Há várias maneiras de correr com uma pessoa. Se for um pobre coitado, a coisa é simples: um pontapé no traseiro, temos que reduzir custos, é a vida, tome lá aquilo a que tem direito, se precisar de alguma coisa, já sabe, adeus, boa sorte - e já está.
Se não é tão pobre coitado assim, e se é cedo para ir para a reforma, então não se convida para negociar a saída: arranja-se-lhe um outro lugar e, na hora da saída das funções anteriores, diz-se que vai abraçar novos desafios, agradece-se-lhe os bons serviços prestados, a sua dedicação exemplar. Finge-se, faz-se uma festa a fingir, toda a gente finge todos. É mais cómodo para todos.
Mas há outra situação: a criatura ganhou uma importância tal (frequentemente uma falsa importância, toda ela feita de encenações e favores, muitos dos quais escusos) que a forma de se correr com ela é aquilo a que vulgarmente se chama o chuto para cima.
E é assim que, muitas vezes, os vulgares mortais, os que não bebem do fino nem pisam os macios corredores do poder, assistem perplexos à imparável ascenção de gente medíocre, gente que nunca fez outra coisa senão gerir a sua própria vidinha.
Hoje estou um pouco sem forças já que estive de manhã na praia, o que incluíu uma longa caminhada e um banho de mar (ainda que rápido), depois, à tarde, gelado de dois sabores, pastel de nata e cubano, na D. Manuel da Maia à Praça de Londres, passeio pela Guerra Junqueiro, Avenida de Roma, por aí, e, para rematar, passeio no CCB - e isto com um calor africano, que derruba qualquer europeu. Por isso, agora estou capaz é de me ir deitar sem qualquer roupa e de janela aberta como de costume, para ver se durmo e refresco. Apesar de não ter feito coisa que se aproveite, sinto-me cheia de sono, cansada.
Ou seja, não estou com grande (nem pequena...) inspiração para grandes dissertações.
No entanto, não quero deixar de, uma vez mais, lamentar o percurso de Durão Barroso.
Enquanto por cá andou, não tenho ideia de se lhe conhecer obra de jeito. Diziam-no ardiloso, sabia levar a água ao seu moinho, desleal para com o Ministro Deus Pinheiro, quando este era Ministro e o ex-maoísta MRPP ainda Secretário de Estado. A habilidade para segurar pontas e a deslealdade foi recompensada com o cargo de ministro. Algum tempo depois, e depois de muita jogada de bastidores, de muito tirar de tapete a líderes do partido, ei-lo que chega a Primeiro-Ministro. Uma vez mais, não se lhe conheceu um golpe de asa, um rasgo, uma visão. Nada.
Mas isso que importa?
O que importa são os contactos, as influências, o saber ajeitar-se, o ser exímio em adaptar-se, com flexibilidade, a qualquer circunstância. Quanto mais flexível a coluna, mais fáceis os exercícios de contorcionismo - isso é coisa sabida. E, portanto, a meio do mandato, eis que adeusinho, por aqui me desbaldo, e aí vai ele de malas aviadas, para Comissário europeu.
Na altura fiquei pasmada. Como? Como era possível que num lugar antes ocupado por gente de grande qualidade, estivesse agora um cherne? Fiquei pasmada na altura e, vários anos volvidos, ainda mais pasmada estou: como se aguentam em funções, anos a fio, pessoas assim?
A verdade é que o cherne lá foi sobrevivendo, deixando que a Europa se corroesse, se esboroasse, fizesse coisas que envergonham os europeus como, por exemplo, juntar-se na vergonhosa mentira que permitiu uma guerra desencadeada por falsos motivos.
A Alemanha, entretanto, foi ganhando terreno e hoje, quando se pensa onde é que está o poder na União Europeia ou com quem é que, na Europa, se deve falar, toda a gente pensa inevitavelmente em Angela Merkel.
Neste escândalo de espionagem informática que Snowden tem vindo a divulgar (e tomara que o rapaz se aguente, com vida, livre, - rapaz que agora é presa apetecível por todos os centros de poder, dos russos, aos chineses, até, claro, aos americanos), em que meio mundo se insurge publicamente (uns com genuína indignação, outros armados em virgens), com os alemães, quase em uníssono, piurços da vida, com Martin Schulz, nomeadamente, a exigir públicas explicações - onde está o Comissário Europeu José Durão Barroso? Em parte incerta, como de costume. Uma vez mais, é a Alemanha que toma a dianteira e temos os jornais e os políticos alemães (e não só) a atirarem-se ao ar com isto. E têm razão. Durão Barroso está em silêncio. Pudera. Ainda não se sabe para que lado vai esta história pender pelo que, até lá, o cherne deixa-se estar em águas profundas a fazer-se de morto. O costume.
Insultado e destradado por toda a gente, inútil, frouxo, Durão Barroso é, pois, o exemplo acabado da nulidade.
No entanto, agora que se avizinha o fim do seu mandato à frente da Comissão, assisto espantada às manobras generalizadas para lhe darem mais um chuto para cima. Elencam-se as possibilidades: ONU, NATO, etc.
Ou seja, como se não tivesse ficado ainda evidente o mal que faz ao mundo haver gente como Durão Barroso à frente de instituições que deveriam marcar o rumo dos acontecimentos, persiste-se no mesmo erro.
Como é isto possível? Não sei.
O que sei é que, tal como dizem os franceses e todos os outros que o criticam, Durão Barroso já fez mal demais à Europa. Se termina agora o seu mandato, então ainda bem. Mais vale que fique em casa, sossegado, do que ir estragar mais o mundo.
Tenho ouvido, influentes vozes nacionais dizendo, com alguma ironia, que não seria simpático travarmos-lhe a ambição internacional e que, bem vistas as coisas, antes por aí do que por cá, quiçá como Presidente da República. Não concordo nem um bocadinho. Porque haveremos de alimentar o ego de um cherne?! Ora essa.
Pessoas como Durão Barroso, que já provaram à saciedade que são um zero à esquerda, uns joguetes nas mãos de quem lhe abra os olhos, incapazes de exercer uma liderança efectiva, devem é ter a sua actuação circunscrita à sua própria família. Não temos que ser nós, portugueses, europeus ou cidadãos do mundo a ser vítimas da sua ambiçãozinha pessoal e do seu carácter próprio de um cherne contorcionista. Ou de um camaleão. Era o que faltava. Ora essa, repito.
Tenho ouvido, influentes vozes nacionais dizendo, com alguma ironia, que não seria simpático travarmos-lhe a ambição internacional e que, bem vistas as coisas, antes por aí do que por cá, quiçá como Presidente da República. Não concordo nem um bocadinho. Porque haveremos de alimentar o ego de um cherne?! Ora essa.
Pessoas como Durão Barroso, que já provaram à saciedade que são um zero à esquerda, uns joguetes nas mãos de quem lhe abra os olhos, incapazes de exercer uma liderança efectiva, devem é ter a sua actuação circunscrita à sua própria família. Não temos que ser nós, portugueses, europeus ou cidadãos do mundo a ser vítimas da sua ambiçãozinha pessoal e do seu carácter próprio de um cherne contorcionista. Ou de um camaleão. Era o que faltava. Ora essa, repito.
NB: As imagens são obtidas através do inspirado blogue We Have Kaos in the Garden.
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Convido-vos ainda a visitarem-me no meu Ginjal e Lisboa, onde hoje recebo um novo poeta, Emanuel Jorge Botelho. A seguir uma grande interpretação: Pavel Sporcl no violino.
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Tenham, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já por esta segunda feira!
Durão Barroso, tanto quanto me é dado saber, tem o caminho preparado para vir a ocupar o lugar de SG da Nato. Depois de ter percebido que não iria continuar mais tempo como Presidente da Comissão Europeia, sobretudo a partir do momento em que quer a Alemanha e, sobretudo, a França de Holland, não estavam dispostas a manter-lhe o apoio, Barroso, aos poucos, foi preparando o terreno, ou seja, o seu futuro. Não lhe interessando, ao contrário do que alguns patuscos aqui chegaram a acreditar, ser PR deste insignificante rectângulo á-beira mar plantado, Barrroso foi, de forma meticulosa, trabalhando os necessários e valiosos apoios dos EUA para o posto que deverá vir a ocupar, na Nato, uma vez cesse as suas actuais funções. Barroso nunca deixou de ser um homem de mão dos EUA, mesmo enquanto Presidente da Comissão Europeia. A sua presença naquela (abjecta) Cimeira dos Açores, onde 1 Chefe de Estado e 2 Chefes de Governo mentiram aos seus cidadãos e eleitores, de forma consciente e planeada, foi um acto pensado, um investimento a longo prazo. Barroso sempre foi um tipo calculista. Nunca deu ponto sem nó. Mesmo quando, no MNE, enquanto Sec. Esta da Cooperação, foi desleal para com o preguiçoso e vaidoso Deus Pinheiro, sabia que o seu desempenho, sobretudo junto das autoridades angolanas e do então PM Cacaco, iria trazer-lhe dividendos. E trouxe. Algum tempo depois era Ministro. Depois, candidato a líder do PSD, minando Fernando Nogueira (nesse Congresso, representantes da Embaixada dos EUA, a seu convite, estiveram presentes, ali, a assistir à sua performance, onde, se se recordam, o Menezes de Gaia fez uma tristíssima figura, apelando ao Norte, com lágrimas e tudo. Conheci duas desssas representes). E o resto é História. Aproveitando-se da desistência de Guterres, outro malandro, lá vai a PM, para, uma vez conseguido o apoio de uns tantos países da UE (com o apoio dos EUA) deixar os crédulos que nele votaram e embarcar para Bruxelas. Barroso sempre teve uma actuação a jogar em vários tabuleiros politicos, a pensar nas suas ambições. Os Fora Económicos onde comparecia eram uma outra forma de fazer o seu lobby. Barroso é um tipo frio e calculista. Sabia que mais dia menos dia, teria de deixar a Comissão, daí ter preparado, a prazo e metodicamente o seu futuro próximo. Todos os passos que deu na vida, como político, foram sempre bem estudados, bem pensados. Soube sempre cultivar as influências que lhe poderiam importar um dia, quer por cá, quer lá por fora. Barroso é um bom, mau, exemplo, do que se deve ser – e fazer, proceder - para se chegar onde se quer. Sabe escolher os apoios para aquilo que lhe irá interessar no futuro e manter-se no presente. Conheci a “peça”, embora não convivesse com a criatura de perto, há muitos anos atrás. E segui, com o desprezo que indivíduos como ele me merecem, esse seu caminho, até hoje. Foi, concedo, refinando. Está muito mais cínico, mais hipócrita, mais inteligente, mais sabido e mais crápula do nunca. Nada mais lhe interessa do que ele próprio, o seu futuro e a sua pessoa. E sabe, como poucos, usar quem lhe pode ser útil, e quem se prontifica a servi-lo desde que lhe sirvam os seus interesses profissionais e pessoais. Sinceramente, ainda bem que Portugal é pouca monta para semelhante figura. Uma observação final: não se lhe reconhece uma ideia de génio para a UE, enquanto Presidente da Comissão Europeia, mas o mesmo se irá passar, uma vez ocupe o lugar de SG da Nato. Sairá como entrou, sem ruído. Um dia, ouvir-se-á falar dele apenas como alguém que se passou pela política internacional, ocupou lugares de destaque – “sem todavia se ter destacado neles”.
ResponderEliminarP.Rufino
Não obstante o itinerário sinuoso que o estadista percorreu ao longo dos anos, o acontecimento mais relevante da sua vida política, foi a tentativa de "transferir" para a sede do MRPP, algum do mobiliário existente na Faculdade de Direito, atitude que mereceu uma veemente reprimenda do ex-educador do povo Arnaldo de Matos.
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