Finalmente chegou o CD dos Poetas com música do Rodrigo Leão. Entre nós e as Palavras. Uma Leitora tinha-me falado nele e fui logo encomendá-lo. Há quem se sinta rico por ganhar muito dinheiro; eu sinto-me rica por receber tantos contributos, tantos conselhos tão generosos, tantas indicações tão preciosas, tantas palavras de estima.
Claro que não tenho feito outra coisa senão ouvi-lo. Logo à hora de almoço, depois de o ter ido buscar, à ida para o trabalho, no carro. Depois à vinda para casa, noite - hoje vim outra vez muito tarde -, chuva, sempre chuva, e um acidente grave que cortava duas vias, muito tempo parada a ouvi-lo, indiferente ao drama logo ali à frente. As luzes azuis das ambulâncias e dos carros dos bombeiros e eu a ouvir Herberto Helder, Al Berto, Cesariny, Luíza Neto Jorge, António Franco Alexandre.
Claro que não tenho feito outra coisa senão ouvi-lo. Logo à hora de almoço, depois de o ter ido buscar, à ida para o trabalho, no carro. Depois à vinda para casa, noite - hoje vim outra vez muito tarde -, chuva, sempre chuva, e um acidente grave que cortava duas vias, muito tempo parada a ouvi-lo, indiferente ao drama logo ali à frente. As luzes azuis das ambulâncias e dos carros dos bombeiros e eu a ouvir Herberto Helder, Al Berto, Cesariny, Luíza Neto Jorge, António Franco Alexandre.
Depois os telefonemas familiares, as vozes que me tranquilizam: estão bem. Volto, pois, aos poemas. Mais tarde, à chegada a casa, outro telefonema, agora febre, talvez faringite e logo alguma inquietação que coração de mãe é assim, uma aflição por quase nada.
Agora de novo a ouvir a voz dos poetas. Aqui, na sala às escuras, apenas um foco de luz sobre as minhas palavras. Pensei que encontraria pequenos vídeos para partilhar convosco. Mas, infelizmente, não. Estão disponíveis no Youtube mas não para ser incluídos nos blogues. O tempo que eu perdi a tentar...
Por isso, escolhi outros poemas ditos, que hoje é o que me apetece. Abaixo, no post seguinte, transcrevi excertos de artigos que mostram o sobressalto em que a Europa se encontra, o desastre de Portugal, as contradições de uma baixa política em que todos parecem perdidos, de erro em erro. Os países governados por gente inculta que não mede as consequências do que faz, gente impreparada, estúpida. Mas agora, aqui, não é disso que quero falar-vos.
Que acima da ignorância se eleve a voz dos poetas e a música da vida, a música da beleza original. Ouçamos como voa, como atravessa os longos espaços e todos os tempos, límpida, tão pura, a voz da poesia, uma toada de paz.
Herberto Helder - Havia um Homem que Corria pelo Orvalho Dentro
Palavras de Hermínio Monteiro, na apresentação do CD:
Em toda a poesia existe subjacente a música em que assentam e se deslocam harmoniosamente as palavras. Desde os primórdios que a poesia nasceu para ser cantada ou recitada. Aconteceu que, em muitos casos, a poesia foi perdendo a sua melodia como as catedrais medievais perderam a euforia das cores que lhes revestiam o interior.
Al Berto - Noite de Lisboa com auto-retrato e sombra de Ian Curtis
Tivemos de chegar aos simbolistas para ver proclamada a exigência musical 'de la musique avant toute chose' (Verlaine), do mesmo modo que Rimbaud preencheu de cores sonoras as vogais do poema.
Ruy Belo - Tu estás aqui
Quem apertou o sexo aos ingleses
e lhes pôs estas caras de infinito langor
apertou também a ti?
Contudo e já agora penso
que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar
Deito a cabeça para trás para deixar sair a gargalhada.
Já sei... já não sei...
e lhes pôs estas caras de infinito langor
apertou também a ti?
Contudo e já agora penso
que os gatos são os únicos burgueses
com quem ainda é possível pactuar
Deito a cabeça para trás para deixar sair a gargalhada.
Já sei... já não sei...
Rodrigo Leão - Voltar
Um exaltado aroma
perdido na tempestade,
um mínimo entre magnífico
desfolhando relâmpagos
sobre mim
No sorriso louco das mães batem as leves
gotas de chuva.
E por dentro do amor, até somente ser possível
amar tudo,
e ser possível tudo ser reencontrado por dentro do amor
O navio dos espelhos
não navega, cavalga
do princípio do mundo
até ao fim do mundo
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
afinal o que importa é não ter medo
Entre nós e as palavras há metal fundente
e há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
Minha cabeça estremece com todo o esquecimento
Eu procuro dizer como tudo é outra coisa.
Tanto faz
sempre tive dúvidas de que alguma vez me visite a felicidade
E quando fecho os olhos invade-me a luz por dentro
compacta, completa, como as coisas primeiras.
[Aqui e acima, espécie de cadavre exquis a partir de versos escolhidos quase ao acaso de entre os poemas do CD Os Poetas.]
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Meus Caros Leitores, sei que ando a portar-me muito mal mas, acreditem, não é de minha vontade. Agora que estou a acabar de escrever isto já passa da 1:30 da manhã. É-me, pois, impossível responder a todos os comentários. Li-os e agradeço-os e, certamente, todos os Leitores os lerão também. Mas é que se me ponho a responder a cada um de vós, sabido que é como gosto de me pôr na conversa convosco, deito-me sei lá a que horas e daqui a nada tenho que estar a pé. A ver se amanhã chego a casa mais cedo para conseguir fazer tudo o que quero. Aceitem, por favor, as minhas desculpas.
Já agora: como acima referi, este é o meu segundo post de hoje. O seguinte aborda temas bem menos agradáveis: economia, finanças, desemprego, recessão. Não é que o tema seja apelativo mas, se estiverem para aí virados, desçam um pouco mais, está bem?
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E gostaria ainda muito que dessem um salto até ao meu Ginjal e Lisboa, a love affair. Hoje as minhas palavras avançam, bailando, por territórios desconhecidos, levadas pela mão de Catarina Nunes de Almeida. A música é de Shostakovich numa outra grande interpretação de Mischa Maisky.
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Termino já. Mas antes quero desejar-vos, meus Caros leitores, uma terça feira muito, muito feliz.
E que a poesia e a música da vida vos acompanhem.
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A poesia .. a importância da poesia
não ser importante!!!!
Poeta sou, porque jogo
O jogo mágico das palavras
Porque escavo
Túneis ocos de sentidos
Nas linhas trôpegas
Dos meus versos
Porque busco transparências
Nos dias baços
Porque me ouço
Porque me escrevo
Poeta sou
Sem diploma
E escrevo
O que vejo
O que ouço
O que julgo sentir
Escrevo
Tudo o que não consigo escrever.
Poemas de água
Palavras de vento
Acasos inúteis
Perdidos
No tempo.
GUNDULA STEGLITZ
(num comentário aqui abaixo)
A poesia .. a importância da poesia
não ser importante!!!!
Poeta sou, porque jogo
O jogo mágico das palavras
Porque escavo
Túneis ocos de sentidos
Nas linhas trôpegas
Dos meus versos
Porque busco transparências
Nos dias baços
Porque me ouço
Porque me escrevo
Poeta sou
Sem diploma
E escrevo
O que vejo
O que ouço
O que julgo sentir
Escrevo
Tudo o que não consigo escrever.
Poemas de água
Palavras de vento
Acasos inúteis
Perdidos
No tempo.
GUNDULA STEGLITZ
(num comentário aqui abaixo)
Olá,
ResponderEliminarFico tão contente por ter gostado...
Eu ontem também o ouvi duas ou três vezes.
Foi assim um dia mais ou menos especial para mim, mas o tempo estava tão instável, tão desagradável, chuva, vento, frio, que resolvi ficar em casa e fazer de conta que não se passava nada!
E então ouvi Rodrigo Leão, Teresa Salgueiro, Maria João Pires... e senti-me bem.
Para o ano há mais (talvez), e pode ser que a mãe natureza me ofereça um dia de sol...
Bj e um 'bóptimo' dia!!!
Antonieta
Olá UJM!
ResponderEliminarA poesia .. a importância da poesia
não ser importante!!!!
Poeta sou, porque jogo
O jogo mágico das palavras
Porque escavo
Túneis ocos de sentidos
Nas linhas trôpegas
Dos meus versos
Porque busco transparências
Nos dias baços
Porque me ouço
Porque me escrevo
Poeta sou
Sem diploma
E escrevo
O que vejo
O que ouço
O que julgo sentir
Escrevo
Tudo o que não consigo escrever.
Poemas de água
Palavras de vento
Acasos inúteis
Perdidos
No tempo.
GUNDULA STEGLITZ
um abraço
Boa partilha
ResponderEliminarCara UJM,
ResponderEliminarbela escolha a sua, ante os vendavais da natureza e do nosso mundo político.
Creio que, se os nossos maus timoneiros aprendessem a amar a poesia e a senti-la mais que ao dinheiro e vaidade, teríamos um país com alma e sentimentos, onde a prosperidade e a justiça seriam parte sublime da nossa epopeia.
Na minha terra – Santo Tirso – a edição de 2013, «A POESIA ESTÁ NA RUA» será este ano um verdadeiro tributo nacional a Manuel António Pina. A Câmara Municipal de Santo Tirso dedica 40 dias – de 21 de Março a 30 de Abril – à vida e obra do poeta MANUEL ANTÓNIO PINA
Adorei as suas escolhas!
Muita saúde.
Olá Antonieta,
ResponderEliminarJá nos falámos por outra via mas, ainda assim, aqui lhe deixo os meus votos de muitos dias cheios de sol, de muitos dias cheios de poesia e de muitos anos cheios de saúde e de alegria.
Com afecto, um grande abraço e muito obrigada por tudo!
Olá Joaquim,
ResponderEliminarMuito obrigada. A voz dos poetas é uma voz que toca quem a ouve.
A de Gundula já subiu ao corpo da mensagem para se juntar às outras vozes que, por lá, se ouvem.
Agradeço e digo-lhe que gostei... e muito.
Um abraço, Joaquim!
Olá Eufrázio Filipe, Poeta,
ResponderEliminarFalar de poesia e de poetas é coisa que me dá um especial prazer.
E gosto de visitar a casa dos Poetas como por exemplo o seu Mar Arável onde há coros, cravos, pássaros, sementes, muito mar, muitas palavras muito belas.
Um abraço.
Olá dbo,
ResponderEliminarEm dias de indigência ou me dá para 'lhes' dar grandes tareias, ou para gozar com a 'sua' estupidez ou, como ontem, apetece-me esquecer 'deles' e voar para outras paragens onde o ar é puro e a paisagem muito bela, uma paisagem feita de palavras incorruptas.
Gostava muito de poder ir à Poesia está na Rua tanto mais que é dedicada a um Poeta muito especial. A ver se vejo se há algum sábado ou domingo em que o programa seja bom e que dê para lá dar uma saltada. Obrigada pela dica.
E obrigada pelas suas palavras e pelos seus votos. Para si também muita saúde e uns dias muito bem vividos!