Não vi a comunicação de Passos Coelho ao País, tenho mais que fazer do que perder tempo com fantochadas. Quando aqui em casa se ligou a televisão, os noticiários falavam do calor e de coisas assim, e do acidente do avião que se despenhou em São Francisco. Interrogámo-nos: será que afinal aqueles dois não falaram ao País? Mas também não quisemos saber.
Agora que me sentei ao computador, dei uma volta pelos blogues aqui da galeria, espreitei os jornais. E lá vi uma imagem do ex-Doce com o Portas ao lado, este calado, parece que outra vez a fazer de mudo. Mas confirma-se, portanto, que Paulo Portas voltou uma vez mais atrás, engoliu o que tinha comunicado ao País com pompa e circunstância, e agora até é capaz de achar que ganha alguma coisa em ficar vice-primeiro-ministro com responsabilidade pela economia, pela reforma de Estado e pelas conversas com a troika. Pensará ele... mas o País inteiro perdeu-lhe o respeito. Desculpa-se a primeira, tolera-se a segunda mas à terceira ou à quarta ou à quinta já não se aguenta. Como dizem os brasileiros: sujou.
Palavra sem palavra
Entrada altiva
Revogada
Palavra saída
Pela mesma porta
Morta…
[Palavra Morta de José Rodrigues Dias em Traçados sobre Nós]
Adiante.
Vi a fotografia do pai, Nuno Portas, nos altos do Sobe & Desce do caderno Actual do Expresso, por, em conjunto com Nuno Teotónio Pereira e Alcino Soutinho, terem sido distinguidos com a Medalha de Mérito Cultural, atribuída pela Secretaria de Estado da Cultura, no âmbito do Ano da Arquitectura Portuguesa que está a decorrer.
Vi a fotografia do pai, Nuno Portas, nos altos do Sobe & Desce do caderno Actual do Expresso, por, em conjunto com Nuno Teotónio Pereira e Alcino Soutinho, terem sido distinguidos com a Medalha de Mérito Cultural, atribuída pela Secretaria de Estado da Cultura, no âmbito do Ano da Arquitectura Portuguesa que está a decorrer.
Transcrevo as palavras de J. Barreto Xavier: 'A vida e obra dos três confundem-se num ponto específico onde coexistem a prática arquitectónica e urbanística, a investigação, o ensino, a actividade social e a ligação entre a sua formação de base e outros domínios do universo artístico'.
Sinto admiração por Nuno Portas, uma pessoa tão talentosa, tão inteira, tão genuína, que parece ser tão boa gente, tão acima da mediocridade.
Nuno Portas, alentejano de nascimento, talvez tripeiro de coração, arquitecto, urbanista, homem de cultura e muito mais (e um homem com muita pinta) |
Não quero estabelecer comparações. Custa-me. Como mãe sei bem como queremos sempre ouvir dizer bem dos filhos e como queremos que os filhos sejam melhores que nós. Não sei se teria arcaboiço para ouvir dizer mal de algum dos meus filhos nos jornais, nas televisões, na blogosfera. Acho que ficava doente. Felizmente a nenhum deles lhes deu para uma carreira política. Mas, nunca se sabe, pelo que, se isso vier algum dia a acontecer - e espero bem que não - tomara que eu consiga ter a imunidade suficiente para não me deixar atormentar.
Por isso, refiro apenas que, logo no dia em que o Expresso está cheio de Paulo Portas e tudo tão pouco abonatório, sempre nos Baixos, é curioso que seja, justamente, o pai, Nuno Portas, a receber a posição de destaque num dos Altos. Merece-a, sem dúvida.
Mas voltando àqueles dois, ao casalinho que se foi reconciliar passando a tarde de sábado no hotel: depois de terem andado a desgraçar o País ao longo de dois anos, por causa agora de uma birra puseram a cereja em cima do bolo: fizeram o País perder mais uns mil milhões num dia, conseguiram que os portugueses se enojassem um pouco mais com a política, confundindo a política com os seus actuais míseros agentes. E, no entanto, irresponsáveis como são, agora aí andam armados em vendedores da banha da cobra, parecendo que têm um produto novo para vender. Não têm noção. Desaderiram da realidade. Uma tristeza.
Depois destas cegadas todas, em que andam a condicionar o Cavaco, na prática quase o impedindo de tomar outra decisão que não deixá-los continuarem a espatifar o País, fico ainda mais revoltada com esta porcaria toda.
Ainda bem, portanto, que não os vi na televisão. Aliás o meu marido, mal eles aparecem, começa a insultá-los e, ou desliga a televisão, ou levanta-se e vai para bem longe. E a minha filha, uma pacifista, ao telefone, insurgia-se e interrogava-se: 'Mas como é possível o Paulo Portas voltar atrás? E será que o Cavaco vai nisto? É que é tudo tão surreal! As pessoas não vão ter paciência! Não sei se qualquer dia não há uma revolução...' Nem sei que lhe diga.
Estive, isso sim, a ver o interessante documentário sobre Bert Stern.
Tenho o livro dele com as icónicas fotografias de Marilyn, tal como tenho outros livros de fotografias dela, a quem ele ficaria, para sempre, ligado.
Como sabem os que por aqui costumam parar, sou apaixonada por fotografia. Mas, como em tudo, sou uma apaixonada em estado bruto. Uma pura diletante. Não quero saber de técnicas, não quero saber de cronologias, de bibliografias e outras filosofias. Quero apenas deixar-me impressionar pela fotografia em si, tentar ver pelos olhos de quem viu a imagem que estou a ver.
E não apenas devoro a fotografia dos outros, como gosto muito de fotografar. Desde sempre que sou apaixonada por fotografar. Vejo as coisas de maneira diferente quando as vejo através da lente - parece que o meu olhar repara de outra maneira nos pormenores, nas perspectivas, se encanta como se fosse a primeira vez.
Em tempos também as revelávamos, ampliávamos e imprimíamos em casa, à noite, quando os miúdos dormiam, e era pura magia, ampliador, bandejas com líquidos, pinças de pontas de borracha, as imagens a surgirem do papel antes em branco.
Com o digital isso perdeu sentido, até parece uma coisa pré-histórica. Temos muitas fotografias a preto e branco dessa altura. Agora isso está tudo num armário da despensa, aqui in heaven. No outro dia reparei que ainda há líquido nos frascos.
Hoje, por causa do calor, só fui para a rua ao fim da tarde. Antes estive a ler o Expresso aqui na sala, com uma ventoinha apontada na minha direcção. Depois adormeci.
Ao entardecer, fui então lá para fora. Estive deitada no chão, sobre um colchão fininho, debaixo das árvores. Nem uma aragem.
Gosto muito de estar no campo, deitada no chão.
Os cheiros ficam mais próximos, e aqui, por baixo do cedro e do tamarix, junto aos gerânios e ao alfazema, há um perfume que cheira a âmbar, tabaco, e a flores. Envolvente. Muito bom.
E, enquanto as cigarras num alvoroço, ponho-me a ver as formigas numa azáfama, levando restinhos de folhas, indiferentes ao meu corpo que ali está a apanhar o sol suave do entardecer.
Aqui onde estou deitada vejo em frente o loendro que está enorme, as chuvas deste ano fizeram com que deitasse ainda mais corpo e está todo coberto de flores cheirosas. E o perfume do loendro (ao qual Natália Correia chamava aloendro e que, por estas bandas, chamam cevadilha) é, como é sabido, doce, sensual.
[O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso de água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro]
Por esta altura o alfazema desponta, as espigas abrem, lilases, perfumadas, delicadas. Há sempre uma abelha bebendo o seu sumo doce. Eu fotografo-as, encantada, são um ponto de luz dourada sobre as pequenas flores, e elas não se importam com a minha presença silenciosa, sou aceite como um ser pacífico que não perturba a sua vida normal.
Amanhã irei apanhar algumas espigas para levar à minha mãe, ela gosta do perfume do alfazema, talvez depois as coloque dentro de saquinhos que gosta de ter nas gavetas. Também vou levar para ter no carro e no gabinete, gosto de ter o cheiro limpo do campo junto a mim.
O calor intenso, estava seguramente mais de 40º, faz com que os odores fiquem fortes. Aqui, debaixo da grande figueira (os figos ainda não estão bons...), a somba é quase fresca e muito perfumada, o perfume doce que se tem quando se está debaixo de uma figueira é uma maravilha.
E a maravilha que são as sombras dos seus troncos projectadas sobre a parede branca? Hoje fiz uma série de fotografias com essas sombras. Em algumas aparece também o tronco em si mas eu não sei o que é mais verdadeiro: se o tronco redondo e dourado de uma madeira macia, se a sombra sinuosa e plana impressa na parede rugosa e branca. Dúvidas cá minhas. (Com dúvidas deste tipo, como haverei eu de perceber as pantominices da dupla Paulo&Pedro, não é? Aquilo é areia a mais para a minha camioneta, reconheço.)
A luz por aqui, ao fim do dia, é sempre dourada, a paisagem fica linda. O pior é mesmo o calor. Parece que aqui as temperaturas são sempre extremadas. Escuso de vos confidenciar que me coloquei várias vezes debaixo do jacto de água da mangueira. Tão bom. Mas fico quase instantaneamente seca, tanto o calor.
Marilyn por Bert Stern |
Como sabem os que por aqui costumam parar, sou apaixonada por fotografia. Mas, como em tudo, sou uma apaixonada em estado bruto. Uma pura diletante. Não quero saber de técnicas, não quero saber de cronologias, de bibliografias e outras filosofias. Quero apenas deixar-me impressionar pela fotografia em si, tentar ver pelos olhos de quem viu a imagem que estou a ver.
E não apenas devoro a fotografia dos outros, como gosto muito de fotografar. Desde sempre que sou apaixonada por fotografar. Vejo as coisas de maneira diferente quando as vejo através da lente - parece que o meu olhar repara de outra maneira nos pormenores, nas perspectivas, se encanta como se fosse a primeira vez.
Em tempos também as revelávamos, ampliávamos e imprimíamos em casa, à noite, quando os miúdos dormiam, e era pura magia, ampliador, bandejas com líquidos, pinças de pontas de borracha, as imagens a surgirem do papel antes em branco.
Com o digital isso perdeu sentido, até parece uma coisa pré-histórica. Temos muitas fotografias a preto e branco dessa altura. Agora isso está tudo num armário da despensa, aqui in heaven. No outro dia reparei que ainda há líquido nos frascos.
Hoje, por causa do calor, só fui para a rua ao fim da tarde. Antes estive a ler o Expresso aqui na sala, com uma ventoinha apontada na minha direcção. Depois adormeci.
Ao entardecer, fui então lá para fora. Estive deitada no chão, sobre um colchão fininho, debaixo das árvores. Nem uma aragem.
O céu visto a partir do chão onde estava deitada |
Gosto muito de estar no campo, deitada no chão.
Os cheiros ficam mais próximos, e aqui, por baixo do cedro e do tamarix, junto aos gerânios e ao alfazema, há um perfume que cheira a âmbar, tabaco, e a flores. Envolvente. Muito bom.
E, enquanto as cigarras num alvoroço, ponho-me a ver as formigas numa azáfama, levando restinhos de folhas, indiferentes ao meu corpo que ali está a apanhar o sol suave do entardecer.
O loendro está coberto de flores cor de rosa que ficam louras com este sol |
Aqui onde estou deitada vejo em frente o loendro que está enorme, as chuvas deste ano fizeram com que deitasse ainda mais corpo e está todo coberto de flores cheirosas. E o perfume do loendro (ao qual Natália Correia chamava aloendro e que, por estas bandas, chamam cevadilha) é, como é sabido, doce, sensual.
[O corpo é praia a boca é a nascente
e é na vulva que a areia é mais sedenta
poro a poro vou sendo o curso de água
da tua língua demasiada e lenta
dentes e unhas rebentam como pinhas
de carnívoras plantas te é meu ventre
abro-te as coxas e deixo-te crescer
duro e cheiroso como o aloendro]
Abelha felpuda voando de flor em flor no alfazema |
Por esta altura o alfazema desponta, as espigas abrem, lilases, perfumadas, delicadas. Há sempre uma abelha bebendo o seu sumo doce. Eu fotografo-as, encantada, são um ponto de luz dourada sobre as pequenas flores, e elas não se importam com a minha presença silenciosa, sou aceite como um ser pacífico que não perturba a sua vida normal.
Amanhã irei apanhar algumas espigas para levar à minha mãe, ela gosta do perfume do alfazema, talvez depois as coloque dentro de saquinhos que gosta de ter nas gavetas. Também vou levar para ter no carro e no gabinete, gosto de ter o cheiro limpo do campo junto a mim.
As portadas da cozinha fechadas para tentar manter a casa fresca |
O calor intenso, estava seguramente mais de 40º, faz com que os odores fiquem fortes. Aqui, debaixo da grande figueira (os figos ainda não estão bons...), a somba é quase fresca e muito perfumada, o perfume doce que se tem quando se está debaixo de uma figueira é uma maravilha.
E a maravilha que são as sombras dos seus troncos projectadas sobre a parede branca? Hoje fiz uma série de fotografias com essas sombras. Em algumas aparece também o tronco em si mas eu não sei o que é mais verdadeiro: se o tronco redondo e dourado de uma madeira macia, se a sombra sinuosa e plana impressa na parede rugosa e branca. Dúvidas cá minhas. (Com dúvidas deste tipo, como haverei eu de perceber as pantominices da dupla Paulo&Pedro, não é? Aquilo é areia a mais para a minha camioneta, reconheço.)
A regar ao fim do dia, a água dourada contra a luz do entardecer |
A luz por aqui, ao fim do dia, é sempre dourada, a paisagem fica linda. O pior é mesmo o calor. Parece que aqui as temperaturas são sempre extremadas. Escuso de vos confidenciar que me coloquei várias vezes debaixo do jacto de água da mangueira. Tão bom. Mas fico quase instantaneamente seca, tanto o calor.
*
E não vos maço mais. Tenham, meus Caros Leitores, um belo domingo.
Apesar deste verão tão duplamente quente, a vida é (ou melhor, pode ser) uma maravilha.
Sobre a vida política do nosso país já me dá nervos ouvir o que quer que seja. Ainda ontem ou anteontem, ver aquela exposição vergonhosa de carros e carros topo de gama, absolutamente irrepreensíveis, uns a sair atrás dos outros...revolta! Tanto exibicionismo desta garotada gananciosa e inútil, num país cada vez mais a morrer à fome.
ResponderEliminarREVOLTA-ME!
O heaven deve ser um bom local para tentar esquecer toda esta palhaçada de garotos estúpidos e birrentos!
São muito bonitas as fotos e deve ser óptimo estar deitada à sombra das árvores a ouvir as vozes do campo!
Um bom domingo!
Em Agosto um estará a banhos na Manta Rota, num manifestação pública e popularucha e o outro vai incógnito e snob para uma qualquer Suiça.
ResponderEliminarTudo está bem quando acaba(?)bem.
Enquanto isso o país arde...
Cara UJM:
ResponderEliminarObrigado por ter gostado de "Palavra morta".
Bom resto de dia. Boa semana.
J. Rodrigues Dias
Cara Jeitinho,
ResponderEliminarCada vez percebo menos. Vou tentar desinteressar-me um pouco mais.
Às vezes penso, felizes dos ignorantes, se bem que não concorde que "deles será o reino dos Ceus".
Olá UJM!
ResponderEliminarGosto que goste de fotografar. Assim sinto-me mais acompanhadono meu fanatismo fotográfico!
Também vi com muito interesse o filme sobre o Bert Stein!
É bom esquecer a garotada surreal por alguns instantes!
Um abraço
Olá UJM,
ResponderEliminarDepois de uma semana escaldante em todos os sentidos, foi muito bom vir aqui ao seu in heaven respirar um pouco de ar puro e perfumado! Aí tudo faz parte integrante desse paraíso, a tranquilidade, a paz, as flores, o ar,o sol, os aromas e até o trabalho da formiguinha laboriosa é observado e valorizado!...
Obrigada por esta lufada de ar fresco!
Um beijinho e uma boa semana.
Permita-me uma pequena correção. O arquiteto Nuno Portas não é tripeiro. É alentejano de Vila Viçosa. Uma sua biografia pode ser vista aqui: http://sigarra.up.pt/up/pt/web_base.gera_pagina?P_pagina=1005744.
ResponderEliminarCaro Fernando Ribeiro,
ResponderEliminarJá dei um jeito no texto. Contudo, apenas usei a expressão por ser o título da publicação mostrada que, provavelmente, o chamou assim pelo contributo que tem ele dado aos locais 'das tripas'.
Mas fez bem em alertar porque, de facto, induzia em erro.
Vou ver o que recomenda. Muito obrigada.
Um bom dia (hoje já está um pouco mais fresco)!