Gloria e o marido, Reginald Vanderbilt, com a pequena Gloria |
Pouco tempo depois de ter nascido a sua filha, a pequena Gloria (que, mais tarde viria a ser muito conhecida como artista e desenhadora de moda) e, de resto, também pouco tempo de se ter casado, Gloria Morgan Vanderbilt ficou viúva.
Viúva muito jovem, herdeira de uma invejável fortuna, Gloria passeou e viveu intensamente até que a família do marido considerou que ela não era uma boa influência junto da filha, acusando-a de levar uma vida dissoluta, escandalosa, a que não faltavam relações lésbicas, fortemente censuradas na altura.
Gloria Vanderbilt e a filha |
Uma intensa batalha judicial teve, então, lugar pela custódia da pequena Gloria.
Gloria, mãe de Gloria, tinha uma irmã gémea, Thelma. Na sua juventude tinham ambos mantido uma vida social muito activa e eram conhecidas pelas fabulosas irmãs Morgan e foram descritas pelo fotógrafo Cecil Beaton como radiosas flores.
Thelma Morgan Furness, a irmã gémea de Gloria Morgan Vanderbilt |
Quando esta batalha judicial teve lugar, Thelma, que vivia em Inglaterra e que, pouco tempo antes, se tinha separado do marido, o Visconde Furness, resolveu partir para os Estados Unidos para apoiar a irmã.
Antes de ir, pediu à sua amiga Wallis - mulher casada pela segunda vez, divertida, interessante, muito vivida, de quem se contavam episódios de espionagem e de habilidades sexuais, amiga de tertúlias e boa vida - que olhasse por Edward, seu amante há muitos anos, não fosse ele portar-se mal e arranjar outra. Wallis disse-lhe que fosse tranquila, que lhe prometia guardar Edward de outras mulheres.
Edward, um jovem pouco dado a formalidades e convencionalismos |
Quando, ao fim de alguns meses, Thelma regressou dos EUA percebeu o que já não era disfarçável. Walllis tinha-se tomado conta bem de mais de Edward. Tinham-se tornado amantes.
Edward e Wallis |
A história que se seguiu é bem conhecida.
Edward - anteriormente Príncipe de Gales, Duque da Cornualha e de Rothesay, e que foi rei do Reino Unido e dos Domínios da Commonwealth e imperador da Índia entre 20 de janeiro e 11 de dezembro de 1936, com o título de Eduardo VIII - por amor a Wallis, para se poder casar com ela, abdicou da Coroa a favor do irmão mais novo, Albert que viria a escolher ser conhecido como George VI. A família real não tinha conseguido aceitar a presença desta americana divorciada, mulher livre: não a queriam como rainha.
O rei e a rainha passaram, pois, a ser outros: George e Elizabeth Bowes-Lyon (mais tarde conhecida por Rainha-Mãe). Desse casamento nasceu Elizabeth, que viria a ser, e ainda é, rainha.
A rainha Isabel junto da irmã e dos pais |
Estamos, pois, na história recente, de todos conhecida. Elizabeth II casou-se com Philip, Duque de Edimburgo. Desse casamento nasceu Charles.
A família real inglesa, quando os filhos eram ainda jovens |
Charles amava Camilla Parker Bowles mas esta era casada e ele, herdeiro da coroa, deveria escolher uma noiva sem mácula. A história repetia-se. Mas, ao contrário de Edward, a determinação em seguir o coração apenas lhe apareceria mais tarde. Antes, casou-se com uma jovem, radiosa, apaixonada, Diana Spencer (que, mais tarde, no dia da sua morte, viria a ser designada por Rainha dos Corações). Aparentemente Charles nunca a amou.
Desse casamento, que pintou de sonho e drama toda uma época, nasceu William.
Charles, Prince of Wales, Diana, William e Harry Tempos aparentemente felizes - mas apenas aparentemente |
William, Príncipe, Duque de Cambridge, agora com 30 anos, conheceu há uns anos, quando ambos estudavam, Catherine. Casaram e agora esperam agora uma criança. São dois jovens modernos, bonitos, aparentemente felizes.
William e Kate Middleton |
Essa criança, primogénita de William e Kate, virá talvez a ser Rei ou Rainha de Inglaterra.
Mas se Gloria Morgan não tivesse conhecido Reginald, se este não tivesse morrido tão cedo, se Gloria não tivesse despertado a ira da família do marido, se a irmã Thelma não se tivesse metido num navio para a apoiar, se não tivesse deixado o amante nas mãos de Wallis, se estes não se tivessem apaixonado, se a família real não se tivesse oposto ao casamento entre ambos, se Edward não tivesse abdicado, se a família real não se tivesse oposto a um novo relacionamento entre um herdeiro e uma mulher casada, se este herdeiro, Charles, não se tem casado com Diana, se isto, aquilo e o outro, esta história seria outra.
Acasos, coincidências, destino: o que interessa? O que interessa é que é sempre assim. Tudo é sempre assim. Uma sucessão de pequenas coisas que se entrelaçam dando azo a que novas pequenas coisas aconteçam. E assim, de acasos, de encontros e desencontros, se vai fazendo a história. A do mundo e a nossa.
*
Caso vos apeteça continuar um pouco mais na minha companhia, hoje, no Ginjal, as minhas palavras são o sopro, o pássaro, as vossas mãos. O poema é de Valter Hugo Mãe que se estreia por aquelas bandas.
*
E nada mais porque já são quase 2 da manhã e tenho tanto, tanto sono. Apenas desejar-vos, meus Caros Leitores, um belíssimo sábado!
Minha amiga e já ouviu falar que a história de Edward não é a que nos têm contado desde sempre?
ResponderEliminarHá tempos numa daquelas sessões do canal "Biography" mostraram que a história foi outra:
Não foi "por amor a Wallis, para se poder casar com ela,que ele abdicou da Coroa a favor do irmão mais novo, Albert", nem "a família real não tinha conseguido aceitar a presença desta americana divorciada, mulher livre: não a queriam como rainha".
O grandessíssimo problema foi que o piqueno era espião ao serviço dos alemães e tiveram de dar a volta ao texto.
Então não é triste confirmarmos que a política dá sempre um empurrãozinho para a corrupção e para a mentira?
Beijocas e bom fim de semana.
Como é que vai foliar no Carnaval?
Não sei como aguenta esse ritmo!
ResponderEliminarInteressante história e é bem verdade que a vida é feita de muitos acasos.
Um beijinho e bom domingo!
Olá,
ResponderEliminarAcasos, coincidências, destino: o que será realmente?
Será que já nascemos com 'certas horas marcadas' e não importa as opções que tomemos, acabamos sempre por fazer o que estava predestinado, tal como o homem que fugiu para Samarra com medo da morte, que era precisamente o local onde a morte o esperava nessa noite?
I guess we'll never know...
Quanto aos amores da realeza, sei pouco sobre o assunto (mais através de filmes e séries do que de leituras), mas a ideia que tenho é que só muito raramente podem casar por amor.
Vi recentemente um filme em dvd que retrata, penso que muito bem, a vida de Georgina Spencer, uma antepassada da princesa Diana.
O filme chama-se 'A Duquesa' e é com a Keira Nightley e o Ralph Fiennes, actores que muito aprecio.
Os extras são bastante bons e agora que fiquei sem cinema nas cidades mais próximas de casa, o dvd vai ser mesmo a única opção.
O livro de biografias que está a ler é o que tem a Audrey na capa, ou é o da Maria de Belém?
Queria comprar um deles, pelo que gostaria de ter a sua opinião.
Beijinho e bom fim de semana.
Antonieta
Olá Teresa-Teté,
ResponderEliminarPois não sei, ainda estou a meio da biografia de Wallis, ainda não cheguei a esses detalhes 'sórdidos'.
Mas isso não apaga a sucessão de acasos, coincidências, pequenos acontecimentos, que acabam quase imperceptivelmente por determinar o rumo dos acontecimentos.
Vou foliar, sim, onde houver folia, na rua. Como na minha empresa não se trabalha no carnaval vou poder gozar aquilo de que os funcionários públicos estupidamente vão ser privados.
Bom carnaval, Teté!
Isabel,
ResponderEliminarApetece-me dizer na brincadeira 'ai aguento, aguento...' mas a verdade é que ando com um grande défice de sono. Durmo um pouco até mais tarde ao fim de semana e isso ajuda.
Este assunto de haver acasos de que as pessoas nem se dão conta e que determinam as suas vidas interessa-me muito. Acho piada.
Um beijinho, Isabel, e um bom domingo!
Olá Antonieta,
ResponderEliminarEste livro é 'Divas rebeldes' e tem a Audrey na capa, sim. Também tenho o da Maria de Belém mas ainda não o li.
Este tem uma escrita corrida, ligeira, mas tenho gostado de ler. Já li a biografia da Callas e a da Coco Chanel e agora estou na Wallis. Só o leio na fisioterapia pelo que avanço lentamente.
Quanto à vida, eu acho que dependemos de acasos, muitos dos quais, intangíveis, imateriais, mas também acho que temos que estar disponíveis para os perceber e para aproveitar as oportunidades que nos aparecem pela frente, e temos que lutar por aquilo que queremos.
Claro que, a posteriori, é fácil perceber as coisas enquanto que, na altura, isso pode ser difícil. Por isso é que a vida é cheia de imprevistos, encontros, desencontros.
Um beijinho, Antonieta, e um belo domingo!