Eu podia deixar para mais logo mas temo depois não ter tempo.
Mas antes tenho que ser sincera. Não sou muito de atribuir grandes significados a datas. Pode não parecer mas sou um bocado despegada de rituais e afins.
Não atribuo grande significado ao dia de Natal até porque não sou dada a práticas religiosas (apesar de andar rendida ao Papa Francisco). Mas a quem pertença a famílias de raiz católica é impossível passar ao lado dos festejos. Desde pequena que o Natal é vivido em família, de forma perfeitamente ritualizada e já nem é o significado mas o hábito que faz com que não consiga imaginar o Natal sem luzinhas a piscar, troca de presentes, lautas e barulhentas refeições, visitas familiares, um certo sentimento de aconchego e pertença a um núcleo feito de proximidade e afecto.
Desde há algum tempo que, por vezes, perpassa no semblante de alguns uma névoa de tristeza. Não se fala mas sabemos que é a lembrança dos que no ano anterior ainda cá estavam. Parece que no Natal as ausências são mais dolorosas. Mas sabemos que devemos festejar a presença dos que estão e, por isso, disfarçamos e seguimos em frente.
Nestas alturas em que parece que há quase uma obrigação de todos desejarmos a todos um bom Natal e umas Festas Felizes, lembro-me muito também dos que não têm família ou que têm quase apenas mais uma ou duas pessoas junto a si. Imagino como talvez se sintam postos de fora da alegria que parece assaltar os outros, imagino que talvez pensem que a vida os deixou fora da mesa ruidosa da felicidade.
Penso nessas pessoas e gostava de poder saber como, de alguma forma, compensar ou atenuar alguma solidão que sintam. Gostava de saber inventar palavras para daqui lhas enviar mas temo que parecessem artificiais.
Não o seriam.
Seriam apenas um gesto de afecto e uma palavra de esperança.
Enquanto nos tivermos uns aos outros, mesmo que seja desta forma remota e longínqua, não estaremos sós.
Penso nessas pessoas e gostava de poder saber como, de alguma forma, compensar ou atenuar alguma solidão que sintam. Gostava de saber inventar palavras para daqui lhas enviar mas temo que parecessem artificiais.
Não o seriam.
Seriam apenas um gesto de afecto e uma palavra de esperança.
Enquanto nos tivermos uns aos outros, mesmo que seja desta forma remota e longínqua, não estaremos sós.
Penso também naqueles de quem o Papa Francisco falou: os que não têm casa. Os mais pobres e mais sozinhos, aqueles que nem o amparo das paredes têm, quanto mais o aconchego da família.
Há pouco, antes de ir ao supermercado, dei uma rápida volta e pé. Depois de uma viagem de centenas de quilómetros, por mais cansada que esteja, preciso mesmo de esticar as pernas, de andar. Chovia, a noite estava muito fria, desagradável. E então reparei que junto a um prédio numa artéria movimentadíssima, encostado a uma caixa da electricidade, estava um monte de qualquer coisa. Olhei e era uma pessoa tapada por cartões e por um cobertor. Fiquei ainda mais gelada. Não estava ali antes. Chegou agora, pelo Natal. Como terá ido ali parar e como escolheu aquele sítio? Uma noite tão fria e tanta chuva e aquela pessoa ali enrolada, tanta gente a passar e nem se dava por ela. Fico tão triste, tão em sofrimento. Posso seguir o meu caminho mas fico ferida por dentro.
E, este ano em especial, lembro-me também de outra coisa. Nem sei como diga para não parecer lamechas. Mas penso tanto nisso que me custa agora não falar.
Refiro-me àqueles para quem o mar foi, por estes dias, tão traiçoeiro.
Os jovens, meu Deus. Como estarão as famílias? Como foi possível tamanha desgraça? Há pouco ouvia dizer que faltava apenas aparecer um corpo. Que horror. Os filhos de alguém ali, perdidos no meio do mar ou a darem à costa como despojos.
Parece uma coisa impossível. Estavam vestidos de negro, disseram, e que iam calmos quando os viram seguir para a praia perto da uma da manhã.
Cisnes negros derrotados por uma onda amaldiçoada. Que dor tão grande.
Ou os amigos que saíram, animados, para a pesca. Saíram por desporto, confiantes. E aconteceu uma coisa assim, outra onda. E o mar tão frio. Famílias destroçadas, o que deve custar saber como se devem ter sentido tão irremediavelmente desamparados.
Que Natal mais infeliz estas famílias vão ter, que vidas para sempre marcadas. Quanta injustiça nisto, como pode o mar, que é tão belo, fazer uma coisa destas?
E como ficarão também marcados para sempre, órfãos dos amigos, os que sobreviveram, um em cada grupo? Quanta aflição. Não terão Natal este ano. Talvez nunca mais verdadeiramente o tenham.
Os jovens, meu Deus. Como estarão as famílias? Como foi possível tamanha desgraça? Há pouco ouvia dizer que faltava apenas aparecer um corpo. Que horror. Os filhos de alguém ali, perdidos no meio do mar ou a darem à costa como despojos.
Parece uma coisa impossível. Estavam vestidos de negro, disseram, e que iam calmos quando os viram seguir para a praia perto da uma da manhã.
Cisnes negros derrotados por uma onda amaldiçoada. Que dor tão grande.
Ou os amigos que saíram, animados, para a pesca. Saíram por desporto, confiantes. E aconteceu uma coisa assim, outra onda. E o mar tão frio. Famílias destroçadas, o que deve custar saber como se devem ter sentido tão irremediavelmente desamparados.
Que Natal mais infeliz estas famílias vão ter, que vidas para sempre marcadas. Quanta injustiça nisto, como pode o mar, que é tão belo, fazer uma coisa destas?
E como ficarão também marcados para sempre, órfãos dos amigos, os que sobreviveram, um em cada grupo? Quanta aflição. Não terão Natal este ano. Talvez nunca mais verdadeiramente o tenham.
...
Não devia estar aqui a importunar-vos com estas minhas ideias num dia destes.
O Natal deve ser vivido em felicidade para quem não tenha infortúnios, dores, doenças, lutos, medos.
Como disse lá em cima, eu deveria talvez guardar para mais logo os meus Votos, talvez me saíssem mais festivos. Mas tenho receio de não ter tempo, tenho tanto que fazer.
Por isso deixo-vos já aqui agora, meus Queridos Leitores, os meus votos de uns dias muito bem vividos, de preferência na companhia dos que mais amam.
Gostaria de vos dizer que penso em cada um de vós, os que leio com devoção e os que por aqui passam e me deixam comentários ou me escrevem mails e, por isso, cujos nomes conheço, e nos anónimos, imateriais, apenas uma longínqua respiração. Gostaria de poder dirigir uma palavra especial a cada um de vós, mas isso tornar-se-ia fastidioso e, confesso, estou tão cansada que acho que não conseguiria fazê-lo.
Por isso, não levem a mal se vos disser apenas que desejo a todos um Natal vivido no aconchego da família e de quem amam.
E que sintam o prazer de estar vivos.
E que lutem pelo bem de todos. E que nunca desistam dos vossos sonhos. E que tenham esperança.
A vida renasce, é da natureza. Nascer, renascer.
E que sintam o prazer de estar vivos.
E que lutem pelo bem de todos. E que nunca desistam dos vossos sonhos. E que tenham esperança.
A vida renasce, é da natureza. Nascer, renascer.
E, numa ordem arbitrária, estes votos cheios de carinho vão para a Maria, para a Maria Clotilde, para a Ana, para a outra Ana, para a Erinha, para a Isabel das Palavras, para a Sol Nascente, para a Maria Eduardo, para a Carlota, para a Isabela, para a Sara, para a Antonieta, para a Leanora, para a Mary, para a Margarida-Guida, para a Margarida-Margarida, para a Margarida-Maggie, para a Sónia, para a Helena, para a a Bárbara Helena, para a Eva, para a Lia, para a Eli, para a Isa, para a Madalena, para a Olinda, para a Maria Luísa, para a Luísa, para a Rita, para a Patrícia, para a Ana Cristina, para a Rosário, para a Teresa-Teté, para a Maria Teresa, para a Teresa-Tita, para a Irene, para a Redonda, para a Lúcia, para a São, para a Alice, para a GL, para a Leonor, para a Ivone, e para a Mariana, para MN, e para o Joaquim, para o João, para o João Cerqueira, para o José, para o Zé, para o jrd, para o P. Rufino, para o dbo, para o Rui, para o Jorge, para o Jorge lá longe, para o Francisco, para o Luís Filipe, para o Domingos, para o Henrique, para o Daniel, para o Tiago, para o para o José Catarino, para o Bartolomeu, para o António, para o Eufrásio, para o Lino, para o Rafael, para o Luís Bento, para o Fernando, para o Luís, para o Francisco, para o Bartolomeu, para o Pedro, e para o outro Pedro, e para o Eduardo, para o André, para o Nuno, para o Patrício, para o Carlos, para o Manuel, e para o Salvador, para o Carlos, para o Puma, para o Edgar, para o Soliplass, para o MCS, para o Cine Povero, para o Anónimo que tantas vezes comenta e tantos links interessantíssimos aqui deixa, e para todos os outros cujos nomes não referi por imperdoável esquecimento ou por desconhecimento.
Quero ainda dizer que a vossa presença aí desse lado é um presente que não tenho como agradecer. E as vossas palavras afectuosas são um abraço que sinto e que me encantam. Bem hajam, meus queridos Leitores.
Hoje não vou poder responder individualmente aos comentários de ontem, já passa das 3 da manhã. Com isto de me pôr a escolher imagens e músicas acabo por perder muito tempo e nem sei como me tenho ainda de pé. Mas o meu agradecimento está aqui neste texto. Já respondi a alguns mails e amanhã tentarei responder aos que ainda me faltam.
Quero ainda dizer que a vossa presença aí desse lado é um presente que não tenho como agradecer. E as vossas palavras afectuosas são um abraço que sinto e que me encantam. Bem hajam, meus queridos Leitores.
...
...
Gostava de conseguir encher-vos de presentes mas logo hoje estou assim, tão cansada.
Mas o que aqui vos deixo é de gosto.
> O Poema do Menino Jesus de Fernando Pessoa na voz de Maria Bethania.
> E um vídeo lindíssimo do Cine Povero (Jorge de Sena por Pedro Lamares, música de Michael Nyman) que não se consegue inserir no blogue mas que pode ser visto/ouvido aqui e que deve ser visto até à última maravilhosa imagem.
*****
As imagens em néon são da fotógrafa Sarah Leal
As imagens das flores em rx são do físico Arie Van't Riet
A primeira música é Do You Hear What I Hear (Christmas music from Africa) pelo African Children's Choir
*****
Um feliz Natal, meus queridos Leitores!
Bom Natal e Bom 2014 á UJM e todos os Leitores deste Blog.
ResponderEliminarPeço desculpa pela maneira como por vezes me expresso, acreditem é mesmo falta de bagagem linguística.
Mas fica o aviso, daqui a um ano peço desculpa outra vez pelo que disser em 2014.
A melhor música de Natal para mim - https://www.youtube.com/watch?v=THcbQyFtCqg
Vai fazer anos que o meu Pai teve um ataque cardíaco no Natal e veio a falecer no ano seguinte. As coisas acontecem, mas deviam estar proibidas de acontecer em certas datas.
Olá UJM!
ResponderEliminarUm Natal muito feliz para Si e para os seus à sua volta!!
e um abraço
Feliz Natal!
ResponderEliminarUm abraço.
Viva UJM
ResponderEliminarObrigada pelos votos. Espero que esteja aconchegada junto do calor dos seus e que se sinta muito amada. É o que de melhor a vida nos pode dar!
Mais uma vez, Feliz Natal!!!
ResponderEliminarObrigada pelas palavras deste bonito post de Natal, elas deixam-nos de coração cheio.
Um abraço
MCP
Tudo tão lindo!
ResponderEliminarObrigada, pelo bocadinho que me é dedicado!
Boas festas para a UJM e todos os seus familiares.
Um beijinho :)
Verdadeiro serviço público - http://pmcruz.com/eco/
ResponderEliminarConcordo com Isabel! Mil obrigados pela ternua da lembrança! Uma noite feliz no calor da família!
ResponderEliminarP.Rufino
Muito obrigado por me ter incluído nos seus votos.
ResponderEliminarDesejo para si e para os seus o melhor Natal.
Um abraço
"Margarida-Maggie" agradece e retribui os votos declarados e deseja uma época realmente mansa. "Mansa", sim? ;)
ResponderEliminarPor uns dias deixe que o açúcar se espalhe...
Beijocas.
Olá, UJM:
ResponderEliminarQue esta Quadra Natalícia seja, para si, para os seus, para os seus leitores, um tempo de renovados afectos e de paz.
Estimada UJM,
ResponderEliminarMuito grato por me haver mencionado nos seus votos. Votos que retribuo muito sincera e carinhosamente, e que são extensivos a todos os frequentadores deste generoso espaço.
Muito obrigada Tazinha. E obrigada principalmente por me incluir nos seus votos. Desejo além de um Feliz Natal uma época cheia de paz e amor rodeada de todos os seus familiares.
ResponderEliminarIgualmente para o "domingos" que estendeu os seus votos a todos os frequentadores deste generoso espaço".
Abraços
Bom dia, UJM, não sei se a Maria que refere sou eu, que lhe escrevi sobre a violência doméstica, se não for paciência, fico a pensar que sim :)
ResponderEliminarAssim sendo, embora já fora de validade, agradeço-lhe por ter feito parte da sua lista e desejo, do fundo do meu coração, que 2014 traga-lhe tudo o que deseja e que se cumpra um desejo seu, que estes trafulhas que nos governam deixem de nos roubar indo-se embora.
Um beijo.
A Todos,
ResponderEliminarCom afecto, a todos desejo umas Festas Felizes e que por aqui nos vamos continuando a encontrar.
Obrigada.
Viva UJM,
ResponderEliminarAgradeço as amáveis palavras com que distinguiu o meu vídeo para o extraordinário poema do Jorge de Sena (e para a voz, tão especial, do Pedro Lamares).
E venho retribuir os desejos de um Bom Ano de 2014!
Estamos todos/as a atravessar uma mutação profunda na história contemporânea, da qual ainda não sabemos que mundo irá surgir (Apetece repetir com o próprio Sena: "Não sei meus filhos que mundo será o vosso"). Vamos fazer votos para que esse mundo seja mais justo para TODA a Humanidade! Mas ele jamais será alcançado se nada fizermos por isso. Fizermos de múltiplas maneiras, por diferentíssimas vias, cada UM a seu JEITO.
Mas fazermos!