terça-feira, outubro 08, 2013

Com que então a TSU das viúvas não é a mesma coisa que a TSU dos reformados, senhor vice-primeiro-ministro Paulo Portas? é tudo o que tem para dizer? O senhor vem com uma conversa incompreensível de "condição de recursos" e mais não sei o quê, mas o que eu lhe digo é que, ao menos, tenha respeito pelos idosos que um dia pensaram que podiam acreditar em si. Ora, se faz favor, preste lá atenção a umas contas baseados em casos que, infelizmente, são muito reais. Veja se percebe o que o senhor e o seu governo estão a fazer aos portugueses, veja se percebe, por favor.


Já não consigo ouvir o Paulo Portas a jogar com as palavras. Julga que o exercício do poder se resume a enganar quem o ouve e está tão longe do mundo real que parece pensar que a vida é o palco em que se move, um palco em que os actores são sombras, gente fictícia, actores como ele.

Se é verdade que foi para aquela última conferência de imprensa sem saber da medida da TSU das viúvas isso demonstra um desnorte absoluto por parte do Governo, uma descoordenação inaceitável, medidas tomadas em cima do joelho, medidas que não são avaliadas do ponto de vista sociológico, humano, uma instabilidade insustentável. E, então, perguntar-se-á: o que está ele lá a fazer? A ajudar a destruir o País? (Poderia acrescentar: a destruir o CDS? - mas quero lá eu saber do CDS)


Se não é verdade, e foi para a conferência de imprensa dizer que não haveria mais austeridade (o que já de si é mentira pois, como ontem referi, vai haver mais austeridade do que a está em vigor) quando já sabia desta inusitada e desumana medida, então deveria ter presente que a população em geral - que já o desconsidera  - vai olhar para ele como se de um ser abjecto se tratasse, alguém que se pavoneia com piruetas verbais ignorando o respeito que a população, especialmente a mais idosa, lhe deveria merecer. Não é impunemente que se engana tão descaradamente a população de um País, em especial a mais vulnerável.

Ignóbil tudo isto. Que revolta que me causa.

*

Numa tentativa de trazer o ministro Paulo Portas, o Mota Soares, o Carlos Moedas, o Passos Coelho e restante comitiva, à realidade - já que dá a ideia que os senhores que estão no Governo não têm ter família ou, se a têm, deve ser tudo gente que vive à larga, de avultados rendimentos - vou exemplificar com casos concretos da vida real, a que conheço.

Falemos, então, de mulheres viúvas na casa dos oitenta ou noventa anos.




Tenhamos em consideração que grande parte das mulheres desta idade maioritariamente não trabalhou ou, se o fez, teve empregos de ordenados baixos, pelo que a pensão de reforma que recebe é o mais baixo possível, valores abaixo do nível de subsistência. São mulheres que ficavam em casa, tomavam conta da casa e dos filhos, as chamadas donas de casa. O sustento da família vinha do trabalho do homem da casa.

O homem da família morre e elas, sozinhas, sustentam-se com a sua magra pensão e com o complemento da pensão de sobrevivência.

Como é que vivem estas mulheres nas idades que acima referi?

Claro que as há escorreitas, saudáveis. Sorte a delas e que a vida continue generosa, as preserve assim até ao fim dos seus dias.

Mas há as que tiveram AVCs, as que sofrem de doenças oncológicas (e estou a cingir-me apenas a casos que me são muito próximos para estar muito ciente do que digo). Poderia falar ainda de uma outra, mãe de uma amiga muito próxima, que sofre de Parkinson e Alzeihmer pois bem vejo o que se passa.





Claro que pode dizer-se: a família que tome conte delas. Mas acontece que, em geral, a família ou é gente das mesmas idades e com os mesmos problemas ou é gente que ainda trabalha.

Portanto, não podendo estar sozinhas, ou vão para um Lar (cujos valores variam entre 1.200 e 2.300€/mês, fora médicos, medicamentos, fraldas, fisioterapia, etc) ou arranjam alguém que vá ficar com elas em casa, vulgo uma empregada interna. Não apenas o Lar se torna proibitivo para quem não tenha posses como é a solução mais dramática.

Considere-se, pois, que se opta pela solução mais económica: uma empregada. Considere-se, então, o ordenado da dita empregada, a sua segurança social, o seu seguro de acidentes. Considere-se, também, que é preciso pagar a alimentação não apenas da viúva idosa e doente mas também da empregada. Mais as despesas da casa, água, luz, gás, telefone, etc. Mais os medicamentos, muitos, muitos medicamentos, fraldas, resguardos, idas ao médico, transporte para os médicos (táxis ou transporte dos bombeiros - porque são pessoas que mal se movimentam). Muito dinheiro. E não estou a incluir fisioterapia nem os cremes especiais para os que estão acamados, nem, tantas vezes, os custos resultantes de ter que adaptar a casa ou adquirir equipamentos especiais (retirar a banheira, comprar uma cama articulada, uma cadeira de rodas, etc).


Façam-se as contas. 

Diz o Paulo Portas, com ar de quem está a falar de uma fortuna, que só quando no conjunto as pensões excedem os 600 ou 700 (nem sei) é que há cortes. Como se isso fosse alguma coisa para fazer face às despesas. Isso nem chega para pagar à empregada... (e recordo que os custos da empregada, para além da alimentação, compreendem o que ela recebe mais o pagamento obrigatório da Segurança Social e do Seguro)





Pode dizer-se que só tem empregada quem pode. Mas qual a alternativa?

São pessoas que não podem ficar sozinhas, que ou não andam ou mal andam sozinhas, que estão doentes, que têm que fazer tratamentos complicados e debilitantes, muitas vezes estão acamadas. 

Se as pessoas que as ajudam financeiramente estão a trabalhar, ficam com quem?

Como acima referi, se forem para um Lar ainda é mais caro. 



Claro que poderão ir para aqueles asilos (cheios, com filas de espera enormes) em que se paga em função de rendimentos, em que cheira mal, em que os idosos ficam sentados o dia inteiro (porque há poucos empregados, não chegam para tomar conta de tanto velho - e desculpem-me a crueza mas é mesmo isto que acontece - e sei do que falo), urinados, babados, cheios de escaras. 


Mas é esse o destino que os governantes do meu País querem para os idosos? 

É que, se é isso, também daqui informo que não há vagas para tantos velhos que se verão votados a esse triste destino. 




Como é fácil depreender-se, mesmo somando a pensão de reforma e mais a de sobrevivência (se não for alta e, na maior parte dos casos, não é), já são os filhos ou outros familiares que têm que suportar grande parte das despesas que descrevi. 

Mas pense-se agora nos filhos. Os que são funcionários públicos levaram cortes de toda a ordem, em muitos casos cortes que ultrapassaram os 30% (entre corte nos ordenados, nos subsídios, aumento de impostos). Os que não são, levaram quase o mesmo por via da brutalidade do aumento de impostos. E isto são os que têm a sorte de ter emprego porque há cada vez mais os que, tendo antes bons empregos, agora estão em casa, desempregados, sem esperança de voltarem a arranjar trabalho e a verem o subsídio de desemprego a chegar ao fim.

E têm que sustentar a sua casa, os filhos que não arranjam emprego, as despesas crescentes com os pais, aumentos de IRS, IMI, de IVA, dos transportes, de tudo. A vida a andar para trás. Cada vez mais cansados, com menos esperança, uma revolta surda a crescer, uma revolta tão grande, tão grande, Dr. Paulo Portas, tão grande.





E como ficam os idosos a terem que viver da caridade dos filhos, sabendo que os filhos já estão num aperto insustentável? A humilhação, o desgosto, a impotência. O medo. Todos os meses uma nova ameaça, todos os meses. 

É isto vida?

A troco de quê se está a impor esta miséria, esta intranquilidade, esta vergonha, este pavor surdo, a tanta, tanta, tanta, gente? A troco de quê?

Como é possível que Paulo Portas ainda nos apareça com sofismas, com rodriguinhos, com condições de recursos?


E o que vem a ser isso das condições de recursos? As pessoas têm que fazer prova dos seus recursos? Quem? Como? As pessoas acamadas, em cadeiras de rodas, a fazerem tratamentos de quimioterapia, têm que ir à repartição de finanças fazer prova da sua desgraça?

Tenha vergonha senhor vice-primeiro-ministro Paulo Portas, tenha vergonha. 





Quanto a Passos Coelho já nem digo nada: é escusado. Não percebe nada, não sente nada. 

No fundo, estão bem um para o outro. Ficarão para a história como a dupla mais nefasta, mais perigosa, mais cruel que alguma vez governou Portugal.

Que revolta tão grande. 


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Tinha ideia de ainda escrever mais qualquer coisa mas passou-me a vontade de tão aborrecida que estou com isto, com tanta indecência.

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Muito gostaria, no entanto, de ainda vos convidar a irem visitar-me também no meu Ginjal e Lisboa. (que, tal como o Um Jeito Manso, também mudou um pouco de visual). Hoje, por lá, recebi a visita do Poeta Manuel Gusmão cujas palavras me levaram a ler as letras que se desenham nos ramos das árvores. A seguir temos mais um grande momento, grandes vozes, a grande música de Verdi.

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E, por hoje, por aqui me fico. Tenham, meus Caros Leitores, uma bela terça feira.

7 comentários:

  1. Como é possível que Paulo Portas ainda nos apareça com sofismas, com rodriguinhos, com condições de recursos?, porque somos um país de eleitores abovinados,mesmo tendo 5 milhões que já não pastam.Em algumas terras, o PS ou PSD podiam colocar um "macaco" - estou-me a referir literalmente a este animal", que ganhavam algumas (muitas) câmaras ou juntas.Ele nasceu no país certo.

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  2. os discursos do Paulo Portas fazem-me lembrar esta "demonstração" matemática,tantos anos em feiras deve pensar que fala para bovinos (penso eu de que):

    Verdade ou mentira? 2=1?


    Suponha: a = b

    multiplique os dois lados da equação por "a":
    a² = ab

    subtraia os dois lados por "b²":
    a²-b² = ab -b²

    utilizando o produto notável do lado esquerdo e colocando em evidência o lado direito temos:
    (a+b)(a-b) = b(a-b)

    dividindo os dois lados por "(a-b)":
    (a+b)(a-b)/(a-b) = b(a-b)/(a-b)

    simplificando as frações temos:
    a+b = b

    como, por definição, a=b, então:
    b+b = b
    2b = b

    dividindo por "b" os dois lados:
    2 = 1.


    O erro está quando dividimos os dois lados da equação por (a-b).
    Lembre-se "a=b" então "(a-b) = ZERO", não se pode dividir por zero, pois o resultado é uma indeterminação.
    Só temos que descobrir os “(a-b)” do discurso do man.

    Claro que ponho a hipótese de ele ter razão, e estar a usar o discurso certo, e Portugal ser uma grande feira, nesse caso é irrevelante os "(a-b)"

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  3. também faz-me lembrar aqueles negociantes, que sabem que querem ganhar 100 milhões, e apresentam um preço de 400 milhões. E depois vendem por 100 a lamentarem-se , pá tou a vender com prejuízo , mas é para fazer caixa.

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  4. a praia do man, é figuras de estilo -http://esjmlima.prof2000.pt/figuras_estilo/figuras_estilo.html, a lógica não é para aqui chamada, uma vez que as massas consomem mais das primeiras.Para quê alterar um discurso que cai bem no ouvido e até convence, mesmo que cheio de contradições.

    Mas foi mais longe, já está no nível quântico do discurso - http://gizmodo.uol.com.br/video-como-computador-quantico-funciona/

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  5. Vergonha o Paulo?! Qual quê!
    Então não se lembra da pose de beato cabisbaixo, quando lado a lado com o Mota Soares, ouvia vidrado no D.Manuel Clemente a homilia dominical?...

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  6. Cara UJM,
    Creio que perante a intencionalmente desastrada governação da troika, cegamente encabeçada pelos bonecos PC&PP, a sensata atitude do TC implica alguns simiescos golpes de rins destes dois bonecos e companhia.
    Assim, vão surgindo, de forma ignóbil e insensata, uns truques de rapinação que deixam estupefactos todos quanto vivem, atentamente, os problemas actuais. Isto é o desastre total, a ignomínia das ignomínias. Perante um falso lema de redução da despesa do Estado, vai-se aumentando a receita do mesmo, com cortes que diminuem a receita das pessoas, transformando-as em indigentes sociais. É a miserabilização social, em nome dum pseudo-ajustamento da economia nacional e duma injusta reforma do Estado.
    Já não há bolsa normal que aguente tanto corte destes macacos "mãos de tesoura". Entendo que eles é que deverão, quanto antes, ser cortados do Governo e do sistema político.
    Um abraço amigo e muita saúde.

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  7. Passos, Portas (e o resto da cambada), quais vampiros, chupam o sangue dos fracos para pagar aos agiotas. Numa atitude de humilhação peranta a tal Troika (Portas gosta de utilizar outro termo, “triumvirato”, a dar-se ares de “patriótico”, com aquela sua vozita efeminada). Sem um plano para combater a probreza, pela simples razão que se estão nas tintas para a sua existência. Um pouco como o Estado Novo ou o governo húngaro actual que proibem a probreza exposta – nas ruas. Em casa não há problema. Portas, cujo CDS tem o pelouro governativo da solidariedade social, deixou cair a máscara, colada a cuspe, do amigo dos desfavorecidos – reformados, agricultores pobres, etc. Passos, reconheça-se, é mau, mas dá a cara, embora com as justificações típicas da extrema-direita, a tentar explicar o revoltante. Portas (um pote de vaidade), pelo contrário, é dissimulado, fingido, patife de carácter baixo, mentiroso, escroque de vão de escada. Enganou milhões. É curioso, meu (idoso) pai e um ou outro familiar acreditaram nas tretas dele, por altura da campanha que o levaria, mais tarde, ao lugar de “Vice”-PM, este lugarzito, que ele tanto ambicionara, visto saber que nunca chegará a PM – já o “é”, nas palavras, de hoje, de Pacheco Pereira, à Sic. Enfim, um governo que em vez de se decidir por uma política fiscal mais equitativa, de impôr à banca um IRC como noutros países da UE, de taxar os prémios dos grandes accionistas das grandes empresas e bancos, de não permitir que o banco do Estado, a CGD, mantenha um balcão nas Bahamas, para permitir a política de off-shores (de quem????), de não deixar que a EDP, Soares da Costa e outros se refugiem na Holanda para não pagarem mais de 100 milhões de euros que este ordinário governo quer sacar das viúvas e viúvos, e tantas outras medidas mais democráticas e socialmente mais justas, ataca quem menos tem. Este governo, apoiado, pelo PR, é uma imundice. Uma esterqueira politica e social.
    Este seu Post foi sublime!
    P.Rufino.

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