quinta-feira, julho 04, 2013

A humilhação brutal a que Paulo Portas se tem vindo a sujeitar. Agora até o próprio CDS o manda engolir o que disse. Uma vergonha. A responsabilidade pessoal de Paulo Portas, Passos Coelho e Cavaco Silva pela perda de cerca de dois mil milhões num único dia. O falhanço assumido das políticas do Governo de Passos Coelho (tal como o descreve Vítor Gaspar) como um dos factos políticos mais relevantes dos últimos dias, segundo Adriano Moreira.


Só vi televisão depois das 22 h. Farta, farta, farta. Tanta mediocridade põe-me à beira da doença. Se por um lado tenho alguma curiosidade em saber o que se passa, por outro, já me agonio com a constatação de tanta baixeza.

Mas às dez e tal da noite estava a dar uma entrevista na TVI 24, Paulo Magalhães entrevistava Adriano Moreira. Deu gosto. Se eu exercesse funções políticas iria querer aconselhar-me assiduamente com pessoas assim, gente inteligente, culta, intuitiva. Que diferença, Deus meu... Em Adriano Moreira há um pensamento organizado, há um saber sedimentado, uma ponderação honesta.


Diz ele que acha inevitável que haja eleições antecipadas mas recomenda que ocorram depois da avaliação da troika e da elaboração o Orçamento. Acha que a Reforma do Estado deveria ser abrangente e começar por redefinir o papel do Presidente da República, deveria ser mais do que fazer cortes na despesa. Diz que, nesta crise, em que diz ter assistido a coisas impensáveis, o ponto mais importante foi a carta de Vítor Gaspar pois nela ele assume o falhanço de toda a política que vem sendo seguida. Diz que é uma preocupação a falta de autoridade que Cavaco revela. E diz muito mais coisas. Sereno, lúcido, construtivo. Um Senhor.


Entretanto, agora, ao sentar-me aqui dei uma volta pelos jornais online. Fico perplexa e chocada com a falta de lógica e de sentido de Estado de Passos Coelho e de Paulo Portas. Redefinir a Coligação? Os mesmos que se difamaram na praça pública, vão agora ensaiar num novo tipo de relacionamento? Inverosímil. Eles, que estão por tudo, podem achar que sim mas ninguém mais os olhará com respeito.

Num outro prédio em que morei, viviam no andar de baixo um homem e uma mulher que, volta e meia, tinham discussões impressionantes, ouviamo-los a correr, ouvíamo-los a atirarem coisas à parede, louça partida, móveis a serem arrastados, dávamos conta que ele a punha na rua e que ela depois chamava os bombeiros e estes montavam uma escada e ela entrava pela varanda, outras vezes ele apenas a punha do lado de fora da porta do andar e ela ficava a chorar na escada. Ficávamos sempre à espera do que ia acontecer, sem sabermos de deveríamos avisar a polícia ou não. Eu nunca chamei. É que, invariavelmente, nos dias seguintes os via abraçados, namorados apaixonados, como se nada se tivesse passado. Toda a gente do prédio lhes perdeu o respeito. Era um casal de doidos. Algum tempo depois divorciaram-se mesmo. Claro.

Assim são Paulo Portas e Passos Coelho. Em qualquer relação é essencial que se mantenha o respeito. Quando o respeito se perde, está tudo acabado. 

Se este governo, por qualquer interesseirismo partidário, por uma qualquer manifestação doentia de autismo político, se mantiver em funções, será visto como um governo instável, desequilibrado, a prazo, um governo de mortos-vivos.



Ministros do Governo de Passos Coelho e Paulo Portas, numa recoligação recauchutada?
Zombies?
Gente que ressuscita quando a damos como politicamente morta?
Xô....!



Além disso, vejamos. Este Governo não tem feito outra coisa desde que tomou posse do que destruir valor. Há tempos o Expresso fez as contas e a destruição de valor já ia em dezassete mil milhões de euros. Dinheiro que se evaporou do País. Hoje, só à conta da barracada que armaram, foram mais uns quantos.

O País pode suportar em funções dois sujeitos que, porque resolvem fazer uma cena deplorável em público, uma coisa indecorosa, conseguiram que o País perdesse à volta de 2.000.000 milhões de euros num dia? O que vão fazer para recuperar o dinheiro que deitaram borda fora num único dia? Cortar mais as pensões? É isso? O zé-povinho que pague os seus desmandos? Asqueroso. 

E ninguém os vai fazer pagar por isso? Cartas públicas, acusações públicas, golpes baixos na praça pública, garotadas impordoáveis... e, é claro, os ditos mercados a baterem em retirada, assustados. E os pobres coitados do costume que paguem isto? Uma vergonha. 

Paulo Portas e Passos Coelho têm que ser responsabilizados.



Paulo Portas: um homem perdido?


Li também que Portas tomou a decisão de se demitir e de divulgar a carta de demissão sem ouvir o CDS. Fico perplexa. Então foi um acto pessoal? Não foi a posição do Partido mas apenas a dele? Mas uma pessoa que está naquelas funções em representação do partido, e não a título pessoal, pode tomar uma atitude destas sem ter o suporte do partido? Marimbou-se no partido? Foi isso? É que uma coisa é ele bater com a porta em nome do CDS e outra, bem diferente, é ser um acto isolado, pessoal, um fanico, um chilique, um estado de alma.

Por isso, então, os dois outros, a Cristas e o Mota, não se demitiram... Pelos vistos não sabiam de nada. A ser assim, a irresponsabilidade de Portas é vergonhosa, ou melhor, é incompreensível.

E, a seguir, leva um entalanço do partido, ameaçam-no tirá-lo de chefe do partido e obrigam-no a ir de rabo entre as pernas ver se volta a entender-se com o outro. Tinha ele mandado dizer que ia falar ao País e, no fim, devem ter-lhe dito que tenha mas é juizinho, que se deixe de andar a trabalhar para as sondagens, que pense nos outros, nos que dependem do partido no poder, e que vá mas é de gatas pedir desculpa ao Passos Coelho. Humilhante. Humilhante.

Como é que alguém, em seu pleno juízo, pode querer que estes dois ou o Passos Coelho e alguém pelo CDS em vez de Paulo Portas se mantenham à frente de um qualquer Governo? 

A irresponsabilidade deles é excessiva: tinham-se comprometido a entregar o programa de Reforma de Estado e deixam chegar o dia sem terem feito qualquer trabalho. Cábulas. Uma chico-espertice de Passos Coelho, a de passar a batata quente a Paulo Portas. Uma mulice de todo o tamanho a de Portas. Sentido de Estado de ambos: zero. Todo o memorando de ajustamento gira à volta da Reforma do Estado. E, a mais de metade do mandato, ainda não fizeram nada. Nada. Enquanto esbulham toda a população, e enquanto vendem ao estrangeiro as grandes empresas, enquanto deixam que a dívida atinja uma proporção assustadora, deixando o País a um passo da bancarrota, nada mais fazem. E ainda há quem ache que o melhor para o País é que se mantenham em funções?! Valha-me Deus.

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Um Leitor(a) escreveu num comentário que não tenho escrito nada no Ginjal. Pois é. E faz-me falta. Quando estou no Ginjal, estou noutro comprimento de onda. Por lá, o ar é sempre limpo.

Vou agora até lá, nem vou reler o que acabei de escrever. Tomara que a inspiração não me falte - é que estas porcarias todas chateiam-me mesmo, deixam-se cansada. Mas vou tentar.

Obrigada pelo incentivo.

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Se puder, ainda cá volto porque estou com vontade de escrever uma coisa.

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