No post abaixo, qual Santa Baby, pela voz da pouco talentosa Irina Irina Shayk (pouco talentosa a cantar, note-se) que se apresenta em lingerie e coberta de luzinhas natalícias, envio uma cartinha ao Pai Natal. É o ambiente natalício a subir por mim acima.
Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra. É séria.
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Não sou de eleger o melhor ou o maior ou o mais relevante seja do que for. Acho sempre que me ia esquecer de outros igualmente bons. A minha memória vai e vem como quer e não quando eu a convoco. Por estas alturas escolhem-se a figura do ano (e, neste caso, até abro uma excepção ao concordar em atribuí-la, a nível internacional, ao Papa Francisco), o facto político, o isto, aquilo e o outro. Ou o melhor livro, ou o melhor filme ou a melhor frase. Coisas assim para as quais sinto que a competência e a memória me falhariam.
Mas há um facto que eu gostava de deixar aqui assinalado. No sábado à noite ouvi o Eixo do Mal e, não estando lá a Clara Ferreira Alves que eles dizem que está a recuperar bem (terá sido operada? Tomara que seja coisa ligeira. Deve ser pois as crónicas no Expresso continuam a sair regularmente e com a qualidade do costume), esteve em sua substituição o Prof José Adelino Maltez.
No meio da conversa e da animação que é sempre aquele programa, o acima referido disse uma coisa que me deixou a pensar: que a manipulação a que as pessoas são sujeitas é tanta que faz com que defendam e desejem aquilo que as prejudica.
É um facto e isso é um facto inquietante.
Não me lembro em que contexto ele o referiu, se se estaria a referir às mais recentes sondagens que mostram que o PS não descola e que o PSD, estranhamente, se aguenta, se ao facto de não ser clara a alternativa política caso houvesse agora eleições - ou a outra coisa qualquer. Mas seja qual for o contexto é um facto que, perante a situação que vivemos, ainda há quem a defenda e pretenda manter-se nela.
Por isso, se eu quisesse eleger um facto que tenha marcado o ano de 2013 talvez escolhesse este. No entanto faço a ressalva: é um facto que não é só de 2013 nem é só português. Mas agora cinjo-me a este horizonte mais restrito que é aquele que nos é mais próximo.
As pessoas são sujeitas a tal manipulação que acabam a eleger quem lhes faz mal, acabam a defender aquilo de que deveriam fugir.
Penso que é isto o síndrome de Estocolmo a uma grande escala.
Ao escrever estas palavras, relaciono o que disse com a crónica de Pedro Mexia deste sábado no expresso. Fala ele de Jaycee Lee Dugard, uma rapariga que foi raptada quando tinha 11 anos e que viveu sequestrada durante 18 anos, sujeita a abusos e maus tratos de toda a espécie.Teve duas crianças do violador. Quando foi descoberta negou que tivesse sido maltratada e defendeu o raptor, o violador, o abusador, o algoz.
Publicou um livro, intitulado 'Vida roubada - a memória de um rapto' no qual relata como chegava a desejar a companhia do raptor e como temia desagradar-lhe, não fosse ele deixá-la ali abandonada ou fazer-lhe ainda pior.
Faz lembrar a história de Natascha Kampuch ('3096' - o número de dias que esteve aprisionada) de que aqui já falei; mas Pedro Mexia diz que o livro de Jaycee Lee Dugard não revela a inteligência e a racionalidade que transparecia do livro de Natascha.
No entanto, o síndrome de Estocolmo está lá: a relação que se torna ambivalente, em que o abusado, receando um abandono ainda mais insuportável, perde a força para se rebelar, perde a esperança na capacidade de poder libertar-se e passa a querer as boas graças do raptor.
Ler relatos destes é uma coisa que perturba. Quando li o livro de Natascha, quase me sentia fisicamente oprimida. Os mecanismos mentais de adaptação que as pessoas, quais animais em cativeiro, desenvolvem como forma de se auto-protegerem, alienando-se, perdendo os valores pelos quais se regiam antes do sequestro, é uma coisa que inquieta.
A população portuguesa tem estado a viver um período nefasto, um regresso civilizacional imperdoável, um ataque aos seus direitos e dignidade que não deveria ser, de forma alguma, suportado. E, no entanto, apesar de tudo isto ser contra-natura e apesar de ser público que este crime não se destina a dinamizar a economia (que está mais débil), nem a resolver o problema de desemprego (que está mais elevado), nem a pagar a dívida (que está muito maior), nem a nada de bom para a esmagadora maioria da população ainda há muita gente que defende esta solução.
As pessoas que votam em Passos Coelho, a julgar pelos números nas sondagens, são pessoas que estão certamente a viver pior que antes dele ter formado governo, talvez estejam desempregadas ou em vias de o seu, talvez se sintam ameaçadas, talvez tudo isso e mais algumas coisas - mas, talvez porque foram de tal forma manipuladas que já padecem de síndrome de Estocolmo, querem preservar esta situação.
Talvez temam que, se estes abusadores se forem embora, fiquem abandonadas à sua sorte, desprotegidas, que o seu dinheiro no banco seja roubado, que as suas pensões deixem de ser pagas. Não sei. Mas, se não for isto, alguma explicação há-de haver para que, nas intenções de voto, ainda haja tanta gente a prestar-se a dar o aval à continuação do saque e da destruição a que se assiste.
Portanto, acho que é chegado o tempo de psicólogos e psiquiatras entrarem em acção. Este país está a ficar um lugar estranho e as pessoas estão a revelar sintomas inquietantes.
Relembro que, se descerem um pouco mais chegarão a um outro mundo, ali onde síndromes de Estocolmo e outras patologias não têm lugar. Passos Coelho ainda menos.
Muito gostaria que aparecessem também lá no meu Ginjal e Lisboa onde se pode ler e ouvir um Poema de Natal de Vinicius de Moraes. As minhas palavras aninham-se em volta deles para os ouvir.
Portanto, acho que é chegado o tempo de psicólogos e psiquiatras entrarem em acção. Este país está a ficar um lugar estranho e as pessoas estão a revelar sintomas inquietantes.
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A música é Arvo Pärt - The Beatitudes.
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Relembro que, se descerem um pouco mais chegarão a um outro mundo, ali onde síndromes de Estocolmo e outras patologias não têm lugar. Passos Coelho ainda menos.
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Muito gostaria que aparecessem também lá no meu Ginjal e Lisboa onde se pode ler e ouvir um Poema de Natal de Vinicius de Moraes. As minhas palavras aninham-se em volta deles para os ouvir.
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Resta-me, por agora, meus Queridos Leitores, desejar-vos uma bela semana a começar já por esta segunda feira.
(Tomara que isto não esteja cheio de gralhas. São duas da manhã e tenho que me ir deitar porque não tarda tenho que estar a pé e o drama é que se houver coisas para corrigir só o poderei fazer ao fim do dia. Detesto isto mas não tenho alternativa)
isto de síndromes, estocolmo ou outra merda qualquer, penso que não há quem nos bata, 47 anos de ditadura, e acabou, porque calhou.Ainda não vi ninguém defender esta hipótese, o 25 de Abril foi um acaso.
ResponderEliminardou-lhe um exemplo recente, Os professores.Por acaso cerraram fileiras e não compareceram ao exame, ou a carneirada lá foi indo, e quem é mais resistente e não é revolucionário de pantufas, depois fode-se.
Cada um leva a sua vidinha, e naquela noite, CALHOU, porque o regime não ofereceu resistência.
Este povo e manso e medroso, esqueça essa treta de estocolmo, a não ser que queira usar como eufemismo para (MANSO, e MEDROSO)
E já agora onde está a solidariedade com o cidadão que foi constituído arguido por interronper o PC, devem estar a fazer as compras de Natal, não?
quando ouço dizer que o banco alimentar bateu outro record, dá-me vontade de rir.Dever ser assim que exorcizam o caganço
Não creio que sejam só os portugueses que apoiam Passos Coelho os que sofrem do síndrome de Estocolmo.
ResponderEliminarSe me permite, atrevo-me a dizer que se trata de uma visão bastante redutora.
O mal é atávico, para não dizer endémico.
Os que não sofrem, são os -egoístas- bem instalados e os exilados ou emigrados, passe o eufemismo, consoante a perspectiva e as razões que os levaram à Diáspora (risos... amargos).
O fatalismo histórico confunde-se com a realidade histórica e tem quase 900 anos.
Um abraço
Realmente dá que pensar, esta atitude. Se calhar o anónimo é capaz de ter razão. Isto é um povo patético. A malta gosta é de, como dizia o outro, levar na tromba. Quando vejo estas sondagens, só me apetece é ir para longe! Se houvesse uma rejeição em massa, digamos, uns 70% de abstenções, ou coisa assim, talvez o sistema e os políticos que comem da sua manjedoura pensassem um pouco para reflectir e mudar. Assim sendo, continua tudo na mesma. No Sábado, num supermercado por aqui, eu e minha mulher estavamos a ouvir um casal de idosos que se queixava desta vida, destes cortes, desta carestia de vida, etc, etc, mas atribuindo a culpa ao Mário Soares (!!), aos “outros”, o Sócrates e que estes “fazem o que podem para salvar o país da desgraça, mas que de seguida, lá voltarão os socialistas e depois de novo estes e é assim. Não há alternativa!” As pessoas compram manipulações, embustes, resignam-se etc. É uma espécie de Fado. Outros estão-se nas tintas. Num jantar nesse dia, um dos cavalheiros dizia: “estou-me nas tintas para a crise, estou a safar-me como nunca imaginava (trabalha na área financeira, diga-se) e portanto cada um que faça pela vida, como eu!” Assim, friamente! Tive com vontade de o mandar para put...que o par.., mas preferi o desprezo, embora, mais tarde, aproveitando uma deixa de um terceiro, tenha metido um “ferro”, a criticar, de algum modo, aquela aleivosia. Estrebuchou, mas ficou por ali. Vai ver, daqui a uns 2 anos, o panorama político mais coisa menos coisa é semelhante. O povo gosta dos seus opressores. Veja como se recorda Salazar, Pombal, etc. Com respeito. É assim. Somos um bando de carneiros. Embora estes, quando em situação limite, de perigo, se juntem todos, fazem uma espécie de frente unida, ficam ali quietos a aguardar e depois fogem. Este povo é pior, vai em direcção ao precipício. No fundo, tem o que merece.
ResponderEliminarVotos de um Bom Natal em família! Cá passaremos com o neto, um encanto de 2 anos já!
P.Rufino