O prometido é devido. No outro dia disse que vos ia falar de mais uma incursão nocturna na bela Lisboa, desta vez para vos mostrar em que param as modas – e cá estou.
Para começar, não estou aqui sozinha. Trouxe comigo a minha companheira de tantas histórias no Um Jeito Manso, a bela e misteriosa Melody Gardot. Desta vez, que nem de propósito, ela interpreta Lisboa. Ouçamo-la, pois, enquanto passeamos.
Gosto muito de Lisboa, quem me lê sabe bem disso, e gosto de andar por ela como se fosse turista. Uma amiga minha disse-me que é muito fácil distinguir os turistas dos autóctones porque os primeiros andam de nariz no ar, a olhar para cima, para os lados, a ver tudo, enquanto os habitantes usuais andam apressadamente de cabeça baixa.
Pois eu, quando faço programas de tipo escapadela (escapadela ou escapadinha? Ou estou a fazer confusão com rapidinha?), desce em mim o espírito de uma turista e ando como se fosse a primeira vez que lá passo.
Vejo coisas que nunca tinha visto, e sinto-me solta como se estivesse de férias, longe de casa. (Podem duvidar do que digo mas é verdade. Mas não me admiro que duvidem pois o meu marido, quando me vê andar feita turista, a olhar para todo o lado, toda encantada, a única coisa que faz é dizer-me 'És maluca. Vamos embora. Já chega, estás farta de ter visto isto, já passaste aqui mil vezes.' Mas ele, que é nado e criado em Lisboa, se não fosse eu, não conhecia um décimo do que conhece, porque anda sempre à pressa, não sente curiosidade em descobrir os pormenores).
Adiante, então. Venham comigo.
Depois do trabalho, fomos como habitualmente fazer mais uma caminhada pela beira do Tejo, na zona da Torre de Belém, Padrão das Descobertas, Fundação Chamapalimaud.
Estava, como sempre, repleta de turistas e de gente correndo, andando de bicicleta, passeando. O próprio rio estava, também ele, muito bem frequentado, com as embarcações cumprimentando-se com animados apitos de cada vez que se cruzavam.
O Tejo, os passeios para turistas no rio, a Ponte, o Cristo Rei |
Na Fundação Champalimaud, surpreendemos uma curiosa sessão fotográfica, um número de alto risco, que passado um bocado foi interrompida por um segurança.
Depois de termos feito os nossos habituais cerca de 5 km, fomos então jantar.
Todas as grandes cidades têm uma grande avenida central geralmente na qual abunda o comércio e a animação. Em Madrid há várias que poderiam corresponder a esta descrição genérica (a Castellana, a Gran Via, a Alcalá ou a Goya, e outras), em Barcelona as Ramblas, em Paris os Champs Elysées. Noutras cidades as grandes avenidas centrais nascem na estação central de caminhos de ferro.
Em Lisboa essa avenida poderia ser a Av. da Liberdade. De resto também nasce de perto da estação de Caminhos de Ferro dos Rossio. Contudo, por razões várias, não tem sido particularmente conhecida pela movida. Aliás, durante bastante tempo foi até conhecida pela má vida. Mal caía a noite, travestis e bichas escandalosas faziam daquelas esquinas o seu lugar de ataque. Andar por ali a pé à noite não era, pois, algo que se recomendasse. Pois bem, desde há algum tempo para cá as coisas modificaram-se muito.
Não sei como é de madrugada. Até pode ser que se mantenham os velhos hábitos. Quando lá passo as horas ainda são horas decentes e não vejo nada disso.
A avenida é sim, agora, o lugar onde se têm vindo a instalar as marcas de moda. E há belos hotéis e belos restaurantes e escritórios de advogados e os edifícios estão restaurados, e o clássico mistura-se com o moderno e tudo se conjuga muito bem. O facto de ser uma avenida com largos passeios e várias fiadas de árvores ajuda a manter a identidade mesmo quando os prédios se modificam um pouco, pois o traçado e o arvoredo ajudam a manter a identidade do lugar.
Jantámos num restaurante que tem cerca de 1 ano e uma vez mais vou dizer qual foi pois acho que a sua qualidade, a nível de conforto, ambiente, localização e qualidade gastronómica o merece. Já quanto às contas, recomendo que a verifiquem pois tenho ideia que ainda não atinaram bem e, ainda esta quarta feira, lá calhou uma parcela errada.
O restaurante é o Avenue (coloco o link mas a ementa que está no site está muito desactualizada). É num amplo primeiro andar, tem uma música ambiente calma, é bem decorado, cosmopolita, agradável. Quem não o conheça ou não vá atento, nem dará por ele pois, ao nível do passeio, apenas tem a entrada.
Optámos pelos petiscos, ou seja, não fomos para os pratos de peixe ou de carne.
Depois do couvert (bom, incluindo uns feijões verdes em tempura sobre maionese de coentros, ou seja, uma adaptação dos peixinhos da horta), trouxeram, como amuse bouche, oferta da chef, um consommé. Nessa altura eu estava na conversa pelo que não ouvi a descrição. Quem a ouviu também não a soube reproduzir. Mas eu diria que é uma açorda alentejana fria, açorda de bacalhau talvez, passada pela varinha mágica, um caldo leve, cremoso. Nesse caldo nadavam lascas de bacalhau, cubinhos de pão torrado e rebentos de poejo. Muito agradável.
Depois, passei então aos petiscos e vou referir os que eu comi (não liguem muito aos nomes pois se calhar o nome que está na ementa - na real, não na que está no site onde isto nem consta - é diferente; não os fixei e, por isso, digo aquilo de que me lembro):
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Tudo muito bom mesmo. Talvez o ovo escalfado com a farinheira fosse aquele de que menos gostei. De cada coisa vem uma travessinha com 3 ou 4 peças e, portanto, dá para partilhar entre vários comensais. O preço de cada travessinha varia entre os 5 e os 10 euros (salvo erro). Com algum jeito conseguirá fazer-se uma refeição económica. A questão é que a gulodice é muita e, às tantas, vem isto, aquilo e o outro para se provar e, quando chega a conta, ui, ui. A lista de vinhos é variada mas, no nosso caso, como estávamos numa de petiscaria, as bebidas foram água e cerveja (servida em flute, bem gelada, bem boa).
- choquinhos estufados com tinta,
- bacalhau em tempura sobre puré de não sei o quê com saladinha de qualquer coisa de que não me lembro (é a imagem acima)
- filetes de cavala com cebolinha roxa alimada e puré de abóbora,
- e hambúrguer de pato em pequenos pães de caco (imagem à direita) com batata doce frita em finíssimas rodelas
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Tudo muito bom mesmo. Talvez o ovo escalfado com a farinheira fosse aquele de que menos gostei. De cada coisa vem uma travessinha com 3 ou 4 peças e, portanto, dá para partilhar entre vários comensais. O preço de cada travessinha varia entre os 5 e os 10 euros (salvo erro). Com algum jeito conseguirá fazer-se uma refeição económica. A questão é que a gulodice é muita e, às tantas, vem isto, aquilo e o outro para se provar e, quando chega a conta, ui, ui. A lista de vinhos é variada mas, no nosso caso, como estávamos numa de petiscaria, as bebidas foram água e cerveja (servida em flute, bem gelada, bem boa).
Para sobremesa comi um leite creme queimado com merengue estaladiço por cima e morangos laminados. Muito bom mesmo. Dá à vontade para 2 pessoas.
(Aqui na fotografia aparece um bocado desmantelado porque me distraí e quando o fotografei, já ele tinha sido alvo de ataque. Ainda tentei recompor um pouco mas não ficou fantástico.)
(Aqui na fotografia aparece um bocado desmantelado porque me distraí e quando o fotografei, já ele tinha sido alvo de ataque. Ainda tentei recompor um pouco mas não ficou fantástico.)
À noite não gosto de comer muito mas na quarta feira acabei por comer demais.
O couvert é generoso e também não contava com a sopa e depois, com petiscos tão apelativos na mesa, não ia deixar de os provar.
De qualquer forma, para quem não coma muito e queira comer na base dos petiscos da gastronomia portuguesa reinterpretada e (relativamente) em conta, pode ficar-se pelo couvert e, para dois, pedir uns 3 ou 4 petiscos e rematar com 1 sobremesa. Se a chef também oferecer um amuse bouche como fez connosco então a coisa chega mais do que bem. Mas, enfim, cada um adequará conforme o gosto e os que quiser gastar.
A seguir, para ajudar a digestão, fomos passear avenida acima, avenida abaixo.
Alguns restaurantes com esplanada estavam bastante compostos e num deles, num dos separadores, havia música e bailarico. Uma animação. Ainda desafiei o meu marido para um pé de dança. Mas qual quê? A resposta foi a do costume: 'Estás maluca?'. É um pé de chumbo, nada a fazer.
Mas centremo-nos, então, no que interessa: as marcas. Claro que não tem nada a ver com o que se encontra no Faubourg Saint-Honoré ou numa George V (só para referir Paris), essas ruas em que as lojas são seguidinhas e em que há sempre um bulício em volta delas. Aqui são mais espaçadas, e talvez por isso mesmo, não se sente aquele ambiente de curiosidade junto às montras. É claro que era de noite, as lojas estavam fechadas, mas ainda assim, nada a ver. Mas é o que é - e ainda assim é curioso de se olhar.
Seja como for, para os meus Leitores que não são de Lisboa nem terão possibilidade de vir tão cedo, aqui deixo a imagem de algumas montras. Naturalmente a minha atenção prende-se mais nas lojas de mulher (vestuário, calçado, carteiras) mas, pensando nos meus leitores homens que gostam de se vestir de forma abichanada ou a tender para o intelectual-alternativo, deixo também uma imagem. Sempre que me lembrei, fotografei também o cartão com os preços para que possam fazer o vosso orçamento e resolverem se compram uma carteirita por 2.000 euros ou se têm melhor destino para arejar a nota.
[Para as fotografias dos preços ficarem junto à fotografia da montra respectiva, tive que as pôr em ponto pequeno. Temo que não vejam bem os números mas, enfim, também pode ser que, assim em ponto pequeno, pareçam mais em conta. De qualquer maneira, se quiserem mesmo apanhar um susto, podem clicar em cima da fotografia que verão os preços em ponto grande.
Uma vez mais a formatação disto não está grande coisa mas ainda não aprendi bem a lidar com o editor do blogger: quero arrumar as imagens de uma forma mais artística e umas vezes consigo, outras nem pouco mais ou menos.]
[Para as fotografias dos preços ficarem junto à fotografia da montra respectiva, tive que as pôr em ponto pequeno. Temo que não vejam bem os números mas, enfim, também pode ser que, assim em ponto pequeno, pareçam mais em conta. De qualquer maneira, se quiserem mesmo apanhar um susto, podem clicar em cima da fotografia que verão os preços em ponto grande.
Uma vez mais a formatação disto não está grande coisa mas ainda não aprendi bem a lidar com o editor do blogger: quero arrumar as imagens de uma forma mais artística e umas vezes consigo, outras nem pouco mais ou menos.]
Carteiras Loewe - não fotografei os preços |
Antes de me despedir mostro ainda alguns painéis de azulejos que se podem ver na Avenida da Liberdade. Sou amante da azulejaria portuguesa. Se um dia me sair o Euromilhões tenho muita coisa para fazer e uma delas é tentar dinamizar a azulejaria (artes e ofícios de mãos dadas e, além do mais, um grande potencial de exportação).
Esqueci-me de registar a autoria. Imperdoável. |
Belo painel de Teresa Cortez, 1985, da Fábrica Viúva Lamego |
E porque de escapadelas estamos a falar, não quero sair daqui sem referir os belos hotéis da Avenida da Liberdade. Digo-vos que merecem ser apreciados mas isto já vai para além de longo. Para não vos maçar mais, mostro apenas uma bela entrada de um belo edifício antigo que penso ser a entrada de um hotel.
Provavelmente nunca vou ficar num destes hotéis (uma pessoa não vai para um hotel perto de casa, acho eu, a menos que seja, lá está, para a dita rapidinha - rapidinha ou escapadinha? ou é escapadela? que confusão... mais vale dizer em inglês: para um city break) mas, a quem tenha oportunidade, penso que ficar aqui, pelos hotéis em si e pelo lugar que é a Avenida da Liberdade e toda a Baixa de Lisboa, deve valer bem a pena.
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E depois disto só me resta aconselhar-vos a - seja em férias, seja ao fim de semana, seja ao fim do dia, seja numa escapadela durante o dia, seja no que for - visitarem e a ver com olhos de ver a bela cidade de Lisboa, uma das mais belas cidades do mundo. Eu nunca me canso, há mil recantos a visitar, mil pormenores a descobrir.
Não foi à toa que Lisboa foi, uma vez mais, distinguida pelos World Travel Awards, os chamados Óscares do Turismo, como o melhor destino europeu para um city break (Europe's Leading City Break Destination 2013), a dita escapada ou escapadela de que os órgãos de comunicação social têm feito eco. Entre a beleza natural, o património histórico e arquitectónico, o comércio, a actividade cultural, os jardins, o ambiente, etc, tudo convida a conhecer melhor a cidade.
E tenham, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira!
Escapada/escapadinha/escapadela/
ResponderEliminarrapidinha/. Esta nossa língua é uma maravilha!