artista, rejeitado pelo La Feria e por segunda escolha, optou por deixar-se usar pelo Relvas e bloggers amigos para correr com a Manuela Ferreira Leite e a seguir inventar um conjunto de aldrabices que serviram para dar cabo da reputação de Sócrates.
Deu nisto: sem competência para pisar o palco do Politeama, como se esperaria que soubesse gerir um país? Desde meados de 2011 que a criatura anda a espatifar o país.
2013 a chegar ao fim e ainda anda por aí. O Cavaco nem a competência do La Feria teve, que esse correu com ele.
A esta hora, como diz La Feria com montes de piada, podia ele andar a bater perna nos palcos do Politeama, na galdeirice com o Baião e com a Marina Mota e, em vez disso, andamos nós a 'comer com ele', com este verdadeiro atraso de vida.
Pouca sorte a nossa.
***
[Acabo de ler o comentário do Leitor jrd dois posts abaixo em que ele revela ser mais optimista que eu pois preconiza que o ex-doce ainda vai acabar num qualquer Cabaret da Coxa ou num Reality Show. Tomara que acerte, jrd. Até que eu gostaria de o ver com a Bibi ou a Joaninha em cima, quiçá com as mamocas da Érica nas mãos quando a esta lhe dá para fazer striptease]
Mas que fosse no Politeama.
Ora vejam, imaginem: está certo que ia estragar a festa, mas não seria preferível lá do que onde está agora?
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As fotografias foram obtidas na internet. Algumas publicitam os espectáculos, de outras não consegui descobrir a sua proveniência original
E, por agora, por aqui me fico.
Durante o dia ou, pelo menos, antes da meia noite, virei aqui para vos desejar um bom 2014.
Até lá, até à meia noite, vamos mas é curtir.
Se 2013 foi uma porcaria, que, ao menos, o último dia seja uma festa.
Be happy!
Venho desejar-lhe um FELIZ ANO NOVO!
ResponderEliminarUm beijinho!
Querida Jeitinho
ResponderEliminarDesconhecia que o La Féria tinha contado essa história. Curiosamente já a conhecia.
Quando o meu actor estreou no Tivoli com o Miguel Dias o musical OS PRODUTORES, Pedro estava na estreia com sua esposa. Já se falava na sua ascensão dentro do partido. Estávamos para aí em 2008. Numa entrevista na própria festa contou exactamente isso: a tentativa de actuar num musical e nos testes que fez com o la Féria.
Algumas vezes quando o oiço, (raramente confesso) detecto nele um ar declamativo, algo teatral, que em si mesmo nada teria de mal, não fosse a plateia sermos nós, fechados à chave num teatro. sem saídas de emergência...
Talvez um dia ele cumpra o seu verdadeiro sonho, depois de ter mandado às urtigas os sonhos de tantos outros.
Então sim, será mesmo tarde demais.
Tarde demais não é para lhe mandar um enorme abraço de novo ano e a todos os que por aqui passam.
Felicidades para 2014. Um dia vamos voltar a acreditar!!!
Um Feliz 2014!
ResponderEliminarBeijinho
Já agora acrescento que no Cabaret da Coxa ou num qualquer Realty Show, haverá sempre a esperança de que o pano lhe caia em cima.
ResponderEliminarVotos de um Bom Ano Novo para si e para todos os seus.
Um abraço
Cara Um Jeito Manso:
ResponderEliminarDizem que não se estreitam laços por se pensar o mesmo sobre os mais variados assuntos, como é o caso, porque a afinidade é uma coisa anterior e superior à consonância de opiniões. Poderá, no entanto, desenvolver – se uma simpatia, uma benquerença, ainda que virtual, por alguém que assim compartilha momentos do seu dia, direi melhor, do seu descanso.
Desejo-lhe um NOVO ANO pródigo em alegrias, com saúde e muito amor.
E que os dias felizes sejam mais longos.
Abraço amigo da Leanor
Cara UJM,
ResponderEliminarnão é por mero acaso que aqui deixo novo comentário, pois tenho vagueado e divagado pelos seus escritos, mas silenciosamente me tenho portado, qual sombra ou indelével afago, percorrendo a graciosidade e objectividade dos seus textos.
Realmente o “fatum” e o “acaso”, numa simbiose intemporal, não foram felizes para o povo português, porque Filipe La Féria, deu um verdadeiro sopapo no calhordas do ex-doce PC, obrigando-o, baratinado, a seguir outro trajecto que nos feriu a todos de morte. Antes ficasse estragada a peça teatral, pois o país talvez ficasse livre desta pestilência abaritonada que até conseguiu alterar a canção de Lisboa para “cheira mal cheira a Lisboa”.
Com dirigentes destes, realmente, tudo vai desaguar numa cloaca, tudo cheira a merda. Faz-me lembrar a anedota da sanita e das urnas eleitorais. O que se faz na sanita, com a descarga desaparece de vez, mas a descarga nas urnas eleitorais obrigam-nos a ver durante quatro anos a borrada que se fez. Melhor fora que não lhe tivessem dado a descarga no Politeama, hoje tudo estaria provavelmente mais airoso e perfumado.
Sabendo que o próximo ano irá ser, em muitos aspectos, bem pior (basta analisar indicadores sócio-económicos), não deixarei de lhe desejar um Feliz Ano 2014 e estender esse desejo a todos aqueles que a seguem e se deliciam com os seus belos e acutilantes textos.
Isabel e lino,
ResponderEliminarJá vos respondi num outro post.
Abraços!
Erinha,
ResponderEliminarPois, é artista mais para o D. Maria do que para fazer grupo com o seu impagável Manel. Acho que lhes estragaria a festa, até eles ficariam sem graça se tivessem que o aturar.
Mas, enfim, pode ser que vá cantar a bordo de algum paquete, longe de nós, a chatear turistas americanas, daquelas que andam de shorts.
No meio disto, haja alegria, não é?
Um feliz, feliz, feliz 2014 para si, para os seus talentoso filhos, para as suas patanisquitas, para o seu marido, para restante família. Para todos.
Beijinhos!
jrd,
ResponderEliminarLembrei-me agora de o mandar cantar num paquete, num navio do amor, uma coisa assim. É capaz de ser melhor do que no cabaret da coxa, não? assim andaria bem longe de nós, não é?
:)
Um abraço.
Olá Leanor,
ResponderEliminarQue alegria tive por vê-la aqui. Que bom. Fico sempre contente quando tenho notícias: está bem e isso é o que importa.
Espero que com os seus também esteja tudo bem.
Muito obrigada pelas suas palavras nas quais sinto a mesma empatia que sinto também quando leio as suas palavras.
Desejo que 2014 seja um ano muito, muito bom para si e para todos os seus. Espero que já tenha o seu filho perto de si ou, se ainda está longe, que em breve haja condições para voltar e ficar ainda melhor do que estava antes.
Beijinhos e, se não for pedir demais, vá dando notícias, Leanor!
Olá dbo,
ResponderEliminarJá me fez rir com a sua ira que tão bem compreendo. E a forma como escreve torna a sua fúria gostosa de ler.
Mas haja esperança que a nossa força, que é a força da razão, far-se-á sentir. Acredito que não tarda a sorte do nosso País irá mudar, acredito mesmo.
E é isso que lhe desejo: esperança no futuro e muita felicidade.
Um excelente 2014, dbo, e uma vez mais obrigada por tudo.