No post a seguir a este respondo, de forma genérica, aos Leitores que têm escrito comentários ao Um Jeito Manso na sequência da opinião que exprimi sobre a entrevista de José Sócrates ao Expresso e que, pelo calor que lá puseram e pelo trabalho que tiveram a escrevê-los, talvez gostassem de ver a minha reacção.
Por mera questão de tempo, não respondo individualmente a cada um dos Leitores mas, de certa forma, é como se o fizesse. Mas isso é lá mais em baixo. Aqui, agora, a conversa é outra.
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Saiba, meu Caro Leitor, que 13% dos trabalhadores um pouco por todo o mundo, mais concretamente em 142 países, estão motivados.
Com isto quero eu dizer que 13% dos trabalhadores estão emocionalmente envolvidos com as organizações para as quais trabalham, estão focados em fazer bem, em criar valor.
13%.
Apenas 13%.
Apenas 13%.
Estes dados de que vos falo reportam-se a 2011 e 2012, ou seja, dados muito actuais.
Trabalhadores motivados são a seiva das organizações. Está provado que com a motivação vem a produtividade, a conquista ou a retenção de clientes (ou utentes, consoante a natureza das organizações), menos absentismo, menos acidentes de trabalho. Está provado que as empresas com trabalhadores mais motivados são muito mais lucrativas do que as outras.
A desmotivação activa representa perdas brutais para as economias.
Reportando-me apenas à Alemanha, posso dizer-vos que se calcula que a desmotivação activa custe, naquele país, entre €112 a €138 mil milhões por ano.
Bom, se apenas 13% dos trabalhadores a nível mundial é que estão francamente motivados, o que acontece aos restantes?
Pois bem, digo-vos, é uma desgraça: 63% estão desmotivados (na base do deixa-andar) e 24% activamente desmotivados (ie, contrariados, a fazer contra-vapor).
Claro que não, até intuitivamente éramos capazes de dizer isto. A questão está, sim, em conhecer melhor a realidade tal como ela é, tentar perceber as razões, tentar fazer qualquer coisa de positivo a partir desse conhecimento.
[Eu devia ser capaz de aqui introduzir tabelas, isto é, quadros direitos, com linhas, para se ler melhor o que vou escrever mas o facto é que não sei como se faz. Já tentei fazer no power point ou no excel e copiar para aqui mas não resultou. Paciência, que eu não tenho tempo nem motivação para pesquisas deste tipo. Vai mesmo à antiga portuguesa, de carreirinha. O pior é que isto fica tudo torto, já aqui andei às voltas a tentar alinhar mas, quando estou a editar, vejo direito, quando vejo depois de publicado está uma desgraça, uma vergonha. Só que às 2 da manhã já não tenho capacidade para andar a dar espaços e tirar espaços e isto sempre aos ziguezagues. Fica assim, fazer o quê? Conto com a vossa tolerância, também; por favor, olhem e façam de conta que está tudo direitinho, está bem?]
Claro que não vou poder mostrar as estatísticas para os 142 países mas posso mostrar alguns.
E, vou já adiantando, fiquei surpreendida com os resultados:
E, vou já adiantando, fiquei surpreendida com os resultados:
NÃO ACTIVAMENTE
MOTIVADOS MOTIVADOS DESMOTIVADOS
Israel 5% 73% 22%
China 6% 68% 26%
Japão 7% 69% 24%
Indonésia 8% 77% 15%
Índia 9% 60% 31%
Holanda 9% 80% 11%
França 9% 65% 26%
Palestina 11% 64% 26%
Itália 14% 68% 18%
Alemanha 15% 61% 24%
Espanha 18% 62% 20%
Portugal 19% 65% 16%
Dinamarca 21% 69% 10%
Austrália 24% 60% 16%
Brasil 27% 62% 12%
Estados Unidos 30% 52% 18%
Costa Rica 33% 53% 14%
Surpreendente, não é? Os holandeses, os alemães e, até, os espanhóis menos motivados que os portugueses... Quem diria?
E os últimos desta tabela....? Brasil, os States, a Costa Rica? Que animação aquilo deve ser. Que motivados eles andam, quando comparados com os do princípio da lista.
E os últimos desta tabela....? Brasil, os States, a Costa Rica? Que animação aquilo deve ser. Que motivados eles andam, quando comparados com os do princípio da lista.
Os autores do estudo pensam que os maiores níveis de desmotivação têm a ver com a falta de condições de trabalho, com a exigência de uma carga de trabalho sem respeito pelos direitos humanos, com exigência de resultados sem atender às aspirações individuais de cada um.
No entanto, há países que apresentam níveis de desmotivação para os quais não se encontram explicações óbvias.
No entanto, há países que apresentam níveis de desmotivação para os quais não se encontram explicações óbvias.
Um desses países é a Alemanha, relativamente à qual, face a estes resultados, se espera uma progressiva quebra de produtividade fruto da desmotivação que se tem vindo a instalar.
Uma das causas possíveis prende-se com a quase ausência de ensino de gestão de pessoas nos cursos profissionais de gestão, o que faz com que os gestores das empresas e outras organizações não prestem atenção àquilo a que agora costuma chamar-se gestão de talentos.
Muito gostaria de aqui partilhar convosco mais alguns dados do estudo que tenho vindo a referir, estudo este que envolveu centenas de milhares de inquiridos. Mas é um estudo extenso e eu também não tenho tempo para fazer um resumo como deve ser.
Interrogadas sobre o que mais desejavam na vida de modo a poderem considerar que teriam uma boa vida, a resposta centrou-se geralmente no seguinte: Ter um bom emprego. O que querem dizer com isso? - Simples: um emprego estável, de preferência a tempo inteiro.
Mas o estudo foi mais longe e interrogou as pessoas sobre o seu nível de vida. Poderiam escolher uma das três hipóteses: uma vida próspera, uma vida de luta ou uma vida de sofrimento. As respostas são uma vez mais surpreendentes.
VIDA VIDA VIDA DE
PRÓSPERA DE LUTA SOFRIMENTO
Egipto 9% 70% 20%
Palestina 9% 68% 23%
Índia 15% 59% 25%
China 23% 68% 9%
Japão 24% 61% 15%
Portugal 25% 61% 14%
Nigéria 28% 70% 1%
Espanha 37% 58% 5%
França 44% 53% 3%
Alemanha 47% 48% 5%
Estados Unidos 58% 40% 2%
Brasil 63% 36% 2%
Holanda 68% 32% 0%
Dinamarca 81% 19% 0%
E é este quadro sobre a qualidade de vida que me entristece mais.
Tanta luta e tanto sofrimento na vida dos portugueses.
Que pena que me dá ver isto.
Pior ainda que a Nigéria.
Se eu estivesse à frente dos destinos do meu País, iria debruçar-me sobre estudos deste tipo, tentaria perceber o seu significado e, depois, iria governar de forma a aumentar a qualidade de vida dos meus concidadãos, aumentando simultaneamente a sua motivação e a sua vontade em envolverem-se na condução do seu destino e no destino do seu País, de modo a poderem melhorar a produtividade e competitividade do meu país.
Vivermos num País em que apenas 25% das suas pessoas sente que tem uma vida próspera enquanto os restantes 75% parece não conseguir tirar prazer de viver é uma coisa de que me sinto envergonhada. Se não é para dar uma vida boa às pessoas, então governa-se para quê?
E isto resulta de inquéritos conduzidos entre 2011 e 2012. Se fosse agora, seria bem pior. Que vergonha.
*
NB: O estudo na íntegra pode ser consultado aqui. Chama-se 'State of the global workplace: employee engagemnet insights for business leaders worldwide' e é da responsabilidade da Gallup
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As imagens representam obras de Salvador Dali. A música é Bridge Over Troubled Water, interpretado por Paul Simon (com um senhor de que não consegui descortinar o nome) no Orleans jazzfest.
Como de costume já não consigo rever o texto, estou praticamente a dormir sentada. A ver se amanhã de manhã consigo arranjar maneira de o rever e corrigir. E, já sabem, se quiserem saber o que respondo aos meus prezados Comentadores, é descerem um pouco mais. Para além do mais, há um belo momento de dança. Uma animação. Animemo-nos com(o) eles.
Como de costume já não consigo rever o texto, estou praticamente a dormir sentada. A ver se amanhã de manhã consigo arranjar maneira de o rever e corrigir. E, já sabem, se quiserem saber o que respondo aos meus prezados Comentadores, é descerem um pouco mais. Para além do mais, há um belo momento de dança. Uma animação. Animemo-nos com(o) eles.
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E, por hoje, por aqui me fico. Tenham, meus Caros Leitores, uma bela terça feira.
UJM, eles são todos uns fdp, mas de todos, o Sócrates é o que tem mais pinta, este ódio, é simples, eles têm medo do man. Não foi á toa que ele inaugurou os debates quinzenais, aquilo era limpar cú a miúdos.
ResponderEliminarQuanto se analisam os resultados e verificamos que deles ressaltam algumas contradições inexplicáveis, subsistem inevitavelmente dúvidas quanto à credibilidade destes estudos.
ResponderEliminarAbraço
Caríssima UJM,
ResponderEliminarPermita-me o carinhoso tratamento de um terno vagabundo deste seu recanto de alta qualidade quer em ideias, quer em estilo e beleza. O conteúdo dos seus mais recentes escritos merece a análise correcta e a maior independência partidária dos analistas. Não sei se pertenço ao mesmo óvulo humano de que a natureza geneticamente a dotou, mas na realidade confesso que subscrevo literalmente tudo quanto escreveu, quer antes, quer agora. Não a conheço, nunca a vi, logo nunca pude fazer pactos de consonância de gostos políticos e ideias filosóficas, consigo. Sei que todos temos os nossos gostos clubísticos e partidários, mas reconheço que para muitos é quase impossível cortar o cordão umbilical com esses gostos, caindo muitas vezes num indomável fanatismo dogmático. Não conseguem, apesar de alguma literacia, ter sentido crítico de independência, deixando sempre um rasto de subserviência alienante, ao “ferro” que lhes marcou o pensamento.
Parecem putos, em gritaria, dizendo que o seu clube, o seu pai, o seu professor, etc., é que são os melhores. Estamos habituados a vê-los no quotidiano do nosso mundo. Temos que aceitá-los e respeitá-los, mas não seremos, NUNCA, obrigados a dizer “AMEN” às suas ideias monolíticas e, por vezes irracionais. Sempre ouvi dizer que o pior cego é aquele que não quer ver.
Jamais me aborrecerei de a ler e reler, pois tem ideias fortes, mas não vive agarrada ao “bloco único” como se de um totem se tratasse.
Saúde e felicidades mil.
jrd,
ResponderEliminarA Gallup é uma das empresas internacionalmente mais conceituada neste tipo de estudos. A metodologia usada, a amostragem, etc, são sempre divulgadas e as empresas seguem muito as suas análises por serem considerados estudos bem fundamentados.
Claro que os tempos recentes nos têm demonstrado como as empresas supostamente mais credíveis têm, não raramente, relações espúrias com quem menos se espera. A Forrester, salvo erro, colabora(va) com a CIA.
Portanto, já não ponho as mãos no fogo nem pela Gallup nem por nada. Mas, ainda assim, até prova em contrário, continuarei a ler os seus trabalhos pois, a não haver manipulação dos dados, colocam as coisas em perspectiva.
um abraço.