Uma vez assisti a uma cena tenebrosa. Estava in heaven e, num buraco fundo, vi uma cobra enorme e um ratinho. Fiquei aflita. Percebi que algo de mau ia acontecer. Queria salvar o ratinho mas não fui capaz de o tirar de lá. Como fazê-lo? Não me ia meter dentro do buraco... Bati palmas, fiz barulho, tentei que o rato fugisse, tentei distrair a cobra. Não resultou. Fui a correr buscar um pau, bati na cobra mas ela virou-se e fiquei com medo que subisse pelo pau e me mordesse. Larguei o pau, assustada. Continuei a bater palmas, a bater com os pés no chão. Não resultou. A cobra olhava fixamente o ratinho e o ratinho estava sem reacção, passivo. A cobra foi-se aproximando, eu horrorizada, atirei umas pedrinhas que estavam ali ao pé. Nada, nem o ratinho se mexeu, nem a cobra.
Queria afastar-me mas não me afastei na esperança que o ratinho fugisse, que a cobra se distraísse e desistisse. A cobra cada vez mais próxima, o ratinho inerte. Podia ter fugido mas não fugiu. Depois a cobra abocanhou-o, devagar, devagar.
Nessa altura o ratinho estrebuchou, o rabinho a dar a dar - mas já era tarde demais. A cobra continuou a engoli-lo, devagar, devagar. Eu também quase sem reacção, horrorizada, esvaída de aflição e pavor. Até que a cobra engoliu o completamente.
Lembrei-me disto enquanto vi agora um bocado da entrevista de Nuno Crato na TVI 24, com o Paulo Magalhães.
Sempre aquele mamar doce, sempre aquele sorriso parado. Mente, manipula, prepara-se para aplicar mais um golpe fatal a uma classe tão mal tratada e sempre aquele sorriso cínico, sempre aquele olhar falso, sempre aquela voz suave, falsa, falsa.
A ciência foi abandonada, a investigação passou para secundaríssimo plano, o ensino é o que for, os professores são carne para canhão nesta perseguição sem moral contra os funcionários públicos - e Nuno Crato sempre com aquele sorriso.
Não sei se os professores se vão deixar ficar inertes, inertes, sem reacção, deixando-se devorar sem um gemido.
Tomara que não.
Tomara que lutem, que se portem com dignidade, que mostrem que ainda são uma das profissões mais nobres da sociedade.
Magnífico Post!
ResponderEliminarTambém não consegui ouvir a víbora.
Tenha uma boa noite!
P.Rufino
Parabéns por este seu post. Também
ResponderEliminargostaria que os professores fossem
gente de coragem e dessem uma
valente lição a este Nuno Crato.
E já agora o Governo parece que
não desistiu da TSU sobre os reformados, porque segundo o jornal
I, pediu um parecer a Vieira de
Andrade e o mesmo acaba dizendo:
alerta que a aproximação do sector público ao privado pode ter "uma
leitura armadilhada", mas não tem
dúvidas: o corte deve ser sobre todos os reformados. Não só é mais
justo como dá maiores garantias de
constitucionalidade. Portanto parece que se preparam é para aplicar a todas.
Veja, se consegue saber alguma
coisa, por favor.
Bj.
Irene Alves
ResponderEliminarComo ex-mao que se preza, o Crato não pode ser bom...