Estive afastada das notícias durante dois dias. Dois. Apenas dois. No entanto, de volta a casa, eis que constato que o mundo deu algumas reviravoltas sobre si próprio. Bem, alguns - mais coca-bichinhos - até são capazes de pensar que não sei que é suposto que o planeta dê uma ou outra voltita. Mas não é aos movimentos normais que me refiro. Refiro-me mesmo a cambalhotas. E não me refiro ao planeta, refiro-me mesmo ao mundo. Não sei se, no fim, ficou no mesmo sítio, se avançou um pouco, ou se retrocedeu um pouco mais, mas que andou para aqui às cambalhotas, lá isso andou.
Vamos ver.
(Nem sei por onde começar. Gosto de dar uma certa lógica às coisas. Em linguagem de consultor, diria que gosto de evidenciar o racional da coisa. Bem, os consultores não dizem 'da coisa', diriam apenas 'o racional').
1. Já sei. Começo por uma notícia quase pacífica. Enfim, pacífica, pacífica, não o será completamente já que envolve uma pancada na cabeça e uma reacção estranha, mas, enfim, trata-se de uma coisa acidental que pode acontecer a qualquer um. Ou seja, vou começar por Leanne Rowe, a senhora australiana que, depois de sofrer um acidente de carro, acordou a falar com sotaque francês.
Tenho ideia que, algures por aí, já falei no que vou contar (mas adiante porque acho que foi num comentário de outro blogue, não aqui): apesar de ser um síndroma raro, tenho um amigo médico a cuja tia aconteceu o mesmo. A senhora, pessoa de idade, teve um AVC. Esteve em coma, mesmo mal. Até que acordou, toda fresca, nada de boca de lado, nada de paralisia dos membros, nada. Só que... acordou a falar espanhol, com um salero espampanante, um sotaque perfeito. Toda a gente de boca aberta, e ela própria também. Os familiares e amigos nem queriam acreditar, iam todos ver o fenómeno.
Lembrava-se que, em criança, tinha convivido, ainda por muito pouco tempo, com uma tia ou uma empregada (agora não me lembro) que era espanhola mas que, mesmo nessa altura, ela própria não falava em espanhol com essa tal pessoa. Mas isso teria sido há mais de oitenta anos.
E agora ali estava, a falar como uma castelhana dos quatro costados. Quando esse meu amigo me contou isso, e imitava-a, que ela no tom de voz, nas expressões, era uma autêntica espanhola, eu achei uma história mal contada, uma anedota. Como sou de riso fácil, quando ouço uma história mirabolante, temo sempre que estejam apenas a fazer-me rir. Mas ele explicou-me que era a sério, que acontece, ainda que muito raramente, na sequência de acidentes cerebrais.
Pois bem, deve ter sido o que aconteceu a Leanne Rowe. Enfim. Ela está toda aborrecida e, de facto, é desconcertante mas há coisas piores, não é?
Adiante.
2. Pior é o que li a seguir. Barra pesada mesmo. A coisa é muito feia. Ou não? Ou será que é normal e certo? Não sei. A mim parece-me que o mundo está em derrapagem, é o que é.
Afinal, não são apenas os americanos da NSA (Agência de Segurança Nacional) a espiar meio mundo. A agência de espionagem britânica, a GCHQ, obteve acesso secreto às redes telefónicas e de internet do mundo inteiro, segundo noticia o jornal inglês «The Guardian».
Os dados privados são passados posteriormente à parceira norte-americana, a NSA, segundo informações obtidas pelo jornal junto de Edward Snowden, o garganta-funda que denunciou o processo de espionagem da secreta dos EUA.
O «The Guardian» escreve que a inovação tecnológica na GCHQ tem sido fulcral para este «Big Brother» à escala do Planeta. A agência tem capacidade para assimilar e guardar quantidades gigantescas de dados obtidos através de fibra-ótica durante 30 dias.
O acesso secreto a dados de Internet e telefone corresponde a uma operação que tem como nome de código Tempora, e que decorre há cerca de 18 meses.
Na operação Tempora, «as chamadas telefónicas são gravadas, os e-mails são lidos, bem como as entradas no Facebook e o registo histórico de toda a navegação na Internet», escreve o jornal.
Não é que seja novidade: sei que isto acontece, sei que acontece com uma facilidade que dá medo, mas, quando o leio em letra de forma, é como se me arrancassem a roupa e me mandassem para a rua em carne e osso. Credo.
Que raio de mundo este.
Será que, a esta hora, está algum palerma a ler a minha caixa de correio? A mim talvez não porque, felizmente!, não devo merecer o interesse de nenhum piolhoso mas sabe-se lá, palermas como são, se não suspeitam que tenho planos secretos de ir para a Galeria da Assembleia da República atirar farófias à cara do ex-Doce ou laranjinhas de plástico (para serem mais baratas) à cabeça dos Jotas Ésses Dês... Não estou, claro. Já gastei dinheiro demais com eles, era o que faltava ainda ir fazer farófias ou comprar laranjas de plástico para lhes dar. E, sobretudo, não estou para o correr o risco de, depois de levarem com uma coisa na cabeça, caírem para o lado e acordarem a falar alemão. Ou a zurrarem, sei lá.
3. Enfim. De coisa extraordinária em coisa extraordinária, e por falar no ex-Doce, li que teve mais uma ideia brilhante: comunicar melhor. Ou terá sido ideia do Relvas em versão Verdinha? Digo 'madurinha'...? Que meninos tão inteligentes, estes.
O verdinho Maduro aqui todo derretido com o seu patrão ex-Doce, enquanto o Tio Nobre Guedes sorri com a alegria do novo Miguelito |
Transcrevo de novo - e já me estou a rir:
O executivo pretende estabelecer uma rotina de briefings diários com os jornalistas, a ter lugar na Presidência do Conselho de Ministros.
Nestes encontros, explicou fonte governamental, a assessoria do ministro adjunto e do Desenvolvimento Regional, Miguel Poiares Maduro, funcionaria como uma plataforma para todo o Governo e os encontros - que poderão funcionar em on ou off the record - teriam por objetivo responder a dúvidas dos jornalistas sobre temas da atualidade ou questões setoriais.
Isto é de gargalhada. Os assessores do pequeno-verdinho-maduro que devem ser todos do mesmo género - imagino-os assim a modos que um híbrido entre um lombinha e um verdinho-maduro, ou então, talvez, uma menina espertinha, toda eficiente, toda cheia de boquinhas em off, uma fofa, muito íntima dos mídia (escrevi assim à brasileira para ficar mais a combinar com a assessorette ou com um lombinha qualquer desta vida) - a fazerem prelecções, a induzirem notícias, a manipularem os jornalistas que, sabemos bem, vão atrás de qualquer engodo.
Mas atenção - todos os dias menos à quinta-feiras que é quando a casa fecha: meninas (e meninos) ao salão!
O pequenito com a Miss Prada do Parlamento e, em primeiro plano, o secretário adjunto lombinha todo contente porque o Tio Cavaco lhe deu um passou-bem |
Isto é a oficialização da Propaganda em versão ministerial. Dirão que a Casa Branca também tem destes hábitos. Pois. Mas entre os assessores de imprensa da Casa Branca e os assessores do verdinho mal amanhado do Poiares vai um século de diferença.
Parvoíces umas trás de outras. É como lá irem fazer mais um Conselho de Ministros extraordinário (extraordinário?! tantas vezes o fazem que já me parece do mais ordinário que há) e, para cúmulo da parvoíce, parece que vão para Aljubarrota ou para a Batalha, nem sei bem - tenho ideia que resolveram ir poluir a História com a sua presença.
Portugal às cambalhotas, a rodar sobre si próprio, a ver se cheira o próprio rabo, é o que isto me parece.
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Pois é. Não fora o adiantado da hora e eu estar mais morta que viva, tanta a canseira, continuaria por aqui a desfiar um rosário de notícias estranhas ou aberrantes ou mal cheirosas.
Assim, chamei outra vez pela Rosa Oliveira e ela, amorosa, veio aqui deixar um pouco de Cinza. De três poemas distintos, vejam o que aqui assentou.
alguém sem voz continuava a respirar
entre nuvens de piolhos
afundado na lama
a vaca sagrada do declínio está gorda e descorada
no estábulo ninguém está seguro
uma telha partida
um vidro espetado no ânus
cheiro a despojos humanos entranhado na memória
três gerações de analfabetos com opiniões sobre tudo
de cinco em cinco minutos grunhem o inútil
estamos atados
pelo síndroma locked-in
o estado mais póximo
de ser enterrado
vivo
Pensamento profundo que dedico a todos os palermas e estúpidos, em especial àqueles que tanto se têm esforçado por merecer esta e outras dedicatórias do género (tenho carradas delas) |
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Embora eu não seja a aniversariante, caso queiram aparecer numa festa de anos, é só descerem até ao post seguinte.
E, se vos apetecer lavar a cabeça (por dentro, claro, que eu aqui não lavo cabelos), convido-vos a virem daí até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa. Hoje por lá há uma fantástica orquestra com os sons de Lisboa. A ideia foi do compositor Pedro Castanheira. Salvé. Uma maravilha, é o que vos digo. Ainda há gente decente, que faz o mundo andar em frente.
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E é isto. Resta-me desejar-vos, meus Caros Leitores, um sábado mesmo muito bom.
(E, se derem cambalhotas, que sejam das que deixam uma pessoa bem disposta.)
Imaginemos agora que o tal Maduro sofre igualmente um violento acidente de automóvel e quando acorda está a falar mandarim. Os médicos, cientes de que este tipo de situações são raras, como aqui nos conta, mesmo assim vão tentar perceber o porquê da opção dquela língua lá de tão longe. Depois de muito cuscar, ou investigar, acabam por vir a saber que tal se devia ao facto de a criatura ter por hábito ser cliente de lojas chinesas e, até, ao que poderá igualmente ser outra das razões, gostar de massagens chinesas. A ciência médica chega então á conclusão que o Maduro, na sua vã, mas louvável, tentativa de querer ser simpático com aquela chinesada, procurou falar algum mandarim, que aprendeu ás escondidas. E, um dia, em virtude daquele acidente, quase fatal, ainda que recupere a 100%, esquece a língua do Vate e sem mais põe-se a falar, a comunicar, em mandarim. Passos Coelho, Gaspar, Portas, a Miss Prada, o PR, o Tio Nobre Guedes, enfim o governo por inteiro e seus apêndices institucionais, ficam em transe. Não querem acreditar! Afinal, aquele era o homem que nos iria passar a fazer os tais “briefings”, a quem o governo decidira confiar aquela hercúlea tarefa. Mas, Deus que está sempre atento, compôs a coisa e permitiu que o Maduro, embora mantendo como sua língua materna, doravante, o tal mandarim, poderia, afinal, expresar-se em “portulim, ou mandaruês”, ou seja, a falar como os chineses em Portugal: “quéle mais uma peça de loupa?”, ou “complale, pois não é calo”, “estale há muito tempo em Poltugal”, etc. E assim, Passos e os seus adjuntos decidem manter o cavalheiro, cujo briefing, em “poltuguês” anseio por ouvir, já na “plóxima” semana, “glaças” ao acidente na sua “viatula”. Quer-me cá parecer que as medidas de austeridade, assim anunciadas, ás pinguinhas semanalmente, mas, sobretudo com aquela pronúncia “chino-portuguesa” até nem nos vai custar muito aceitar. Ou melhor, “aceitale”.
ResponderEliminarBom fim de semana!
P.Rufino