Que o António José Seguro escreva cartas à troika de dois em dois meses não me admira por aí além, faz parte do estilo. Tem ar de sobrinho bem comportado, li no Expresso que jogava bem à bola quando era miúdo mas que chegava ao fim dos jogos com o equipamento muito limpinho. Deve ter os dossiers todos muito bem organizados, a secretária deve estar sempre arrumadinha. O estilo epistolar diz bem com ele.
Não me admira nada.
Que o Gaspar continue alienado, perdido, a navegar na maionese (uma maionese toda deslassada), dizendo que se não for isto é um dilúvio ainda maior do que o do último fim de semana, e que ainda se ria e goze com o pagode, também não me admira dana. Para além de não saber fazer contas, nem as mais elementares, de não conhecer a vida, de ser um fulano com uma grande pancada na cabeça, está no meio de um grupinho de ignorantes de tal monta que até o acham inteligente - ... porque não haveria de continuar a ser como é e ainda se ficar a rir?
Não me admira nada.
Que o Paulo Portas continue a percorrer o caminho da expiação por todos os pecados que cometeu quando entrou na idade adulta, nos endiabrados tempos do Indy, e que agora em vez de pais-nossos e avés-marias ande a aturar o Passos, o Gaspar e o Relvas, portando-se como se o cérebro lhe tivesse mirrado, também não me admira nada. Além disso gosta de representar, é eximío nisso, e agora deu para se armar em atilado para além do que o bom senso aconselharia. Por isso, age como se fosse um grande estadista e, em privado, imagino eu, deve festejar as belas performances que vai fazendo aqui e ali. Ainda hoje, na discussão da moção de censura do PS, desempenhou com denodo o papel do senador precoce.
Não me admira nada.
Que até as farmácias já estejam com a corda na garganta, cerca de 10% já em processos de penhora ou insolvência também não me admira nada. As pessoas começam a não ter dinheiro para comprar medicamentos, uma coisa aflitiva. As farmácias, antes um negócio próspero, começam, pois, a fraquejar.
Não me admira.
Que apenas 45.5% dos desempregados recebam subsídio de desemprego e se mantenham vivos também já não me admira. Aprendemos com o rico banqueiro que aguentamos, ai aguentamos.
Que este mês, devido a novas regras, cerca de 66.000 pessoas tenham perdido o rendimento social de inserção e que se aguentem vivos não me admira. Enquanto houver quem lhes vá dando um pratinho de sopa eles aguentam, então não aguentam...?
Por isso, não me admiro nada.
Que Jérôme Cahuzac, ex-ministro do Orçamento francês de François Hollande, conhecido pelo seu pulso firme no combate aos ricos, apanhado nas escutas e sempre negando, afinal tenha agora confessado que mentiu, que tinha mesmo 600.000 euros a salvo do fisco, na Suiça, também não me admira nada. Desde sempre se soube que quanto mais fundamentalistas mais prevaricadores. Gente sã porta-se normalmente, é tolerante e sensata.
Por isso, não me admira nada.
Que Cate Blanchett tenha sido escolhida como o rosto Armani para os perfumes, não me admira nada. Cate Blanchett é cá das minhas e Armani também é cá dos meus.
(Tenho um fato de calças e blaser antracite com fio vertical suavemente mais claro e é intemporal, tem um cair sem igual. Um fato Armani não é só griffe: é tecido, é corte, é o conjunto. Tivesse eu ocasião para os usar (e dinheiro para os comprar) e todas as noites eu me vestiria com longos vestidos de noite Armani).
E Cate Blanchett tem pinta, tem classe, tem simplicidade, tem beleza, tem versatilidade, tem tudo. Que ela seja o rosto dos perfumes dele não me admira nada.
(Por acaso não sou fã dos perfumes dele, são muito invasivos, excessivamente quentes. Talvez o Sensi ainda vá que não vá mas desisti, ao fim de umas horas já não gostava. Perfume, para mim, é Chanel (ou, vá lá, Dquared2, Wood))
Mas Cate Blanchett como a cara dos perfumes Armani não me admira nada.
Que os círculos na vegetação nos solos de África, conhecidos por anéis de fadas, que, ao longo dos tempos têm despertado a curiosidade de tanta gente, sendo atribuídos a entidades divinas, afinal sejam obra das térmitas, também não me admira nada. É sabido o poder devorador que aquelas danadas têm.
Não me admira nada.
Podia continuar referindo-me às notícias mais frescas, às de ontem, às de hoje, que nada me admiraria, nada. Percorri agora a net à procura de notícias que me surpreendessem e nada.
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Mas houve uma que me deixou de boca aberta, queixo caída. Confesso. E não sou conservadora. Nada, zero, não sou. Isto foi mesmo só espanto.
Com dois casamentos no activo, filhos grandes e filhos pequenos, tinha para mim que Daniela Mercury era uma namoradeira, casamentos felizes, uma energia extraordinária, muito amor e paixão.
Daniela Mercury com o primeiro marido, o Eng. Zalther Portela Laborda Póvoas e com uma das filhas de ambos, Giovanna |
Daniela Mercury com o segundo marido, nove anos mais novo, o publicitário italiano Marco Scabia |
Pois bem, o Brasil e os admiradores ficaram em estado de estupor catatónico com as notícias - e para não pensarem que estou a inventar, transcrevo do Diário Digital:
Daniela Mercury e a 'sua esposa' Malu Verçosa |
A cantora brasileira publicou várias fotos com Malu, escrevendo «Malu agora é minha esposa, minha família, minha inspiração para cantar».
(...)
A revelação surge numa altura em que a cantora se encontra em Portugal para dois concertos, esta quarta e quinta-feira.
Daniela, mãe de cinco filhos, separou-se há pouco tempo de Marco Scabia.
Malu Verçosa é ex-namorada de Fabiana Crato, antiga assessora de imprensa de Mercury.
No Carnaval, Fabiana terá apanhado a cantora, de 47 anos, a beijar Malu, o que levou ao final da relação profissional com Daniela Mercury.
Confesso: por esta é que eu não estava à espera...! Dá para perceber? Alguém me explica? É bi? Mudou? Lésbica, a Daniela Mercury? Depois de uma vida hetero agora é homo?
Não pensem que acho mal. Nem bem, nem mal. É o que é e não teço juízes de valor. Mas fico mesmo admirada. Vocês não ficam?
Mas, enfim, seja como for, é um poço de energia e eu gosto de a ouvir cantar e da a ver a actuar. A minha filha ouvia-a até já não se aguentar. Esta aqui abaixo, Nobre Vagabundo, nem sei quantas vezes tocou cá em casa.
E desejo que o casal de pombinhas seja muito feliz.
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Gostaria muito que dessem hoje uma espreitadela lá ao meu Ginjal e Lisboa. Levada pela mão por um pequeno e belo poema de Maria Andresen, as minhas palavras desenham a história de uma mulher e de uma casa agora apenas habitada pelo vento. Gostei muito de a escrever. A música é um tango, uma grande interpretação de Jo Brunenberg que, no acordeão, interpreta Volver de Carlos Gardel.
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E é isto por agora. Desejo-vos, meus Caros Leitores uma quinta feira muito feliz e, quer se sintam admirados ou não, tentem aproveitar ao máximo a beleza das coisas simples, está bem?
Minha querida: O PRIMEIRO JÁ FOI!!!
ResponderEliminarSerá apenas "areia para os nossos olhos"ou seja"tomem lá esta para se entreterem" ou por outro lado o desejado "princípio de algo mais radical"???
ResponderEliminarOlá UJM,
Também já nada me admira, numa sociedade de excessos, e em crise de valores. Perdeu-se a noção do bom senso, da dignidade, etc, etc,... Enfim, é o vale tudo!
Todos os dias somos surpreendidos com notícias que parecem irreais, mas infelizmente fazem parte da sociedade em que vivemos. Como se vai explicar isto às crianças?
O que virá a seguir? Interrogo-me!
Também já nada me admira...
Um beijinho grande