A ver se consigo escrever alguma coisa. Não vai ser fácil. Aliás nem estou com vontade de escrever. Há pouco fervilhava de vontade de vir para aqui armar o fuzué do costume. Estava a ler a Lux e a cada página me ocorriam ideias.
Hoje à hora de almoço fui ao supermercado. Muitas vezes, quando tenho que esperar a minha vez nas caixas, pego numa das revistas que está ali ao lado, no escaparate, e enquanto não chega a minha vez, leio-a de uma ponta a outra. Adapto a rapidez da leitura ao tamanho da fila. Basta ler em transversal para se perceber o filme todo. Uma namorava e já não namora mas continua amiga do ex, outra está bem sozinha, outra está repleta de felicidade com o filho do mais recente casamento, o outro tem uma namorada nova e foi visto numa discoteca. Não passa disto. Acabo de ler, já não me lembro de nada e, de resto, não conheço quase ninguém daquela gente, quase tudo actores e actrizes das telenovelas que não vejo, ou modelos que também nunca vi antes. Mas não me interessa, enquanto espero a vez estou entretida e comprovo que continua a existir uma realidade paralela àquela em que eu vivo.
Hoje, mal entrei no supermercado, vi a Judite de Sousa na capa da Lux a dizer que já tinha pedido o divórcio.
Fiquei muito admirada. No outro dia numa estação de serviço tinha-a visto, radiosa, a sair da água de bikini, toda contente com a sua boa forma. Não me passava pela cabeça isto. Achava que ela e o candidato de direita (como o Prof. Marcelo se refere a ele quando, ao domingo, ele e ela falam do Seara sem que nenhum deles diga o nome do homem) eram um casal para todas as estações. Curiosa, fofoqueira, agarrei logo na revista na esperança de perceber o que se passava. Mas, afinal, depois de ter feito as compras, em vez de ir para uma caixa normal fui para uma daquelas caixas automáticas. Por isso, dei por mim com a revista por ler e sem ter como fazê-lo.
Comprar a Lux é coisa que não me está no ADN, digamos assim, mas abandonar a revista sem perceber o que se passa com a Judite de Sousa não me agradava.
Então pensei, levo a revista, depois no fim de semana levo-a para a minha mãe, ela vai achar graça, depois de a ler deve dá-la à amiga, ex-colega e vizinha, que lá vai a casa com frequência e com quem troca leituras e esta também deve gostar de ler. E, de resto, só custa 1,40 € e, assim como assim, há muito tempo que não cometo nenhuma extravagância. Já com uma justificação que apaziguava a consciência, lá trouxe a revista.
À tarde pensei, mais logo, à noite, antes de ir para os blogues, deito-me no sofá e leio o que se passa com a Judite e com o Seara; a ver é se não adormeço antes, com o sono que estou, pôr-me a ler no sofá é meio caminho andado para estar a dormir passado um minuto. Mas eis que recebo uma mensagem do meu filho a perguntar se podia cá deixar os miúdos para eles irem jantar fora e estar com os amigos. Claro que sim.
Mal cá chegou deu com a revista. Muito admirado, Mãe, está ali uma Lux... Lá lhe expliquei que tinha sido um caso de emergência, que a Judite se ia divorciar. Ficou também muito admirado e a modos que até pareceu perceber a necessidade de eu ter trazido a Lux.
Claro que, com os miúdos cá em casa, nem mais me lembrei da revista. Mas há pouco, estando ambos a dormir, lindos, fofos, aqui ao pé de mim, dois bonequinhos mais lindos, lá peguei na revista.
E lá fui folheando, até chegar à Judite.
A Liliana continua a ser amiga do Zé Carlos mas gosta mesmo é do filho, e gosta tanto que até costuma dizer que até as suas próteses mamárias ela deve ao filho (sic); a Naomi Watts vai fazer de Princesa Diana; o Sócrates está de férias no Algarve, no Pine Cliffs, e continua a gostar de correr e, depois, não resiste a um mergulho; o Professor Marcelo está perto, na Quinta do Lago, com saudades dos netos, mas, menos mal, juntou-se-lhe a Rita Amaral Cabral, a namorada; e o Eduardo Beauté está com o marido, o modelo Luís Borges, e com o filho, também a banhos, e aguardam ansiosamente a chegada de uma irmãzinha para o Bernardo; e o filho do Durão Barroso casou-se com a namorada e o filho foi ao casamento e lá estava o menino ao colo do avô Cherne e da avó Margarida; e depois caíu-me o queixo porque o Cláudio Ramos rompeu com o Pedro Crispim (mas o Cláudio Ramos afinal é gay assumido...? não fazia ideia) e seguem caminhos e objectivos de vida diferentes; etc, etc.
Será que toda a gente sabia menos eu? E eu a pensar que o Cláudio Ramos era uma daquelas evidências que só o próprio teimava em esconder. |
Até que finalmente lá cheguei ao ponto alto: Judite de Sousa pediu o divórcio de Fernando Seara.
O ano passado, quando pareciam formar um casal para sempre |
E então lá vi que já viviam uma situação complicada há uns meses, que o Seara já saíu de casa, que ela está a tentar adaptar-se a esta fase da sua vida e que tem contado com o apoio do filho do primeiro casamento, que ao contrário do ano passado em que tinham conseguido conciliar agendas para poderem passar uns diazitos juntos no Algarve, ela estava sozinha, e que até já escolheu advogada e eu leio que a advogada é a temível Maria José Galhardo, a melhor que há para divórcios e penso que, se ela escolheu a Maria José Galhardo é porque receia que o divórcio não seja coisa pacífica, e que na TVI ninguém tinha desconfiado de nada, tal o profissionalismo dela.
E continuo. A Pimpinha Jardim tem um novo bebé. E as ex-top models continuam com um corpo de se lhes tirar o chapéu e vou continuando.
Até que, mais para o fim, chego ao funeral de Urbano Tavares Rodrigues, e leio sobre o filho de apenas 7 anos da sua actual mulher, Ana Maria, e vejo os amigos, e conheço-os, não preciso de ver a legenda. Manuel Alegre e a mulher, João Soares, Carlos do Carmo, Vitorino, Francisco Louçã, Jerónimo de Sousa, António Vitorino de Almeida, Vasco Graça Moura, Helena Roseta, e aquela meio doida, com uma ar já um bocado estranho, a Clara Pinto Correia, até que vejo um casal que não conheço. Leio a legenda para ver quem são. Cai-me o coração aos pés.
Leio: António Lobo Antunes com Cristina Ferreira de Almeida.
Angustiada, olho com atenção. É ele mesmo. Aquele rosto inchado, sem um único cabelo, talvez nem sobrancelhas, o aspecto típico de quem anda a levar horríveis doses de quimioterapia. Fico quase sem um pingo de sangue. Outra vez? Uma recaída? Fui confirmar à Visão. Continua a escrever e não tem falado nisto. Volto a ver a fotografia. Mas não, o aspecto não engana. Fiquei e ainda estou numa angústia.
Não consigo ler os seus romances desde há uns anos. Gostei muito dos primeiros e depois, quando a escrita começou a enovelar-se, deixei de conseguir. Mas gosto muito das crónicas, acho que é aí que ele é melhor. Ele odeia que lhe digam isso. Acha as crónicas uma coisa menor, um ganha pão. Mas é o que é. E gosto dos livros com entrevistas suas, tenho e li vários. Acaba por se repetir um bocado mas acho normal, se lhe fazem as mesmas perguntas, não vai inventar coisas diferentes só para parecer criativo. E acho graça ao ar blasé de quando dá entrevistas. E simpatizo com ele. Ele, conhecido através das suas crónicas, é um homem interessante. Tenho todos os seus livros porque acho que talvez um dia eu consiga perceber a sua arte, acho que o que eu gosto dele justifica que tenha ali tantos livros dele por ler.
Não quero pensar que está outra vez sob ameaça. Lembro-me das suas crónicas escritas no hospital quando foi operado ao cancro, ou as crónicas sobre a imensa dignidade dos seus 'colegas' de quimio, sobre a sua própria fragilidade, sobre a importância das manifestações de estima na sua recuperação, mesmo que essas manifestações fossem uma mão sobre o braço ou o silêncio. Se escrevo agora, aqui, sobre isto é porque é a minha forma de lhe colocar a minha mão silenciosa sobre o seu braço. O afecto que talvez ajude a voltar a ficar bom.
Mas ainda não quero pensar que a ameaça voltou. Tomara que eu me tenha equivocado. Tomara que ele esteja bem. Tomara que, se não está bem, o fique rapidamente. Que ultrapasse outra vez as provações, que vença o bicho mau. Que continue por muitos, muitos e bons anos, a escrever.
Que o menino Antoninho continue dentro dele, curioso, irrequieto, feliz, que o menino Antoninho e o senhor António nos contem as muitas e ternurentas peripécias que se passavam no bairro de Benfica, o que se passam agora com as meninas que atacam ali por perto da leitaria do novo bairro, essas coisas, tantas coisas sempre, tantas coisas que queremos ainda saber.
António Lobo Antunes, um homem bonito, inteligente, polémico e que escreve (crónicas...) muito bem
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Fique bom, António Lobo Antunes
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Juro que não vou esquecer
António Lobo Anunes
Juro que não vou esquecer
António Lobo Anunes
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A música lá mais em cima é o Impromptu Op.90 no.3 de Schubert interpretado por Maria João Pires
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A música lá mais em cima é o Impromptu Op.90 no.3 de Schubert interpretado por Maria João Pires
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom dia feriado!
Não sabia que Lobo Antunes está a viver o que descreve. Há muito que também não consigo ler os seus livros, mas gosto das crónicas. Um grande senhor.
ResponderEliminarA Maria José Galhardo é uma fera! Terrível! Um irmão meu quando se divorciou, aqui há uns 5 anos, a mulher foi buscá-la, contrata-la. Aquilo foi fogo! E feio! Uma coisa do diabo! A mulher não brinca em serviço. Para divorciar uma mulher não há melhor. E o marido sai, normalmente, esfrangalhado!
O Seara então voltou ao engate, está visto. E a Judite igualmente. Que se divirtam no que ainda muito lhes resta de vida é o meu desejo!
E bom, vou arejar a pluma, com mulher, filhos, nora e neto, para casa de uns amigos!
P.Rufino
Ora entao "Boa noite às pessoas aí em baixo".
ResponderEliminarAbraco daqui de cima
Olá Jeitinho,
ResponderEliminarO tipo de revista a que se refere, ao qual eu chamo revistas de cabeleireiro,(é onde as leio), trazem por vezes noticias que me surpreendem mas logo parto do principio de que nem todas são verdade.
Fiquei agora surpreendida com o que nos diz sobre Antonio lobo Antunes. Oxalá vença ,mais uma vez, o maldito bicho.
Ainda nos faz falta.